Jornalismo online e prática profissional: Questionamentos sobre a apuração e edição de notícias para web

Fabiana Puccinin1


Índice

Resumo: Este artigo analisa o trabalho dos jornalistas das redações online a partir da preocupação com a rotina produtiva de portais e sites de notícias. Dado o fato de que os sites recebem informações das mais variadas fontes em diferentes, porque podem dispor dos recursos multimídia, busca-se refletir sobre a existência ou não da essência do trabalho jornalístico que é a apuração através das equipes de reportagem. Se o trabalho dos portais de conteúdo está restrito (ou não) à centralização do conteúdo produzido pelas mídias tradicionais, então é certo dizer que não há jornalismo nessas redações ou que uma nova forma de jornalismo surge a partir da prática online?

As transformações operadas no mundo do jornalismo a partir das possibilidades on-line tem remetido nossa reflexão mais imediata às mudanças promovidas pelas novidades tecnológicas que se põem desde então. Dessa maneira, examinar a produção online é sobretudo perceber o novo modus operandi da prática jornalística, resultante desse cenário inédito. Temos agora todas as mídias juntas, quais sejam, TV, rádio e jornal associadas ainda à instantaneidade e o fim do dead-line convencional; a interatividade em sua máxima potencialidade, promovendo o surgimento do novo paradigma comunicacional que, de massa (um para todos) passa a ser segmentado e interativo (um para um) dando reais possibilidades de construção ativa da informação pelo usuário; e a hipertextualidade explorando o fim dos limites de tempo e espaço ao qual estão submetidas as mídias convencionais, agregando por essa razão - pelo menos em tese - mais quantidade e sobretudo qualidade à notícia.

Tudo isso permite que, de certa maneira, comemoremos as novas possibilidades comunicacionais, em que pese o fato de não discutirmos aqui a restrição do acesso à Web, uma vez que essa seria pauta para outra discussão de semelhante importância e tamanho. Então, retomando a questão das vantagens advindas da tecnologia e sua apropriação pelo jornalismo na produção do que chamamos hoje de jornalismo online, temos um alargamento das possibilidades da prática jornalística e esse é o ponto chave de debate sobre o qual gostaria de propor a reflexão. À potencialização dos recursos não há correspondência exata do aprimoramento do fazer jornalístico.

Se de um lado acreditamos poder oferecer um produto mais elaborado e mais ricamente ilustrado no sentido amplo da palavra, tomando o fato de dispor de vídeo, áudio e gráficos, agregados ao texto da notícia, e se isso é, na realidade, eficazmente útil a quem dele se utiliza, por outro lado, toda essa nova infra-estrutura que serve à qualificação da notícia, pode não resultar exatamente num jornalismo de mais qualidade.

Na realidade, a questão parece localizada em um estágio anterior ao da produção on-line, ao que etmologicamente reporta a própria palavra jornalismo, associada essencialmente ao trabalho de buscar informações e tratá-las para que possam chegar ao público interessado de maneira compreensível e interessante. Segundo Bahia:

A palavra jornalismo quer dizer apurar, reunir, selecionar e difundir notícias, idéias, acontecimentos e informações gerais como veracidade, exatidão, clareza, rapidez, de modo a conjugar pensamento e ação. É da natureza do jornalismo levar a comunidade, direta ou indiretamente, a participar da vida social.(09: 1990)

Então percebe-se que na base de todo o trabalho jornalístico está a apuração de informações que trata-se exatamente do cerne do trabalho de reportagem e sobre o qual se assenta toda a formação e prática jornalística. E é exatamente a partir daí que de forma mais contundente o jornalismo online parece não cumprir com a natureza do jornalismo.

Há, nas redações online um trabalho muito mais comumente orientado para o que os editores de Web chamam de agrupamento e sistematização das informações, do que exatamente equipes de reportagem em busca de notícias e produção de grandes reportagens. Isso porque a rotina das redações de Web - especialmente de portais de conteúdo - estão assentadas basicamente na produção que é feita pelas mídias da mesma corporação ou de veículos associados. Dessa maneira, pouco ou nada é originalmente produzido na redação online, fazendo do trabalho dos jornalistas o que eles mesmos chamam de ``integração ou centralização de conteúdo''. Por conta disso, a questão que se coloca é imaginar ser ou não um exagero que o jornalismo, no rigor do conceito, não exista de fato na WEB, na medida em que vemos produtores de conteúdo como especialistas em tão somente reunir a produção - já evidentemente apurada e tratada - de diferentes meios de comunicação.

Jornalismo e Conhecimento

Enquanto a discussão de alguns teóricos está afeita ao exato conceito de Jornalismo enquanto produtor de conhecimento, partimos desta como uma questão já superada. Sim o jornalismo é produtor de conhecimento e nisso compactuamos com Eduardo Meditsch (1997) quando diz que não devemos descartar qualquer forma de conhecer ou reconhecer o mundo, por mais limitada e singela que possa parecer. Então é fato que o jornalismo online oferece valoração porque traduz informações de linguagens herméticas em linguagem de acesso a todos e que se tornam a referência mais imediata dos indivíduos enquanto localização social.

Ora, sob esse aspecto, irrelevante torna-se dizer que o que de fato faz a essência do jornalismo e sobre o qual já falamos antes, a investigação, a apuração, e o conseqüente relato disso, é agregador ao cotidiano dos indivíduos de maneira tal e tão naturalizado que nem imaginamos mais nossas vidas sem o acesso diário de muitas vezes ao dia aos jornais, televisão e rádio e sites em busca de notícias que possam proporcionar um sentido de localização.

No caso das mídias tradicionais, compreendemos que não só fazem essas busca constante de notícias e apuração da informação, como esse trabalho é a própria razão da existência da equipe de jornalismo de redações de jornais, emissoras de TV e Rádio. De um lado pelas razões já expostas de que o jornalismo serve exatamente a essa busca do novo ou ao tratamento mais aprofundado da notícia atual com antecedentes e conseqüentes, e de outro pela valoração enquanto produto comercial que move exatamente os setores de publicidade dos referidos veículos. O fatoo é que nas mídias ditas tradicionais, a reportagem é o início do processo para a ``feitura'' do produto mais importante da empresa e motivo pelo qual se faz existir. Não só porque estejam as mídias orientadas pelo espírito de resgate da cidadania que têm com seu público, mas porque sabem que só terão audiência fiel enquanto promoverem a oferta do produto do interesse dessas audiências, qual seja, a produção de notícias.

É preciso admitir que os telespectadores, leitores de jornais e ouvintes de rádio não buscam os referidos meios de comunicação, via de regra, em busca de seus anúncios publicitários, mas sim de sua produção produção jornalística.

Sendo assim, volto ao dilema deste texto. Se a reportagem, ou seja, a busca de informação qualificada é a base do jornalismo, se o jornalismo - a produção de notícias que possam ofertam um sentido de localização e referência - feito a partir das equipes de reportagem que vão em busca dessa atualização e do furo, então como se posiciona o Jornalismo online dentro desse panorama? E por que, afinal, corre-se risco de dar ao jornalismo online um outro lugar que não o do jornalismo praticado nos outros meios de comunicação?

O centro da discussão, sem dúvida, está na maneira como a tecnologia foi apropriada pelo jornalismo e a maneira como se processa o trabalho de apuração nas redações Web atualmente. Existe produção de notícias de fato ou o que se faz dentro da Web é uma readaptação das notícias oriundas das mídias tradicionais? Está equivocada a maneira de fazer jornalismo ou está equivocada a forma de olhar para esse jornalismo resultante de um novo paradigma comunicacional?

Sejamos justos de honestos. Não temos respostas cabais e definitivas a respeito. Aliás a proposta do artigo é justamente levantar a discussão para saber em que medida o que se pensa é partilhado enquanto preocupação por outros e de que maneira parece mais lógico propor a reflexão, uma vez que nos dedicamos ao desafiante papel da formação e ensino dos futuros jornalistas e dentre eles, jornalistas de Web.

Esse na verdade é um terreno que nos põem pouco à vontade. Em parte por ser um processo ainda incipiente e por isso completamente arriscado e polêmico. No entanto, na mesma medida, instigador da discussão que a torna pertinente porque promove o pensar sobre o fazer e por conta disso, sem pretensão, o aprimoramento do fazer.

Tanto sites visitados in loco, quanto a literatura que se tem acesso, dão conta de uma rotina jornalística muito diferenciada e diria até, burocratizada, dentro das redações online. No entanto, a intenção não é transformar a discussão numa luta maniqueísta pondo as mídias tradicionais como estandartes do bom jornalismo em contrapartida ao jornalismo on-line. Mas, a verdade é que nos parece estranho que em algumas redações não exista, por exemplo, equipes de reportagem, e em algumas nem mesmo reunião de pauta. Este último procedimento dado como prática ``tão primitiva'' que é ``óbvio e natural'' que a comunicação entre os editores seja feita por redes internas de correio eletrônico.

O Jornalismo na Web

O Jornalismo online ou Jornalismo na Web - tomemos aqui a licença de usar uma terminologia pela outra - surgiu no Brasil na esteira do processo que começou nos EUA e tomou conta do mundo inteiro. Nos primeiros tempos, o ``jornalismo online'' resumia- se à transposição dos jornais impressos para a rede. O que hoje as redações Web chamam de ``digitalizar'' as informações, e atualmente, oriundas do impresso, da televisão e do rádio.

No Brasil, essa transposição que marcou o início do jornalismo online aconteceu em 1995 com o Jornal do Brasil. Atrás dele vieram o jornal O Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de Minas, a Zero Hora, o Diário de Pernambuco e o Diário do Nordeste. No entanto, até então, tratava-se, como bem dissemos, da transposição exata do jornal na versão imprensa para a Internet. Uma simples mudança de suporte.

Em 1996, o Universo Online lança o Brasil Online, o primeiro jornal em tempo real em língua portuguesa da América Latina, com informações de agências de notícias e da redação. Conforme Moherdaui (2000), além de textos, fotos, gráficos e animações o jornal oferecia vídeo e áudio sobre material jornalístico para complementação das matérias. A partir daí vários sites surgiram especializados em notícias e, alguns com ênfase na exploração do recurso de instantaneidade da rede como o caso do provedor de acesso Internet Grátis que em 2000 lançou o Último Segundo.

Desde lá, os sites de notícias proliferam-se na rede, a ponto de hoje ser mais fácil ao internauta, primeiro decidir o que quer ver, que tipo de notícias está em busca, para então definir o site mais próprio para cumprir seu objetivo.

No entanto, torna-se claro que, ao buscar a exploração dos diversos recursos que a rede oferece, em vídeo, texto, áudio e ilustrações, os portais apresentam larga vantagem à frente de simples sites de notícias por serem grandes corporações de mídia ligadas às redações tradicionais. Isso porque ao ``aproveitarem'' a produção das mídias convencionais, conseguem dar conta das potencialidades multimídia com mais rapidez e agilidade. Conforme Studart (2001):

Legalmente, o hábito da maior parte dos sites de ``chupar informações (seja da Internet ou de impressos), esbarra na lei 9610/98, dos Direitos Autorais. Em princípio, a circulação é livre. O artigo 46 da lei é auto-explicativo quando assegura que ``não constitui ofensa aos direitos autorais: a reprodução na imprensa diária ou periódica, de notícia ou artigo informativo, publicado em diários e periódicos, com menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos''. (6:2001)

E é exatamente aí que mora o perigo porque é por conta dessa ``rede'' afinada entre as diversas mídias de um mesmo grupo que ocorre o que alguns autores definiram como a reprodução e cópia rearranjada do conteúdo. Este é o motivo pelo qual os sites noticiosos de grandes portais são tidos como copiadores de informação. Alguns autores inclusive já criaram terminologias como ``gilete press'' e ``chupadores de informação'' para os jornalistas da Web, fazendo alusão ao trabalho de copiar e colar arquivos de rádio, TV ou jornal.

Isso não parece um exercício do absurdo se imaginarmos que alguns portais chamam a si mesmos de ``centralizadores de informações''. Dão esse como objetivo principal de existência, dizendo trabalharem exatamente para reunir a produção de conteúdo noticioso das mídias do mesmo grupo corporativo na rede. Segundo Simone e Monteiro:

Em geral, os sites brasileiros de notícias não passam de meros reprodutores de modelos e fórmulas prontas, especialmente ligados a grandes grupos de comunicação. E o preço dessa submissão pode ser muito caro num futuro não muito distante. (32:2001)

A justificativa desse reaproveitamento das informações está baseada no fato de que sites noticiosos, em função da instantaneidade - ou seja da busca frenética pela atualização da informação - e da possibilidade de reunir os recursos das várias mídias, só é possível de ser feita a partir da produção já pronta das outras mídias. Torna-se operacionalmente inviável dar conta da cobertura da notícia fazendo a produção da notícia para Tv, áudio e texto, enfim em todas as linguagens, e ao mesmo ainda proporcionar a atualização de tudo isso, várias e diversas vezes num só dia.

Se o site propõe-se a cobrir a rebelião no principal presídio da cidade, só poderá ter o vídeo do acontecimento, mais o áudio dos rebelados, mais o texto da matéria com ilustrações que mostrem a localização e o posicionamento de policiais, agentes e detentos, com atualização várias vezes ao dia, se o fizer a partir do que já foi produzido pelas mídias convencionais. Por isso, há que concordar com o fato de que o tempo real na Web é um desafio a ser continuamente superado e responde em parte, segundo os editores dos sites, pela busca do que já tenha sido produzido pelas outras mídias:

Toda essa multifuncionalidade da Web, baseada no uso adequado da tecnologia, pode proporcionar uma cobertura jornalística abrangente, muito mais completa e, principalmente, que acompanha a velocidade que os fatos acontecem. (Idem: 50, 2001)

No entanto, percebe-se que a velocidade da atualização, ao contrário do que se imagina, não traz continuamente novas informações. Segundo estudo feito pela ombudsman da Folha de São Paulo Renata Lo Prete in Moretzsohn (2002:133), os sites noticiosos veiculavam praticamente dois tipos de fontes que são as agências internacionais e a rapinagem pura e simples entre sites e das reportagens de rádio e TV. Segundo a pesquisa da jornalista, os resultados não deixam dúvidas. 25% das páginas analisadas não traziam material próprio, limitando-se a reproduzir despachos de agências e conteúdo de outros meios. Dessa maneira, ela define este como um processo de ``rapinagem'', e acrescenta ainda que o problema torna-se mais grave porque a instantaneidade exigida pela rede tirou os jornalistas do seu verdadeiro objetivo que é a busca da informação bem apurada. Vítimas da busca quase obsessiva da atualização contínua, a meta final se desvia do caminho:

O resultado mais imediato pode ser verificado todos os dias nas redações: editores colados nos vídeo, sobressaltados a cada chamada do telejornal, perguntando aos repórteres? ``temos isso?'' - e conferindo credibilidade automática ao veículo ali, a ponto de alterar o texto produzido originalmente pelo profissional de sua equipe. (Moretzsohn: 2002)

Alguns exemplos da produção online feita por grandes portais brasileiros podem ajudar a esclarecer as questões propostas sobre o jornalismo praticado nas redações. Segundo Cinel (2002) que fez uma análise do portal Globo.com, este é um exemplo claro de como os portais trabalham:

Calcada nas adequações já consolidadas de suas mídias tradicionais, o portal estreou disponibilizando o conteúdo das empresas de mídia do grupo, baseado no conteúdo dos da emissora, nos jornais do grupo, nas rádios e em toda a estrutura de mídia construída em 40 anos de atuação no Brasil. Guardadas as dimensões do que a entrada de um portal de conteúdo como o de uma empresa como a Globo representou, enquanto repercussão nacional e novo obstáculo para a concorrência, logo se percebeu que, além de tardia a entrada na Internet, a Rede Globo não apresentou algum conteúdo diversificado e inédito. Não deu ao internauta algo além de uma representação significativa de dados, programas, vídeos, áudios e imagens de produções das outras mídias do grupo com décadas de tradição; nada que um internauta com tempo disponível não pudesse dispor, quando em busca destes mesmos dados em agências de notícias ou nos próprios arquivos da empresa; nada além de e-mail, acesso a conteúdo qualificado, chat (canal de discussão entre internautas), intervenções esportivas no futebol. (70:2002)

Ou seja, um dos maiores portais brasileiros, não passa, segundo que diz a autora, de uma transposição de conteúdo de várias mídias para uma nova mídia num novo ambiente. Cinel (2002) concluiu que as percepções e estudos levam a uma distinção entre o que se entende por ``inovação'' na Internet enquanto narrativa jornalística e o que entendemos como reprodução e afunilamento de várias mídias em uma única e sobrecarregada rede de informações.

E ao que tudo indica, a maioria dos sites e portais trabalha na perspectiva de rede ``aglutinadora'' da informação, pondo em questionamento como já foi dito, em que medida o que fazem os jornalistas de Web se configura como jornalismo em seu sentido original. Dessa maneira, faz crer que a redação online seja exatamente o local restrito ao processo de edição e baixamento de notícias e não de captura, ainda que a proposição dessa discussão não seja a de condenar esse procedimento, senão a de discutir a existência ou não do lugar do jornalista, especialmente do repórter, dentro das redações de Web.

Outro estudo de portais feito por Simone & Monteiro (2001) corroboram para esse pensamento. Segundo os autores, o depoimento de webeditores de Portais como JB On line, Universo On line, América On line, Terra, Globonews.com confirma a naturalização do trabalho nas redações online afeito somente à centralização do conteúdo e edição das notícias originadas em outras mídias:

JB Online:

``Trabalhamos com repórteres e colaboradores em todo o Brasil, mas a maioria de nossas notícias é do eixo Rio, São Paulo e Brasília. A apuração das notícias é feita de duas maneiras: repórteres ``in loco'' e escuta (telefone, Internet, etc.). De uma maneira geral, os repórteres passam as notícias (flashes) por rádio ou telefone, para uma equipe de redatores, que redigem e publicam as notícias imediatamente. Matérias maiores e consolidadas são feitas na redação ou passadas por e-mail.''

Ana Carolina Gitahy Moreira é editora da Agência JB, responsável pelo JB Online.

UOL

``Como maior portal da Internet brasileira, trabalhamos com um grande número de fontes de notícia. Temos mais de 100 Web sites de revistas dentro do UOL e algumas dezenas de jornais. Trabalhamos também com diversas agências de notícias nacionais e internacionais. Além disso, monitoramos as principais emissoras de TV e rádios, além de alguns sites noticiosos.''

Márion Strecker é diretora de conteúdo do UOL.

AOL

``A redação da AOL é uma redação virtual no sentido literal da palavra. Nós não produzimos nenhum tipo de material aqui e recebemos informações por meio dos nossos parceiros. Na verdade, o que temos aqui é apenas um trabalho de edição e organização das informações e/ou notícias. Temos contratos com grandes agências como Reuters, AP, AJB, CNN, Diário do Grande ABC, Gazeta Esportiva, Lancenet, entre outros. Recebemos o material deles e a grande maioria entra automaticamente em nossas páginas e fica disponível para a leitura dos nossos usuários. Quanto o assunto tem alguma relevância, agrupamos todas as informações em uma única página, ressaltando também a participação do usuário com murais, enquetes e bate-papo''.

Regiane Bochichi é gerente de conteúdo da AOL.

Terra

``A redação é responsável por todo o conteúdo do portal e não somente pelo jornalismo. Dessa forma, existem áreas que funcionam num ritmo de pautas, apuração, redação e publicação de notícias, mas há uma grande parte de nosso trabalho que não tem essa rotina.(...) Não há um horário de fechamento, publica-se notícias 24 horas por dia. E o desafio é publicar e consolidar. Nosso pessoal de jornalismo publica centenas de notícias por dia, com plantão 24 horas/sete dias por semana.''

Sandra Pecis é diretora de conteúdo do Terra.

Globonews.com

``A rotina da redação da Globonews funciona da seguinte maneira: obtemos informações dos repórteres da redação, de nossas sucursais e das agências internacionais. Nossos repórteres também produzem um conteúdo diferenciado, complementando que o jornal oferece.''

Joyce Jane é editora-chefe do Globonews.com

Observando as declarações dos editores dos portais é possível chegar a algumas conclusões que potencializam as reflexões expostas. Excetuando-se o JB Online, todos os outros portais afirmam - direta ou indiretamente - que sua função é a de reunir e tratar a informação recebida de um sem número de outras fontes. Enquanto o JB Online fala de da reportagem ``in loco'', levando a crer que esse trabalho só pode ser feito por equipes de reportagem que de fato se deslocam aos locais dos acontecimentos para fazer a cobertura, os outros sites tratam da informação sempre advinda de outras fontes a partir das mídias tradicionais. No caso do UOL por exemplo, o editor quando fala da rotina da redação, aponta o grande número de sites que são visitados - TV, Rádio, jornais, revistas e agências do próprio grupo - para aproveitamento do material e posterior disponibilização no ar. A afirmação nos permite pensar que as principais fontes de informação do site não estão na rua falando para seus repórteres. Da mesma maneira, no site do AOL, a rotina torna-se ainda mais evidente quando o editor diz não se produz nenhum tipo de material e que o trabalho está restrito à edição e organização das informações e notícias. No site do Terra a rotina se assemelha, na medida em que a editora diz que há uma grande parte do trabalho que não conta com a rotina de apuração, redação e publicação de notícias2. Quanto ao site da Globonews, a operação se repete quando a editora diz que as informações são obtidas por repórteres da redação, das sucursais e agências.

Enfim, todos portais tratam com muita naturalidade a questão de trabalhar sem equipes próprias de reportagem. Aliás, ao tratar desse assunto os editores de Web insistem em deixar claro que os profissionais que trabalham nas redações online, se por um lado abandonam de certa forma a reportagem, por outro lhes é exigido um domínio completo da habilidade de edição. Sim, porque o grande trabalho parece ser o de saber exatamente o que e como será aproveitado o grande volume de material que chega à redação das mais variadas fontes. Para isso é preciso haver uma grande sintonia entre a equipe do off-link que é a responsável pela digitalização de jornais impressos e revistas, da TV e rádio para que se saiba o que será possível aproveitar e como será possível.

A visão do processo de edição de uma matéria para a decisão sobre que ponto do vídeo será utilizado e quanto será utilizado, de modo que a página não fique pesada para o internauta, em que medida essa mesma matéria poderá se utilizar de áudio também, gráficos etc, requer do editor muita habilidade, clareza e discernimento para tomada de atitude mais acertada. Nesse contexto é importante deixar claro que tamanho da página - páginas que não ultrapassar um certo número de pixels3 - é uma preocupação hoje tão grande ou maior que a própria informação, já que os editores sabem que páginas pesadas podem inviabilizar o acesso do internauta ou fazê-lo desistir da operação.

Assim, as discussões apontadas aqui mais vez mostram que a tecnologia é uma via de mão dupla porque oferece possibilidades na mesma medida em que impõe condicionantes e promove por conta disso novos comportamentos dos jornalistas frente ao seu trabalho. É certo que as discussões em si não nos trazem respostas, mas não anulam, pelo contrário, sua pertinência, já que só o debate pode proporcionar isso. Afinal, no jornalismo e em todas as áreas do conhecimento, podemos e devemos nos aproveitar das facilidades da tecnologia, conquanto que saibamos fazê-lo de maneira a não subverter totalmente o processo, implicando diretamente na razão pela qual queremos fazer jornalismo que é a busca e apuração de histórias de interesse humano.

Bibliografia



Notas de rodapé

... Puccinin1
Professora e Coordenadora do Curso de Jornalismo da UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul. Mestre em Desenvolvimento Regional pela UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul.
...icias2
Em janeiro de 2003, visitei a redação do portal Terra em Porto Alegre que atualmente é responsável pela centralização do trabalho de todo o Brasil. O editor-chefe na época, Daniel Bittencourt, disse que a reunião de pauta era feita por rede de e-mail interna e que o portal não contava com equipes de reportagem. Disse ainda que a proposta do portal é a integração do conteúdo de diversas fontes de informação seja da TV, Rádio, jornal ou revistas. Na mesma oportunidade também visitei o portal ClicRBS onde a editora-chefe Tatiana Grazziotin disse que a proposta do Clic é a de centralizar o conteúdo produzido por todas as outras mídias do GrupoRBS.

... pixels3
Segundo Manta, o padrão é produzir páginas para resolução de 640X480 pixels porque é a mais comum na maioria dos computadores.