Suplementos e leitores

Isabel Travancas1

Universidade do Estado do Rio de Janeiro


Índice

Resumo:

Suplemento literário, caderno de livros ou espaço de resenhas? Se olharmos para trás, para a história da imprensa tanto na França quanto no Brasil, perceberemos o quanto os chamados suplementos literários se transformaram. Visual, forma, tamanho e conteúdo mudaram muito desde os primórdios.

No Brasil esses primórdios remontam a periódicos como o Jornal do Commercio com seu Folhetim, de 1838, e a uma linguagem próxima ainda da literária, para não falar dos livros transcritos em capítulos. Aos poucos a literatura vai diminuindo seu espaço e sua importância nos jornais. Com o século XX a imprensa passa por inúmeras transformações, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial, como salienta Alberto Dines em seu livro O papel do jornal (1986:26).

Nossos jornais, banhando-se na experiência da objetividade e dependendo diretamente do noticiário telegráfico, apreenderam um novo estilo, seco e forte, que já nào tinha qualquer ponto de contato com o beletrismo.
A partir de então a literatura passa a ter menos espaço na imprensa, ficando restrita aos suplementos literários publicados pelos grandes jornais nos anos 50. De lá para cá, eles se tornaram mais raros e menores, sendo considerados ``artigo de luxo'' por muitas empresas jornalísticas.

Na França, país de grande tradição cultural, os jornais literários são anteriores à Revolução Francesa, como o Journal de Savants, 1665, fundado por Colbert. Ele tratava dos livros mais importantes, fossem eles literários ou científicos. No século XIX os jornais franceses foram muito influenciados pela vida cultural do país. É neste período que aparece o romance-folhetim, que tanto freqüentou as páginas dos jornais. Muitas obras de H. Balzac, Victor Hugo e Georg Sand foram divulgadas desta forma. O século XX é marcado pelas duas Guerras Mundiais que também afetaram a imprensa francesa, o número de jornais publicados diminuiu muito, assim como suas tiragens. Nos anos 90 os jornais estão atrás de outras mídias, em termos de preferência do público. As revistas dominam o mercado da imprensa escrita e a televisão, o da imprensa audiovisual. Muitos jornais, não têm suplementos literários e outros nem chegam a produzí-los.

Hoje o que vemos é uma nova etapa no processo de transformação destes cadernos. Processo esse que está estreitamente ligado às mudanças sofridas pela própria sociedade, pela imprensa e também pelo público leitor. O homem moderno tem pressa, tem pouco tempo, quer receber o máximo de informações no menor tempo possível. É a corrida da sociedade moderna, da vida na cidade, de que fala o sociólogo alemão Georg Simmel (1979:14).

Os relacionamentos e afazeres do metropolitano típico são habitualmente tão variados e complexos que, sem a mais estrita ponturalidade nos compromissos e serviços, toda a estrutura se romperia e cairia num caos inextricável. Acima de tudo, esta necessidade é criada pela agregação de tantas pessoas com interesses tão diferenciados, que devem integrar suas relações e atividades em um organismo altamente complexo. Se todos os relógiso de Berlim se pusessem a funcionar em sentidos diferentes, ainda que apenas por uma hora, toda a vida econômica e as comunicações da cidade ficaraim transtornadas por longo tempo.

Nesse sentido o jornal e o jornalista seriam a expressão deste novo estilo de vida. Vai longe o tempo em que o próprio texto de jornal estava mais próximo da literatura e de um leitor mais dedicado e menos apressado.

Ao estudar os jornalistas(Travancas:1993), pude notar que a profissão ocupa um enorme espaço em suas vidas e se torna um elemento fundamental para a construção da identidade dessas pessoas. E vai gerar um ``estilo de vida''e uma ``visão de mundo'' particulares, de acordo com G. Velho(1987:105).

Creio que é possível fazer uma leitura dos cadernos literários como resultado dessa visão de mundo, o que explica as semelhanças. Não são determinações rígidas ou externas aos indivíduos, mas uma maneira particular de ver o mundo. É como se o mundo pudesse ser lido e compreendido dentro das páginas de um jornal, ou a partir delas.

As empresas jornalísticas não têm mais o aspecto amador nas suas estruturas e nem o literário em seus textos. Houve uma fase, no século XIX, na história das imprensas francesa e brasileira, denominada ``literária''. Naquele período os jornais deixaram de ser essencialmente políticos e polêmicos e se tornaram mais literários e mundanos, contando com a presença de inúmeros escritores em suas páginas.

Atualmente, um grande jornal é uma empresa que porduz milhares de exemplares, com estrutura organizacional bem planejada e administrada, e com muitos funcionários em diferentes áreas de atuação. Cerca de três mil funcionários trabalham em um jornal de grande porte, que chega a dispor de cerca de 500 jornalistas em sua redação.

O ``coração''de um jornal é a redação. É nela que são produzidas as notícias, mercadoria vendida pelo jornal e sua razão de ser. Por sua vez a redação se divide em editorias. Estas são os setores do jornal, onde trabalham repórteres, redatores, diagramadores, editores, subeditores e chefes de reportagem. Os temas são basicamente: política, internacional, o país, cidade, economia, turismo, cultura, mulher, tv, informática e livros. Esta divisão em editorias aponta para uma topografia do conhecimento, onde os diferentes saberes são distribuídos em áreas estanques e distintas fisicamente. Separação essa que é uma expressão da realidade, como se a vida pudesse ser e fosse compartimentada em seções. Da mesma forma é interessante perceber as fronteiras entre as editorias e o que é considerado como pertencente a uma e não a outra. Quando o jornal possui um suplemento literário, por exemplo, é para lá que vão os livros noticiados, este é quase sempre o seu destino. Mas há livros e livros. Um livro de economia, de um ministro, pode merecer nota ou uma pequena reportagem na editoria afim - economia ou negócios -. um lançamento editorial de maior envergadura, de escritor estrangeiro ilustre e que venha ao Brasil para divulgar a obra, pode merecer uma matéria grande no caderno cultural. Assim, os suplementos se tornam, por um lado, o lugar privilegiado de expressão do livro, - atingindo um público específico e segmentado, um público considerado leitor em potencial dos livros ou ``já leitor''-, e por outro o instrumento de transmissão de uma noção particular da literatura e do livro de um modo geral.

Compreender a nossa sociedade e como ela funciona nos é ensinado aos poucos, através da educação, da vida social. E o jornal é um instrumento de comunicação e também de representação. A representação que os jornais fazem da realidade é uma construção sobre essa mesma realidade. E um dos pilares desta construção é a criação e organização da vida em ``editorias e seções'', e consequentemente em hierarquias.

Os quatro jornais escolhidos- Le Monde, Libération, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo

No Brasil a escolha recaiu sobre estes dois jornais, pelo fato de serem dois dos maiores jornais brasileiros que possuíam no início desta pesquisa um suplemento literário. O Globo ainda não criara o Prosa e Verso e o Estado de São Paulo não possui um suplemento propriamente dito, mas uma seção de livros. Na França decidi por le Monde e Libération, por serem também grandes jornais que publicam suplementos. Ao lado disso, o fato de tanto os jornais como os próprios suplementos formarem um contraponto. São veículos muito diferentes, opostos mesmos, o que me possibilitou uma visão mais rica da imprensa francesa, assim como do tratamento dado ao livro e ao mercado editorial.

Os suplementos

Todos os suplementos estão submetidos às regras básicas do jornalismo: clareza, objetividade e concisão(Rossi, 1980). Mas cada um dos quatro selecionados vai dar o seu tom a essa ``mistura''de conceitos. Estão sujeitos à influência do tempo e também à qustão da novidade, como se eles definissem suas especificidades de cadernos de livros e suplementos literários, mas não negassem a sua situação de parte de um jornal diário, que vive da busca e da redação da notícia. Conceito bastante complexo, com inúmeras definições, que pode ser entendido como informação ou ainda segundo afirma Amaral (Lage: 1982:36):

Notícia é a informação atual, verdadeira, carregada de interesse humano e capaz de despertar a atenção e curiosidade de grande número de pessoas.

Os suplementos literários transmiterm uma idéia de livro e de literatura e significam prestígio para os jornais e status para quem trabalha neles. São freqüentes os cados de suplementos literários deficitários, cuja receita de publicidade não chega a cobrir o seu custo. Mas a relação custo-benefício para um jornal, assim como para a sociedade não se mede apenas pelo seu valor financeiro. É como se o jornal se valorizasse na valorização do seu leitor.

Um dado interessante e investigado é a escolha do dia da semana para a publicação dos cadernos nos dois países. Os suplementos dos jornais franceses saem às quintas-feiras e os dos brasileiros nos fins de semana. Isso faz pensar no critério para essas determinações de dias e em que medida isso equaciona a discussão tempo e leitura. Quinta-feira é um dia de semana comum, mais perto do fim de semana, tempo associado ao trabalho e não ao lazer. Os suplementos franceses circulam nestes dias há muito tempo. O do jornal Libération, desde sua criação, e o do Monde, há quase 20 anos. Esse dia da semana escolhido implica em se poder afirmar que, diferentemente dos jornais brasileiros, os franceses inserem estes cadernos na rotina do trabalho e do estudo. Ao contrário do que acontece com o Idéias e o Mais!. Estes privilegiam uma leitura mais descompromissada com o tempo e a relacionam ao lazer e ao ócio. Como bem salientou Silviano Santiago(1993:14) em seu artigo sobre a crítica literária nos jornais.

A literatura(contos, poemas, ensaio, crítica) passou a ser esse algo mais que fortalece semanalmente os jornais através de matérias de peso, imaginativas, opinativas, críticas, tentando motivar o leitor apressado dos dias da semana a preencher o lazer do weekend de maneira inteligente.''

Quem escreve nos suplementos?

Em geral, há um grande número de jornalistas. Os que são fixos do caderno, os colaboradores do próprio jornal ou de outros veículos de imprensa. E também estão presentes os intelectuais. Intelectuais no mais amplo sentido da palavra. Professores, universitários, acadêmicos, escritores, cientistas sociais, filósofos, psicanalistas, artistas plásticos e até políticos. Nesse sentido, destaco a definição de Lipset(1959:486) para intelectuais.

Neste grupo, pode-se distinguir dois níveis principais: primeiro, um núcleoformado por criadores de cultura - sábios, artistas, filósofos, autores, alguns diretores de jornais e alguns jornalistas; em um segundo nível encontram-se aqueles que distribuem a cultura - executantes das diversas artes, a maior parte dos professores, a maior parte dos jornalistas.

Em relação aos quatro suplementos analisados, vemos que eles abarcam os dois diferentes níveis. Tanto no sentido da produção e da distribuição da cultura como em relação às categorias profissionais incluídas.

Os quatro suplementos têm um vínculo estreito com a intelectualidade de seus países ou cidades, mas em relação ao movimento político de 1968 é o Libération que possui uma relação mais visceral. O jornal contou com a participação de um dos intelectuais de esquerda mais influentes na França, na segunda metade do século, que foi Jean Paul Sartre. O jornal nasceu da atuação prática dos intelectuais, que decidiram ``meter a mão na massa'' e participar da imprensa criando seu próprio veículo.

Vale lembrar que apesar da presença expressiva de intelectuais de fora da imprensa nas páginas dos quatro jornais, a grande maioria das resenhas, artigos e reportagens é assinada por jornalistas da redação dos cadernos. Os suplementos brasileiros têm por hábito sempre identificar o autor das resenhas, dando uma informação pequena sobre quem está escrevendo. O mesmo não acontece nos jornais franceses, onde o leitor que não domina aquele universo, desconhecendo o autor do artigo, continuará sem saber qual sua profissão ou especialidade, além de ter uma dificuldade maior de estabelecer uma relação entre o resenhista e o livro resenhado. Este me parece ser um ponto importante, na medida em que os cadernos formam redes de sociabilidade que na maioria das vezes se organizam e estruturam a partir da figura do editor e de sua equipe fixa. O único jornal que parece ter mais do que um conjunto de colaboradores eventuais, dos quais lança mão quando necessário, é Le Monde des Livres. Sua editora afirmou ter um grupo de consultores de diversas áreas que se reúne mensalmente e tem grande poder de influência no caderno. Em todos os outros jornais o sistema é mais informal e assistemático. O que não quer dizer que eles não tenham também poder de influência.

Outro dado relevante está relacionado ao papel desta participação nos suplementos. Alguns pagam quantias razoáves, cerca de US$300 a US$400 pelos artigos de seus colaboradores. Outros jornais não pagam pelo trabalho ou pagam muito pouco, uma quantia simbólica mesmo. O que vem apenas reforçar como este espaço é nobre e valioso em outros termos. É um local de reconhecimento social e demonstração de prestígio.

Um aspecto importante a ser ressaltado nos quatro cadernos é a sua postura em relação a si próprios. Nenhum deles se define ou rotula como suplemento literário. São cadernos de livros, de literatura, de idéias, de polêmicas. Há consenso de que a época dos suplementos literários como espaço privilegiado da crítica literária acabou. Não há quase mais críticos literários escrevendo nos jornais, o que reforça a idéia de S. Santiago sobre a ``desliteraturização''da imprensa em fins do século XIX. O teórico e escritor defende a idéia de que a ``história da imprensa escrita na sociedade ocidental é a história da sua desliteraturização.'' Ou seja o que compreendemos como literatura vem deixando de ocupar espaço e obter prestígio nos jornais diários.

Essa desliteraturização é consequência de inúmeros fatores como: cosmopolitismo modernizante na imprensa que reduz o impacto da literatura no jornal; o avanço tecnológico tornando o jornal mais informativo; o surgimento de novas formas artísticas como a novela que vem ocupar o lugar do folhetim; e por fim, o fato de o livro ter se transformado em mercadoria de fácil acesso ao público.

Entretanto, se todos esses aspectos podem apontar para o fim da presença literária nos jornais, a realidade felizmente é diferente e os suplementos são a expressão disso. Uma alternativa importante criada pelos jornais para que o escritor e suas obras não abandonassem definitivamente as páginas da imprensa.

A crítica literária de um modo geral está hoje restrita à universidade, sem tanto espaço nos jornais. À semelhança do que ocorreu com a literatura que foi perdendo terreno na imprensa, a crítica literária também foi reduzida. Nos anos 40 e 50 ela era chamada crítica de rodapá. Primeiro pelo fato de ser produzida por não especialistas e segundo por ser divulgada em órgãos de massa como os jornais. Na França a crítica literária não se ressente tanto da falta de um canal de expressão. Existem diversas revistas especializadas, universitárias ou não, com tiragens expressivas.

Diferenças e semelhanças

Guardadas todas as especificidades de cada órgão de comunicação, poderia se afirmar que na essência eles são muito parecidos. Como diria H Balzac em 1840(Dreyfus, 1986: 139): ``Le public peut croire qu'il y a plusieurs jornaux, mais il n'y a en définitive qu'un seul journal.'' Eu não iria tão longe, mais é inevitável perceber que as semelhanças são grandes.

Os quatro suplementos têm a mesma estrutura editorial, exceto as suas particularidades. Todos são formados por um conjunto de resenhas sobre os novos lançamentos do mercado editorial de seus países. Alguns apresentam também uma coluna ou seção com as ``novidades'', que não foram ou serão resenhadas, mas que mereceram algum destaque ou comentário de uma nota. É possível perceber que me todos eles há uma preocupação com o equilíbrio. Isso quer dizer, dar espaço para livros de editoras variadas e não se concentrar em algumas, e no caso dos suplementos brasileiros foi destacado, e se pode verificar a intenção de igualar as editoras dos dois maiores centros editoriais do país: Rio e São Paulo. Os jornais franceses não publicam com constância uma lista dos livros mais vendidos, dos best-sellers, como acontece nos brasileiros.

Há resenhas, reportagens, colunas fixas, seções de lançamentos, colunas de informes gerais, mas pouco que se possa denominar crítica literária, até por que o suplementos é redigido em grande parte por jornalistas e não por especialistas e teóricos de literatura. Quase todos, com exceção da Folha de S. Paulo, têm ao menos um colunista ou crítico fixo que escreve regularmente no jornal. Esses articulistas têm mais liberdade e não estão tão amarrados à questão dos livros novos, podendo comentar autores e eventos, mas sempre devem ter em mente o chamado ``gancho'' jornalístico. Falar sobre um escritor em função de uma efeméride ou de um livro mais antigo que está sendo lançado em outro país. Esses colunistas, em geral pessoas de renome do mundo intelectual e ou jornalístico, vêm dar prestígio aos suplementos com sua presença.

Les Livres, por exemplo, utiliza com freqüência reportagens para falar dos mais diferentes temas, enfatizando seu pertencimento ao jornalismo, e não criando um espaço diferenciado dentro do jornal. Os outros cadernos não realizam reportagens com a mesma intensidade. E, a meu ver, a reportagem é o gênero jornalístico por excelência e o repórter o paradigma da profissão(Travancas: 1993). O Libération define o perfil de seu suplemento também a partir desse vínculo estreito com o jornalismo. Suas páginas são em grande parte assinadas por jornalistas e não é um caderno feito com a participação maciça de intelectuais, como é o caso de Le Monde des Livres. No caso dos brasileiros o Idéias realiza reportagens eventualmente e possui uma página fixa de entrevistas, mas o corpo do caderno é preenchido por resenhas apresentadas por jornalistas e acadêmicos. O Mais! se singulariza pelos chamados números temáticos, onde há espaço para reportagens e entrevistas, mas são privilegiados os grande ensaios assinados por intelectuais de renome nacional ou internacional; ou coletânea de textos de escritores realizadas a pedido do jornal, sob encomenda.

Em relação à linguagem Le Monde des Livres traz textos com maior seriedade e erudção, sem um tom coloquial, utilizando muitas vezes palavras pouco comuns, fato raro nos cotidianos. Libération, ao contrário, opta por ousar na linguagem. Lança mão de interjeições, gírias, expressões coloquiais, confirmando a idéia de que seu público leitor é jovem. Há jogos de palavras e brincadeiras nos títulos, o que não se vê nos outros cadernos. O Jornal do Brasil é redigido em uma linguagem jornalística tradicional, sem exagero de seriedade nem ousadia e seu suplemento literário segue a linha do jornal. Textos sóbrios e manchetes precisas. Já o caderno da Folha de S. Paulo estaria mais próximo do Libération inovando nas chamadas de primeira página, com mais liberdade, se permitindo mostrar poesias e desenhos gráficos. No interior do caderno, os artigos oscilam em função das assinaturas dos resenhistas e jornalistas.

Para finalizar estes quatro cadernos não são palco de discussões literárias, nem romances são divulgados primeiramente em suas páginas. Hoje estes cadernos são um espaço de expressão do mercado editorial. Não afirmo que os qutro cadernos analisados - Idéias, Mais!, Les Livres e Le Monde des Livres - sejam retratos fiéis do mercado editorial brasleiro ou francês. Eles são uma representação deste mercado, que é fruto de uma visão de mundo de quem os produz e participa deles. É basicamente a partir desse `viés''que estes suplementos se constroem. Não considero que os cadernos são simplesmente o resultado destas escolhas pessoais. Desejo enfatizar que eles, enquanto objetos jornalísticos, estão submetidos primeiramente à lógica do jornal e conseqüentemente ao imperativo da notícia. A partir deste crivo inicial, eles vão se construir como uma representação subjetiva do grupo de indivíduos que trabalha neles.

Penso que os suplementos de maneira geral cumprem o papel de defesa da literatura e mais especificamente do romance. Os jornais, com seus cadernos demonstram, empenho e interesse em que omundo dos livros e da leitura continue tendo espaço e importância na sociedade, lembrando afirmação de Marisa Lajolo(1994:107) de que ``a história da literatura de um povo é a história das leituras de que foram objetos os livros que integram o corpus dessa literatura.''

Bibliografia



Notas de rodapé

... Travancas1
Isabel Travancas, carioca, jornalista, trabalhou durante 10 anos como assessora de imprensa de órgãos culturais como Museu Histórico Nacional, Secretaria Municipal de Cultura, Editora Nova Fronteira e Editora Agir. É mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ, onde defendeu a dissertação O mundo dos jornalistas em 1991, publicada pela Summus editorial de Sâo Paulo em 1993. É também doutora em Literatura Comparada pela UERJ. Sua tese de doutorado O livro no jornal foi defendida em 1998, será publicada este ano pela editora Ateliê Editorial e este artigo é um pequeno resumo da mesma