A crônica política no Brasil -um estudo das características e dos aspectos históricos a partir da obra de Machado de Assis, Carlos Heitor Cony e Luis Fernando Veríssimo

Tattiana Teixeira
Faculdade Integrada da Bahia


Índice

Introdução

A história da crônica no Brasil se confunde com a própria trajetória do jornalismo contemporâneo. Vinculada ao entretenimento - de um modo geral - ela começou a consolidar-se no país em meados do século XIX e, desde então, tornou-se um gênero quase obrigatório para os jornais brasileiros. Basta-nos um rápido panorama dos principais veículos nacionais: os de maior tiragem e alcance contam com cronistas em seus quadros, senão diária, ao menos semanalmente. Ligado, em sua gênese, ao folhetim - compreendido aqui não como o romance, mas como o espaço plural que abrigava uma série de textos voltados ao entretenimento - o termo crônica, durante este período, esteve associado a escritos sobre os mais variados assuntos, da política ao teatro, dos eventos sociais aos esportivos, dos acontecimentos do dia-a-dia ao universo íntimo de cada autor1. A miscelânea temática - que se explica historicamente, talvez, pelo fato de terem sido freqüentemente publicados no espaço destinado às variedades - se, por um lado, possibilitou que diferentes autores os exercitassem, por outro, pode ser apontada como fator preponderante para a falta de uma melhor definição, compreensão e valorização do gênero ao longo de sua história. Vários dos que escreveram crônica em algum momento buscaram compreende-la ou discuti-la, o que revela, ao menos, uma certa inquietação com esta modalidade discursiva tradicionalmente classificada como menor.

Um primeiro exemplo é José de Alencar. Convidado pelo amigo Francisco Otaviano2 para ser folhetinista do Correio Mercantil, em 1854, ele passa a assinar a série ``Ao correr da pena''. Naquela época, vale ressaltar, era comum os folhetinistas abordarem em suas colunas uma espécie de resenha da última semana, tendo em vista que estas seções eram publicadas aos domingos, tradicionalmente. Em um de seus primeiros textos, após fazer um breve relato da inauguração do Jockey Club, Alencar, então com apenas 25 anos, com alguma ironia faz considerações acerca do folhetim, neste caso, compreendido como a crônica dominical. Começa por mostrar-se inquieto diante da angústia de ver uma nova semana começar, imaginando o trabalho que virá pela frente, diante da sucessão de fatos a serem comentados no domingo seguinte: saraus, bailes, além das notícias. E segue classificando tal espaço como ``monstro de Horácio'' e ``desastrada idéia''3. Antes de o autor afirmar que ``enquanto o Instituto de França e a Academia de Lisboa não concordarem numa exata definição do folhetim, tenho para mim que a coisa é impossível'', pode-se, ainda, ter uma idéia do alcance do folhetim à época e a variedade de leitores que atingia. Quando argumenta que este espaço não pode ser visto como uma panacéia ou ``um dicionário espanhol que contenha todas as coisas e algumas coisinhas mais'', Alencar trata das diferentes reações e dos diferentes públicos que deveria agradar.

Mais tarde, Machado de Assis - que, em quatro décadas, foi cronista e publicou em jornais desde poemas até os romances publicados em capítulos4 - dedica-se a discutir o folhetim, termo que ele, à moda de Alencar, usa para denominar o que hoje compreendemos como crônica. E o faz mais de uma vez. Em 1859, no início da sua carreira, tentando definir ``esta nova modalidade literária'', revela, talvez com a tradicional ironia que lhe é peculiar, a relação que se estabelece entre o folhetinista e seu público dizendo que ``todos o amam, todos o admiram, porque todos têm interesse de estar de bem com este arauto amável que levanta nas lojas do jornal a sua aclamação de hebdomadário''. A vasta possibilidade de assuntos (ou a ausência deles), de algum modo também abordada por Alencar, merece a atenção e as palavras de Machado5. Anos depois, o criador de Capitu retoma o tema, desta vez dedicando algumas linhas à narrativa de uma suposta origem da crônica6, em um dos textos de sua ``Histórias de 15 dias'' .

Há alguns outros textos em que o folhetim/crônica é abordado pelo escritor. O porquê desta freqüência é difícil de explicar. Poder-se-ia dizer que a insistência em tratar de tal tema viria de uma demanda da época, pois é possível que os intelectuais estivessem a discutir, em alguma instância, aquele atrativo para vendas e público. Outra, seria a necessidade de criar um elo aproximativo com o leitor, fingindo abrir-lhes as portas para mostrar as dificuldades que rondam o dia-a-dia do cronista, contribuindo, assim, para dar-lhe maior importância e respeitabilidade. São hipóteses de difícil comprovação. O fato é que as metacrônicas também fazem parte do repertório dos escritores contemporâneos.

Um exemplo é Carlos Heitor Cony que, em 1998, publicou na Folha de S. Paulo ``A crônica como gênero e como antijornalismo''. O texto aborda questões como jornalismo e literatura, a relação entre crônica e artigo, para, enfim, defender a tese de que falta emoção ao jornalismo, mostrando as implicações desta ausência no dia-a-dia do cronista, a partir de um exemplo pessoal, a morte da cadela Mila, acontecimento que rendeu não apenas crônica, mas repercussão imediata junto a diversos leitores. O autor critica, assim, a falta de espaço no jornal para o trivial e a exigência da prestação de serviço, mesmo nas rubricas dedicadas a este `gênero menor em termos de literatura'. Para Cony, ``sobra um espaço reduzido ao cronista sem assunto, sem informação e sem outro serviço que não o estilo mais sofisticado que só será apreciado por determinados leitores e não pela massa consumidora do jornal ou revista.''7

Luis Fernando Veríssimo8, Afonso Romano de Sant'Anna9e Artur da Távolafotadic % latex2html id marker 1298
$^{\thefootnote}$ também escrevem crônicas sobre crônicas. Todos tentando valorizar esta modalidade discursiva (e o cronista, por conseqüência) ou abordar aspectos relacionados à sua produção/elaboração, do mesmo modo como fizeram Machado e Alencar, no passado. A necessidade de legitimação do gênero, portanto, permanece, mesmo depois de mais de 150 anos de presença quase obrigatória nos veículos brasileiros. Companheira de milhares de leitores, a crônica consolidou, ao longo de sua história, vários escritores brasileiros e prova disto é que, desde o século XIX, muitas delas foram reunidas em livro algum tempo após a publicação nos jornais. Foi assim com os folhetins de José de Alencar, republicados em 1874, bem como com as crônicas de João do Rio11 ou Mendes Fradique, pseudônimo de José Madeira de Freitas, que teve sua produção diária na Gazeta de Notícias reunidas em três obras lançadas em 1923, 1925 e 192812 e Mario de Andrade, entre outros. Ou seja, a prática de dar ao aparentemente efêmero a permanência da arte não é algo novo, embora boa parte da teoria que se produziu sobre a crônica tenha dificuldade em estabelecer a relação que ela tem com o jornal e com a literatura, a um só tempo: transitória e perene, paradoxal, portanto. Indiscutível, porém, é que o sucesso nos jornais repete-se nas obras literárias e exemplos não nos faltam. Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Carlos Heitor Cony e Luis Fernando Veríssimo são alguns deles.

Entre o agora e o para sempre

Esta facilidade de estar em dois espaços aparentemente opostos intriga quando se trata de compreender as crônicas e instiga tanto estudiosos quanto os próprios cronistas. Sua aparente efemeridade não se compara à matéria jornalística -a publicação em coletâneas e afins é uma prova disto- e sua ligação com os acontecimentos do cotidiano dificulta, para alguns, a classificação enquanto literatura ou arte, de um modo geral. Híbrida é como muitos a denominam e a alcunha de gênero menor se perpetua a partir desta aparente indefinição conceitual.

Estas crônicas que ganharam vida com o advento dos folhetins têm como características o ritmo rápido - onde o texto flui sem subterfúgios e bem ao gosto da agilidade exigida pelos ledores de periódicos -, a visceral relação com o cotidiano - compreendido aqui como as circunstâncias que perpassam a vida em sociedade -, a presença efetiva do autor como sujeito ativo que dialoga permanentemente com o seu leitor e a brevidade dos textos que raramente ultrapassam duas laudas. Outra característica importante é a ausência de elementos da narrativa clássica, como enredo, trama e clímax, o que se dá pela própria natureza da crônica, classificada por Coutinho como gênero `ensaístico', ou seja, como aquele em que os autores dirigem-se diretamente ao leitor, sem usar artifícios intermediários,como acontece em epopéias, novelas e romances.

Ao relatar a gênese da crônica no Brasil, Coutinho explica que o termo, no século XIX, deixou de se referir exclusivamente a um relato cronológico de acontecimentos para denominar ``um gênero literário em prosa, ao qual menos importa o assunto, em geral efêmero, do que as qualidades de estilo, a variedade, a finura e argúcia na apreciação, a graça na análise de fatos miúdos e sem importância, ou na crítica de pessoas''13. E, já referindo-se às crônicas contemporâneas, mostra como, apesar do seu estreito laço com os fatos, elas podem ser consideradas arte, uma vez que os acontecimentos do cotidiano- ao contrário do que ocorre no jornalismo -só são usados como pretexto para que o autor exercite as suas `faculdades inventivas'14.

Nas palavras de Massaud Moisés15, a crônica tem com características, além da ambigüidade, a brevidade, pois o texto é normalmente muito curto; a subjetividade, apontada como a mais importante de todas e compreendida a partir do foco narrativo sempre na primeira pessoa; o diálogo16, que é o fruto desta subjetividade e que se revela em uma espécie de conversa imaginária com o leitor; o estilo entre o oral e o literário; a temática sempre ligada a questões do cotidiano e a efemeridade, pois, para Moisés, mesmo quando reunidas em livro, as crônicas são fugazes, não têm a permanência ou a durabilidade de outras obras literárias como o romance ou mesmo o conto17.

Destas características, a que deve ser relativizada é a última, tendo em vista que há inúmeros casos de crônicas que, reunidas em livro, eternizaram-se, ganhando novo estatuto. São exemplos as obras de Drummond, Rubem Braga, Fernando Sabino. A fugacidade, entretanto, parece adequada quando aplicada às crônicas que versam sobre temas bastante específicos, pois estas precisam de uma compreensão prévia do contexto no qual foram publicadas para serem compreendidas em sua totalidade. É por isso que resgatar as crônicas do final do século XIX que tratam de aspectos políticos e econômicos da época só tem sentido na medida em que há um estudo capaz de recontextualizá-las para os leitores contemporâneos, de modo que eles possam entender o Rio de Janeiro e o Brasil do referido período, os arroubos desenvolvimentistas do advento da República e mesmo os confrontos bélicos que aconteciam em várias partes do país. O mesmo acontece com muitas crônicas de Cony ou de Veríssimo publicadas na década de 60/70: elas requerem uma compreensão do ambiente social em que foram produzidas para serem absorvidas em sua totalidade.

Esta necessidade de contextualização foi apontada por John Gledson na Introdução do livro A Semana que reúne as crônicas publicadas por Machado de Assis, em coluna homônima na Gazeta de Notícias, entre abril de 1892 e novembro de 1893 (83, ao todo). Para este autor, as crônicas pressupõem uma comunidade que detém uma carga semelhante de conhecimentos acerca de determinados assuntos e isto as faz compreensíveis para este universo de leitores. Estar fora deste grupo de comuns - o que acontece com quem lê Machado de Assis hoje -significa ficar à margem do discurso das crônicas, o que inviabiliza o seu entendimento18. Por isso, as notas explicativas tornam-se fundamentais até para que se capte o humor e as críticas presentes em muitos destes textos. Daí porque é relativamente comum estudos que têm como base as crônicas selecionadas para figurar em coletâneas de Machado ou de outros autores que versaram sobre política, caírem em armadilhas do texto, em virtude deste desconhecimento.

Em crônica publicada no dia 10 de julho de 1892, um exemplo apresenta-se já no primeiro parágrafo. Nele Machado de Assis afirma:

``S. Pedro, apóstolo da circuncisão, e S. Paulo, apóstolo de outra coisa, que a Igreja Católica traduziu por gentes, e que não é preciso dizer pelo seu nome, dominaram tudo esta semana. Eu, quando vejo um ou dois assuntos puxarem para si todo o cobertor da atenção pública, deixando os outros ao relento, dá-me vontade de os meter nos bastidores, trazendo à cena tão-somente a arraia-miúda, as pobres ocorrências de nada, a velha anedota, o sopapo casual, o furto, a facada anônima, a estatística mortuária, as tentativas de suicídio, o cocheiro que foge, o noticiário, em suma''19$. $

As notas de Gledson possibilitam a real compreensão do sentido do texto. Aqui S. Pedro e S. Paulo longe estão de referirem-se aos personagens bíblicos, mas à antiga província de S. Pedro, que na época já se chamava Rio Grande do Sul, e ao estado de São Paulo. Naquele período ambos viviam conflitos que ocupavam o noticiário: no Rio Grande havia uma guerra civil e em S. Paulo, intensificavam-se confrontos entre italianos e brasileiros. Sem as notas, todo tipo de especulação se faz possível, e nem sempre se chega ao verdadeiro sentido da crônica política. O uso do humor e de alguns recursos retóricos dificulta a compreensão deste tipo de texto, sobretudo quando desprovidos de algo que recomponha o contexto em que foram produzidos. O próprio Machado, aliás, nos fornece uma crônica produzida em meio à censura política do final do século, em 26 de novembro de 1893, que muitos podem interpretar de modo equivocado, por não conhecerem, por motivos evidentes, aquilo que está camuflado pela fina ironia do autor. Nela, o autor simula um certo enfado diante daquilo que é abordado pelos jornais:

``Repito, que me trariam os diários ? As mesmas notícias locais e estrangeiras, os furtos do Rio e de Londres, as damas da Bahia e de Constantinopla, um incêndio em Olinda, uma tempestade em Chicago, as cebolas do Egito, os juízes de Berlim, a paz de Varsóvia, os Mistérios de Paris$, a $Lua de Londres$, o $Carnaval de Veneza$''$20$. $

O sentido de tal afirmativa, entretanto, é bem diferente. Mais uma vez cabe às buscas de John Gledson o aval do esclarecimento. Segundo o pesquisador, ``nenhum leitor contemporâneo deixaria de perceber que a referência aos jornais não é abstrata, mas concreta -a censura era tão severa que, na tentativa desesperada de preencher as páginas dos diários, usava-se tudo: triviais fait divers, notícias estrangeiras, notícias velhas, folhetins antigos, tudo que pudesse encher os jornais que já tinham sido reduzidos de tamanho''. Se esta condição parecia óbvia para a comunidade de leitores da época, como sugere Gledson, hoje o sentido não aparece de modo tão claro, o que comprova a nossa hipótese de que há crônicas que reivindicam, para serem compreendidas, a explícita conjugação texto-contexto que raras vezes encontra-se evidente no próprio texto.

As categorias

O mesmo não acontece com crônicas menos específicas, é importante voltar a frisar. Elas se eternizam porque mantêm com os acontecimentos uma relação que se dá não no campo do presente em si, do aqui e agora da política, por exemplo, mas da ficção materializada a partir deste ou daquele fato fortuito, (re) lembrado pelo autor, a partir de um enfoque pessoal. Este episódio nem sempre foi vivido, presenciado ou compartilhado de algum modo concreto com o leitor antes de transformar-se em objeto da crônica e, neste sentido, ela está mais próxima do ficcional, como sugere Moisés, ao afirmar que ``o cronista pretende-se não o repórter, mas o poeta ou o ficcionista do cotidiano, desentranhar do acontecimento sua porção imanente de fantasia''. Portanto, mesmo referindo-se ao cotidiano, o cronista, neste caso, vai além dele, perenizando a crônica a partir da ficção que cria. Sua intenção, no geral, não é escreve-la a partir de seu comentário acerca de um (ou mais) fato específico, mas da sua perspectiva enquanto observador/personagem, (re) narrando-o ou resgatando-o, mas sempre o tornando acessível (compreensível) aos leitores de qualquer época.

Estas diferenças entre grupos de crônicas justificam a necessidade de, além de um conceito, agrupa-las de acordo com aspectos específicos que ajudem, sobretudo, aqueles que as têm como fonte de estudo ou objeto de pesquisa. Para Massaud Moisés elas se dividem em dois tipos: crônica-poema21 e crônica-conto. Além disso, ele chama de pseudocrônicas os textos que, ao seu ver, mais se aproximam de ensaios ou da prosa didática, onde a idéia prevalece sobre a sensação e a emoção. Segundo Moisés, ``o cronista tece a sua malha de considerações em torno de um acontecimento, não visando a persuadir ou a fazer prosélitos, mas simplesmente a pensar em voz alta uma filosofia de vida apoiada na fugacidade cotidiana''22.

Coutinho, por sua vez, propõe cinco divisões: a narrativa, a metafísica, a poema-em-prosa,a comentário e a crônica-informação. A classificação, entretanto, longe está de ser detalhada. É, na verdade, um esboço, um ponto-de-partida23. Luis Beltrão, por outro lado, definiu a crônica como ``a forma de expressão do jornalista/escritor para transmitir ao leitor seu juízo sobre fatos, idéias e estados psicológicos pessoais e coletivos. É menos ambiciosa que o artigo e menos rígida, pois na exposição e interpretação do tema abordado não se eleva a generalizações teóricas''. Segundo o autor, este tipo de texto está diretamente vinculado à atualidade -assim como todos os gêneros jornalísticos - , tendo passado por algumas mudanças ao longo de sua história24. Para melhor compreende-la, ele propõe a divisão em dois grandes grupos. Um refere-se à natureza do assunto abordado e subdivide-se em geral, local e especializada; o outro, ao tratamento dado ao tema e tem como subdivisões as categorias analítica, sentimental e satírico-humorística25.

A crônica política

Para o desenvolvimento desta pesquisa, entretanto, nenhuma destas divisões pareceu-nos satisfatória. Por isso, foi criada uma nova categoria, a saber: crônica política. Esta opção deveu-se a alguns fatores, sendo que o principal deles diz respeito à ausência de uma categoria que privilegiasse as crônicas ligadas a temas políticos, nosso objeto de estudo. Mesmo a satírico-humorística, proposta por Beltrão, não pode ser aqui utilizada por abrigar temas variados -uma crônica cômica sobre um determinado artista ou personalidade pública caberia perfeitamente neste grupo e, ainda que a definição aponte para os assuntos políticos como os mais adequados para figurar neste grupo26, não há nada que os tornem exclusivos. A categoria crônica política abrange, assim, aqueles textos onde o tema principal é a política nacional/internacional utilizando, para isto, a ironia e outros recursos retóricos ligados ao humor com o firme propósito de tecer comentários críticos a determinada conjuntura e/ou governo, tomando como ponto-de-partida acontecimentos previamente noticiados pela imprensa.

Em mais de um século de existência no Brasil, portanto, pouca coisa mudou na sua estrutura básica. Tanto assim que colaborador regular da imprensa carioca, desde meados do século IXI até 1897, Machado de Assis, apesar de sempre assinar suas crônicas com pseudônimos, uma prática comum à época, ajudou a consolidar este tipo de texto e, de certo modo, um método para se abordar a política que ainda hoje é preservado. Pouco a pouco, o autor foi construindo algo que ultrapassou a barreira do estilo para se consagrar como um modo de produzir a crônica política brasileira27. Entre as características presentes já em suas primeiras obras do gênero, a constante referência aos jornais como fonte de informação, a ironia (marca registrada do autor em toda a sua produção), a presença explícita do ``eu'' que comenta os acontecimentos políticos usando os mais variados argumentos, sem a intenção de doutrinar o leitor, mas de dialogar com ele, através de uma conversa informal, como aquela que se estabelece entre amigos em um encontro casual.

A forma machadiana de escrever crônicas certamente influenciou muitos autores, entre eles Carlos Heitor Cony cuja obra também é, não por acaso, objeto desta pesquisa. Colaborador do jornal Correio da Manhã , Cony lança a sua primeira coletânea de crônicas em 1963, reunindo textos publicados entre 61 e 63 naquele jornal. Longe de ser um iniciante - ele já havia escrito alguns romances entre os quais O Ventre e Informação ao Crucificado -, o autor publica, pela Civilização Brasileira, a Arte de falar mal, título homônimo ao de sua coluna no diário carioca. Dividida em duas partes- O Antropófago sem afago e Este corpo cansado -a obra reúne textos sobre os mais variados assuntos, desde lembranças pessoais até temas relacionados à conjuntura da época.

No ano seguinte, volta a publicar uma coletânea de crônicas, O Ato e o Fato. No prefácio anuncia que ali está a sua primeira crônica política, o que demonstra um conceito muito particular desta modalidade, uma vez que em A arte... é possível ler vários textos que abordam o tema. A explicação talvez se deva ao caráter das crônicas publicadas em 64, em plena ditadura, todas verdadeiros manifestos contra o governo instalado no Brasil. As anteriores ao regime têm um tom mais ameno, embora não menos crítico, e abordam a política de modo quase tangencial, com raras exceções.

Cony inicia com estas crônicas um período de confrontos com os militares, tendo sido preso seis vezes durante o regime. Em prefácio à obra, seu editor, Ênio Silveira, após classificar o Correio da Manhã como um jornal de prestígio que iniciou, no Rio de Janeiro, o combate à ditadura e a luta pela restituição do regime democrático no Brasil, aponta o autor de Quase Memória como o jornalista que, mais do que qualquer outro, ``se transformou no panfletário que a hora exigia e a Nação esperava para lavar a face e levantar a cabeça''28.

Com ``Da salvação da pátria'' Cony começa, ao menos oficialmente, sua carreira como cronista político, à qual se dedica até os dias atuais, colaborando diariamente com a Folha de S. Paulo. Uma nova coletânea do gênero, entretanto, só foi lançada no ano 2000, reunindo crônicas sobre o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, isto é, o período compreendido entre 1994 e 1998. Em comum com as crônicas de Machado e com aquelas publicas em 64, alguns elementos fundamentais para a crônica política, isto é, a ironia, a referência a acontecimentos de algum modo noticiados pela imprensa, a presença do autor como alguém que se posiciona criticamente diante dos fatos, o diálogo virtual com o leitor, ou monodiálogo, como prefere Massaud Moisés29.

Estas características marcam também a obra do cronista político Luis Fernando Veríssimo que começou a assinar seus textos em 1968 e publicou, em 1973, seu primeiro livro -uma coletânea que reúne crônicas, muitas delas sobre política. Atualmente, o autor está presente todos os dias em importantes veículos brasileiros como o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e O Estado de S. Paulo. Fenômeno de vendas, o escritor é também cartunista- autor das famosas Cobras do Jornal do Brasil -e popularizou-se através de personagens como o Analista de Bagé, Ed Mort e a Velhinha de Taubaté.

Através da análise da obra destes autores foi possível, portanto, comprovar uma hipótese de trabalho que norteia as nossas pesquisas, isto é, historicamente, desde o século XIX, há poucas mudanças no modo de `fazer' crônica política no Brasil, embora não haja uma regra para a redação deste tipo de texto formalmente elaborada. Entre as primeiras crônicas de Machado de Assis e as mais recentes de Veríssimo, por exemplo, há elementos muito próximos que vão além da temática, apesar de todas as mudanças vividas pela imprensa brasileira desde os seus primórdios.

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Notas de rodapé

... autor1
Ao tratar da gênese da crônica, Coutinho explica que ``quem percorrer os jornais deste período observará que, no seu bojo, atenuando as exuberâncias da paixão política, insinuava-se algo que tinha principalmente um objetivo: entreter. Era a crônica destinada a condimentar de maneira suave a informação de certos fatos da semana ou do mês, tornando-se assimilável a todos os paladares. Quase sempre visava sobretudo o mundo feminino, criando, em conseqüência, um ambiente de finura e civilidade, na imprensa, que exerceu sensível efeito sobre o progresso e o refinamento da vida social brasileira'' (pp. 123).
... Otaviano2
Américo Jacobina Lancombe em seu texto sobre Literatura e Jornalismo publicado em ``A Literatura no Brasil'' descreve Francisco Otaviano como alguém de extrema importância para o jornalismo brasileiro do Segundo Reinado. Ele explica que ``o folhetim, que não é senão um aspecto particular da crônica, foi delineado, sem dúvida, por Otaviano. (...)''. (pp.83).
...eia''3
In: Alencar, José. Ao Correr da Pena - folhetins do ``Correio Mercantil'' ( de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855) e folhetins do ``Diário do Rio'' (de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro de 1855). São Paulo: Edições Difusão Literária, s/d. pp.15.
...itulos4
ver BRAYNER, Sonia. `Machado de Assis: um cronista de quatro décadas''. In: Candido, Antônio (et.al) A Crônica - o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas/Rio de Janeiro: Unicamp/Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. pp. 407-417.
... Machado5
Assis, Machado. ``O folhetinista''. In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, pp.958-960. Originalmente este texto foi publicado em O Espelho em 30 de outubro de 1859.
...onica6
``Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dizia que não pudera comer ao jantar, outra que tinhas a camisa mais ensopada do que as ervas que comera. Passar as ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.''. In: Assis, Machado. Obras Completas.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, pp. 370. Este texto data de 01 de novembro de 1877.
... revista.''7
Cony, Carlos Heitor. ``A crônica como gênero e como antijornalismo''. In:Folha de S. Paulo, 16 de outubro de 1998, cad.04, pp. 07
...issimo8
Ver ``O inspirador vício dos cronistas'', publicado na Revista Caros Amigos em abril de 2000. Toda a crônica aborda a relação entre o escritor e o tempo. Em um dos parágrafos Veríssimo afirma que ``quanto mais curto o prazo, maior o sentimento de alívio. Com a data certa, de preferência ontem, você está livre da insuportável pressão do tempo que quiser para escrever. Tempo para pensar, pesquisar, reescrever, escolher as palavras certas, burilar o texto -enfim tudo o que não só nos angustia como rouba as nossas desculpas. O cronista precisa ter, pronta e justificada, a frase que o absolve: ``Foi o que deu para fazer''. O prazo curto é o nosso álibi pretiaportê. é impossível escrever sem ele.''
... Sant'Anna9
Em ``Teoria da crônica'', publicada no livro A sedução da palavra, Sant'anna busca responder o que é a crônica, pergunta que está na abertura do seu texto, e entender o cronista contemporâneo. Começa por contestar certos chavões: ``Se alguém me perguntar se a crônica é um `gênero menor' responderei com nomes que a transformaram em gênero maior, como Rubem Braga, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. Portanto, não há gênero menor. Há pessoas menores ou maiores diante de certos gêneros. '' Também ele trata da relação que se estabelece entre os escritores e o tempo. Poeticamente, diz que ``o cronista escreve com cronômetro na alma'' e conclui : ``O cronista é um indivíduo encharcado de seu tempo. Enfim, um escritor crônico''.

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$^{\thefootnote}$ver ``Há mil e tantas crônicas'', publicada em O Globo em 05 de novembro de 1978. No texto, Távola faz uma declaração de amor ao gênero e diz que ``A crônica é (e será) a leitura do futuro: compacta, rápida, direta, aguda, penetrante, instantânea (dissolve-se com o uso diário). (...) A crônica é um hiato, uma interrupção da notícia, um suspiro da frase, um desabafo do parágrafo, um relax do estilo direto e seco da escrita do jornal, do qual se arroga ser o hiato literário, a literatura do jornal. O jornalismo da literatura. Literatura jornalística. Uma pausa de subjetividade, ao lado da objetividade da informação. Um instante de reflexão, diante da opinião peremptória do editorial (...)''.

... Rio11
Segundo Gláucia Soares Bastos, as crônicas publicadas sob a rubrica ``Pall-Mall rio'', na página 2 do jornal O País eram assinadas por José Antônio José, um dos pseudônimos de Paulo Barreto, o João do Rio. Estas crônicas começaram a ser veiculadas no jornal em 1915 e em 1917 foram reunidas em livro.
... 192812
Cf. Lustosa, Isabel. ``Mendes Fradique, o cronista''. In: Candido, Antônio (et al). Op.cit. pp. 213-222.
... pessoas''13
ver Coutinho, Afrânio. A literatura no Brasil -relações e perspectivas. Rio de Janeiro: Global, 1999. pp. 121
... inventivas'14
idem,ibdem. pp. 136
...es15
IN: Moisés, Massaud. A criação literária -prosa II. 17$^{a}$. edição. São Paulo: Cultrix, 2001. pp. 104
...alogo16
Recorrendo a Drummond, Moisés resgata o monodiálogo como característica da crônica. ``(...) monólogo enquanto auto-reflexão, diálogo enquanto projeção, a crônica seria, estendendo o vocábulo que Carlos Drummond de Andrade utiliza na designação do processo de relação verbal com o interlocutor, para o texto na sua totalidade - um monodiálogo. Simultaneamente monólogo e diálogo, a crônica seria uma peça teatral em um ato superligeiro, tendo como protagonista sempre o mesmo figurante, ainda quando outras personagens interviessem. O cronista, em monodiálogo, se oferece em espetáculo ao leitor, conduzido por uma secreta afinidade eletiva''. In: Moisés, Massaud. op.cit., pp.117.
... conto17
Segundo as palavras do autor, ``Fugaz como o jornal e a revista, [a crônica] mal resiste ao livro: quando um escritor se decide a perpetuar os textos que espalhou no dia-a-dia jornalístico, inevitavelmente seleciona aqueles que sua autocrítica e a alheia lhe sugerem como os aptos a enfrentar o desafio do tempo. E por mais exigente que seja o seu paladar ou aguda a sua percepção de valores, as crônicas eleitas geralmente perdem, cedo ou tarde, a batalha contra o envelhecimento. A própria instituição do livro, não sendo sua morada permanente, mas a eventual, parece um ataúde, florido e pomposo, mas ataúde''. In: Moisés, Massaud. op.cit., pp. 119.
... entendimento18
``Toda crônica é uma intensa evocação dessa comunidade, que em si é uma das razões- ou das justificações -da alusividade que torna as crônicas muitas vezes impossíveis de se ler sem notas. Como em toda comunidade verdadeira, há um fundo de experiência compartilhada, e que portanto pode ficar subentendida, implícita: o humor, muitas vezes, tem a sua origem neste tipo de experiência''. GLEDSON, John. Introdução. In: Assis, Machado. A Semana. São Paulo:Hucitec, 1996, pp. 29.
... suma''19
In: Assis, Machado. A Semana. São Paulo:Hucitec, 1996, pp. 85.
...$''$20
Op.cit, pp. 334.
...onica-poema21
Para o professor, ``enquanto poesia, a crônica explora a temática do `eu', resulta de o `eu' ser o assunto e o narrador a um só tempo, precisamente como todo ato poético.''(pp.111). Já a crônica-conto, ``prima pela ênfase posta no `não-eu', no acontecimento que provocou a atenção do escritor. Na verdade, a ocorrência detonadora do processo de criação não só possui força intrínseca para se impor ao `eu' do cronista como não lhe desperta lembranças ocultas ou sensações difusas. Não significa que o escritor se alheia do acontecimento, pois que a própria crônica testemunha uma adesão interessada- mas que o acontecimento tão- somente requer o seu cronista, inclusive no sentido etimológico do termo, ou seja, o seu historiador''. (pp.114/115).
... cotidiana''22
In: Moisés, Massaud. op.cit., pp.110.
... ponto-de-partida23
In: Coutinho, Afrânio. Op.cit., pp.133.
...oria24
In: Beltrão, Luiz. Jornalismo Interpretativo. Porto Alegre: Sulina, 1980, pp.66-67.
...istica25
Idem,ibdem
... grupo26
Segundo o autor, esta categoria abrange os textos que têm como objetivo ``criticar, ridicularizando ou ironizando fatos, ações, personagens ou pronunciamentos comentados, com finalidade de advertir ou entreter o leitor. A apreciação é superficial e, quanto à linguagem, empregam-se os tropos, os verbos no futuro do pretérito, palavras aspeadas ou de duplo sentido. O tipo satírico-humorístico só atinge sua finalidade quando o personagem, a idéia ou a situação que lhe serve de tema é amplamente conhecida do público. Nisso, a crônica se assemelha à charge do desenhista/caricaturista de jornal''.
... brasileira27
Colaborador de diversos veículos, apenas na Gazeta de Notícias Machado de Assis publicou cerca de 500 crônicas, entre os anos de 1883 e 1897, o que é pouco, se compararmos com os números de cronistas contemporâneos que colaboram diariamente com jornais de todo o país, mas muito, se pensarmos que durante décadas esta sua produção não foi devidamente valorizada.
...ca''28
Silveira, Ênio. ``A farsa de abril ou o mito da honradez cívica''. In: CONY, Carlos Heitor. O Ato e o Fato. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1964, pp. XVI.
...es29
Op.cit.