IMAGENS ACTUAIS DO BRASIL NA IMPRENSA PORTUGUESA DE GRANDE CIRCULAÇÃO

Images of Brazil in the Portuguese Press

Imágenes del Brasil en la prensa portuguesa

 

Jorge Pedro Sousa[1]

 

 

Sumário

 

Neste trabalho, o autor procura identificar e descrever as imagens actuais do Brasil projectadas pela imprensa portuguesa de grande circulação.   A pesquisa baseou-se numa análise quantitativa do discurso, com categorias definidas a priori.  Para o efeito, foi construída uma amostra representativa de jornais e revistas portugueses de grande circulação, publicados em 1999.  Entre as principais conclusões, o autor salienta que, embora em números absolutos exista pouca informação sobre o Brasil na imprensa portuguesa de grande circulação, em termos relativos essa informação é relevante.  Além disso, o autor considera que, do seu ponto de vista, a informação sobre o Brasil na imprensa portuguesa tendencialmente favorece o Brasil e as relações Portugal - Brasil.  O autor descobriu, ainda, que as principais fontes no fabrico de informação sobre o Brasil são os próprios jornalistas, que a informação é, na sua maioria, tendencialmente descritiva e que os news media apostam na informação de produção própria.

 

Palavras-chave: imagens do Brasil; análise do discurso; imprensa portuguesa.

 

 

Abstract

 

In this work, the researcher try to identify and depict the images of Brazil portrayed by the Portuguese press with a large circulation.  This research is based in a quantitative analysis of the speech, using categories defined a priori.  The researcher built a representative sample of large circulation Portuguese newspapers and magazines published in 1999.  Among the main conclusions, the author found that in absolute numbers there is a little amount of news about Brazil in the Portuguese press.  However, in relative terms, the amount of news about Brazil in the Portuguese press is significant.  In addition, in the opinion of the author, most of the information about Brazil in the Portuguese press favours Brazil and the relations between Brazil and Portugal.  The author also found that journalists themselves initiated the news about Brazil in the Portuguese press, which are predominantly descriptive and produced by the journalists, than relying on other sources.

 

Key-words: images of Brazil; speech analysis; Portuguese Press.

 

 

Resumen

 

En este trabajo, el autor intenta identificar y describir las imágenes del Brasil proyectadas por la prensa portuguesa de grande circulación.  La investigación se basa en un análisis cuantitativo del discurso usando categorías definidas a priori.  Para eso, el autor hay construido una muestra de periódicos y revistas portugueses de grande circulación publicados en 1999.  En lo que respecta a las conclusiones, el autor destaca que en números absolutos hay poca información sobre el Brasil en la prensa portuguesa de grande circulación, pero que en números relativos la cantidad de información sobre el Brasil es importante.  Además, el autor considera, desde su ponto de vista, que la información sobre el Brasil en la prensa portuguesa es mayoritariamente positiva para el Brasil y para las relaciones entre Portugal y el Brasil.  El autor hay descubierto aún que las principales fuentes en la fabricación de la información sobre el Brasil son los periodistas, que la información es mayoritariamente descriptiva y que los news media apuestan en la información que ellos mismos producen.

 

Palabras-llave: imágenes del Brasil; análisis del discurso; prensa portuguesa.

 

 

1.       Introdução

 

Este trabalho procura contribuir para o conhecimento das imagens do Brasil que são construídas e difundidas pela imprensa portuguesa de grande expansão no final do segundo milénio.  A pesquisa teve, assim, por objectivo, delinear essas imagens enquanto indicadores e índices das relações entre Portugal e o Brasil na transição para um novo século[2].

A principal hipótese a testar no estudo foi a seguinte: se existe uma convergência de interesses entre Portugal e o Brasil, alicerçada na língua, na partilha de parte da história e, agora, na globalização económica[3] e na resistência ao domínio anglófono[4], e se existe um aumento recíproco do interesse que os seus habitantes nutrem uns pelos outros[5], tal como, aparentemente, transparece do discurso político dominante[6] e das comemorações dos 500 anos do descobrimento ou “achamento” do Brasil, no ano 2000[7], então os meios jornalísticos não poderão deixar de fazer eco dessa situação, representando-a.  Portanto, e tendo em conta, entre outras, as conclusões de pesquisadores como Galtung e Ruge (1965) ou Wolf  (1987), se existe um processo de (re)aproximação entre Portugal e o Brasil, as notícias que representam esse processo na imprensa resultam, em princípio, de um processo de fabrico (newsmaking) no seio do qual interagem, entre outros factores, critérios de noticiabilidade capazes de adicionar aos acontecimentos um valor susceptível de os tornar notícia (valores-notícia), como:

- Proximidade;

- Interesses nacionais, particularmente se existirem confrontos (desvio à norma) ou problemáticas;

- Intensidade e significância dos acontecimentos dentro do contexto em que a imprensa portuguesa está imersa;

- Número de pessoas envolvidas nos acontecimentos;

- Consequências e evolução possível dos acontecimentos, particularmente daqueles que já foram objecto de notícia;

- Estatuto das personalidades envolvidas nos acontecimentos.

De acordo com o enunciado anterior, e citando Marques de Melo et al. (1999: 5), "(...) a investigação sobre a contribuição do jornalismo a um processo de integração [neste caso, de reaproximação] entre países deve estar direccionada a detectar os personagens e acontecimentos considerados suficientemente interessantes, significativos e relevantes para serem transformados em notícias."  Para o efeito, o estudo baseou-se, principalmente, na análise quantitativa do discurso sobre o Brasil protagonizado, em 1999, por periódicos portugueses de informação geral e de grande circulação no país.  Para efectuar a análise quantitativa do discurso, a informação foi, normalmente, contabilizada em número de peças e em cm2, conforme é habitual neste tipo de pesquisa (cf. Marques de Melo et. al., 1999: 4; cf. Marques de Melo, 1972), sendo classificada por categorias definidas a priori.  Para efeitos de aferição do número de peças, apenas se consideraram as peças jornalísticas (descritivas, analíticas ou opinativas[8]); do mesmo modo, apenas se considerou o espaço ocupado pelas peças de cariz jornalístico, desprezando-se o espaço ocupado por publicidade -ainda que predominantemente de cariz informativo- e propaganda.  Há ainda a destacar que, para a definição das categorias para a análise de conteúdo, tomou-se em consideração que essa mesma análise procuraria responder a várias perguntas de investigação[9].

A prioridade metodológica que concedi à análise quantitativa justifica-se pelo rigor que ela introduz na pesquisa.  Além disso:

 

"Ao invés de entrevistar o leitor sobre os seus hábitos de leitura, utiliza-se o processo inverso, ou seja, analisar aquilo que é oferecido ao leitor, assumindo que aquilo que o leitor lê no jornal da sua escolha reflecte suas atitudes e valores em relação ao facto noticiado[10].  (...)

Outra vantagem deste tipo de pesquisa é o facto de trabalhar com valores essencialmente quantificáveis, definidos por categorias estabelecidas e comprovadas em estudos similares.  Desta forma, a colecta de dados é baseada na mensuração de textos e as conclusões expressas em forma numérica, o que facilita o cruzamento de informações e a elaboração de tabelas e gráficos explicativos, além de permitir com facilidade a reavaliação e comprovação de todo o projecto ou parte dele." (Marques de Melo et al., 1999: 4)

 

Parece-me notório que a definição de grande parte das categorias para análise quantitativa do discurso é clara (e habitual[11]), associando-se às variáveis a analisar para responder às perguntas de investigação[12], conforme é visível nas tabelas onde constam os dados colectados durante a pesquisa.  Desta forma, em meu entender não é necessário traduzir em que consistem exaustivamente todas as categorias per si, nomeadamente quando as categorias se referem:

· à ubiquação da peça (o espaço onde a peça surge -primeira página, última página ou páginas interiores- define a categoria);

· à secção do jornal onde a peça surge (neste caso, a secção -que geralmente corresponde a uma editoria da redacção- define a categoria);

· aos temas específicos da informação (o tema da informação define a categoria);

· às fontes (o tipo de fonte define a categoria);

· à produção da peça (quem produz a peça define a categoria);

· e às localidades mencionadas nas peças (as localidades mencionadas definem a categoria).

A explicitação das categorias que possam oferecer dúvidas surge no quadro a seguir inserido.

 

Definição de categorias para análise do discurso

 

Categorias

Explicitação

 

Peças sobre o Brasil

Peças jornalísticas que abordem exclusivamente acontecimentos ocorridos no Brasil, personalidades brasileiras, problemáticas que tenham surgido no Brasil, ideias geradas por brasileiros, etc.

Peças sobre Brasil - Portugal

Peças jornalísticas que abordem acontecimentos que envolvam simultaneamente Brasil e Portugal, pessoas individuais e colectivas dos dois países, acções de pessoas individuais e colectivas de um dos países no outro país, etc.

 

Peças sobre Brasil - Outros Países

Peças jornalísticas que, sem se referirem a Portugal, abordem acontecimentos que envolvam simultaneamente Brasil e outros países, pessoas individuais e colectivas do Brasil e outros países, acções de pessoas individuais e colectivas do Brasil noutro país e vice-versa, etc. (excluindo Portugal).

 

 

Outra situação envolvendo o Brasil

Peças jornalísticas que refiram superficialmente o Brasil, acontecimentos aí ocorridos ou pessoas individuais e colectivas brasileiras, embora o seu conteúdo respeite, essencialmente, a outras situações.  Como só houve três notícias inseríveis nesta categoria, em dois periódicos,  no momento de classificar detalhadamente os dados não foram criadas tabelas específicas para estas peças.  Optou-se por inclui-las na informação sobre Brasil - Portugal ou Brasil - Outros Países, consoante mencionassem ou não Portugal.

 

Sentido da informação mista: Portugal no Brasil

Peças jornalísticas que respeitem a acontecimentos ou problemáticas que, por exemplo, envolvam pessoas individuais ou colectivas portuguesas no Brasil, como uma visita de um ministro português ao Brasil, a realização de uma feira de produtos portugueses no Brasil, investimentos portugueses no Brasil, a vida de portugueses no Brasil, espectáculos de artistas portugueses no Brasil, etc.

 

Sentido da informação mista: Portugal - Brasil

Peças jornalísticas que respeitem a acontecimentos ou problemáticas que se refiram simultânea e equilibradamente a Portugal e ao Brasil, a pessoas individuais e colectivas dos dois países, etc., como o estabelecimento de acordos entre os dois países, o estabelecimento de parcerias comerciais e empresariais, as comemorações conjuntas dos 500 anos do "achamento" do Brasil, etc.

 

Sentido da informação mista: Brasil em Portugal

Peças jornalísticas que respeitem a acontecimentos ou problemáticas que, por exemplo, envolvam pessoas individuais ou colectivas brasileiras em Portugal, como uma visita de um ministro brasileiro a Portugal, a realização de uma feira de produtos brasileiros em Portugal, investimentos brasileiros em Portugal, a vida de brasileiros em Portugal, espectáculos de artistas brasileiros em Portugal, etc.

 

Ponto de vista/ângulo dominante/tendencial das peças com menção ao Brasil na amostra: peças neutras

Peças jornalísticas cujo tom, ângulo ou ponto de vista dominante é tendencialmente neutro em relação ao Brasil ou quando existe um certo equilíbrio entre as partes da peça cujo tom ou ponto de vista é potencialmente negativo para o Brasil e as partes da peça cujo tom ou ponto de vista é potencialmente positivo para o Brasil.  A título de comentário, a distribuição das peças por categorias referentes ao tom/ângulo/ponto de vista dominante/tendencial pode ser vista como um tanto ou quanto subjectiva e, em certas peças, pode efectivamente sê-lo.  Mas se uma peça, por exemplo, fala de uma reunião inócua do governo brasileiro, ela pode considerar-se, em meu entender, como sendo tendencialmente neutra.

Ponto de vista/ângulo

dominante/tendencial das peças com menção ao Brasil na amostra: peças positivas para o Brasil

 

Peças jornalísticas cujo tom, ângulo ou ponto de vista dominante é tendencialmente positivo em relação ao Brasil, como, por exemplo, uma notícia respeitante à adopção de medidas de defesa da selva Amazónica, uma reportagem sobre os paraísos naturais brasileiros, etc.

Ponto de vista/ângulo dominante/tendencial das peças com menção ao Brasil na amostra: peças negativas para o Brasil

 

Peças jornalísticas cujo tom, ângulo ou ponto de vista dominante é tendencialmente negativo em relação ao Brasil, como, por exemplo, notícias respeitantes à invasão de áreas florestais virgens por madeireiros, criadores de gado e agricultores, ao comércio de espécies animais protegidas, às queimadas ilegais feitas por criadores de gado e agricultores latifundiários sem escrúpulos, às más condições de vida nas prisões, à prostituição, etc.

Ponto de vista/ângulo dominante/tendencial das peças com menção ao Brasil na amostra: peças positivas para as relações Portugal - Brasil

 

 

Peças jornalísticas cujo tom, ângulo ou ponto de vista dominante tenda a estreitar positivamente as relações entre Portugal e o Brasil, como uma notícia sobre o estabelecimento de um acordo comercial, etc.

Ponto de vista/ângulo dominante/tendencial das peças com menção ao Brasil na amostra: peças negativas para as relações Portugal - Brasil

 

 

Peças jornalísticas cujo tom, ângulo ou ponto de vista dominante tenda a prejudicar as relações entre Portugal e o Brasil, como um editorial criticando as afirmações de um governante ou outro responsável de um dos países sobre o outro país.

Géneros jornalísticos: nota/notícia breve

Relato sucinto e descritivo de um acontecimento, geralmente não tendo mais de dois ou três parágrafos curtos, com ou sem citações directas e/ou parafraseadas de outras fontes que não o jornalista, e que traz informação nova.

 

 

Géneros jornalísticos: notícia desenvolvida ou reportagem

Relato desenvolvido e aprofundado de um acontecimento, em geral predominantemente descritivo, embora possa ter facetas analíticas e até opinativas, e que possui, geralmente, citações directas e/ou parafraseadas de outras fontes que não o jornalista.  Admitiram-se nesta categoria diversos géneros de reportagem: reportagem retrospectiva de acontecimento, reportagem de acção, reportagem de personalidade ou perfil, etc.  As notícias desenvolvidas e reportagens normalmente trazem informação nova, mas, por vezes, recuperam informação antiga para contextualizarem os assuntos e permitem-se apontar pistas quanto às suas consequências.

 

 

 

Géneros jornalísticos: entrevista

Peça jornalística susceptível de permitir a um ou mais entrevistados dirigirem-se directamente ao leitor através das respostas que dão às perguntas de um jornalista, embora o jornalista oriente a entrevista em função das perguntas que coloca, de forma a trazer a público informação nova e pertinente.  Admitiram-se nesta categoria diversos géneros de entrevista: por um lado, entrevistas em "pergunta-resposta" ou em "discurso indirecto"; por outro lado, entrevistas de declarações, entrevistas de personalidade, entrevistas-inquérito, etc.   Geralmente, na entrevista é o entrevistado e não o jornalista que está em foco, pelo que a maior parte do texto tem origem no primeiro.

Géneros jornalísticos: peça de opinião ou análise

Peças jornalísticas interpretativas cuja maioria das orações é de teor analítico ou opinativo, sendo, portanto, normalmente artigos de opinião ou análise, editoriais, etc.  Geralmente são peças que não trazem informação nova, antes se debruçam sobre dados conhecidos mas que ainda não tenham sido interpretados e até correlacionados.

 

Géneros jornalísticos: peça documental

Peças jornalísticas que funcionam como background informativo e documental para notícias, reportagens, entrevistas, etc.  Por exemplo, uma cronologia dos factos históricos que antecederam determinado acontecimento pode considerar-se uma peça documental, tal como, por exemplo, uma peça que descreva as armas de exércitos ou forças policiais.

Géneros jornalísticos: outro tipo ou tipologia mista

Peças jornalísticas que misturam diferentes tipologias.  Por exemplo, uma reportagem pode integrar uma cronologia histórica dos factos que antecederam o acontecimento, etc.

Peça essencialmente descritiva ou documental

Peça jornalística onde a maior parte das orações é descritiva, isto é, serve para descrever alguma coisa, como um facto, um acontecimento ou uma ideia.

 

 

 

 

Peça essencialmente analítica

Peça jornalística interpretativa onde a maior parte das orações é analítica, isto é, onde a maior parte das orações serve para interpretar dados factuais que são disponibilizados sob uma forma descritiva e rigorosa.  A análise pode considerar-se, segundo Pinto (1997), como estando a meio caminho entre a descrição e a opinião, pois a análise baseia-se sempre em factos, que são rigorosamente interpretados e a partir dos quais se extraem conclusões.  A análise não tem necessariamente uma intenção persuasiva e privilegiadamente argumentativa, tal e qual como acontece num artigo científico.  Numa análise, interpretam-se e relacionam-se dados de forma rigorosa e precisa, estruturam-se e organizam-se informações, orientando assim o leitor, como acontece quando se interpretam os resultados de um inquérito ou de uma sondagem no jornalismo de precisão.

 

Peça essencialmente opinativa

Peça jornalística interpretativa e argumentativa, elaborada com intuitos essencialmente persuasivos, onde a maior parte das orações é de cariz opinativo.  A opinião distingue-se da análise, na óptica de Pinto (1997), porque as opiniões não necessitam de se fundamentar em factos precisos e rigorosos.  A opinião pode, inclusivamente, ser de cariz especulativo e livre.

Fonte de informação explícita

A fonte é expressamente identificada.

 

Fonte de informação implícita

A fonte não é expressamente identificada, mas consegue-se identificá-la sem que paire qualquer dúvida no espírito do leitor (por exemplo, por já ter sido referenciada na peça).  Não deve, portanto, ser confundida com uma fonte anónima, pois o discurso é produzido por uma fonte identificável, embora esta não seja denominada.

Número de aparições de uma fonte numa peça

Número de vezes que uma fonte informativa é referida, explícita ou implicitamente, numa peça, sem que haja lugar a interrupções significativas no seu discurso por outra fonte, mesmo que se trate do jornalista.

 

Torna-se imprescindível salientar que não foram classificados dados em várias das categorias de análise quantitativa do discurso definidas a priori.  Para facilidade da apreensão dos dados, essas categorias não surgem nas tabelas de resultados (a partir da tabela 6, inclusive).  Nestas tabelas apenas surgem as categorias de análise nas quais foram classificadas informações.  Por este motivo, as tabelas não traduzem a minúcia com que foram definidas as categorias de análise e, portanto, também não traduzem a extensão da pesquisa.  Por exemplo, foram definidas a priori quase uma centena de categorias para se classificarem as peças em função do seu tema específico, mas as tabelas de resultados foram construídas tendo unicamente em conta as categorias em que foram classificadas peças, pois de outra maneira surgiriam dezenas de células em branco.  Do mesmo modo, e igualmente a título exemplificativo, a responsabilidade pela produção das peças foi distribuída por cerca de trinta categorias, englobando as principais agências noticiosas e outros órgãos jornalísticos do mundo, incluindo do Brasil, de Portugal, dos Estados Unidos e da América Latina.  Mas só foram mencionadas na tabela as categorias nas quais se classificaram dados.  Se não o fizesse, as tabelas teriam, algo despropositadamente, dezenas de células em branco, tornando-se de leitura difícil.

A análise efectuada aos jornais e revistas seleccionados procurou responder, essencialmente, às perguntas de investigação (research questions) constantes no quadro a seguir inserido.

 

Perguntas de investigação e variáveis correspondentes a aferir (texto)

 

Research questions

Variáveis

× Qual é a relevância da informação sobre o Brasil?

× Quantidade de informação (número de artigos, média por edição, espaço ocupado)

× Quais são os temas que predominam na informação sobre o Brasil?

× Tema genérico (secção de inserção) e tema específico da peça

× Qual é o grau de dependência que os órgãos de comunicação social manifestam em relação à Agência Lusa e a outras agências no que respeita às informações sobre Brasil?

× Qual é o grau de protagonismo dos órgãos de comunicação social e dos seus colaboradores na recolha e processamento da informação sobre o Brasil?

 

 

× Serviço informativo a quem a peça é atribuída

× Peças de produção própria (correspondentes, colaboradores, enviados, etc.)

× Qual é a quantidade de peças sobre o Brasil que se geram no país e fora do país?

× Procedência da peça

× Serviço informativo a quem a peça é atribuída

× Qual ou quais são os agentes/protagonistas da informação sobre o Brasil?

× Qual é o grau de pluralismo na informação sobre o Brasil?

 

× Fontes citadas e número de orações atribuídas a cada fonte

× Qual é a relevância jornalística concedida às peças sobre o Brasil?

× Ubiquação das peças (localização da peça no jornal: primeira página, última página, página interior)

× Quais os géneros jornalísticos e as tipologias discursivas que dominam na informação sobre o Brasil?

× Géneros jornalísticos

×  Peças predominantemente descritivas, documentais, analíticas e opinativas/argumentativas

× Existe equilíbrio ou desequilíbrio geográfico nas peças sobre o Brasil?

× Localidades mencionadas nas peças

 

 

Após uma primeira análise da amostra de jornais e revistas que foram objecto de estudo, verifiquei que a informação sobre o Brasil englobava unicamente textos e fotografias.  Assim, neste estudo apenas me debruço sobre essas duas facetas do discurso jornalístico impresso.

No que respeita à análise do discurso especificamente fotojornalístico sobre o Brasil, adaptei, para nortear a pesquisa, as perguntas de investigação referentes à informação textual, conforme revela o quadro a seguir inserido.

 

Perguntas de investigação e variáveis correspondentes a aferir (fotografias)

 

Research questions

Variáveis

× Qual é a relevância da informação fotográfica sobre o Brasil?

× Quantidade de fotografias (número de fotos, espaço ocupado)

× Quais são os temas que predominam na informação fotográfica sobre o Brasil?

× Qual ou quais são os agentes/protagonistas da informação fotográfica  sobre o Brasil?

× Qual é o grau de pluralidade informativa na informação fotográfica sobre o Brasil?

 

 

× Conteúdo principal das fotos

× Actantes presentes nas fotografias (protagonismo)

× Qual é o grau de dependência que os jornais manifestam em relação à Agência Lusa e a outras agências no que respeita à informação fotográfica sobre o Brasil?

× Qual é o grau de protagonismo dos jornais e dos seus colaboradores na recolha e processamento da informação fotográfica  sobre o Brasil?

 

× Serviço informativo a quem a foto é atribuída

× Fotos de produção própria (correspondentes, colaboradores, enviados, etc.)

× Existe equilíbrio ou desequilíbrio geográfico nas fotos sobre o Brasil?

× Localidades fotografadas

 

 

Escolhi estudar os jornais e revistas de grande circulação publicados em 1999 porque a análise da imprensa no ano 2000 seria atípica, uma vez que em 2000 se comemoram os 500 anos da descoberta (ou “achamento”) do Brasil, tendo havido dezenas de artigos, suplementos e revistas dedicados ao Brasil na imprensa portuguesa[13].

Uma vez que, face aos meios disponíveis, seria impossível analisar todos os jornais, seleccionei para estudo jornais tanto quanto possível representativos e de grande circulação (tendo em consideração, para avaliação da circulação dos jornais e revistas, que a mesma se reporta à realidade portuguesa).  Em concreto, escolhi como objecto de estudo jornais diários de referência que busquem, assumidamente, uma expansão nacional e que estão sedeados em Lisboa, o Público e o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, um diário tradicional do Norte, que está sedeado no Porto, embora busque uma implantação nacional, e  que é também o jornal maior tiragem média diária no país, e O Correio da Manhã,  um diário “popular” sedeado em Lisboa.  Estudei ainda o semanário português Expresso, devido à sua grande circulação em todo o território nacional, e a revista Visão, uma vez que, durante grande parte do ano de 1999, era a única revista de informação geral difundida semanal e massivamente em Portugal.  Estudei também todos os números da revista mensal de grande informação Grande Reportagem.  Portanto, gostaria de relembrar que os dados recolhidos dizem unicamente respeito à amostra de jornais e revistas analisados, pelo que as imagens do Brasil na imprensa portuguesa de grande circulação podem ser diferentes daquelas que aqui ficam registadas.  Contudo, estou convencido de que a forma como construí a amostra permitiu-me obter resultados minimamente fidedignos.

Segundo os dados da Associação Portuguesa Para o Controle de Tiragem[14], a circulação média diária dos jornais e revistas analisados, durante os três primeiros trimestres de 1999, foi a seguinte:

- Grande Reportagem: 48.500 exemplares (Janeiro de 1999);

- Visão: 80.397 exemplares;

- Expresso: 143.726 exemplares;

- Jornal de Notícias: 112.919 exemplares;

- Correio da Manhã: 76.845 exemplares;

- Diário de Notícias: 57.307 exemplares;

- Público: 53.715 exemplares.

 O estudo baseou-se numa amostra construída de 26 números (metade das semanas do ano) de cada jornal diário[15] e de doze números (um jornal por mês) do jornal Expresso e da revista Visão[16].  Por sua vez, foram analisados todos os números da Grande Reportagem.

Sempre que tal iniciativa foi aceite, foi feita uma entrevista complementar a responsáveis editoriais dos órgãos de comunicação social estudados, através da qual se procuraram explicações para os resultados obtidos com a análise quantitativa.  Procurei, ainda, relacionar os dados obtidos com a rede[17] que os órgãos de comunicação social portugueses lançam no Brasil para "capturar" os acontecimentos, levando em linha de conta que, em 1999, os jornais e revistas analisados que possuíam correspondentes no Brasil eram os seguintes:

- Público (correspondente no Rio de Janeiro);

- Diário de Notícias (correspondente no Rio de Janeiro);

- Correio da Manhã (correspondente em São Paulo);

- Jornal de Notícias (correspondente em Brasília);

- Expresso (correspondente no Rio de Janeiro).

No levantamento bibliográfico que fiz, não encontrei quaisquer trabalhos sobre este tema.  De facto, apesar do interesse que, no seio da comunidade académica das Ciências da Comunicação, portugueses e brasileiros possam sentir uns pelos outros, como se pode comprovar pela criação da Lusocom[18], o que é certo é que a única obra que se pode aproximar do tema que aqui trato é Sotaques d'Aquém e d'Além Mar, de Manuel Carlos Chaparro (1998).  Mesmo assim, este livro não trata das imagens projectadas pela imprensa de um país acerca do outro; é, sim, uma análise comparativa dos géneros jornalísticos no jornalismo impresso português e no jornalismo impresso brasileiro.  Portanto, julgo que o meu trabalho é original, embora esta originalidade apenas encontre justificação no facto de ser relativamente recente a cooperação e o diálogo sistemático entre os pesquisadores brasileiros e portugueses da área das Ciências da Comunicação.

 

 

2.       Contexto histórico: As relações entre Portugal e o Brasil na última década do Século XX

 

Do meu ponto de vista, os laços entre Portugal e o Brasil fortaleceram-se na última década do século XX.  Houve, é certo, episódios mais ou menos problemáticos.  Recordo, por exemplo, a questão da legalização dos dentistas brasileiros em Portugal (1990/91)[19] e uma certa reacção xenófoba contra os imigrantes brasileiros no nosso país[20].  Posso também realçar que ainda falta resolver a questão da reciprocidade de direitos dos portugueses no Brasil e dos brasileiros em Portugal[21].  Mas parece-me correcto dizer que se estabeleceu, de facto, um novo quadro de relacionamento bilateral, marcado pela emancipação recíproca em relação a um passado colonial e pós-colonial que parecia condicionar a evolução das relações entre os dois povos[22].  Para este fenómeno de emancipação terão contribuído as diferentes opções geo-estratégicas de cada um dos países, designadamente a opção europeia de Portugal (União Europeia) e a opção (latino-)americana do Brasil (Mercosul).  Pesem-se, porém, as palavras avisadas de Boaventura de Sousa Santos:

 

"Portugal e o Brasil são dois países de desenvolvimento intermédio, mas enquanto Portugal é um país periférico num bloco regional central (a União Europeia), o Brasil é um país central num bloco regional periférico (o Mercosul).  Ambos os países estão sob pressão dos imperativos do capitalismo global, mas enquanto o Brasil está na zona de influência do capitalismo liberal dos Estados Unidos, Portugal está na zona de influência do capitalismo social-democrático europeu.  (...)  Apesar destes contrastes, detectam-se algumas semelhanças perturbadoras entre os dois países.  As desigualdades sociais aumentaram muito nos últimos anos e as políticas sociais são pouco redistributivas em ambos os países.  A corrupção tem aumentado e instalou-se nos dois lados do Atlântico um clima de desânimo social (...) [e] resignação." (2000: 54)

 

Reuniram-se, talvez, as condições para que o relacionamento entre Portugal e o Brasil tenha passado, mais realística e concretamente, a assentar em factores como a economia e o empreendorismo (investimentos...), o turismo, as feiras internacionais, os congressos científicos e profissionais e a troca (ainda que desequilibrada, a favor do Brasil) de produtos culturais.  Sobre este último ponto, se, por um lado, a língua e a história comum já aproximavam os dois povos, a exportação brasileira de conteúdos (telenovelas, filmes, canais por cabo, música,  revistas, etc.) terá tornado o Brasil e os brasileiros mais familiares aos portugueses[23].  O inverso, porém, talvez não tenha ocorrido, pois as tentativas portuguesas de exportação de conteúdos (veja-se o caso da RTP Internacional) foram tímidas e não muito bem sucedidas.  "Se um brasileiro precisa de remeter às aulas de História para pensar em Portugal, ao português basta ligar a televisão para ver o Brasil", escrevia-se na Grande Reportagem de Abril de 2000 (p. 46).  Exemplificativamente, a música portuguesa no Brasil ainda hoje é muito conotada com nomes como o do cantor popular Roberto Leal[24].

Em termos económicos, provavelmente nunca houve tanto investimento português no Brasil como na actualidade[25], mesmo pesando os investimentos feitos pelos empresários portugueses que se refugiaram no Brasil no período pós-revolucionário de 1974-75, como António Champalimaud, que procuravam reconstruir as suas fortunas e os seus impérios industriais e comerciais.

Na verdade, os investimentos actuais da Portugal Telecom, nas telecomunicações, da EDP, na produção e distribuição de energia eléctrica, da Cimpor, nos cimentos, do Grupo Sousa Cintra, nas águas, sumos e cerveja, do Grupo Jerónimo Martins, na distribuição, ou do Grupo Sonae, na distribuição e nos aglomerados de madeira, são apenas alguns dos exemplos que poderia citar das estratégias de internacionalização no Brasil da indústria e comércio portugueses.  Atento a este facto, o ICEP já abriu, na sua delegação de São Paulo, um Centro de Apoio ao Investidor Português, e as associações empresariais portuguesas, como a Associação Empresarial de Portugal, promovem, com frequência, no Brasil, feiras e outros certames para apresentação dos produtos das empresas associadas.

Os investimentos brasileiros em Portugal também são importantes.  Neste campo, podem destacar-se, por exemplo, as participações do Grupo Globo e do Grupo Abril, os dois maiores grupos de media do Brasil, nos negócios mediáticos do ex-primeiro.ministro português e fundador do Expresso e da estação (privada) de televisão de maior sucesso em Portugal (a SIC), Francisco Pinto Balsemão.

O fenómeno recente da imigração brasileira para Portugal também terá contribuído para a redescoberta recíproca dos dois povos.  Saliente-se, porém, que, ao contrário do que sucedeu com as levas de emigrantes portugueses para o Brasil, constituídas, em grande medida, por população com baixa qualificação, os imigrantes brasileiros são, descontando os futebolistas, frequentemente, pessoas qualificadas, como dentistas, médicos, psicólogos, publicitários, arquitectos, professores, informáticos, etc.  No entanto, nem sempre a vida é fácil para os brasileiros que procuram emprego no nosso país.  Ao contrário da política de portas-abertas praticada pelo Brasil em relação aos emigrantes portugueses quando Portugal era um país de emigração, na actualidade, o nosso país, um tanto ou quanto ingratamente, tem criado imensas dificuldades à entrada e fixação de brasileiros.  Por isso, vão-se acumulando os emigrantes brasileiros ilegais no nosso país, com todos os problemas que isso levanta, e os casos de impedimento de entrada em Portugal a cidadãos brasileiros[26].  Segundo o historiador Osvaldo Munteal e o jornalista Mário Negreiros[27]:

 

"(...) 1986 marca outra fase importante na visão brasileira de Portugal.  O ingresso na União Europeia produziu, num primeiro momento, um sentimento de respeito -embora o Brasil seja muito influenciado pelos Estados Unidos, 'chique' mesmo ainda é, para os brasileiros, a Europa- mas logo a seguir veio a face antipática, o nariz arrebitado (...).  As restrições ao trabalho dos dentistas e, mais do que isso, os constatados maus-tratos impostos no Aeroporto de Lisboa a brasileiros humildes que tentavam -como há cinquenta anos atrás os minhotos e transmontanos- refazer a vida noutro país, fizeram de Portugal o parente que enriqueceu e deu as costas aos pobres da família.

(...)

Das escolas de samba (...) às escolas universitárias, há um ressentimento indisfarçável.  Quando se pensa na colonização protuguesa, o ênfase é dado à escravidão e à dizimação de índios.

(...)

Os extraordinários investimentos portugueses no Brasil (...)  são o novo dado (...).  O facto de alguns desses investimentos (...) serem feitos em actividades de alta tecnologia pode contribuir para varrer a imagem de arcaísmo de Portugal no Brasil.  Mas se as empresas alemãs no Brasil procuram realçar a sua própria nacionalidade para atribuir solidez aos seus produtos; se as empresas francesas procuram mostrar que se é francês é 'chique', as empresas portuguesas não fazem qualquer referência à sua origem.  Mais uma vez, portanto, a aproximação se dá no 'andar de cima'.  Para o 'andar de baixo', a visão brasileira de Portugal continua a depender, acima de tudo, do prazo que o 'seu' Manuel lhe conceder para o pagamento da conta atrasada."

 

Além das comemorações do quinto centenário da descoberta ou “achamento” do Brasil, um outro incontornável e palpável factor de aproximação entre os dois povos irmãos na última década foi a formalização da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 1996 (tinha sido proposta em 1989).  A propósito, é justo realçar que a CPLP se deve, em grande medida, ao génio e ao entusiasmo do antigo embaixador brasileiro em Portugal, José Aparecido de Oliveira, e ao Alto Patrocínio do Presidente Itamar Franco, do Brasil. 

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa é um projecto cultural e político-estratégico que pode vir a revelar-se importante para os países lusófonos, já que integra mais de duzentos milhões de pessoas que partilham uma língua comum.  Porém, parece-me que os seus objectivos ainda estão longe de serem alcançados, não só porque os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa estão, justamente, demasiado preocupados com os seus graves problemas internos -que vão da guerra ao subdesenvolvimento- para se poderem dedicar ao fortalecimento dos laços entre os povos lusófonos, mas também porque os dois restantes pilares da CPLP, Portugal e Brasil, fizeram opções geo-estratégicas diferentes.  No fundo, o grande problema da CPLP talvez resida na falta de vontade política para que o projecto dê certo.  Mas a sua fundação garantiu, pelo menos, o desanuviamento das relações entre Portugal e o Brasil, que se tinham deteriorado, em grande medida devido à questão, já referenciada, da legalização dos dentistas brasileiros em Portugal.

Uma outra questão pendente entre Portugal e o Brasil é o célebre Acordo Ortográfico.

Nos seus primeiros séculos de existência, a língua portuguesa tinha uma ortografia muito variável.  Este facto devia-se, essencialmente, ao estatuto secundário do português em relação ao latim, que fazia com que o ensino da língua portuguesa fosse descurado.  Aliás, os próprios gramáticos não se ocupavam muito dela e não havia uma entidade reguladora que promovesse a uniformização da escrita. Deste modo, as disparidades ortográficas do português, fenómeno natural dos processos de formação das línguas, só viriam a diminuir com a institucionalização do ensino e a generalização da imprensa.  Ainda assim, embora ao longo do século XIX tenham surgido vários projectos de reforma ortográfica, nenhum deles chegou a ser posto em prática.  Só no início do século XX foram implementadas normas ortográficas para o Português.

Em 1990, foi celebrado um Acordo Ortográfico entre a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira de Letras e representantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, que deveria ser ratificado pelas autoridades oficiais dos sete países lusófonos.  Como vantagem, era proclamada uma ortografia mais simples e acessível, que asseguraria uma melhor comunicação no mundo lusófono e daria maior peso internacional ao idioma.  Porém, o acordo levantou problemas como o da acentuação das palavras, a possibilidade da mesma palavra se escrever de duas formas, etc.  Estes problemas suscitaram fortes polémicas, não apenas entre os linguistas mas também entre a população em geral.  Por força destes acontecimentos, o Acordo Ortográfico ainda não foi ratificado por todos os países lusófonos e, como tal, ainda não foi implementado.  Mesmo assim, a penetração dos produtos culturais brasileiros em Portugal levou à adopção de algumas particularidades linguísticas brasileiras por parte dos falantes do português de Portugal, como o popular “Oi!”, embora este fenómeno esteja, ao que parece, em regressão[28].

 

 

3.       Resultados e discussão

 

A pesquisa conducente à obtenção de respostas para as perguntas de investigação formuladas permitiu o levantamento dos dados quantitativos sistematizados nas tabelas a seguir inseridas[29]:

 

 

Tabela 1

Relevância da informação sobre o Brasil na amostra

(número de peças e espaço ocupado pelas peças, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã**

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Total de peças e espaço total ocupado por informação

5.074

100%

1.992.155

100%

2.978

100%

735.327

100%

4.412

100%

1.326.780

100%

3.402

100%

1.320.008

100%

4.631

100%

2.295.403

100%

1.798

100%

522.751

100%

492

100%

674.987

100%

 

Peças sobre o Brasil

13

0,3%

10.294

0,5%

25

0,8%

5.630

0,8%

29

0,7%

6.813

0,5%

18

0,5%

4.117

0,3%

8

0,2%

2.483

0,1%

9

0,5%

1.539

0,3%

7

1,4%

22.344

3,3%

Peças sobre Brasil-

-Portugal

20

0,4%

5.226

0,3%

16

0,5%

4.535

0,6%

22

0,5%

4.414

0,3%

12

0,4%

3.636

0,3%

6

0,1%

3.782

0,2%

7

0,4%

1.854

0,4%

3

0,6%

691

0,1%

Peças sobre

Brasil-

-Outros Países*

1

0,02%

140

0,007%

1

0,03%

41

0,005%

6

0,1%

137

0,01%

4

0,1%

1.072

0,08%

0

0%

0

0%

3

0,2%

1.053

0,2%

0

0%

0

0%

Outra situação envolvendo o Brasil

2

0,04%

589

0,03%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

0,06%

916

0,2%

0

0%

0

0%

Totais de informação com menção ao Brasil

36

0,7%

16.249

0,8%

42

1,4%

10.206

1,4%

57

1,3%

11.364

0,9%

34

1%

8.825

0,7%

14

0,3%

6.265

0,3%

20

1,1%

5.362

1%

10

2%

23.035

3,4%

Média do espaço ocupado por edição por informação com menção ao Brasil

 

 

 

625

 

 

 

510

 

 

 

437

 

 

 

339

 

 

 

522

 

 

 

447

 

 

 

1.920

Média de peças por edição com informação sobre o Brasil

 

 

1,4

 

 

2,1

 

 

2,2

 

 

1,3

 

 

1,2

 

 

1,7

 

 

0,8

*Só foram classificadas peças nesta categoria quando há informação que verdadeiramente engloba um ou vários países além do Brasil e não apenas uma mera menção a esse país ou países.  Por exemplo, o jogo de uma final de um campeonato internacional de selecções de futebol pode ser incluído nesta categoria.  Porém, uma peça que diga respeito, por exemplo, ao treino da selecção brasileira para um jogo com outro país, é classificada como informação sobre o Brasil e não sobre Brasil  - Outros Países.

**Saliento, novamente, que apenas foram analisados vinte números do jornal O Correio da Manhã.  Os dados apenas se referem a esses vinte números.

Nota: nas células com quatro valores, os dois primeiros números dizem respeito ao número de peças e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números dizem respeito ao espaço ocupado pelas peças e respectiva percentagem.

 

 

Analisando a tabela 1, posso dizer que, em termos absolutos, e tendo a amostra em consideração, existe pouca informação sobre o Brasil na imprensa portuguesa de grande circulação.  Mas, em termos relativos, a informação sobre o Brasil tem algum significado nessa imprensa: a média de peças publicadas por edição é sempre superior a uma peça (exceptuando o caso da GR), atingindo mesmo uma média de 2,2 peças por edição no DN; por seu turno, a média do espaço ocupado por informação com menção ao Brasil por edição é sempre superior a 339 cm2 (a ocupação de 339 cm2 equivale a uma peça com cerca de 18,4 cm de altura e largura), atingindo mesmo 625 cm2 no JN (o que equivaleria a uma peça com 25 cm de altura e largura) e 1.920 cm2 na Grande Reportagem (o que equivaleria a um artigo com cerca de 43,8 cm de altura e largura).  Em termos comparativos, registe-se que a mancha gráfica de uma página (isto é, a superfície útil de uma página) ronda, nos tablóides, 1.000 cm2.  625 cm2 corresponde, portanto, a mais de metade da mancha gráfica de uma página de um diário e 339 cm2 corresponde a cerca de um terço da mesma mancha gráfica.  Numa revista A4 a mancha gráfica atinge cerca de 550 cm2.  447 cm2 -marca atingida na Visão- correspondem, portanto, a quase uma página.  1920 cm2 -valor atingido na Grande Reportagem- equivaleria a uma peça que ocupasse 3,5 páginas da revista.

É possível também verificar, somando os valores obtidos para cada órgão jornalístico analisado, que a informação que respeita ao Brasil sem envolver Portugal atinge 127 peças, que ocupam 57.168 cm2.  As peças que respeitam simultaneamente ao Brasil e a Portugal são 86 e ocupam 24.138 cm2.  Assim, temos um total de 213 peças com informação relativa ao Brasil, que ocupam 81.306 cm2.  Percentualmente, 59,6% do total de peças com menção ao Brasil não dizem respeito a Portugal.  Estas peças ocupam 70,3% do espaço informativo com menção ao Brasil.  Por isso, e com excepção do Jornal de Notícias, é possível dizer que o Brasil se impõe por si mesmo, em termos informativos, à imprensa portuguesa.  O critério de noticiabilidade da proximidade funciona, assim, em termos relativos - não é necessário existir informação na qual Portugal esteja envolvido para que o Brasil seja objecto de cobertura jornalística.  No entanto, o critério parece funcionar quando se procura justificar a presença do Brasil, em geral, na imprensa portuguesa.  A proximidade linguística e até cultural (incrementada pelas importações portuguesas de conteúdos brasileiros), a proximidade afectiva, etc. favorecem, sem dúvida, o Brasil enquanto país a cobrir.

Antes de terminar a interpretação desta tabela, gostaria de deixar uma advertência: a elevada superfície consagrada à informação no semanário Expresso, em comparação com os jornais diários, é enganadora.  Tem de se considerar a forma como a amostra foi construída.  O Expresso é um jornal semanário que traz sempre uma revista e vários cadernos.  Já foi mesmo alcunhado de "O Espesso".  Todo o espaço informativo de cada número da amostra foi contabilizado na análise, o que engloba, naturalmente, o espaço informativo das revistas e dos cadernos.  Porém, os diários não trazem suplementos jornalísticos todos os dias.  Por exemplo, os diários, geralmente, inserem uma revista dominical, mas, da forma como a amostra foi construída, apenas se contabilizou o espaço informativo de duas dessas revistas dominicais publicadas ao longo de 1999.  Inversamente, no caso do Expresso contabilizou-se a superfície de 12 revistas, além da superfície de todos os cadernos não comerciais.  Por isso, e embora o Expresso seja um jornal de formato clássico, tendo os seus cadernos principais uma mancha gráfica de 2.033 cm2 por página (mais ou menos o dobro da mancha gráfica dos jornais diários, todos de formato tablóide), a diferença relativa entre o espaço ocupado por informação no Expresso e nos diários não é, na realidade, tão diferenciada como aquela que transparece da tabela.

 

 

Tabela 2

Ubiquação da informação sobre o Brasil e Brasil – Outros Países na amostra (em número de peças)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Total

16

100%

26

100%

35

100%

22

100%

8

100%

13

100%

7

100%

1ª página

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Página interior

16

100%

23

88,5%

35

100%

 

22

100%

7

87,5%

13

100%

7

100%

Última

página

0

0%

3

11,5%

0

0%

0

0%

1

12,5%

0

0%

0

0%

 

Tabela 3

Ubiquação da informação sobre Brasil – Portugal na amostra (em número de peças)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Total

20

100%

16

100%

22

100%

12

100%

6

100%

7

100%

3

100%

1ª página

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Página interior

20*

100%

16

100%

22

100%

12

100%

6

100%

7

100%

3

100%

Última

página

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

*Existe uma chamada à primeira página, mas a notícia é publicada no interior.

 

 

Pela observação dos dados expressos nas tabelas 2 e 3, sou levado a concluir que o critério de noticiabilidade da proximidade[30] não funcionou em matéria de chamadas à primeira página ou de inserção de notícias na primeira página.  De facto, quer as notícias sobre o Brasil envolvendo Portugal quer as notícias exclusivamente sobre o Brasil ou Brasil – Outros Países (excluindo Portugal) foram, sem excepção, inseridas em páginas interiores.  O grafismo também influencia este resultado, pois nem todos os jornais publicam “por inteiro” notícias na primeira página.  O único jornal que fez uma chamada à primeira página para uma notícia envolvendo o Brasil foi o JN, sendo de realçar que essa notícia também implicava Portugal.

 

 

Tabela 4

Sentido da informação mista, envolvendo Portugal e Brasil, na amostra (em número de peças)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Total

20

100%

16

100%

22

100%

12

100%

6

100%

7

100%

3

100%

Portugal no Brasil

3

15%

4

25%

6

27,3%

5

41,7%

0

0%

2

28,6%

0

0%

Portugal - Brasil

4

20%

1

6,2%

8

36,4%

4

33,3%

6

100%

3

42,8%

3

100%

Brasil em Portugal

13

65%

11

68,8%

8

36,4%

3

25%

0

0%

2

28,6%

0

0%

 

 

Verifiquei, através da tabela 4, que, na generalidade dos jornais e na revista Visão, a informação que envolveu simultaneamente Portugal e o Brasil foi relativamente equilibrada no que respeita ao peso de cada um dos países nessa informação (categoria Portugal - Brasil).  Porém, no jornal O Correio da Manhã e no Jornal de Notícias a maior parte deste tipo de informação pode incluir-se na categoria “Brasil em Portugal”, ou seja, em grande medida, a informação mista dizia respeito a temas que estão relacionados com a “vivência do Brasil em Portugal”, como é o caso, por exemplo, das notícias sobre as telenovelas brasileiras que passam em Portugal ou sobre jogadores de futebol brasileiros que jogam no nosso país, funcionando, portanto, o critério de noticiabilidade da proximidade[31].  No Diário de Notícias, a informação sobre “Portugal - Brasil” e “Brasil em Portugal” foi similar, em número de peças publicadas, evidenciando, igualmente, a activação do critério de valor-notícia da proximidade.  No global, 20 peças (23,3%) foram classificadas na categoria "Portugal no Brasil", 29 peças (33,7%) foram classificadas na categoria "Portugal - Brasil" e 37 peças (43%) foram classificadas na categoria "Brasil em Portugal", ou seja, a maior parte da informação que surgiu na imprensa portuguesa e que envolveu os dois países dizia respeito à "vivência do Brasil em Portugal", embora este dado seja distorcido pelos números d'O Correio da Manhã e do Jornal de Notícias. 

 

 

Tabela 5

Ponto de vista dominante/tendencial das peças com menção ao Brasil na amostra

(em número de peças e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Total

36

100%

16.249

100%

42

100%

10.206

100%

57

100%

11.364

100%

34

100%

8.825

100%

14

100%

6.265

100%

20

100%

5.362

100%

10

100%

23.035

100%

 

Peças neutras

12

33,3%

9.286

57,1%

18

42,8%

3.610

35,4%

11

19,3%

1.322

11,6%

6

17,6%

1.634

18,5%

8

57,1%

3.278

52,3%

8

40%

1.797

33,5%

4

40%

6.364

27,6%

Positivo para o Brasil

12

33,3%

1.754

10,8%

9

21,4%

2.914

28,5%

20

35,1%

3.807

33,5%

15

44,1%

4.098

46,4%

2

14,3%

622

9,9%

7

35%

1.733

32,3%

1

10%

3.312

14,4%

Negativo para o Brasil

4

11,1%

2.227

13,7%

7

16,7%

884

8,7%

15

26,3%

2.518

22,2%

9

26,5%

799

9%

2

14,3%

500

8%

4

20%

916

17,1%

4

40%

13.248

57,5%

Positivo para as relações Portugal-Brasil

7

19,4%

2.641

16,3%

7

16,7%

1.611

15,8%

11

19,3%

3.717

32,7%

3

8,8%

2.073

23,4%

2

14,3%

1.865

29,8%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Negativo para as relações Portugal-Brasil

1

2,8%

341

2,1%

1

2,4%

1.187

11,6%

0

0%

0

0%

1

2,9%

221

2,5%

0

0%

0

0%

1

5%

916

17,1%

1

10%

111

0,5%

Nota: os dois primeiros números de cada célula dizem respeito ao número de peças e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números de cada célula dizem respeito ao espaço ocupado pelas peças e respectiva percentagem.

 

 

A análise da tabela 5 permite dizer que, tendo em consideração a amostra, e com excepção do que sucede na Grande Reportagem, a maioria das peças publicadas na imprensa portuguesa de grande circulação com informação relativa ao Brasil foi tendencialmente neutra ou positiva para o Brasil ou para as relações entre Portugal e o Brasil.  Em concreto, tomando o número de peças na sua globalidade, 31% das peças evidenciavam um ângulo tendencialmente positivo para o Brasil e 14,1% evidenciavam um ângulo tendencialmente positivo para as relações entre Portugal e o Brasil, enquanto apenas 21% das peças eram tendencialmente negativas para o Brasil e 6% eram tendencialmente negativas para as relações entre Portugal e o Brasil (27,9% das peças eram tendencialmente neutras ou equilibradas).  Portanto, na minha análise, pode não só dizer-se que a imagem que a imprensa portuguesa transmite do Brasil foi predominantemente positiva como também que essa imagem beneficiou as relações entre os dois países[32]. 

As peças que enfatizavam uma visão tendencialmente negativa sobre o Brasil diziam respeito a realidades como as condições de vida nas prisões, os protestos do MST, a instabilidade cambial, o desemprego no Estado de São Paulo, etc.; pelo contrário, as peças que enfatizavam uma visão tendencialmente positiva do Brasil diziam respeito à produção de conteúdos culturais (principalmente música), à capacidade que o governo brasileiro mostrava de controlar a crise económica, etc.  Peças que abordavam feiras, investimentos, acordos luso-brasileiros, etc. foram consideradas como sendo tendencialmente positivas para as relações entre os dois países.

 

 

Tabela 6

Secção de inserção das peças sobre o Brasil e Brasil – Outros Países na amostra

(em número de peças e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Total

16

100%

11.023

100%

26

100%

5.671

100%

35

100%

6.950

100%

22

100%

5.189

100%

8

100%

2.483

100%

13

100%

3.508

100%

7

100%

22.344

100%

 

Destaque

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

3

8,6%

963

13,9%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Internacional

3

18,75%

1.204

10,9%

4

15,4%

185

3,3%

3

8,6%

612

8,8%

5

22,7%

1.338

25,8%

2

25%

500

20,1%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Economia

3

18,75%

2.209

20%

0

0%

0

0%

13

37,1%

1.696

24,4%

6

27,3%

1.615

31,1%

3

37,5%

754

30,4%

3

23,1%

498

14,2%

0

0%

0

0%

 

Desporto

6

37,5%

5.830

52,9%

9

34,6%

3.190

56,2%

4

11,4%

1.378

19,8%

2

9,1%

499

9,6%

0

0%

0

0%

1

7,6

302

8,6%

0

0%

0

0%

Cultura, espectáculos, TV, etc.

4

25%

1.780

16,2%

11

42,3%

2.188

38,6%

6

17,1%

1.506

21,7%

7

31,9%

1.422

27,4%

1

12,5%

312

12,6%

3

23,1%

1.049

29,9%

0

0%

0

0%

 

Páginas editoriais

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Sociedade

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

4

11,4%

593

8,5%

1

4,5%

210

4%

1

12,5%

607

24,4%

3

23,1%

711

20,3%

0

0%

0

0%

Outra secção/

suplementos

0

0%

0

0%

2

7,7%

108

1,9%

2

5,7%

202

2,9%

1

4,5%

105

2%

1

12,5%

310

12,5%

3

23,1%

948

27%

7

100%

22.344

100%

Nota: Embora a revista Grande Reportagem possua secções fixas, elas não coincidem com as secções dos restantes periódicos analisados.  A maior parte das peças que a revista publica insere-se nas secções “Reportagem” ou “Viagem”, que ocupam a maior parte de cada número da Grande Reportagem.  Daí que a totalidade das peças tenha sido classificada na categoria “Outra secção”.

Nota: os dois primeiros números de cada célula dizem respeito ao número de peças e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números de cada célula dizem respeito ao espaço ocupado pelas peças e respectiva percentagem.

 

 

Tabela 7

Secção de inserção das peças sobre Brasil – Portugal na amostra

(em número de peças e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Total

20

100%

5.226

100%

16

100%

4.535

100%

22

100%

4.414

100%

12

100%

3.636

100%

6

100%

3.782

100%

7

100%

1.854

100%

3

100%

691

100%

 

Destaque

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

3

13,6%

1.026

23,2%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

14,3%

280

15,1%

0

0%

0

0%

 

Interna-cional

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

33,3%

968

25,6%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Economia

3

15%

1.167

22,3%

4

25%

1.740

38,4%

3

13,6%

695

15,7%

4

33,3%

1.446

39,8%

3

50%

2.095

55,4%

3

42,9%

1.098

59,2%

0

0%

0

0%

 

Desporto

10

50%

2.314

44,3%

0

0%

0

0%

3

13,6%

889

20,1%

1

8,3%

608

16,7%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Cultura, espectáculos, TV, etc.

6

30%

771

14,7%

11

68,8%

2.698

59,5%

8

36,4%

1.232

27,9%

4

33,3%

680

18,7%

1

16,7%

719

19%

1

14,3%

423

22,8%

0

0%

0

0%

 

Páginas editoriais

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

33,3%

111

16,1%

 

Sociedade

0

0%

0

0%

1

6,2%

97

2,1%

0

0%

0

0%

3

25%

902

24,8%

0

0%

0

0%

2

28,5%

53

2,8%

0

0%

0

0%

Outra secção/

suplementos

1

5%

974

18,6%

0

0%

0

0%

5

22,7%

572

13%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

66,7%

580

83,9%

Nota: Embora a revista Grande Reportagem possua secções fixas, elas não coincidem com as secções dos restantes periódicos analisados.  Daí os resultados serem algo atípicos.

 

 

Quanto à secção de inserção de peças sobre o Brasil e Brasil – Outros Países, notei que existiu um número de peças inferior ao que esperava na secção Internacional.  O destaque dado à informação sobre Cultura, TV e Espectáculos em todos os jornais, à excepção do Expresso e da revista Grande Reportagem, demonstra, na minha opinião, a capacidade de penetração dos produtos culturais brasileiros em Portugal e o interesse (jornalístico e do público) que existe sobre esses mesmos produtos (desde as telenovelas aos programas do Ratinho ou da Tiazinha).  

O JN é um jornal “popular” que tradicionalmente privilegia a informação desportiva, particularmente o futebol (além da informação local); portanto, o destaque dado neste jornal ao desporto brasileiro corresponde ao esperado.  O mesmo se pode dizer do "popular" Correio da Manhã.  Os jornais de referência Público, Expresso e Diário de Notícias, bem como a revista Visão, conforme esperava, dão menos destaque aos conteúdos desportivos.

A importância actual da economia brasileira, num contexto simultâneo de globalização e de formação de grandes organizações de mercado (neste caso, o Mercosul), reflectiu-se no destaque dado à informação económica com menção ao Brasil, com excepção do "popular" Correio da Manhã e da revista mensal de grandes reportagens Grande Reportagem, que não possui, sequer, uma secção regular de economia (a maior parte dos conteúdos da GR insere-se nas secções genéricas "Reportagem" e "Viagem").

O Diário de Notícias foi o único jornal a incluir na secção Destaque três peças sobre o Brasil.  Um tanto ou quanto estranhamente, nenhum dos jornais analisados fez referência ao Brasil nas páginas editoriais, tradicionalmente usadas para veiculação de opinião e análises.

As peças com informação simultânea sobre Brasil e Portugal tiveram uma distribuição algo semelhante à das peças sobre o Brasil e Brasil - Outros Países nos órgãos de comunicação analisados, provavelmente pelos mesmos motivos.  A natural excepção refere-se à inserção de peças na secção Internacional, que foi, logicamente, maior para a informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países.  Ainda assim, julgava que a actual estratégia de internacionalização da economia portuguesa, parcialmente direccionada para o Brasil, gerasse um maior volume de informação na área económica, apesar de esta ser relevante em todos os jornais (embora o Diário de Notícias tenha inserido menos informação na secção de economia do que eu supunha que acontecesse). 

É ainda de referir que os dados recolhidos, pondere-se o número de peças ou o espaço informativo por elas ocupado, apontam no sentido das mesmas conclusões genéricas que se extraíram da análise à informação sobre Brasil - Outros Países, ou seja, notou-se, efectivamente, com excepção da Grande Reportagem, um destaque relativo à informação sobre Cultura, TV e Espectáculos, hipoteticamente devido ao interesse que a produção cultural brasileira desperta entre nós, e um destaque claro do fenómeno desportivo no Jornal de Notícias, provavelmente numa tentativa de correspondência ao sistema de expectativas do seu público.

 

 

Tabela 8

Tema específico dominante da informação sobre o Brasil e Brasil – Outros Países na amostra

(em número de peças e espaço ocupado em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Total

16 peças

11.023 cm2

100%

26 peças

5.671 cm2

100%

35 peças

6.950 cm2

100%

22 peças

5.189 cm2

100%

8 peças

2.483 cm2

100%

13 peças

3.508 cm2

100%

7 peças

22.344cm2

100%

Relações políticas e diplomáticas Brasil -

ONU

1

6,25%

480

4,4%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Conflitos ou crises internas, manifestações

2

12,5%

724

6,6%

 

-

1

2,9%

78

1,1%

4

13,6%

1.059

20,4%

1

12,5%

265

10,7%

 

-

 

-

Nomeações, mudanças no Governo, projectos do Governo, personalidades do Governo

 

1

6,25%

250

2,3%

 

 

 

-

 

 

 

-

 

1

4,5%

279

5,4%

 

 

 

-

 

2

15,4%

344

9,8%

 

 

 

-

Outros temas políticos, legislação

1

6,25%

476

4,2%

 

-

1

2,9%

170

2,4%

 

-

 

-

1

7,7%

304

8,7%

 

-

Relações económicas Brasil-EUA

 

-

 

-

3

8,5%

183

2,6%

 

-

 

-

 

-

 

-

Relações económicas Brasil-Outros países

 

 

-

 

 

-

5

14,2%

424

6,1%

 

 

-

1

12,5%

310

12,5%

 

 

-

 

 

-

Questões monetárias: taxas de câmbio, taxas de juro, etc.

 

1

6,25%

405

3,7%

 

 

-

 

3

8,5%

522

7,5%

 

2

9,1%

732

14,1%

 

1

12,5%

192

7,7%

 

 

-

 

 

-

Investimentos ou fluxos de capital, fusões e aquisições, bolsa, dividendos, lucros das empresas

 

 

 

-

 

 

 

-

 

 

1

2,9%

501

7,2%

 

 

3

13,6%

594

11,4%

 

 

 

-

 

 

1

7,7%

110

3,1%

 

 

 

-

 

Problemas económicos

 

-

1

3,8%

36

0,6%

1

2,9%

81

1,1%

 

-

 

-

1

7,7%

226

6,4%

 

-

Outros tópicos económicos positivos ou neutros

 

 

-

 

 

-

1

2,9%

218

3,1%

1

4,5%

289

5,6%

2

25%

562

22,6%

1

7,7%

462

13,2%

 

 

-

Problemas sociais em geral, MST e reforma agrária, vida nas favelas

 

 

-

 

1

3,8%

108

1,9%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

1

14,3%

4.968

22,2%

Problemas da justiça, vida nas prisões, corrupção e compadrio na justiça

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

1

14,3%

4.416

19,8%

 

Pornografia infantil

 

-

 

-

1

2,9%

196

2,8%

 

-

 

-

 

-

 

-

Crimes e delitos de grande dimensão, assassinatos

 

 

-

1

3,8%

40

0,7%

1

2,9%

44

0,6%

1

4,5%

210

4%

1

12,5%

235

9,5%

 

 

-

 

 

-

 

Tráfico de droga

 

-

1

3,8%

34

0,6%

 

-

 

_

 

-

 

-

 

-

Êxitos na luta contra o tráfico de droga, prisões de traficantes, campanhas contra o tráfico de droga

 

 

 

 

-

 

 

 

1

3,8%

75

1,3%

 

 

 

1

2,9%

182

2,6%

 

 

 

 

_

 

 

 

 

-

 

 

 

 

 

-

 

 

 

 

-

Grandes acidentes e catástrofes, incêndios, queimadas

 

 

-

 

 

-

1

2,9%

217

3,1%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Artes plásticas, artesanato,

arquitectura, exposições de arte

 

 

-

 

1

3,8%

43

0,8%

 

 

-

 

 

_

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

Espectáculos multifacetados

 

 

-

1

3,8%

33

0,6%

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

Espectáculos musicais, músicas e músicos, concertos

2

12,5%

1.780

16,1%

1

3,8%

52

0,9%

5

14,2%

1.210

17,4%

1

4,5%

225

4,3%

 

 

-

 

 

-

 

Literatura, escritores, críticas e tertúlias literárias, exposições e feiras do livro

 

 

 

-

 

 

1

3,8%

34

0,6%

 

 

1

2,9%

296

4,2%

 

 

5

22,7%

1.202

23,2%

 

 

 

-

 

 

 

-

 

 

 

-

Teatro, cinema, actores

 

-

 

-

 

-

 

-

1

12,5%

312

12,6%

2

15,4%

449

12,8%

 

-

Telenovelas, actores de telenovelas

 

-

8

30,8%

2.026

35,7%

2

5,7%

577

8,3%

 

-

 

-

 

-

 

-

Outros temas de TV, rádio, etc.

 

-

 

-

1

2,9%

386

5,5%

 

-

 

-

 

-

1

14,3%

3.312

14,8%

Turismo, locais turísticos, viagens

2

12,5%

1.078

9,8%

 

-

 

-

 

-

 

-

1

7,7%

510

14,5%

1

14,3%

3.312

14,8%

 

Futebol, futebolistas

6

37,5%

5.830

55,9%

6

23,1%

2.351

41,5%

2

5,7%

417

6%

2

9,1%

499

9,6%

1

12,5%

607

24,4%

1

7,7%

302

8,6%

 

-

Outros desportos, outros desportistas

 

-

3

11,6%

839

14,8%

3

8,5%

961

13,8%

2

9,1%

100

1,9%

 

-

 

-

 

-

Religiões tradicionais, religiosos

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

1

7,7%

600

17,1%

2

28,5%

4.128

18,5%

Novas religiões, seitas, IURD

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

1

7,7%

150

4,3%

 

-

Assuntos de interesse humano não classificáveis noutras categorias

 

 

-

 

 

-

 

1

2,9%

287

4,1%

 

 

-

 

 

-

 

1

7,7%

51

1,5%

 

 

-

História do Brasil, visões globais e actuais do Brasil

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

1

14,3%

2.208

9,9%

Nota 1: Nota 1: o primeiro valor em cada célula refere-se ao número de peças, sendo seguido pela respectiva percentagem; o terceiro valor refere-se ao espaço ocupado pelas peças, em cm2, sendo seguido pela respectiva percentagem.

 

 

Tabela 9

Tema específico dominante da informação sobre Brasil - Portugal na amostra

(em número de peças e espaço ocupado em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Total

20

5.226 cm2

100%

16

4.535

100%

22

4.414

100%

12

3.636

100%

6

3.782

100%

7

1.854

100%

3

691

100%

Relações políticas e diplomáticas Brasil-Portugal (visão positiva ou neutra), cimeiras, reuniões

 

 

 

-

 

 

 

 

-

 

 

 

 

-

 

 

 

-

 

 

1

16,7%

413

10,9%

 

 

 

-

 

 

 

-

Emigrantes portugueses no Brasil (visão positiva ou neutra)

 

 

-

 

 

-

1

4,55%

90

2%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Fugas de criminosos para Portugal

 

-

 

-

 

-

1

8,3%

240

6,6%

 

-

 

-

 

-

Relações macro-económicas Brasil-Portugal e UE-Mercosul

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

1

16,7%

968

25,6%

 

 

-

 

 

-

Investimentos ou fluxos de capital, fusões e aquisições, dividendos, lucros das empresas

 

1

5%

310

5,9%

 

3

18,75%

553

12,2%

 

2

9,1%

200

4,6%

 

3

25%

1.225

33,7%

 

2

33,3%

1.127

29,8%

 

3

42,8%

1.098

59,2%

 

 

 

 

-

Outros tópicos económicos positivos ou neutros

1

5%

857

16,4%

1

6,25%

1.187

26,2%

2

9,1%

278

6,3%

1

8,3%

221

6,1%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Outros tópicos económicos negativos

 

-

 

-

1

4,55%

217

4,9%

 

-

 

-

 

-

 

 

-

 

Futebol e futebolistas

8

40%

1.674

32%

 

-

 

3

13,6%

633

14,4%

1

8,3%

608

16,7%

 

-

 

-

 

-

Outros desportos e outros desportistas

2

10%

640

12,2%

 

-

1

4,55%

256

5,8%

 

-

 

-

 

-

 

-

Comemoração dos 500 anos da descoberta do Brasil

 

 

-

1

6,25%

97

2,1%

3

13,6%

598

13,5%

1

8,3%

230

6,3%

1

16,7%

555

14,7%

1

14,3%

280

15,1%

2

66,6%

139

20,1%

Ciências sociais e humanas, acções de ciência (congressos...)

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

1

8,3%

182

5%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Cinema, teatro, actores, problemas do cinema e dos actores

 

2

10%

247

4,7%

 

1

6,25%

332

7,3%

 

1

4,55%

317

7,2%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

1

33,3%

552

79,9%

Músicos, músicas, espectáculos e concertos

3

15%

424

8,1%

6

37,5%

1.562

34,4%

4

18,2%

1.253

28,4%

2

16,7%

277

7,6%

 

-

 

-

 

-

Literatura, escritores, críticas e tertúlias literárias, livros, exposições e feiras do livro

 

 

2

10%

974

18,6%

 

 

 

-

 

 

1

4,55%

187

4,2%

 

 

1

8,3%

221

6,1%

 

 

 

 

-

 

 

1

14,3%

25

1,4%

 

 

 

-

Espectáculos multifacetados, grandes festas, festivais

 

 

-

2

12,5%

687

15,1%

1

4,55%

120

2,7%

 

 

-

1

16,7%

719

19%

 

 

-

 

 

-

 

 

TV, rádio, etc.

 

-

2

12,5%

117

2,5%

1

4,55%

215

4,9%

1

8,3%

1.432

39,4%

 

-

1

14,3%

423

22,8%

 

-

 

Moda, desfiles

1

5%

100

1,9%

 

-

1

4,55%

50

1,1%

 

-

 

-

 

-

 

-

Assuntos de interesse humano não classificáveis noutras categorias

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

1

14,3%

28

1,5%

 

 

-

Nota 1: o primeiro valor em cada célula refere-se ao número de peças, sendo seguido pela respectiva percentagem; o terceiro valor refere-se ao espaço ocupado pelas peças, em cm2, sendo seguido pela respectiva percentagem.

 

 

A distribuição da matéria informativa pelos temas específicos da informação (tabelas 8 e 9) confirma, no essencial, as conclusões genéricas que já extraí dos dados expostos nas tabelas 6 e 7.  Inclusivamente, se procedermos a uma contabilização dos totais de todos os órgãos jornalísticos estudados por categoria, verificamos que os conteúdos principais da informação sobre o Brasil se podem inscrever nas grandes áreas temáticas da produção cultural (24,5% das peças - 7,9% sobre telenovelas, 7,9% sobre literatura e artes e 7,1% sobre música), economia e negócios (22,8%), futebol (14,2%) e política e diplomacia (12,6%); quase da mesma maneira, os conteúdos com referência simultânea ao Brasil e a Portugal podem inscrever-se nas grandes áreas temáticas da produção cultural (41,9% das peças - 11,6% sobre telenovelas, 10,5% sobre música, 9,3% sobre literatura), economia e negócios (24,4%), futebol (13,9%), 500 anos do descobrimento do Brasil (10,5%) e outros desportos (9,3%).

A análise das tabelas 8 e 9 permite também descobrir que existe alguma diversidade temática entre os jornais e revistas analisados, no que respeita à informação sobre o Brasil, sobre Brasil - Outros Países e mesmo sobre Brasil - Portugal.

Em concreto, a tabela 8 revela que o Diário de Notícias, com informação distribuída por dezanove categorias, foi o jornal que abordou mais tópicos informativos, apresentando, portanto, um índice de diversidade temática superior aos restantes órgãos de comunicação social, pelo menos no que respeita à informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países.  O DN é seguido pelo Correio da Manhã (informação distribuída por doze categorias), Visão (informação distribuída por onze categorias), Público (informação distribuída por dez categorias), Jornal de Notícias (informação distribuída por oito categorias), Expresso (informação distribuída por sete categorias) e Grande Reportagem (informação distribuída por seis categorias).  Se em relação à Grande Reportagem o resultado não me parece surpreendente, já que a revista publica, como o seu próprio nome indica, grandes reportagens, surgindo poucas peças em cada número, no que respeita à imprensa diária e semanal os resultados relativos à diversidade temática são inferiores aos que eu esperava, em especial nos casos do Público e do Expresso.

Prosseguindo com a análise dos dados expostos na tabela 8, referente à informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países, parece-me ser possível afirmar o seguinte:

· Revelando a importância que a economia brasileira tem para o mundo e para Portugal, em época de globalização e de internacionalização das empresas portuguesas, os temas políticos foram menos destacados do que os temas económicos, com excepção do Correio da Manhã (que pouco abordou uns ou outros, preferindo dirigir a sua atenção, enquanto jornal assumidamente "popular", para as telenovelas, etc.), da revista Visão (onde se notou um equilíbrio entre os temas políticos e os económicos) e da Grande Reportagem (que também não se referiu a política nem a economia, preferindo direccionar-se essencialmente para temas sociais e turísticos susceptíveis de constituir matéria para grandes reportagens);

· O news item "conflitos e crises internas" só foi particularmente destacado no jornal Público, o que demonstra que a imprensa portuguesa de grande circulação não trata o Brasil como um país instável, nomeadamente se excluirmos os aspectos económicos da questão;

· Correspondendo às minhas expectativas, no campo da informação desportiva, e com a excepção do Diário de Notícias e da Grande Reportagem (que nem sequer toca no tema), o futebol é mesmo o desporto-rei; neste aspecto, é de salientar a prestação já tradicional do Jornal de Notícias no campo da informação desportiva, sendo acompanhado pelo "popular" Correio da Manhã;

· Ao contrário do que eu esperava, o tema do Brasil como país turístico por excelência esteve pouco presente nos jornais (aliás, só esteve presente no Jornal de Notícias); porém, indo ao encontro das minhas expectativas, o mesmo não sucedeu nas revistas (magazines) Visão e Grande Reportagem;

· Temas particularmente negativos para a imagem do Brasil, como crimes e delitos, prostituição, tráfico de droga, etc. foram pouco abordados, deixando transparecer que a imprensa portuguesa de grande circulação não representa o Brasil como um país particularmente inseguro; porém, a Grande Reportagem, que destacou temas sociais problemáticos (protestos do MST, vida nas prisões brasileiras, etc.), operou no sentido contrário, dando uma visão particularmente negativa do Brasil (apesar de também falar do Brasil como país turístico, mais ainda, como um país que, em tempos de destruição natural e degradação ambiental, ainda possui um património natural de inegável valor);

· Embora eu pensasse, inicialmente, que quer a imprensa diária quer a semanal destacassem os espectáculos musicais das "estrelas" brasileiras, essa minha expectativa só encontrou correspondência na imprensa diária; a presença de informação sobre teatro foi residual (apenas surge na Visão e no Expresso), tal como a informação sobre literatura, com excepção do Público, que lhe dedicou bastante relevo;

· Apesar do impacto que as novas "seitas" ou "religiões", como a IURD, tiveram ou ainda têm em Portugal, o tema foi pouco abordado na imprensa portuguesa de grande circulação, ao contrário do que eu esperaria; mas este facto também demonstra, na minha opinião, que a IURD adoptou um low profile em Portugal, o que retirou essa Igreja das manchetes dos jornais; o pouco destaque dado a essa temática será, provavelmente, uma consequência do tema IURD se ter tornado um assunto, de alguma maneira, "esgotado".

A informação sistematizada na tabela 9, quando comparada com a da tabela 8, mostra que tende a existir maior diversidade temática na cobertura de assuntos sobre o Brasil e Brasil - Outros Países do que na cobertura de assuntos sobre Brasil - Portugal.  O Diário de Notícias continua a ser o jornal que apresenta maior diversidade temática na cobertura de assuntos noticiosos que envolvam simultaneamente Brasil e Portugal.  Todavia, neste jornal a informação sobre Brasil - Portugal distribuiu-se por apenas treze categorias, menos seis categorias do que na tabela 8, que respeitava à informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países.  Em matéria de diversidade temática na cobertura de assuntos sobre Brasil - Portugal, seguem-se o Público (informação distribuída por nove categorias, menos uma do que anteriormente), o Jornal de Notícias (informação distribuída por oito categorias, valor de diversidade temática idêntico ao respeitante à tabela acerca da cobertura relacionada com o Brasil e Brasil - Outros Países), o Correio da Manhã (informação distribuída por sete categorias, menos cinco do que sucedeu na tabela 8), Visão (informação distribuída por cinco categorias, menos seis do que anteriormente) e Grande Reportagem (que apenas aborda dois temas -as comemorações dos 500 anos do "achamento" do Brasil e cinema-, dando pouco destaque à informação sobre os dois países).

Prosseguindo a análise dos dados sistematizados na tabela 9, respeitante à informação jornalística que envolve simultaneamente o Brasil e Portugal, é possível ainda concluir o seguinte:

· Reflectindo a estratégia de internacionalização das empresas portuguesas e a importância que a economia brasileira tem para Portugal, também aqui a informação sobre economia se sobrepôs à informação sobre política, em toda a imprensa (se ignorarmos a Grande Reportagem, que não abordou temas políticos ou económicos); aliás, o semanário Expresso é o único periódico que aborda o tema das relações políticas e diplomáticas entre Portugal e o Brasil;

· No desporto, também aqui a cobertura do futebol liderou a informação desportiva, o que é particularmente relevante no Jornal de Notícias, diário que dá particular destaque ao desporto nas suas páginas; algo estranhamente, esteve ausente do Correio da Manhã, outro jornal "popular", informação desportiva que envolvesse simultaneamente Portugal e o Brasil, mesmo existindo, como existem, tantos jogadores brasileiros de futebol a jogar em Portugal;

· Com excepção do Jornal de Notícias, toda a imprensa fez referência, nas datas analisadas, às comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil, que iriam ter lugar no ano seguinte (2000), embora, em termos relativos, tenha sido providenciada pouca informação acerca do tema;

· Mais uma vez se nota que é a imprensa diária que deu maior destaque à informação sobre a música e os músicos brasileiros em Portugal (e vice-versa), particularmente sobre os espectáculos musicais; Correio da Manhã, Diário de Notícias e Expresso também se referem a grandes espectáculos e festas luso-brasileiros de cariz multifacetado;

· Aquilo que literariamente se faz com a língua que une Portugal e o Brasil constituiu um tema pouco abordado na imprensa portuguesa; de facto, os assuntos literários luso-brasileiros foram apenas focados, e com dimensão relativamente reduzida, no Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Público e Visão;

· Os assuntos relacionados com  televisão mereceram destaque relativo no Público e na Visão (onde se abordaram os problemáticos programas do Ratinho e da Tiazinha, por exemplo), tendo sido também referenciados no Correio da Manhã (particularmente telenovelas) e no Diário de Notícias.

 

 

Tabela 10

Géneros jornalísticos aplicados nas peças sobre o Brasil e Brasil - Outros Países na amostra

(em número de peças e espaço ocupado em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande

Reportagem

 

Total

16

11.023 cm2

100%

26

5.671 cm2

100%

35

6.950 cm2

100%

22

5.189 cm2

100%

8

2.483 cm2

100%

13

3.508 cm2

100%

7

22.344 cm2

100%

 

 

Nota/

notícia breve

 

4

25%

524

4,7%

 

 

16

61,5%

818

14,4%

 

18

51,4%

2.147

30,9%

 

 

15

68,2%

2.364

45,6%

 

1

12,5%

192

7,7%

 

 

3

23,1%

454

12,9%

 

 

 

-

 

Notícia desenvolvida ou reportagem

10

62,5%

7.307

66,3%

8

30,8%

4.163

73,4%

7

20%

1.889

27,2%

6

27,3%

2.270

43,7%

7

87,5%

2.291

92,3%

10

76,9%

3.054

87,1%

7*

100%

22.344*

100%

 

Entrevista

2

12,5%

3.192

29%

 

-

3

8,6%

1.162

16,7%

 

-

 

-

 

-

 

-

Peça de opinião

ou análise

 

-

 

-

5

14,3%

1.274

18,3%

1

4,5%

555

10,7

 

-

 

-

 

-

 

Peça documental

 

-

 

-

2

5,7%

478

6,9%

 

-

 

-

 

-

 

-

Outro tipo ou tipologia mista

 

-

2

7,7%

690

12,2%

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

------------------

------------------

------------------

------------------

------------------

------------------

------------------

------------------

Peça essencialmente descritiva ou documental

16

100%

11.023

100%

24

92,3%

4.981

87,8%

28

80%

5.198

74,8%

21

95,5%

4.634

89,3%

5

62,5%

1.729

69,6%

11

84,6%

2.978

84,9%

1

14,3%

2.208

9,9%

Peça essencialmente analítica

 

-

2

7,7%

690

12,2%

6

17,1%

1.255

18%

1

4,5%

555

10,7

3

37,5%

754

30,4%

2

15,4%

530

15,1%

6

85,7%

20.136

90,1%

Peça essencialmente opinativa

 

-

 

-

1

2,9%

497

7,2%

 

-

 

-

 

-

 

-

*Uma das peças classificadas como reportagens trata-se de um relato imaginário de um italiano na Amazónia, no século XVII.  Portanto, é uma reportagem ficcionada sobre a história do Brasil, mais concretamente sobre a delimitação das fronteiras do Brasil na densa floresta tropical.

 

 

Tabela 11

Géneros jornalísticos aplicados nas peças sobre Brasil - Portugal na amostra

(em número de peças e espaço ocupado em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande

Reportagem

 

Total

20

5. 226 cm2

100%

16

4.535 cm2

100%

22

4.414 cm2

100%

12

3.636 cm2

100%

6

3.782 cm2

100%

7

1.854 cm2

100%

3

691 cm2

100%

 

Nota/

notícia breve

1

5%

100

1,9%

6

37,5%

856

18,9%

13

59,1%

1.232

27,9%

10

83,3

1.596

43,9%

 

-

1

14,3%

25

1,4%

 

-

Notícia desenvolvida ou reportagem

18

90%

4.576

87,8%

9

56,25%

3.203

70,6%

5

22,7%

1.097

24,8%

2

16,7%

2.040

56,1%

5

83,3%

2.814

74,4%

5

71,4%

1.801

97,1%

 

-

 

Entrevista

1

5%

540

10,3%

1

6,25%

476

10,5%

2

9,1%

1.732

39,2%

 

-

 

 

-

 

-

 

-

Peça de opinião ou análise

 

-

 

-

2

9,1%

353

8%

 

-

1

16,7%

968

25,6%

 

-

2

66,6%

139

20,1%

 

Crónica

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

1*

14,3%

28*

1,5%

 

-

 

Coluna

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

1

33,3%

552

79,9%

------------------

------------------

------------------

------------------

------------------

------------------

------------------

------------------

Peça essencialmente descritiva ou documental

20

100%

5.226

100%

16

100%

4.535

100%

20

90,9%

4.061

92%

10

83,3

1.596

43,9%

5

83,3%

2.814

74,4%

2

28,6%

305

16,5%

 

-

 

Peça essencialmente analítica

 

-

 

-

2

9,1%

353

8%

2

16,7%

2.040

56,1%

1

16,7%

968

25,6%

4

57,1%

1.521

82%

 

-

Peça essencialmente opinativa

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

1

14,3%

28

1,5%

3

100%

691

100%

*Excerto.

 

 

A análise das tabelas 10 e 11 permitem concluir que a maior parte da informação com menção ao Brasil na imprensa portuguesa foi constituída, predominantemente, por notícias e reportagens, havendo relativamente pouco espaço para peças de opinião ou análise ou mesmo para entrevistas.  O discurso foi, por seu turno, tendencialmente descritivo (84,1% do total de peças, contra 13,6% tendencialmente analíticas e 2,3% tendencialmente opinativas), o que contraria a tendência para a análise que autores como Pinto (1997) ou Barnhurst e Mutz (1997) identificam na imprensa de referência actual.  No entanto, existem algumas excepções dignas de menção, pois apontam no sentido enunciado por Pinto (1997) ou Barnhurst e Mutz (1997).  A Grande Reportagem assumiu uma vocação essencialmente analítica (na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países) ou opinativa (na informação sobre Brasil - Portugal), embora isso se deva ao facto de essa revista publicar, quase exclusivamente, grandes reportagens e peças opinativas.  Mas, além da GR, o semanário Expresso (particularmente no que respeita à informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países), a revista Visão e o diário Público (especialmente na informação sobre Brasil - Portugal) também evidenciaram uma certa tendência para o jornalismo analítico, aliás em conformidade com o destaque que dão aos temas económicos, que constituem matéria-prima particularmente querida para a análise jornalística.

 

 

Tabela 12

Número total de fontes de informação explícitas nas peças sobre o Brasil e Brasil - Outros Países na amostra

 

 

Jornal de

Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Número total de fontes

38

100%

17

100%

34

100%

32

100%

15

100%

20

100%

42

100%

Fontes portuguesas

16

42,1%

4

23,5%

8

23,5%

6

18,6%

6

40%

8

40%

6

14,3%

Fontes brasileiras

18

47,4%

10

58,8%

19

55,9%

21

65,6%

8

53,3%

10

50%

33

78,6%

Fontes não identificáveis/fontes anónimas/

outras fontes

 

4

10,5%

 

3

17,6%

 

7

20,6%

 

5

15,6%

 

1

6,7%

 

2

10%

 

3

7,1%

 

 

Tabela 13

Número total de fontes de informação explícitas nas peças sobre Brasil - Portugal na amostra

 

 

Jornal de

Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Número total de fontes

36

100%

19

100%

23

100%

37

100%

11

100%

15

100%

5

100%

Fontes portuguesas

21

58,3%

6

31,6%

10

43,5%

18

48,6%

6

54,5%

8

53,3%

4

80%

Fontes brasileiras

12

33,3%

6

31,6%

6

26,1%

18

48,6%

5

45,5%

6

40%

1

20%

Fontes não identificáveis/fontes anónimas/

outras fontes

 

3

8,3%

 

7

36,8%

 

7

30,4%

 

1

2,8%

 

0

0%

 

1

6,7%

 

0

0%

 

 

A análise das tabelas 12 e 13 permite verificar que na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países a maior parte das fontes era, naturalmente, brasileira.  Em concreto, das 198 fontes, 54 (27,3%) eram portuguesas e 119 (60,1%) era brasileira.  Não deixa, no entanto, de surpreender, com excepção do que sucede na Grande Reportagem e, com menor intensidade, no Público, o facto de ter sido usado um número significativo de fontes portuguesas na informação sobre outro(s) país(es), o que pode deixar antever que a informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países fabricada pela imprensa portuguesa de grande circulação possui uma faceta etnocêntrica.

Ao invés, no que respeita à informação sobre Brasil - Portugal já se compreende melhor o domínio relativo das fontes portuguesas (73 fontes, representando 50% do total, contra 54 fontes brasileiras, representando 37% do total), devido, provavelmente, à facilidade de contacto.  O Correio da Manhã e o Público apresentam, inclusivamente, um equilíbrio notório no que respeita à citação de fontes portuguesas e brasileiras.

 

 

Tabela 14

Tipo e relevância das fontes implícitas e explícitas usadas nas peças sobre o

Brasil e Brasil - Outros Países na amostra

(número de aparições nas peças e número de orações atribuídas à fonte)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

O próprio jornalista, colunista, colaborador ou correspondente

44

58,7%

123

62,4%

34

36,9%

111

49,3%

46

60,5%

183

61,8%

33

51,6%

122

67,4%

21

51,2%

103

71%

18

33,3%

87

56,9%

27

29,3%

398

63,8%

Especialistas ou comentadores (excepto se integráveis noutras categorias)

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

1

1,6%

1

0,5%

 

2

4,9%

2

1,4%

 

1

1,9%

2

1,3%

 

4

4,3%

18

2,9%

Opinador não regular

-

_

-

-

-

-

-

 

Governos

3

4%

9

4,6%

2

2,2%

3

1,3%

2

2,6%

4

1,3%

10

15,6%

19

10,5%

3

7,3%

5

3,4%

6

11,1%

13

8,5%

2

2,2%

3

0,5%

 

Funcionário superior

 

-

 

-

1

1,3%

1

0,3%

 

-

 

-

1

1,9%

1

0,6%

4

4,3%

14

2,2%

 

Partido político no poder

2

2,7%

5

2,5%

 

_

 

-

2

3,1%

3

1,65%

 

-

 

-

 

-

 

Partido político na oposição

2

2,7%

7

3,55%

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

6

6,5%

73

11,7%

Iniciativa privada, empresários e industriais, etc.

 

-

 

6

6,5%

12

5,3%

5

6,6%

16

5,4%

5

7,8%

7

3,9%

2

4,9%

6

4,2%

8

14,8%

16

10,5%

 

-

Sindicatos, uniões, federações e confederações sindicais ou de trabalhadores

 

 

-

 

 

_

 

 

-

 

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Organismos não governamentais, organizações da sociedade civil

 

-

1

1,1%

5

2,2%

 

-

 

-

 

-

 

-

4

4,3%

13

2,1%

Organizações religiosas, religiosos

 

-

5

5,4%

8

3,5%

 

-

 

-

 

-

2

3,7%

6

3,9%

6

6,5%

17

2,7%

Testemunhas, cidadãos comuns, vítimas, etc.

 

-

 

_

 

-

 

-

 

-

3

5,55%

6

3,9%

10

10,9%

25

4%

 

Não especificadas (anónimas, etc.)

1

1,3%

1

0,5%

27

29,3%

35

15,5%

8

10,5%

11

3,7%

2

3,1%

3

1,65%

2

4,9%

3

2,1%

3

5,55%

4

2,6%

 

 

 

-

Outros jornalistas, outros meios de comunicação, etc.

2

2,7%

3

1,5%

6

6,5%

17

7,5%

1

1,3%

3

1%

5

7,8%

12

6,6%

1

2,4%

5

3,4%

2

3,7%

3

2%

3

3,4%

6

1%

Intelectuais, artistas, pessoas reconhecidas, desportistas, VIPS, etc.

17

22,6%

38

19,3%

2

2,3%

5

2,2%

6

7,9%

61

20,6%

3

4,7%

7

3,9%

6

14,6%

14

9,7%

4

7,4%

6

3,9%

12

13,1%

20

3,2%

Escolas, universidades, centros de investigação, académicos, etc.

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

6

6,5%

14

2,2%

Organizações multinacionais (Mercosul, União Europeia, ONU, FMI, CPLP, etc.)

 

2

2,7%

4

2%

 

1

1,1%

4

1,8%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

Outras

fontes

2

2,7%

7

3,55%

8

8,7%

29

12,9%

7

9,2%

17

5,7%

3

4,7%

7

3,9%

4

9,8%

7

4,8%

6

11,1%

9

5,9%

8

8,7%

23

3,7%

 

Total

 

75

197

100%

92

225

100%

76

296

100%

64

181

100%

41

145

100%

54

153

100%

92

624

100%

Nota: o primeiro valor indicado nas células é o número de aparições do tipo de fonte nas notícias, sendo seguido pela respectiva percentagem; o terceiro valor refere-se ao número de orações atribuídas ao tipo de fonte nas notícias, sendo igualmente seguido pela respectiva percentagem.

Nota: por fontes implícitas entendemos todas aquelas que não são mencionadas explicitamente mas que “estão na notícia”, como o próprio jornalista que redige a notícia, quando não cita directa ou indirectamente uma fonte.

 

 

Tabela 15

Tipo e relevância das fontes implícitas e explícitas usadas nas peças sobre Brasil - Portugal na amostra

(número de aparições nas peças e número de orações atribuídas à fonte)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

O próprio jornalista, colunista, colaborador ou correspondente

33

50%

159

72,9%

28

29,5%

107

45,7%

26

49%

99

49%

23

40,4%

91

54,1%

15

53,6%

86

72,9%

12

34,3%

77

60,6%

3

60%

60

93,75%

Especialistas ou comentadores (excepto se integráveis noutras categorias)

 

1

1,5%

4

1,8%

 

 

-

 

1

1,9%

11

5,4%

 

 

-

 

2

7,1%

6

5,1%

 

2

5,7%

5

3,9%

 

 

-

 

Opinador não regular

-

-

-

-

-

-

-

 

Governos

1

1,5%

3

1,4%

 

-

 

-

5

8,8%

7

4,2%

2

7,1%

3

2,5%

 

-

 

-

 

Funcionários superiores

1

1,5%

3

1,4%

4

4,2%

4

1,7%

1

1,9%

4

2%

4

7%

8

4,8%

 

-

3

8,6%

5

3,9%

2

40%

4

6,25%

Partido político no poder

-

-

-

-

-

-

-

Partido político na oposição

-

-

-

-

-

-

-

Iniciativa privada, empresários e industriais, etc.

1

1,5%

2

0,9%

14

14,7%

16

6,8%

4

7,5%

13

6,4%

6

10,5%

19

11,3%

2

7,1%

8

6,8%

8

22,9%

14

11%

 

-

Sindicatos, uniões, federações e confederações sindicais ou de trabalhadores

 

 

-

 

 

-

 

1

1,9%

1

0,5%

 

1

1,7%

1

0,6%

 

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Organismos não governamentais, organizações da sociedade civil

 

-

 

-

 

-

1

1,7%

5

2,9%

 

-

 

-

 

-

Organizações religiosas, religiosos

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

2

5,7%

7

5,5%

 

-

Testemunhas, cidadãos comuns, vítimas, etc.

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

Não especificadas (anónimas, etc.)

 

-

27

28,4%

81

34,6%

6

11,3%

6

3%

 

-

1

3,6%

1

0,8%

2

5,7%

3

2,4%

 

-

Outros jornalistas, outros meios de comunicação, etc.

2

3%

2

0,9%

1

1%

1

0,4%

4

7,5%

15

7,4%

 

3

5,3%

6

3,6%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Intelectuais, artistas, pessoas reconhecidas,  desportistas, VIPS, etc.

26*

39,4%*

44*

20,2%*

9

9,5%

13

5,6%

7

13,2%

48

23,8%

4

7%

21

12,5%

5

17,9%

11

9,3%

2

5,7%

7

5,5%

 

 

-

Escolas, universidades, centros de investigação, académicos, etc.

 

 

-

 

 

-

 

 

-

3

5,3%

5

2,9%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Organizações multinacionais (Mercosul, União Europeia, ONU, FMI, CPLP, etc.)

 

 

-

 

 

-

 

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

Outras

fontes

1

1,5%

1

0,5%

12

12,6%

12

5,1%

3

5,7%

5

2,5%

7

12,3%

5

2,9%

1

3,6%

3

2,5%

4

11,4%

9

7,1%

 

-

 

Total

 

66

218

100%

95

234

100%

53

202

100%

57

168

100%

28

118

100%

35

127

100%

5

64

100%

Nota: o primeiro valor indicado nas células é o número de aparições do tipo de fonte nas notícias, sendo seguido pela respectiva percentagem; o terceiro valor refere-se ao número de orações atribuídas ao tipo de fonte nas notícias, sendo igualmente seguido pela respectiva percentagem.

Nota: por fontes implícitas entendemos todas aquelas que não são mencionadas explicitamente mas que “estão na notícia”, como o próprio jornalista que redige a notícia, quando não cita directa ou indirectamente uma fonte.

*Inclui entrevistas às esposas e companheiras dos jogadores do F. C. Porto.

 

 

Pela exploração dos dados expostos nas tabelas 14 e 15, aliás em correlação com os dados das tabelas 18 e 19, sou, em primeiro lugar, levado a concluir não só que a maior parte da informação com menção ao Brasil difundida na imprensa portuguesa de grande circulação foi de produção própria mas também que os jornalistas que produzem essa informação foram também os principais protagonistas (ou fontes) dessa mesma informação.  Em concreto, na informação que respeitou ao Brasil (excluindo Portugal), 45% do total de aparições de fontes nas notícias e 61,9% do total de orações foram dos jornalistas; na informação envolvendo Portugal e o Brasil, os jornalistas contabilizam 41,3% das aparições e 60% das orações.  Este facto pode evidenciar uma certa tendência para a especialização que subjaz ao jornalismo actual, conforme evidenciam autores como Pinto (1997), pois só jornalistas especializados, com elevado domínio das matérias de que tratam, podem enveredar por um tipo de jornalismo contraposto ao "jornalismo de citações" ou "jornalismo de declarações" (que os norte-americanos, ironicamente, apelidaram de "he said journalism").  No entanto, os jornalistas, embora principais fontes da informação que eles mesmo produzem, não enveredaram pela análise, ficando-se pela descrição (relembrem-se os dados das tabelas 10 e 11), ao contrário do que sugeririam as pesquisas de Pinto (1997) ou Barnhurst e Mutz (1997).

Após os jornalistas, as fontes (e protagonistas) das notícias foram diversificadas, centrando-se, no entanto, geralmente, nos empresários, nos desportistas e artistas (em especial, músicos e actores), nos políticos e noutros jornalistas, aliás conforme se esperaria devido aos estudos que destacam o posicionamento social dos protagonistas das notícias como um dos critérios de noticiabilidade[33].  Todavia, todas essas fontes estiveram relativamente pouco presentes na informação, quando comparadas com o protagonismo dos jornalistas que fabricam a informação.  É ainda de salientar que foi dado reduzido protagonismo, enquanto fontes, aos sindicatos, às escolas e universidades, às organizações internacionais (mesmo estando o Brasil integrado no Mercosul e Portugal na União Europeia), aos religiosos e, conforme esperado, devido ao acesso socialmente estratificado aos media identificado por numerosos estudos[34], aos cidadãos comuns.

O aspecto que, contudo, mais estranheza me provocou ao analisar as tabelas 14 e 15 foi a relativamente elevada percentagem de fontes não especificadas (anónimas, etc.) usadas pelo jornal O Correio da Manhã, uma vez que este não é conhecido por ser um jornal que faça do jornalismo de investigação uma bandeira.  De facto, embora estudos como o de Pinto (1997) comprovem que os jornalistas, especialmente no jornalismo político, recorrem cada vez mais a fontes de todos os escalões hierárquicos das instituições e à protecção das fontes através do anonimato, estas tendências não são visíveis nos restantes órgãos de comunicação social analisados, talvez até porque a política, como vimos, é uma temática menos privilegiada do que outras, como a economia, na informação sobre o Brasil (incluindo Brasil - Outros Países e Brasil Portugal).  Aliás, o fenómeno é tanto mais surpreendente quando reparamos que, nos jornais analisados, O Correio da Manhã não abordou temas políticos na informação com menção ao Brasil.  A investigação que fiz levou-me a concluir que o fenómeno patente no Correio da Manhã ocorreu porque algumas das notícias publicadas pelo jornal, nomeadamente aquelas que respeitam a espectáculos musicais, músicos e telenovelas, por exemplo, são provenientes de assessorias de imprensa e outros serviços de relações públicas, sendo publicadas na íntegra, sem identificação da autoria e origem da mesma.  Neste caso, é plausível que parte relevante da informação possa ser categorizada como tendo origem em fontes não especificadas.

 

 

Tabela 16

Espaços geográficos mencionados na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países na amostra

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Brasil como um todo

16

61,5%

4

13,8%

18

44%

34

44,1%

10

76,9%

11

55%

10

26,3%

Brasília

1

3,85%

1

3,4%

3

7%

3

3,9%

1

7,7%

-

-

Rio de Janeiro

1

3,85%

7

24,1%

5

12%

6

7,8%

-

1

5%

3

7,9%

São Paulo

1

3,85%

15

51,7%

2

5%

8

10,4%

2

15,4%

1

5%

8

21%

Recife

-

-

-

-

-

1

5%

-

Fortaleza

-

-

-

-

-

1

5%

-

Natal

1

3,85%

-

-

-

-

-

-

Salvador da Baía

1

3,85%

-

-

6

7,8%

-

-

2

5,3%

Outra capital estadual

1

3,85%

-

-

1

1,3%

-

1

5%

2

5,3%

Outra localidade

-

1

3,4%

-

6

7,8%

-

1

5%

2

5,3%

Estados brasileiros individualizados ou regiões individualizadas

 

1

3,85%

 

1

3,4%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

1

5%

 

 

10

26,3%

Vários estados ou várias regiões

1

3,85%

 

-

 

-

1

1,3%

 

-

 

-

 

-

Outras situações

2

7,7%

-

8

20%

12

15,6%

-

2

10%

1

2,6%

Total

26

100%

29

100%

41

100%

77

100%

13

100%

20

100%

38

100%

 

 

Tabela 17

Espaços geográficos mencionados na informação sobre Brasil - Portugal na amostra

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Brasil como

um todo

8

22,9%

18

22,78%

12

30%

22

25,3%

5

29,4%

9

37,5%

3

50%

Brasília

-

-

-

3

3,4%

-

-

-

Rio de

Janeiro

-

1

1,27%

2

5%

18

20,7%

2

11,8%

-

-

São Paulo

2

5,7%

2

2,5%

4

10%

3

3,4%

1

5,9%

1

4,2%

-

Recife

-

1

1,2%

1

2,5%

-

-

1

4,2%

-

Fortaleza

-

1

1,2%

-

-

-

-

-

Natal

1

2,9%

1

1,2%

-

-

-

-

-

Salvador da Baía

-

4

5,1%

-

2

2,3%

-

-

-

Outra capital estadual

brasileira

 

-

1

1,3%

 

-

1

1,2%

 

-

 

-

 

-

Outra localidade

brasileira

-

2

2,5%

3

7,5%

2

2,3%

 

-

 

-

 

-

Estados brasileiros individualizados ou regiões individualizadas

 

2

5,7%

 

5

6,3%

 

1

2,5%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Vários estados ou várias regiões

 

-

 

-

 

-

1

1,2%

 

-

 

-

 

-

Portugal como um todo

7

20%

16

20%

6

15%

14

16,1%

5

29,4%

8

33,3%

3

50%

Lisboa

2

5,7%

9

11,4%

-

10

11,5%

2

11,8%

3

12,5%

-

Porto

3

8,6%

8

10,2%

6

15%

3

3,4%

1

5,9%

1

4,2%

-

Regiões portuguesas individualizadas

2

5,7%

3

3,8%

1

2,5%

1

1,2%

 

-

 

-

 

-

Várias regiões portuguesas

-

-

-

-

-

-

-

Capital de distrito portuguesa

2

5,7%

 

-

 

-

3

3,4%

 

-

 

-

 

-

Outra localidade portuguesa

4

11,4%

7

8,9%

4

10%

2

2,3%

1

5,9%

1

4,2%

 

-

Outras situações

2

5,7%

-

-

2

2,3%

-

-

-

Total

35

100%

79

100%

40

100%

87

100%

17

100%

24

100%

6

100%

 

 

É possível verificar, pela análise das tabelas 16 e 17, que, no geral, a informação sobre o Brasil, sobre o Brasil - Outros Países e sobre Brasil - Portugal respeitou aos países como um todo.  Pela contabilização dos totais constantes da tabela 16, verifica-se que, na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países, as referências ao Brasil como um todo atingem 42,2%, contra 15,2% de São Paulo, 9,4% do Rio e 4,1% de Brasília e de Salvador da Baía.  Através da dissecação da tabela 17 verifiquei que, no total, as menções ao Brasil e a localidades brasileiras atingiram uma percentagem semelhante à das menções a Portugal e a localidades portuguesas, o que traduz um certo equilíbrio no peso de cada um dos países na informação sobre os dois países.  Aliás, se fizermos a soma das cifras atingidas, verificaremos que o Brasil como um todo atingiu 25,7% das menções, contra 20,5% de Portugal como um todo; Lisboa teve 9% das menções, mas o Rio seguiu-se-lhe de imediato, com 8% das referências geográficas; o Porto teve 7,6% das menções, mas São Paulo atingiu 4,5%.  Estes parecem-me ser os dados mais importantes a reter deste item da pesquisa.

É também de salientar que a capital brasileira foi, no global, menos referida do que o Rio de Janeiro e São Paulo e tão referida quanto Salvador da Baía na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países (tabela 16).  Este dado decorre, na minha opinião, da relativa ausência de informação política sobre o Brasil na imprensa portuguesa de grande circulação, pois o coração político do Brasil é Brasília.  Mas também vem demonstrar que, para os portugueses, o Brasil não se resume ao que se passa em Brasília.  Aliás, isso seria praticamente impossível num país cujo coração industrial palpita em São Paulo, que teve o Rio de Janeiro como capital histórica (e destino de parte significativa da emigração portuguesa) e que possui destinos turísticos tão importantes para os portugueses quanto Salvador da Baía, Recife, Fortaleza ou mesmo Natal.  Aliás, é sintomático que três jornais  portugueses tenham escolhido o Rio de Janeiro para localizarem os seus correspondentes (Público, Diário de Notícias e Expresso) e que apenas o Jornal de Notícias baseie o seu correspondente em Brasília, enquanto o Correio da Manhã possui correspondente em São Paulo.  O próprio Jornal de Notícias apenas referenciou Brasília uma vez, que é exactamente o número de vezes que referencia o Rio de Janeiro e São Paulo, apesar de ter correspondente em Brasília.

Na informação sobre Brasil - Portugal (tabela 17), sucede, em linhas gerais, o mesmo que na restante informação com menção ao Brasil.  No entanto, há que assinalar que, por comparação, o Rio de Janeiro foi uma cidade desproporcionadamente referida no Público, talvez por ser aí que o jornal tem correspondente.

Parece-me ser igualmente importante assinalar que, no presente caso, a "rede de captura de acontecimentos" (Tuchman, 1978), na sua vertente geográfica (neste caso, através dos correspondentes no Brasil), sem sempre determinou a geografia das notícias.  Alguns dos exemplos que me permitem fazer esta afirmação são os seguintes:

· Apesar do Expresso ter um correspondente no Rio de Janeiro, apenas duas peças nesse jornal, considerando ambas as tabelas, referiram essa cidade;

· Apesar de o Jornal de Notícias ter um correspondente em Brasília, apenas uma peça desse jornal, considerando ambas as tabelas, referiram a cidade.

Vejamos, agora, casos em que a "rede de captura de acontecimentos" parece ter funcionado:

· O Público tem um correspondente no Rio e esta cidade foi mencionada 18 vezes na informação sobre Brasil - Portugal e seis vezes na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países;

· O Diário de Notícias tem também o seu correspondente no Rio de Janeiro e esta cidade foi mencionada cinco vezes na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países e duas vezes na informação sobre Brasil - Portugal;

· O Correio da Manhã tem o seu correspondente em São Paulo e esta cidade foi mencionada quinze vezes na informação sobre o Brasil  e Brasil - Outros Países e duas vezes na informação sobre Brasil - Portugal.

Ainda no que respeita à "geografia das notícias" que envolvem Portugal e o Brasil, parece-me que não existe, no que respeita a Portugal, e ao contrário das minhas expectativas, uma centralização geográfico-noticiosa em Lisboa, capital do país.  Pelo contrário, o Porto, segunda cidade do país, é quase tantas vezes referido, no global, como Lisboa.  Só no Público, sedeado em Lisboa mas com uma redacção no Porto e uma edição para esta última cidade, se nota uma desproporção nítida entre as referências a Lisboa (dez) e ao Porto (três).  Além dos aspectos referidos, é importante destacar que várias outras localidades portuguesas são referidas em número relativamente assinalável.

A Grande Reportagem constitui um caso à parte na panorâmica da imprensa portuguesa, até porque, em vez de possuir correspondentes, contrata jornalistas ou agências de jornalistas locais ou portugueses para a elaboração de grandes reportagens (por exemplo, quatro das peças da GR estavam assinadas pelo jornalista Mário Negreiros, que, não faz parte do quadro redactorial).  Estas grandes reportagens, provavelmente devido à política editorial da empresa, não só se realizam em diversos locais como também abordam sempre temas que possibilitem a efectiva elaboração de grandes reportagens, vivas e aprofundadas, o que desprivilegiará temáticas como a política ou a economia, mais susceptíveis de publicação em revistas de informação geral ou de informação especializada nessas áreas.

 

 

Tabela 18

Produção das peças sobre o Brasil e Brasil - Outros Países na amostra

(em número de peças e espaço ocupado em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

 da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Jornalista, editorialista, colunista ou colaborador do jornal em Portugal

 

6

37,5%

5.421

49,2%

 

7

27%

2.280

40,2%

 

26

74%

3.951

56,8%

 

6

27,3%

932

18%

 

 

8

100%

2.483

100%

 

4

30,8%

992

28,3%

 

 

 

-

Jornalista (etc.) do jornal em Portugal + jornalista (etc.) no Brasil

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

2

15,3%

849

24,2%

 

 

-

 

Enviado do jornal ao Brasil

2

12,5%

1.064

9,6%

 

 

-

3

9%

1.162

16,7%

1

4,55%

655

12,6%

 

 

-

1

7,7%

510

14,5%

2

28,6%

7.176

32,1%

 

Correspondente do jornal

no Brasil

4

25%

3.132

28,4%

5

19,2%

1.349

23,8%

6

17%

1.837

26,5%

7

31,8%

1.116

21,5%

 

-

 

-

 

 

-

Colaborador

 do jornal

no Brasil

 

-

2

7,7%

537

9,5%

 

-

 

 

-

 

-

 

-

 

-

Jornalista (etc.) do jornal + agências e/ou outros meios jornalísticos

 

 

-

1

3,85%

560

9,9%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Agência Brasileira de Notícias

 

-

1

3,85%

34

0,6%

 

-

 

 

-

 

-

 

 

-

 

-

 

Reuters

 

-

 

-

 

-

2

9,1%

1.188

22,9%

 

-

 

-

 

-

Outra agência de notícias ou jornalista do Brasil

 

-

 

-

 

-

1

4,55%

310

6%

 

-

 

-

1

14,3%

3.312

14,8%

Outros meios jornalísticos mundiais/

internacionais

 

-

1

3,85%

34

0,6%

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

Outros meios jornalísticos portugueses com enviados ao Brasil

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

4*

57,1%

11.856

53,1%

Outros meios jornalísticos/

outros jornalistas

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

2

15,4%

750

21,4%

 

-

Não especificado nem determinável

4

25%

1.406

12,8%

9

34,6%

878

15,5%

 

-

 

5

22,7%

988

19%

 

-

4

30,8%

407

11,6%

 

-

 

Total

16

11.023 cm2

100%

26

5.671

100%

35

6.950

100%

22

5.189

100%

8

2.483

100%

13

3.508

100%

7

22.344

100%

Nota: o primeiro valor em cada célula refere-se ao número de peças, sendo seguido pela respectiva percentagem; o terceiro valor refere-se ao espaço ocupado pelas peças, em cm2, sendo seguido pela respectiva percentagem.

*Estas quatro peças estavam assinadas pelo jornalista Mário Negreiros, que suponho ser da agência de jornalistas freelance Lusopress, enviado ao Brasil.

 

 

Tabela 19

Produção das peças sobre Brasil - Portugal na amostra

(em número de peças e espaço ocupado em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

 da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Jornalista, editorialista, colunista ou colaborador do jornal em Portugal

 

8

40%

1.861

35,6%

 

4

25%

2.458

54,2%

 

20

90,9%

3.786

85,8%

 

4

33,3%

1.505

41,4%

 

6

100%

3.782

100%

 

4

57,1%

1.521

82%

 

3

100%

691

100%

Jornalista (etc.) do jornal em Portugal + jornalista (etc.) no Brasil

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Enviado do jornal

ao Brasil

 

-

 

-

 

-

2

16,7%

851

23,4%

 

-

 

-

 

-

Correspondente do jornal no Brasil

1

5%

638

12,2%

 

-

2

9,1%

628

14,2%

4

33,3%

806

22,2%

 

-

 

-

 

-

Jornalista (etc.) do jornal + agências e/ou outros meios jornalísticos

2

10%

722

13,8%

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

 

 

-

Outra situação (press

releases, etc.)

 

-

1

6,25%

54

1,2%

 

-

 

-

 

 

-

 

-

 

-

Não especificado nem determinável

9

45%

1.283

23,7%

11

68,75%

2.023

44,6%

 

-

2

16,7%

474

13%

 

-

3

42,9%

333

18%

 

-

 

Total

20

5.226

100%

16

4.535

100%

22

4.414

100%

12

3.636

100%

6

3.782

100%

7

1.854

100%

3

691

100%

Nota: o primeiro valor em cada célula refere-se ao número de peças, sendo seguido pela respectiva percentagem; o terceiro valor refere-se ao espaço ocupado pelas peças, em cm2, sendo seguido pela respectiva percentagem.

 

 

Com excepção da Grande Reportagem, que possui um staff redactorial reduzido e contrata agências de jornalistas ou jornalistas freelance a título individual, as tabelas 18 e 19 demonstram, no essencial, que a maioria relativa da informação com menção ao Brasil e com origem identificada foi de produção própria.  Ou seja, a imprensa portuguesa de grande circulação não revelou dependência directa das grandes agências noticiosas ou de outros meios de informação internacionais para o fabrico de informação jornalística sobre o Brasil, Brasil - Outros Países e Brasil - Portugal, embora, provavelmente, a informação fabricada em Portugal tenha resultado, parcialmente, do tratamento de matéria-prima informativa enviada por essas agências e meios, de consultas a outros órgãos jornalísticos (inclusivamente na Internet), da colaboração dos correspondentes no Brasil, etc.  Em concreto, 44,9% das peças sobre o Brasil e Brasil - Outros Países e 57% das peças sobre Brasil - Portugal foram de produção própria mas também foram produzidas em Portugal, o que pode fundamentar mais solidamente o argumento de que a visão que é dada do Brasil pela imprensa portuguesa é parcialmente etnocêntrica.  Registe-se, inclusivamente, que, no total, na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países apenas 17,3% das peças foram elaboradas por colaboradores ou correspondentes no Brasil e apenas 7,1% das peças foram elaboradas por enviados ao Brasil.  Do mesmo modo, apenas 8,1% das peças sobre Brasil e Portugal foram elaboradas por correspondentes ou colaboradores no Brasil e apenas 2,3% foram elaboradas por enviados ao Brasil.  Estes dados também demonstram, na minha perspectiva, que a actuação dos correspondentes e colaboradores da imprensa portuguesa no Brasil é limitada.

O protagonismo directo dos correspondentes e colaboradores dos jornais e revistas portugueses no Brasil só foi particularmente evidente no caso da imprensa diária e no que respeita, como é natural, à informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países, atingindo percentagens que rondam um quarto do espaço informativo com menção ao Brasil.  Com excepção do jornal O Correio da Manhã, a imprensa diária também usou directamente os seus correspondentes para o fabrico de informação jornalística respeitante simultaneamente a Brasil e a Portugal, embora, com excepção do que acontece no Público, o protagonismo dos correspondentes no fabrico das notícias tenha sido relativamente reduzido.

É de registar (e, de alguma forma, de estranhar) que o Expresso, a "instituição" do jornalismo português, e exclusivamente no que respeita aos jornais que integraram a amostra, não tenha recorrido directamente ao seu correspondente no Brasil para o fabrico de informação jornalística.

 

 

Tabela 20

Relevância da foto-informação com menção ao Brasil na amostra

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

da Manhã**

Diário de

Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

N.º de peças com informação relativa ao Brasil

 

 

16

 

 

42

 

 

57

 

 

34

 

 

14

 

 

20

 

 

10

N.º de fotografias com informação relativa ao Brasil

 

 

51

 

 

48

 

 

 

36

 

 

9

 

 

12

 

 

15

 

 

31

N.º médio de fotografias com informação relativa ao Brasil por peça com informação relativa ao Brasil

 

 

 

 

 

3,2*

 

 

 

 

 

1,1

 

 

 

 

 

0,6

 

 

 

 

 

0,3

 

 

 

 

 

0,9

 

 

 

 

 

1,3

 

 

 

 

 

3,1

Espaço ocupado por informação relativa ao Brasil (cm2)

 

 

16.249

 

 

10.206

 

 

11.364

 

 

8.825

 

 

6.265

 

 

5.362

 

 

23.035

Espaço ocupado por informação

fotográfica relativa ao Brasil (cm2)

 

 

4.517

 

 

4.071

 

 

4.484

 

 

1.410

 

 

2.103

 

 

729

 

 

8.194

 

Média do espaço ocupado

em cada número por informação

fotográfica relativa ao Brasil (cm2)

 

 

 

 

173,7*

 

 

 

 

203,55*

 

 

 

 

172,5*

 

 

 

 

54,2

 

 

 

 

175,2

 

 

 

 

60,7

 

 

 

 

683

Percentagem do espaço com informação relativa ao Brasil ocupado por informação fotográfica relativa ao Brasil 

 

 

 

 

 

27,8%*

 

 

 

 

 

39,9%*

 

 

 

 

 

39,5%*

 

 

 

 

 

16%

 

 

 

 

 

33,4%

 

 

 

 

 

13,6%

 

 

 

 

 

35,6%

N.º de fotos e espaço ocupado (cm2)

 por foto-informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países (excluindo Portugal)

 

 

 

 

33

 

 

2.323

 

 

 

 

40

 

 

2.759

 

 

 

 

24

 

 

3.178

 

 

 

 

3

 

 

630

 

 

 

 

6

 

 

883

 

 

 

 

10

 

 

519

 

 

 

 

31

 

 

8.194

Percentagem do número de fotos sobre o Brasil e Brasil - Outros Países e do espaço por elas ocupado

no total de foto-informação relativa ao Brasil

 

 

 

 

 

64,7%

 

 

 

51,4%

 

 

 

 

 

83,3%

 

 

 

67,8%

 

 

 

 

 

66,7%

 

 

 

70,9%

 

 

 

 

 

33,3%

 

 

 

44,7%

 

 

 

 

 

50%

 

 

 

42%

 

 

 

 

 

66,7%

 

 

 

71,2%

 

 

 

 

 

100%

 

 

 

100%

N.º de fotos e espaço ocupado (cm2)

 por foto-informação sobre Brasil - Portugal

 

 

18

 

 

2.194

 

 

 

8

 

 

1.312

 

 

12

 

 

1.306

 

 

6

 

 

780

 

 

6

 

 

1.220

 

 

 

5

 

 

210

 

 

0

 

 

0

Percentagem do número de fotos sobre Brasil - Portugal e do espaço por elas ocupado

no total de foto-informação relativa ao Brasil

 

 

 

 

35,3%

 

 

48,6%

 

 

 

 

16,7%

 

 

32,2%

 

 

 

 

33,3%

 

 

29,1%

 

 

 

 

66,7%

 

 

55,3%

 

 

 

 

 

50%

 

 

58%

 

 

 

 

33,3%

 

 

28,8%

 

 

 

 

0%

 

 

0%

Nota 1: nas células com dois valores, o primeiro refere-se ao número de fotografias e o segundo ao espaço por elas ocupado ou às percentagens correlacionadas, também por esta ordem.

Nota 2: foram registadas algumas fotografias como constituindo informação fotográfica, apesar de o texto acompanhante não ter sido contabilizado como notícia.  É o caso, por exemplo, das fotografias de alguns dos resumos dos episódios das telenovelas.  Como o conteúdo destas fotos foi sempre inserido na categoria "actores", essa categoria foi bastante valorizada, em certos jornais, como o Correio da Manhã ou o Jornal de Notícias.  As fotografias de telenovelas e seus actores foram classificadas como respeitando ao Brasil e Brasil - Outros Países (excluindo Portugal), já que se trata de ficção brasileira.

*Ver nota 2.

**Saliento, novamente, que apenas foram analisados vinte números do jornal O Correio da Manhã.  Os dados apenas se referem a esses vinte números.

 

 

Os dados recolhidos mostram-nos que, com exclusão do Público e da Visão, a imprensa portuguesa concede um espaço foto-informativo relevante no seio da informação sobre o Brasil.  No caso concreto desta amostra, 31,4% (25.508 cm2) dos 81.306 cm2 de informação relativa ao Brasil foram ocupados por foto-informação, o que releva bem a importância da informação visual quando o tema tratado respeita ao Brasil.  Provavelmente, alguns dos temas mais tratados propiciam-no.  Por exemplo, a produção cultural e o desporto têm como alguns dos seus principais protagonistas figuras públicas de relevo (actores e músicos famosos, escritores, etc.) e essas figuras públicas são, frequentemente, os actantes da informação fotográfica, que, já de si, tende a centrar-se nas pessoas, aliás conforme as notícias em geral[35].

Pode também verificar-se, pela análise dos dados, que os periódicos estudados publicaram, em média, mais do que uma fotografia por peça sobre o Brasil, com exclusão do Diário de Notícias, do Público e do Expresso.  A Visão deu menos espaço do que eu esperava (já que é uma revista) à foto-informação sobre o Brasil.

Ao contrário do que eu esperava, devido à maior facilidade de obtenção de fotografias de produção própria, a difusão foto-informativa sobre o Brasil não foi superior na informação sobre o Brasil e Portugal.  Pelo contrário, este facto apenas ocorre no Público, já que todos os restantes periódicos, com exclusão do Expresso (50%), publicaram mais fotografias sobre o Brasil e Brasil - Outros Países do que sobre Brasil - Portugal.  Poder-se-á, assim, concluir que o Brasil é matéria visualmente apetecível para o jornalismo português, independentemente de a informação envolver ou não Portugal.

Realce, finalmente, para a Grande Reportagem, que não inseriu foto-informação envolvendo simultaneamente o Brasil e Portugal.

 

 

Tabela 21

Secção de inserção das fotos sobre o Brasil e Brasil – Outros Países na amostra

(em número de fotos e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Totais

33

2.323

100%

40

2.759

100%

24

3.178

100%

3

690

100%

6

883

100%

10

519

100%

31

8.194

100%

 

Destaque

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

3

12,5%

170

5,3%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Internacional

6

18,2%

1.077

46,4%

0

0%

0

0%

2

8,3%

185

5,8%

0

0%

0

0%

2

33,3%

223

25,2%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Economia

3

9%

343

14,8%

0

0%

0

0%

2

8,3%

353

11,1%

2

66,7%

587

93,2%

2

33,3%

315

35,7%

1

10%

82

15,8%

0

0%

0

0%

 

Desporto

2

6,1%

217

9,3%

19

47,5%

1.195

43,3%

5

20,8%

715

22,5%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

10%

42

8,1%

0

0%

0

0%

Cultura, espectáculos, TV, etc.

22

66,7%

686

29,5%

21

52,5%

1.564

56,7%

8

33,3%

1.262

39,7%

0

0%

0

0%

1

16,7%

135

15,3%

2

20%

230

44,3%

0

0%

0

0%

 

Sociedade

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

3

12,5%

360

11,3%

0

0%

0

0%

1

16,7%

210

23,8%

1

10%

14

2,7%

0

0%

0

0%

 

Outra secção/

suplementos

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

4,2%

133

4,2%

1

33,3%

43

6,8%

0

0%

0

0%

5

50%

151

29,1%

31

100%

8.194

100%

Nota: Embora a revista Grande Reportagem possua secções fixas, elas não coincidem com as secções dos restantes periódicos analisados.  A maior parte das peças que a revista publica insere-se nas secções “Reportagem” ou “Viagem”, que ocupam a maior parte de cada número da Grande Reportagem.  Daí que a totalidade das fotos tenha sido classificada na categoria “Outra secção”.

Nota: nas células com quatro números, os dois primeiros dizem respeito ao número de fotos e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números dizem respeito ao espaço ocupado pelas fotos e respectiva percentagem.

 

 

Tabela 22

Secção de inserção das fotos sobre Brasil – Portugal na amostra

(em número de fotos e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Totais

18

2.194

100%

8

1.312

100%

12

1.306

100%

6

780

100%

6

1.220

100%

5

210

100%

0

0

100%

 

Internacional

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

33,3%

435

35,7%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Economia

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

33,3%

240

30,8%

3

50%

575

47,1%

2

40%

43

20,5%

0

0%

0

0%

 

Desporto

14

77,8%

1.734

79%

0

0%

0

0%

1

8,3%

147

%

1

16,7%

142

18,2%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Cultura, espectáculos, TV, etc.

4

22,2%

460

21%

8

100%

1.312

100%

7

58,3%

725

%

1

16,7%

158

20,2%

1

16,7%

210

17,2%

2

40%

132

62,8%

0

0%

0

0%

 

Sociedade

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

33,3%

240

30,8%

0

0%

0

0%

1

20%

35

16,7%

0

0%

0

0%

 

Outra secção/

suplementos

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

4

33,3%

434

%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Nota: nas células com quatro valores, os dois primeiros números dizem respeito ao número de fotos e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números dizem respeito ao espaço ocupado pelas fotos e respectiva percentagem.

 

 

Tabela 23

Conteúdos principais das fotos sobre Brasil e Brasil - Outros Países na amostra

(em número de fotos e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Totais

33

2.323

100%

40

2.759

100%

24

3.178

100%

3

630

100%

6

883

100%

10

519

100%

31

8.194

100%

Governantes, políticos e altos funcionários

3

9,1%

324

14%

0

0%

0

0%

3

12,5%

193

6,1%

3

100%

630

100%

2

33,3%

223

25,2%

2

20%

118

22,7%

0

0%

0

0%

Manifestações e outros protestos políticos não violentos

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

16,7%

105

11,9%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Agricultores sem terra, MST

1

3%

136

5,9%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

7

22,6%

1.260

15,4%

 

Académicos, cientistas

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

8,3%

143

4,5%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Religiosos católicos

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

10%

8

1,5%

2

6,5%

700

8,5%

Actividades religiosas católicas

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

4,2%

150

4,7%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

3,2%

150

1,8%

Entretenimento televisivo não-ficcional, apresentadores de TV, etc.

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

6

19,4%

1.084

13,2%

 

Actores

21

63,6%

513

22,1%

16

40%

934

33,8%

2

8,3%

266

8,4%

0

0%

0

0%

1

16,7%

135

15,3%

2

20%

230

44,3%

0

0%

0

0%

Espectáculos de artes do palco

0

0%

0

0%

1

2,5%

173

6,3%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Músicos

0

0%

0

0%

3

7,5%

267

9,7%

5

20,8%

910

28,6%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Espectáculos de música

0

0%

0

0%

1

2,5%

190

6,9%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Escritores, poetas

1

3%

173

7,4%

0

0%

0

0%

2

8,3%

250

7,9%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Futebolistas

1

3%

116

4,9%

15

37,5%

845

30,6%

3

12,5%

225

7,1%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

20%

36

6,9%

0

0%

0

0%

 

Jogos de futebol

0

0%

0

0%

2

5%

185

6,7%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Outros desportistas

0

0%

0

0%

2

5%

165

6%

1

4,2%

159

5%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

10%

42

8,1%

1

3,2%

16

0,2%

Espectáculos desportivos (excluindo futebol)

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

4,2%

331

10,4%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Grandes festas e festividades, Carnaval, etc.

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

4,2%

165

5,2%

0

0%

0

0%

1

16,7%

210

23,8%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Moda

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

4,2%

33

1%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Crimes ambientais, desflorestação, etc.

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

3,2%

16

0,2%

Paisagem

urbana

(visão neutra)

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

20%

85

16,4%

0

0%

0

0%

Paisagem

urbana

degradada

1

3%

240

10,3%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Turismo: praias

3

9,1%

343

14,8%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

3,2%

8

0,1%

Turismo: paisagem urbana, gentes das cidades

1

3%

377

16,2%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

9

29%

3.483

42,5%

Prisões, vida prisional, guardas, prisioneiros

(visão negativa)

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

3*

9,7%

1.474

18%

Pessoas comuns

(visão neutra)

1

3%

101

4,4%

0

0%

0

0%

1

4,2%

108

3,4%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Objectos e produtos de consumo

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

4,2%

245

7,7%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Outros conteúdos

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

16,7%

210

23,8%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Nota: nas células com quatro valores, os dois primeiros números dizem respeito ao número de fotos e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números dizem respeito ao espaço ocupado pelas fotos e respectiva percentagem.

*Inclui a foto de um preso morto no chão.

 

 

Tabela 24

Conteúdos principais das fotos sobre Brasil - Portugal na amostra

(em número de fotos e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Totais

18

2.194

100%

8

1.312

100%

12

1.306

100%

6

780

100%

6

1.220

100%

5

210

100%

0

0

100%

Governantes, políticos e altos funcionários

1

5,55%

140

6,4%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

16,7%

22

2,8%

3

50%

640

52,5%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Empresários, gestores

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

33,3%

370

30,3%

2*

40%

46*

21,9%

0

0%

0

0%

Encontros, cimeiras, etc. políticas e diplomáticas

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

16,7%

218

27,9%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Educadores e professores não universitários

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

8,3%

131

10%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Actores

1

5,55%

94

4,3%

8

100%

1.312

100%

3

25%

476

36,5%

2

33,3%

240

30,8%

1

16,7%

210

17,2%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Espectáculos de artes do palco

1

5,55%

57

2,6%

0

0%

0

0%

1

8,3%

46

3,5%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Músicos

 

 

2

11,1%

309

14,1%

0

0%

0

0%

3

25%

37

2,8%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

20%

42

20%

0

0%

0

0%

 

Escritores, poetas

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

20%

90

42,9%

0

0%

0

0%

 

Espectáculos de música

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

2

16,7%

318

24,3%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Futebolistas

 

7

38,9%

830

37,8%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

16,7%

142

18,2%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Outros

desportistas

3

16,7%

360

16,4%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Jogos de futebol

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

8,3%

147

11,3%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Grandes festas e festividades, Carnaval, etc.

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

16,7%

158

20,3%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

Outros

conteúdos

3**

16,7%

404**

18,4%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

1

20%

32

15,2%

0

0%

0

0%

Nota: nas células com quatro valores, os dois primeiros números dizem respeito ao número de fotos e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números dizem respeito ao espaço ocupado pelas fotos e respectiva percentagem.

*Inclui uma fotografia da empresária Nelma Penteado, que organiza cursos de strip-tease, tem uma sex-shop, etc.

**Todas as fotografias são da mulher do jogador de futebol Aloísio, do F. C. Porto.

 

 

Os dados sistematizados nas tabelas 21 a 24 mostram que a foto-informação seguiu, normalmente, o sentido da informação em geral com referência ao Brasil, pois tendeu a ser valorizada a informação visual susceptível de reforçar tematicamente as mensagens escritas.  Por outras palavras, as imagens sobre o Brasil transmitidas aos leitores pelas fotografias informativas tenderam a reforçar as imagens do Brasil projectadas pelas mensagens escritas, nomeadamente que o Brasil é um notável produtor de conteúdos e que os expoentes desses conteúdos são estrelas que vale a pena conhecer e seguir com atenção; e também que o Brasil é um país de desportistas, recheado de valores individuais. 

Em concreto, no geral a foto-informação com referência ao Brasil, seja na categoria Brasil - Portugal ou na categoria Brasil/Brasil - Outros Países, abordou, principalmente, a produção cultural (produtos e, principalmente, protagonistas).  Também foram foto-informativamente relevantes o desporto (principalmente os seus protagonistas) e a economia.  Neste último caso, porém, empresários e gestores estão, estranhamente, um tanto ou quanto ausentes da informação económica, sendo, ao invés, concedido protagonismo aos políticos e altos funcionários.  Pode-se mesmo talvez dizer que, em matéria de foto-informação referente ao Brasil, o território do político tendeu a sobrepor-se ao território do económico.  Isto talvez tenha acontecido porque, socialmente, talvez ainda esteja vincada a ideia de que o poder político se sobrepõe ao poder económico, quando, na realidade, na minha opinião, é o poder económico que, por vezes subrepticiamente, se sobrepõe ao político, ao ponto de a política, hoje em dia, ser cada vez mais economia.  Estranhamente, o jornalismo não vigia o poder económico com o mesmo afinco que vigia o poder político.

É ainda de realçar que, por vezes, os conteúdos fotográficos não correspondem totalmente aos conteúdos textuais.  Posso basear-me no exemplo anterior para justificar a minha asserção.  De facto, uma parte das peças sobre economia não suportou informação fotográfica com os principais protagonistas da área económica, os empresários e gestores, pois os periódicos concederam o privilégio fotonoticioso, mesmo na área económica, aos governantes, ainda que o assunto dissesse respeito a empresas.  Do mesmo modo, o jornal Público, por exemplo, veiculou informação fotográfica sobre um tema (grandes festas e festividades) que não tem correspondente textual directa.  Neste caso, a fotografia foi usada mais como suporte ilustrativo e gráfico do que como veículo de informação jornalística.  Situações um pouco diferentes são as do Jornal de Notícias e do Correio da Manhã, jornais que inseriram fotografias junto de textos que não foram contabilizados como notícias, como os resumos de telenovelas.  No entanto, as fotografias que acompanhavam esses textos foram contabilizadas como foto-informação, já que estavam em espaços informativos e se impõem visualmente ao leitor, sendo o seu conteúdo em tudo semelhante ao conteúdo de grande parte das restantes fotografias de notícias (são, principalmente, mug shots).  Ou seja, embora não considere o resumo de uma telenovela como uma notícia, parece-me que faz sentido contabilizar uma fotografia acompanhante como foto-informação.

Pode-se também dizer que se assistiu a uma certa personalização da cobertura fotojornalística dos acontecimentos respeitantes ao Brasil, isto é, os conteúdos fotográficos foram, em grande medida, constituídos por pessoas.  Esta é, aliás, uma tendência do jornalismo actual (Sousa, 1998; Sousa, 2000).  Neste contexto, é interessante notar como, por vezes, uma única pessoa consegue colocar um país na cena mediática internacional, como sucedeu com o padre Marcelo Rossi, que deu uma nova visibilidade à Igreja Católica brasileira.  No caso da Grande Reportagem, todas as fotos de religiosos católicos e de actividades religiosas católicas tiveram-no a ele como protagonista. 

 

 

Tabela 25

Produção das fotos sobre Brasil e Brasil - Outros Países na amostra

(em número de fotos e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Totais

33

2.323

100%

40

2.759

100%

24

3.178

100%

3

630

100%

6

883

100%

10

519

100%

31

8.194

100%

 

Produção própria

2

6,1%

550

23,7%

 

-

9

37,5%

1.335

42%

0

0%

0

0%

5

83,3%

671

76%

 

-

 

-

 

Reuter

 

-

2

5%

190

6,9%

5

20,8%

822

25,9%

3

100%

630

100%

 

-

3

30%

107

20,6%

 

-

 

Associated Press

4

12,1%

636

27,4%

 

-

1

4,2%

155

4,9%

0

0%

0

0%

 

-

3

30%

160

30,8%

6

19,4%

1.084

13,2%

EPA (excluindo

Agência Lusa)

2

6,1%

180

7,7%

 

-

1

4,2%

331

10,4%

0

0%

0

0%

 

-

 

-

1

3,2%

716

8,7%

 

Agência Lusa

 

-

 

-

 

1

4,2%

30

0,9%

0

0%

0

0%

 

-

2

20%

178

34,3%

3

9,7%

1.474

18%

Agência fotográfica europeia

 

-

3

7,5%

355

12,9%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

-

 

-

 

-

Outros meios jornalísticos portugueses com enviados ao Brasil

 

 

-

 

 

-

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

 

-

 

-

9*

29%

1.397

17%

Outros meios jornalísticos com enviados ao Brasil

 

-

 

-

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

 

-

 

 

-

9

29%

3.483

42,5%

 

Outra proveniência

21

63,6%

513

22,1%

 

-

3

12,5%

437

13,8%

0

0%

0

0%

 

-

 

-

 

-

Não especificado nem determinável

4

12,1%

444

19,1%

35

87,5%

2.214

80,2%

4

16,7%

68

2,1%

0

0%

0

0%

1

16,7%

210

24%

2

20%

74

14,3%

3

9,7%

40

0,5%

Nota: nas células com quatro valores, os dois primeiros números dizem respeito ao número de fotos e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números dizem respeito ao espaço ocupado pelas fotos e respectiva percentagem.

*Geralmente quem elabora o texto produz também as fotografias.

 

 

 

Tabela 26

Produção das fotos sobre Brasil - Portugal na amostra

(em número de fotos e espaço ocupado, em cm2)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

 

Totais

18

2.194

100%

8

1.312

100%

12

1.306

100%

6

780

100%

6

1.220

100%

5

210

100%

0

0

100%

 

Produção

própria

15

83,3%

1.722

78,5%

 

-

2

16,7%

288

22%

 

-

4

66,7%

1.010

82,8%

1

20%

90

42,9%

0

0%

0

0%

 

Associated

Press

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

1

20%

42

20%

0

0%

0

0%

 

Agência

Lusa

 

-

 

-

1

8,3%

147

11,3%

 

-

0

0%

0

0%

 

-

0

0%

0

0%

Agência fotográfica portuguesa

1

5,6%

250

11,4%

 

-

 

-

 

-

 

-

 

-

0

0%

0

0%

Agência fotográfica brasileira

 

-

 

-

0

0%

0

0%

 

-

2

33,3%

210

17,2%

 

-

0

0%

0

0%

 

Outra proveniência

 

-

 

-

6

50%

834

63,9%

 

-

0

0%

0

0%

 

-

0

0%

0

0%

Não especificado nem determinável

2

11,1%

222

10,1%

8

100%

1.312

100%

3

25%

37

2,8%

6

100%

780

100%

0

0%

0

0%

3

60%

78

37,1%

0

0%

0

0%

Nota: nas células com quatro valores, os dois primeiros números dizem respeito ao número de fotos e à respectiva percentagem; o terceiro e o quarto números dizem respeito ao espaço ocupado pelas fotos e respectiva percentagem.

 

 

Os dados da tabela 25 mostram que, com exclusão do Expresso e, em certa medida, do Diário de Notícias, os periódicos portugueses necessitam de contributos externos para poderem inserir foto-informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países.  Ou seja, ao contrário do que acontece com a produção de textos, a maioria da foto-informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países não é de produção própria.  Em concreto, no total apenas 10,9% (16) das fotografias que aportavam informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países na amostra foram de produção própria, o que demonstra bem que a dependência de fornecedores externos é relativamente elevada.  A Reuter, a Asssociated Press e a EPA foram, no conjunto, responsáveis pela produção de 21,1% da foto-informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países na amostra.  As 21 fotografias contabilizadas no JN como sendo de "outra proveniência" foram as imagens de actores que acompanhavam os resumos das telenovelas, e que foram extraídas da televisão, ou seja, são imagens televisivas com movimento travado; parte das fotografias inseridas no Correio da Manhã com autoria "não especificada nem determinada" são, igualmente, fotografias de actores de telenovela, mas não foram extraídas da televisão.

No que respeita à produção de foto-informação envolvendo simultaneamente o Brasil e Portugal, não se pode dizer que haja um padrão, pois os periódicos manifestaram comportamentos diferenciados.  Por exemplo, o Jornal de Notícias e o Expresso apostaram na produção própria, mas os outros jornais e a revista Visão talvez não.  Digo talvez porque uma parte significativa das fotografias não tinha autor identificado.  Portanto, estas últimas fotografias podem ser de produção própria, embora não seja possível inseri-las nessa categoria.

No que respeita à autoria, parece-me que a fotografia tende a ser secundarizada em relação ao texto.  Por exemplo, no Público e no Correio da Manhã é possível verificar que enquanto a maior parte dos textos é identificada, nenhuma das fotografias com informação sobre Brasil - Portugal mereceu que o seu autor fosse identificado.  No entanto, no Público esta situação é atípica, pois o diário segue uma política de valorização do fotojornalismo e dos fotojornalistas.

 

 

Tabela 27

Espaços geográficos fotografados

na informação sobre o Brasil e Brasil - Outros Países na amostra

(em número de fotografias e respectiva percentagem)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Totais

33

100%

40

100%

24

100%

3

100%

6

100%

10

100%

31

100%

Brasília

1

3%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Rio de Janeiro

0

0%

10

25%

2

8,3%

1

33,3%

1

16,7%

1

10%

0

0%

São Paulo

1

3%

2

5%

0

0%

0

0%

0

0%

1

10%

3

9,7%

Recife

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Fortaleza

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Natal

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Salvador da Baía

1

3%

0

0%

3

12,5%

1

33,3%

0

0%

0

0%

9

29%

Outra capital estadual

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Outra localidade

0

0%

0

0%

3

12,5%

0

0%

0

0%

0

0%

9

29%

Outras situações

30

91%

28

70%

16

66,7%

1

33,3%

5

83,3%

8

80%

10

32,3%

 

 

Tabela 28

Espaços geográficos fotografados

na informação sobre Brasil - Portugal na amostra

(em número de fotografias e respectiva percentagem)

 

 

Jornal de Notícias

O Correio

da Manhã

Diário de Notícias

Público

Expresso

Visão

Grande Reportagem

Totais

18

100%

8

100%

12

100%

6

100%

6

100%

5

100%

0

100%

Brasília

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Rio de Janeiro

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

São Paulo

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Recife

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Fortaleza

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Natal

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Salvador da Baía

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Outra capital estadual brasileira

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Outra localidade

brasileira

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Lisboa

0

0%

0

0%

0

0%

1

16,7%

0

0%

0

0%

0

0%

Porto

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Capital de distrito portuguesa

0

0%

0

0%

2

16,7%

1

16,7%

0

0%

0

0%

0

0%

Outra localidade portuguesa

0

0%

0

0%

1

8,3%

0

0%

0

0%

0

0%

0

0%

Outras situações

18

100%

8

100%

9

75%

4

66,7%

6

100%

5

100%

0

0%

 

 

As tabelas 27 e 28 mostram que não existe um predomínio geográfico na foto-informação, até porque a grande maioria das fotografias não diz respeito a espaços mas sim a pessoas e às suas acções.  No entanto, é interessante assinalar que Salvador da Baía e o Rio de Janeiro foram cidades bastante fotografadas, provavelmente devido à sua história, ao facto de serem destinos turísticos importantes para os portugueses e também à força visual das fotografias aí captadas.

 

 

Conclusões

 

Quando me propus desenvolver este projecto de investigação, disse que o meu objectivo era delinear as imagens actuais do Brasil enquanto indicadores e índices das relações entre Portugal e esse país na transição para um novo século.  Disse também que a principal hipótese que procuraria testar no estudo seria a seguinte: se existe, na actualidade, uma convergência de interesses entre Portugal e o Brasil e se existe um aumento recíproco do interesse que os seus habitantes nutrem uns pelos outros, então os meios jornalísticos não poderão deixar de fazer eco dessa situação. 

Do meu ponto de vista, os dados que recolhi permitem-me dizer que o objectivo foi atingido e, mais do que isso, que a hipótese foi relativamente comprovada, ou seja, a imprensa portuguesa, embora, em números absolutos, providencie pouca informação sobre o Brasil, em termos relativos difunde uma quantidade de informação significativa, demonstrando, portanto, que existe algum interesse em Portugal por aquilo que o Brasil é, pelo que por lá se passa e pelas relações que os dois povos, unidos por uma língua e antecedentes históricos comuns, podem estabelecer.  Além disso, verifiquei que o ponto de vista dominante da informação com menção ao Brasil é tendencialmente positivo para a imagem deste país e também tendencialmente positivo para o desenvolvimento profícuo das relações luso-brasileiras.  Em meu entender, este dado contrabalança o facto de os números absolutos de informação com menção ao Brasil na imprensa portuguesa de grande circulação serem inferiores àqueles que pessoalmente eu esperava (embora, em termos relativos, como já disse, a quantidade de informação seja minimamente significante).

Começando pela grande imagem do Brasil projectada pela imprensa portuguesa de grande circulação, parece-me que se pode concluir que a principal ideia transmitida é a de que o Brasil é um país de música, de televisão (mais precisamente de telenovelas mas também de programas como o do Ratinho ou o da Tiazinha) e de futebol[36], mas, mais do que isso, projecta a ideia de que o Brasil é um grande país que tem a capacidade de produzir e exportar (bons) conteúdos musicais e televisivos, (bons) futebolistas e até (bons) pregadores, como o Padre Marcelo Rossi (objecto de várias das peças publicadas).  Em segundo lugar, do meu ponto de vista, a imprensa portuguesa de grande circulação projecta a ideia de que o Brasil é um país de oportunidades económicas, cuja economia é extremamente importante, quer no contexto mundial (8ª economia do mundo), quer no que respeita às estratégias de internacionalização das empresas portuguesas.

No campo oposto, o interesse da "grande" imprensa portuguesa pela política brasileira e mesmo pelas relações políticas entre os dois países parece-me ser, na minha opinião, quase residual, faltando, portanto, investir nesta área.  Além disso, faltará também à imprensa portuguesa falar do que pouco fala: as actividades académicas (nomeadamente os projectos de pesquisa comuns), as várias facetas da imigração brasileira em Portugal (que vai dos profissionais qualificadíssimos aos profissionais inqualificados, que se sujeitam a qualquer tipo de trabalho), os "restantes" produtos culturais em língua portuguesa, etc.  Faltará, inclusivamente, falar mais das jóias turísticas que o Brasil tem para oferecer, pois, se excluirmos as revistas Grande Reportagem e Visão (o que seria provável, devido à sua natureza de "magazines"), verificamos que apenas o Jornal de Notícias abordou o tema.

O facto de me parecer ter sido provado que o interesse da imprensa portuguesa de grande circulação passa mais pela economia, pela música, pela televisão e pelo futebol do que pela política e pelas relações políticas e diplomáticas entre os dois povos não é uma questão inócua.  Se a imprensa, de alguma forma, representa acontecimentos que sucedem na realidade e, ao mesmo tempo, indicia o que sucede nessa realidade, ajudando a construir novos referentes sobre a realidade e participando, ao mesmo tempo, e por consequência, na construção social da realidade (ou de uma nova realidade social), parece-me que existe algum perigo numa realidade onde a economia e até o entretenimento se sobrepõem à política e às grandes questões sociais (e, sob este prisma, há muito para fazer no Brasil - relembre-se a frase de Fernando Henrique Cardoso: "O Brasil é um país injusto, não um país pobre").  Creio, inclusivamente, que embora seja importante para a sociedade "vigiar" e "controlar" o poder político e o combate político, é tanto ou mais importante "vigiar" e "controlar" o poder económico, tanto mais que o poder económico e comercial, tanto quanto o político, também se digladiará nos news media[37].  (Ficará entretanto sem resposta a questão: "quem controla os jornalistas", uma classe que gosta de escrutinar mas que não gosta de ser escrutinada? - cf. Pinto e Sousa, 2000).

De acordo com os dados expostos, julgo poder dizer que a proximidade (afectiva, linguística, etc.) se consubstancia, efectivamente, como um critério substantivo de noticiabilidade no que respeita à informação sobre o Brasil.  É essa proximidade que justifica o destaque noticioso dado a matérias como a música, as telenovelas, a literatura ou mesmo as actividades do padre Marcelo Rossi.

Ainda a este mesmo nível dos valores-notícia, a valorização dos interesses nacionais é particularmente visível, enquanto critério de noticiabilidade, quando se repara no destaque dado à informação económica que respeita à internacionalização das empresas portuguesas no Brasil.  Neste ponto, também se imiscui, com evidência, o critério da proximidade.  Do mesmo modo, em meu entender são esses mesmos dois critérios aqueles que mais actuam no sentido de promover a noticiabilidade das matérias relativas às comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil.  A significância desse acontecimento dentro do contexto em que está imersa a imprensa portuguesa valorizou-o a ponto de se tornar notícia.

O número de pessoas envolvidas nos acontecimentos não me parece que tenha funcionado como um critério de noticiabilidade de especial importância na hora de determinar o que era notícia na informação com menção ao Brasil.  Opostamente, julgo que o estatuto das personalidades envolvidas em determinados acontecimentos, nomeadamente no campo musical e futebolístico, actuou, efectivamente, como um critério de valorização da informação sobre o Brasil.

Finalmente, julgo que ficou igualmente demonstrado, de acordo com as perguntas de investigação a que me propus responder, que:

· Os principais protagonistas e fontes de informação sobre o Brasil são os próprios jornalistas, o que constituiu uma surpresa, sendo seguidos por empresários, músicos, desportistas (particularmente futebolistas) e políticos, bem como, a uma escala bastante reduzida, por organizações da sociedade civil, sindicatos, organizações internacionais e, conforme esperado, cidadãos comuns;

· Parte significativa da informação textual é de produção própria, o que revela que a imprensa portuguesa de grande circulação não depende directamente de outros órgãos jornalísticos, particularmente das grandes agências noticiosas e televisões mundiais, pelo menos no que respeita à produção de informação sobre o Brasil, embora seja de considerar que entre as fontes primárias consultadas estejam as notícias das grandes agências, as consultas aos sites de jornais brasileiros, a consulta aos correspondentes e colaboradores no Brasil, etc.;

· A informação textual sobre o Brasil na "grande" imprensa portuguesa é predominantemente descritiva, apesar do protagonismo dos jornalistas enquanto fontes de informação nas notícias sobre esse país; ou seja, os jornalistas tenderam a não usar o seu protagonismo nas notícias para analisarem e interpretarem a informação, optando por ficar-se pela descrição, mais "objectiva" e factualizante, o que pode indiciar uma táctica defensiva relacionada com o conceito da objectividade como ritual estratégico, de Tuchman (1978);

· Parte da informação com menção ao Brasil na imprensa portuguesa de grande circulação é gerada em Portugal, o que pode indiciar um certo etnocentrismo no fabrico dessa informação;

· A relevância jornalística das peças sobre o Brasil, tendo em conta a sua ubiquação nos jornais e revistas analisados, é mais reduzida do que eu esperava, pois a informação surge predominantemente nas páginas interiores, apesar de, nos jornais e revistas que constituíram a amostra, ter havido uma chamada pontual à primeira página no Jornal de Notícias e de existirem algumas notícias nas últimas páginas do Correio da Manhã e do caderno principal do Expresso;

· As notícias desenvolvidas (tendo em consideração o espaço que ocupam) são o género jornalístico dominante na informação sobre o Brasil; assim, se aliarmos a este dado o facto de o discurso sobre o Brasil ser predominantemente descritivo, verificamos que as notícias desenvolvidas descritivas constituem a maior parte da informação com menção ao Brasil; ou seja, valoriza-se a informação nova e factual, mas de uma forma minimamente aprofundada e com citações directas ou indirectas (paráfrases) dos protagonistas das notícias;

· Existe algum desequilíbrio geográfico informativo nas peças com menção ao Brasil, pois, apesar da imensidade do país, as localidades mais referidas são o Rio de Janeiro (onde três jornais portugueses sedearam correspondentes) e São Paulo (onde O Correio da Manhã tem correspondente); este dado demonstra, na minha opinião, que a rede que os jornais lançam para capturar os acontecimentos, na sua faceta geográfica (segundo o conceito de Tuchman, 1978), pode ter alguma influência na noticiabilidade da informação sobre o Brasil, nomeadamente se excluirmos o Jornal de Notícias que, apesar de ter um correspondente em Brasília, apenas se refere uma vez à capital brasileira.  No entanto, a maior parte das referências na informação sobre o Brasil disponibilizada pela imprensa portuguesa de grande circulação diz respeito ao Brasil como um todo, o que equilibra a situação.

Lendo a nossa imprensa depois de tratada a informação que ela nos oferece, o Brasil surge, para os portugueses, como um país simultaneamente próximo e distante, mas um país que fala a mesma língua e uma terra de oportunidades.  Mas Portugal, particularmente enquanto membro da União Europeia, também transparecerá, para os brasileiros, como uma terra de oportunidades.  Se Portugal teve algum desígnio histórico, esse desígnio talvez se chame Brasil.  Talvez, nesta hora, um dos desígnios do Brasil, envolvido no Mercosul, orbitando em torno do NAFTA e dos Estados Unidos, se possa também chamar Portugal...

 

 

Bibliografia

 

BARNHURST, Kevin G. e MUTZ, Diana (1997) - American journalism and the decline in event-centered reporting.  Journal of Communication, vol. 47, n.º 1: 27-55.

CHAPARRO, Manuel Carlos (1998) - Sotaques d'Aquém e d'Além Mar.  Santarém: Edições Jortejo.

FERREIRA, Giovandro (2000) - O posicionamento discursivo dos jornais A Gazeta e A Tribuna: Uma explicação para entender a evolução das suas tiragens.  Texto policopiado da comunicação apresentada ao Grupo de Trabalho sobre Periodismo no V Congresso da Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação, realizado em Abril de 2000, em Santiago do Chile.

GALTUNG, J. e RUGE, M. H. (1965) - The structure of foreign news.  Journal of International Peace Research, n.º 1.

MARQUES DE MELO, José (1972) - Estudos de Jornalismo Comparado.  São Paulo: Livraria Pioneira Editora.

MARQUES DE MELO, José; FADUL, Anamaria; ANDRADE, António e GOBBI, Maria Cristina. (1999) - O Mercosul na imprensa do Mercosul.  (Projecto de pesquisa).  Texto policopiado.

PINTO, Ricardo Jorge (1997) - The Evolution of the Structure of Political Journalism in Four "Quality" Newspapers (1970 - 1995).  Tese de doutoramento não publicada, apresentada à Universidade do Sussex, disponível para consulta na biblioteca da Universidade Fernando Pessoa (Porto - Portugal).

PINTO, Ricardo Jorge e SOUSA, Jorge Pedro (2000) - Um retrato sociográfico e socioprofissional dos jornalistas do Porto.  In Ricardo Jorge Pinto e Jorge Pedro Sousa (editores) - Cadernos de Estudos Mediáticos I.  Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, pp. 9 - 107.

SOUSA, Jorge Pedro (1998) - Fotojornalismo Performativo - O Serviço de Fotonotícia da Agência Lusa de Informação.  Porto: Edições da Universidade Fernando Pessoa.

SOUSA, Jorge Pedro (2000) - As Notícias e os Seus Efeitos.  Coimbra: Minerva Editora.

SOUSA SANTOS, Boaventura (2000, 18 de Maio) - Brasília, Portugal.  Visão, p. 54.

TUCHMAN, Gaye (1978) - Making News.  A Study in the Construction of Reality.  New York: The Free Press.

WOLF, Mauro (1987) - Teorias da Comunicação.  Lisboa: Editorial Presença.

 

 


Apêndice

 

Tópicos das notícias publicadas com menção ao Brasil

 

Jornal de Notícias

 

Data

Tópicos

04/01/99

Falabella na Europa

19/01/99

Estados brasileiros exigem negociações

19/01/99

Real em flutuação livre/Privatizações aceleram

19/01/99

Marco Aurélio deve partir hoje para Vicenza

19/01/99

Central Marcos já treina com grupo desfalcado

03/02/99

José Sarney na Póvoa sonhadora

03/02/99

Brasil ainda quer mais dos nossos empresários

18/02/99

Homem de Soros no Banco do Brasil

18/02/99

Cidade de Salvador comemora 450 anos

13/03/99

Brasileiros satisfeitos com a experiência/Cássio e companheiros cumpriram rodagem e agora participam no Grande Prémio de Torres Vedras

28/03/99

Chegou a hora de Jardel no "escrete"/Técnico Vanderlei Luxemburgo pode reparar erro de Mário Zagallo.

28/03/99

Brasileiro Leandro assinou pelo Felgueiras

29/03/99

Daniela Mercury vezes cinco já em Abril

12/04/99

BANIF compra PRIMUS

27/04/99

Nordeste brasileiro quer turista português/Capital do Estado do Rio Grande do Norte, Natal, passou a contar com uma ligação directa para Lisboa, através da TAP.

27/05/99

Henrique Cardoso sob suspeita/Presidente brasileiro acusado de beneficiar grupos envolvidos na privatização da Telebrás.

27/05/99

Companhia do nordeste do Brasil hoje em digressão/Agitada Gang apresenta hoje em Estarreja

05/06/99

Milton Nascimento grava álbum com clássicos/Músico brasileiro, a celebrar trinta anos de carreira, regressou recentemente aos palcos, depois de um intervalo por doença.

05/06/99

À conversa com as mulheres dos Pentacampeões/"Aloísio ia ao Candomblé antes de me conhecer"

04/07/99

Brasil e Perú garantiram presença nos quartos de final/

04/07/99

Ranieri despede Juninho

04/07/99

Expo/Feira do livro ao ritmo da lusofonia

19/07/99

Quem tem Rivaldo ri mais na final/No bis do "catalão" começou o "bi-tri" brasileiro na competição sul-americana.

19/07/99

Presidente brasileiro em "queda livre"/Popularidade de Henrique Cardoso é inferior à de Collor de Mello, revelam as sondagens.

19/07/99

Golo de ouro deu o título ao Brasil

03/08/99

Filme brasileiro abre Festival da Figueira

03/08/99

Netinho esta noite no Coliseu do Porto

11/09/99

Brasil luta pela reunião do Conselho de Segurança

11/09/99

Brasileiro Ronaldo foi vedeta na primeira sessão de treinos

11/9/99

Brasileiro Ricardinho à experiência

01/10/99

Portugal Fashion parte à conquista do Brasil

10/10/99

"Luta não é de vestir, é de nascer com luto"

24/11/99

Deixar a cabeça do Gana às voltas no carrocel/Treinador brasileiro, Carlos César, quer opôr-se ao jogo físico e lutador dos africanos apresentando um futebol inteligente e de ritmo baixo.

24/11/99

Porto acolhe sector têxtil brasileiro/Associações do sector assinam protocolo para o aumento da cooperação

09/12/99

Festival Luso-Brasileiro anima com curtas metragens/Estreia de Manuel Mozoz

31/12/99

Paulo Guerra e Castro à "descoberta" do Brasil/Queniano Paul Tergat a tentar o quarto triunfo que lhe fugiu, surpreendentemente, em 1997, para o brasileiro Emerson Iser Bem

 

 

O Correio da Manhã

 

Data

Tópicos

 

Morreu o poeta João Melo Neto

 

Alice não é filha de Higino Ventura

 

Ana Paula Anásia experimenta trabalhar "Sem Rumo"

 

Letícia Spiller quer reaver o marido

11/09/99

Assassinado juiz brasileiro que denunciou corrupção/Um juiz brasileiro que denunciou corrupção na Justiça e na polícia foi encontrado assassinado na cidade paraguaia de Concepcion.

 

Sindicato dos hospitais contra "Andando nas Nuvens"

 

Paulo Nunes foi raptado

18/02/99

Suave Veneno perde ainda mais audiências

 

Imperatriz venceu

05/06/99

Depois de Kuerten foi a vez de Meligené/Medvedeu exterminador de brasileiros/Os tenistas brasileiros foram eliminados em Roland Garros.

 

Niemeyer desenha igreja

12/05/99

Massacre no Rio/Serial-Killer brasileiro pode ter morto centenas/As autoridades brasileiras pensam que Edson Guimarães pode ter morto mais de 131 pessoas num hospital do Rio de Janeiro.

 

Colégio Brasil

 

"Tal como Celi estou numa fase de descobertas"

19/07/99

Público está cansado de ódio e sexo/O público da telenovela Suave Veneno expressa o seu desagrado pelo excesso de ódio e sexo que rodeia a novela.

03/08/99

Ronaldinho... e mais dez/Brasil vê despontar uma nova estrela/Ronaldo está prestes a perder o seu estatuto de indiscutível na selecção brasileira em favor de Ronaldinho Gaúcho.

04/07/99

Pintor imita Eliseu e é preso por falsificação/Na telenovela Suave Veneno o jovem pintor Eliseu é preso por falsificar quadros.

 

Inácio fica arrasado ao descobrir que foi traído

 

Roberto Carlos e Padre Rossi cantam juntos

09/11/99

Corinthians e Flamengo perdem no Brasil/A jornada do campeonato brasileiro de futebol foi marcada pelas derrotas do Flamengo e do Corinthians, alvançado no topo da classificação pelo Cruzeiro.

 

Brasil pede ao papa que devolva presente

 

Brasil vence México

 

Padre "apanhado" com cocaína no Brasil

 

"Sem-Terra" conseguem acordo com o Governo

 

Morreu ex-seleccionador do Brasil

 

O Brasil há 500 anos em "A Muralha"

 

Roquette interessado em águas do Recife

 

SONAE expande-se em Espanha e no Brasil

25/10/99

Canal Brasil homenageia Fernanda Montenegro

 

24/11/99

Caixa Geral de Depósitos paga burla no Brasil/Banco brasileiro "finta" Caixa Geral de Depósitos/O Banco Bandeirantes, do Brasil, está envolvido num caso de desvio de dinheiro que envolve centenas de pessoas, causando prejuízos à Caixa Geral de Depósitos.

 

Chama comemorativa dos 500 anos do Brasil

03/02/99

Controlauto concorre às inspecções no Brasil/A empresa portuguesa Controlauto está a concorrer em consórcio às concessões para centros de inspecções periódicas a veículos no Brasil.

 

Martinho da Vila no Coliseu de Lisboa

03/02/99

Cooperação traz Cheiro de Amor e Banda Eva/Actuações dos grupos musicais brasileiros Cheiro de Amor e Banda Eva marcam o início de um programa de cooperação musical luso-brasileiro.

 

"Não temos nada de nostálgico"/Fevers: os velhos da jovem guarda

03/02/99

Simone em Espinho pelo Carnaval/A cantora brasileira Simone é a principal estrela do Carnaval de Espinho.

 

Revista internacional a partir de hoje no GNT

18/02/99

Malu Mader e Gal Costa vêm a Portugal/A actriz Malu Mader e a cantora Gal Costa vêm a Lisboa e ao Porto para actuar em diversos eventos.

18/02/99

Banda sonora de "Mulher" já cá se ouve/Já se encontra à venda em Portugal a banda sonora da mini-série Mulher.

 

"Cheiro de Amor" apadrinha evento/Gilberto Gil prometido no Festival Luso-Brasileiro

 

Iran Costa com licença para cantar

03/08/99

Carlinhos Brown no anfiteatro da Doca/Carlinhos Brown vai actuar em Lisboa.

 

 

Diário de Notícias

 

Data

Tópicos

04/01/99

Fórmula velha dá sucesso certo

04/01/99

Torre de Babel e Ilda Furacão entre melhores de 98

19/01/99

Crash no Rio na era do e-mail

19/01/99

Efeitos no Brasil

19/01/99

Real flutua livre e governadores dão ultimato a Brasília

19/01/99

Efeitos no estrangeiro [da flutuação do Real]

19/01/99

Nova Iorque [efeitos da flutuação do Real]

19/01/99

Tóquio [efeitos da flutuação do Real]

19/01/99

Paris [efeitos da flutuação do Real]

19/01/99

Madrid [efeitos da flutuação do Real]

19/01/99

Investidores regressam em força à Bolsa

19/01/99

Flutuação livre do Real não trava subida do dólar

19/01/99

Crise no Brasil faz cair preço das matérias primas

19/01/99

Portugal longe da borrasca

03/02/99

Assessor de Soros na presidência do Banco do Brasil

18/02/99

Restaurante carioca controla peso dos clientes

26/02/99

Futebol Clube do Porto contrata lateral Rubens Júnior

26/02/99

Lucros da JM crescem 40%

13/03/99

Globo controla campeonato no Rio de Janeiro

13/03/99

"Não faço nada muito improtante"

13/03/99

"Gosto do narcisismo de Salvador"

13/03/99

"Música do século XX não foi assimilada"

12/04/99

Abrir caminho aos mais novos

05/06/99

Madredeus espera Godot

05/06/99

Mundial de Hóquei em Patins/Portugal começa com 3/0

25/06/99

Portugal já merecia ler o autêntico Jorge Amado

04/07/99

Bola e Mulher

04/07/99

Neocolonial

04/07/99

Norte-Sul

04/07/99

Jornalista brasileira vítima de violação colectiva

04/07/99

Fusão cria mega cervejeira

19/07/99

Mundialito I

19/07/99

Brasil de ouro na Figueira

19/07/99

Música étnica e capoeira abrem Bienal de Cerveira

19/07/99

Miguel Vale de Almeida procura herança africana no Brasil

19/07/99

Serralves Connection no GNT

03/08/99

TAP retoma voos intercontinentais

03/08/99

"A Bossa Nova é sempre nova"

03/08/99

O segundo Vinicius da música popular brasileira

03/08/99

Bate-me Tiazinha

18/08/99

Os deuses são mesmo loucos

02/09/99

D. João II é moda no Rio de Janeiro

11/09/99

Ténis/Flushing Meadows/Kuerten é jogador de praia

01/10/99

Reforma do sistema penal está a gerar controvérsia no Brasil

01/10/99

Moda portuguesa desfila em São Paulo

10/10/99

Brasil aumenta os impostos

10/10/99

Ultras perdem Melo Neto

25/10/99

Apanhada rede de pornografia infantil

25/10/99

Grupos Globo e Folha lançam um novo jornal económico

25/10/99

Criville e Rossi conquistam títulos mundiais no Brasil

25/10/99

Jorge Sampaio quer Portugal e Brasil a olhar para o futuro

25/10/99

Filhos de emigrantes facilitam geminações

25/10/99

Investimento estrangeiro equilibra contas brasileiras

25/10/99

Filme sobre a Amazónia vence Cine Eco 99

09/11/99

Brasil prepara "mãos limpas"

09/11/99

Produtor Suba morre num acidente em São Paulo

09/12/99

A palavra de volta ao centro

 

 

Público

 

Data

Tópicos

04/01/99

Naufrágio no Rio de Janeiro/Um dos culpados está em Portugal

04/01/99

Início no Porto da digressão portuguesa/Banda Cheiro de Amor vai "sacudir" no Coliseu

19/01/99

Brasil: Câmbio livre elogiado mas persistem questões fiscais/Decisão quanto ao Real deve aliviar a pressão sobre as reservas do país

03/02/99

Francisco Lopes substituído por ex-acessor de Soros no Banco Central do Brasil/Um homem de mercado

20/02/99

Real de novo sob tensão e há poucos indícios de alívio/Banco Central do Brasil vende dólares mas medida ainda não surtiu efeito

26/02/99

Inauguração da fábrica da Tafisa/Pina Moura garante investimentos no Brasil

26/02/99

Encontro promovido pela AI Portuense/Produtos portugueses sem fama no Brasil

03/03/99

Comemoração da Descoberta do Brasil

13/03/99

Brisola contra Presidente

13/03/99

Brigada contra o Presidente

28/03/99

Adversidade de um sarau de poesia

28/03/99

Conflito institucional no Brasil

27/04/99

A rendição da Globo

27/04/99

Os 14 livros de Rejane

12/05/99

TV Manchete vai ser vendida

12/05/99

Entrada do Grupo português no sector financeiro brasileiro/BANIF compra Banco PRIMUS

27/05/99

Escândalo político no Brasil/Assinaturas para investigar o Presidente

27/05/99

Pelé discute projecto com Media Partners/Super Liga no Brasil

04/07/99

Copa América/Perú e Brasil na 2ª fase

19/07/99

Ford desviada para o Brasil/Pressões políticas condicionam instalação da linha de montagem de automóveis

19/07/99

Primeiro ano do verdadeiro Deco/Brasileiro tem sido uma das figuras do estágio do FC Porto em Viseu

19/07/99

Final do Mundialito/Brasil sagrou-se Campeão de Praia

03/08/99

Taça das Confederações/México e Brasil na final

03/08/99

Atletismo nos Jogos Pan-Americanos/Brasil e Cuba deram luta aos EUA

03/08/99

Reportagem da TVI procura explicar fenómeno televisivo/A Tia do Brasil chega hoje

11/09/99

Juízes suspeitos da morte de juiz

10/10/99

"Songbook" deverá sair em Novembro/Chico Buarque Total

10/10/99

Descobrimentos do Brasil/Tijuca quer Frei Hermano da Câmara no carnaval

25/10/99

Brasil: Empresas gastam mais de 2000 milhões de contos

25/10/99

Negócios de cerca de quatro milhões de contos/Pestana concretiza compra no Brasil

09/11/99

Congresso abre hoje na Gulbenkian/História e imaginário de Portugal e do Brasil

31/12/99

Eleito "Homem de Ideias 99" no Brasil/António Cândido premiado

 

 

Expresso

 

Data

Tópicos

 

Crise foi boa para a Globo

 

Brasil à espera do fim da crise

 

Raptores agravam táctica

 

Droga no Senado

 

Brasil "tranquilo"

 

Patrícia Pillar: Uma actriz em ascenção/Foi considerada a melhor actriz brasileira em 1998

 

Acção do Brasil

 

O Carnaval de Ronaldo

 

Portugal em alta no Brasil

 

Portugal e Brasil são embriões para acordo de comércio livre entre a UE e o Mercosul

 

Empresas do Brasil podem vir a ser cotadas em Lisboa

 

Sital ataca mercado brasileiro

 

Portugueses a sambar no Brasil

 

A vida são dois dias - Domingo e segunda, das 21 horas às 9 horas, o Fashion TV serve duas doses de Carnaval do Rio, em directo do Sanbódromo, via TV Cabo.  Os outros fazem o que podem, Portugal vai a reboque.

 

 

Visão

 

Data

Tópicos

07/01/99

Posse do Presidente do Brasil

11/02/99

O homem de Soros

18/03/99

Meio Brasil às escuras

18/03/99

Discos - A geração espontânea

22/04/99

A travessia da 1ª Dama

22/04/99

Negócios: Belmiro de Patinhas

22/04/99

Tiazinha: Vem aí a febre

06/05/99

IURD: Haja monumento

06/05/99

Radar: Internacionalização

06/05/99

Cinema - Segredos da bilheteira

06/05/99

Filme - Eça com sotaque

09/06/99

Padre Marcelo Rossi

09/06/99

São Paulo

22/07/99

FHC baralha as cartas

22/07/99

Negócios da China

18/11/99

O que eles disseram [excerto] [Nota: esta peça não foi contabilizada na análise.]

18/11/99

Previsões da desgraça

23/12/99

Expropriação gigante

23/12/99

O Brasil do meu contentamento

07/01/99

Portugueses em alta

07/01/99

José Sarney em Portugal

07/01/99

Descoberta do Brasil: Comissão de Honra reúne-se

18/03/99

Economia vista por Campos e Cunha/Subtema: Brasil [Nota: esta peça não foi contabilizada na análise.]

06/05/99

Comunicação: Nasceu o Baby

 

 

Grande Reportagem

 

Data

Tópicos

 

01/99

O Dia Seguinte/A partir do exemplo de Fernando Ramos da Silva, um menino de rua brasileiro que estreou no filme “Pichote” e que depois caiu no esquecimento, desenvolve-se uma reportagem em paralelo sobre aquilo que ocorre em Portugal com as pequenas vedetas de filmes idênticos.

02/99

Terra prometida/Movimento dos Sem Terra distribui terras abandonadas em Mato Grosso

03/99

Aleluia!  Padre Marcelo Rossi trava avanço dos protestantes

05/99

Vem aí o Cometa do Senhor/Poligram edita discos de Marcelo Rossi

05/99

O Triunfo dos Ratos/O “Programa do Ratinho”, que vive do grotesco e onde vale tudo, gera milhões em receitas.  Mas muitas exibições não passam de farsas.

 

06/99

O editorial questiona as comemorações conjuntas dos 500 anos da descoberta do Brasil, a partir das declarações do comissário brasileiro para as Comemorações dos 500 Anos da Descoberta, que afirmou que a festa será privilegiadamente dentro do Brasil e para brasileiros e que a Europa não tem mais nada a ensinar ao Brasil.

08/99

Alma da Bahia (reportagem sobre a Bahia)

09/99

Barras Pesadas/Grande parte da população prisional brasileira está privada dos direitos mais elementares.

09/99

“Tá Mal” (excerto)/Apesar dos festejos ocorrerem em Abril de 2000, a Comissão das Comemorações da Descoberta do Brasil manter-se-á em funções até 2001, o que é considerado polémico.

12/99

Uma Ilusão Amazónica/Diário de bordo de um arquitecto italiano que partiu em exploração da Amazónia para traçar as fronteiras entre os territórios portugueses e espanhóis, nos tempos da colonização.

 



[1] Jorge Pedro Sousa (j.p.sousa@mail.telepac.pt) é doutorado em Ciências da Informação pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha).  Actualmente, é professor da Universidade Fernando Pessoa (Porto - Portugal) e pesquisador do Centro de Estudos da Comunicação da mesma Universidade.

[2] As teorias dos efeitos da comunicação ensinam-nos, porém, que o discurso dos meios jornalísticos pode não reflectir as correntes de opinião e as imagens do público, ou seja, no presente caso, as imagens construídas pelos jornais podem não corresponder sequer às imagens dominantes entre as pessoas (ver, por exemplo: Sousa, 1999).

[3] Reparem-se, a título de exemplo, nos investimentos da Portugal Telecom ou da Sonae, no Brasil, bem como, no sentido inverso, das parcerias estabelecidas entre Pinto Balsemão e dois dos principais grupos mediáticos brasileiros, o Grupo Abril e o Grupo Globo.

[4] Por exemplo, no campo académico das Ciências da Comunicação, os pesquisadores do espaço ibero-americano, neste caso, em particular, do espaço luso-brasileiro, têm constituído associações, como a Lusocom, que visam, em primeiro lugar, dar relevo à pesquisa científica em português nesse campo científico.

[5] Segundo a Organização Mundial do Turismo, em 1999, 104.952 portugueses visitaram o Brasil permanecendo pelo menos uma noite no país, tendo gasto uma média de 9.860$00 por dia (cerca de 48 dólares) e tendo aí permanecido em média 10,1 dias.  (Fonte: Revista Visão de 3 de Agosto de 2000, p. 74.)

[6] Consulte-se, por exemplo, a Revista do semanário Expresso de 21 de Abril de 2000.  A propósito, não se esqueça que, em matéria de política externa, o Brasil foi eleito pelos Governos de António Guterres como a primeira prioridade não europeia da política externa portuguesa, a fazer fé nas diversas intervenções do primeiro-ministro e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama.

[7] Consulte-se, por exemplo, a Revista do semanário Expresso de 21 de Abril de 2000.

[8] Conforme a sistematização feita por Ricardo Jorge Pinto (1997), em The Evolution of the Structure of Political Journalism in Four "Quality" Newspapers (1970-1995).  O que se entende por descrição, análise e opinião é descrito em pormenor no quadro onde se explicitam as categorias.

[9] Ver abaixo.

[10] Pessoalmente, penso que esta associação nem sempre é passível de ser efectuada, nomeadamente quando se fala dos valores e atitudes pessoais em relação a cada notícia.  Numa leitura acrítica das palavras dos autores, poderíamos ser levados a pensar que todos os leitores, vistos como uma massa indistinta, compartilhariam as mesmas atitudes e valores em relação aos factos noticiados e, por consequência, em relação ao enfoque e ao tipo de discurso protagonizado pelo periódico sobre esses factos.  Todavia, eu penso que, em última análise, a construção de significados para cada notícia é pessoal, embora dependa do contexto onde essa significação se produz (cf. Sousa, 1999).  Portanto, julgo que nem sempre o que alguém lê no jornal da sua escolha reflecte as atitudes e valores dessa pessoa em relação aos factos noticiados.  No entanto, a opção dos leitores por um jornal ou uma revista resulta de um processo complexo de estabelecimento de uma espécie de "contrato de leitura" (noção forjada, sobretudo, por Eliseo Veron, segundo explica Ferreira, 2000) entre os leitores e os órgãos de imprensa por eles seleccionados, "contrato" esse que passa pela manutenção da mesma tipologia discursiva global nos jornais e revistas adquiridos e consumidos.  Neste sentido, pode, efectivamente, falar-se de uma certa adesão dos leitores às atitudes, posturas e valores discursivos dos jornais e revistas por eles consumidos.

[11] Veja-se, por exemplo, a pesquisa conduzida por José Marques de Melo et al. (1999), sobre "O Mercosul na imprensa do Mercosul".

[12] Ver quadro abaixo.

[13] Veja-se, entre vários outros exemplos de suplementos, revistas especiais, etc., a Revista do semanário Expresso de 21 de Abril de 2000, o suplemento-revista do Jornal de Notícias de 24 de Maio de 2000, a Grande Reportagem de Abril de 2000, a série de artigos do Público apresentando cidades brasileiras, o destaque dado, em toda a imprensa, às comemorações conjuntas do "achamento" do Brasil, com a presença dos Presidentes português e brasileiro, em Abril de 2000 (cobertura essa que foi inflacionada devido aos protestos dos povos indígenas autóctones do Brasil e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), as entrevistas sucessivas dos jornais a brasileiros imigrados em Portugal (de diversos os estatutos sociais e profissões), procurando documentar a sua situação no nosso país, etc.

[14] Consulta feita on-line em 23 de Maio de 2000 [http://www.expresso.pt/sojornal/circulacaomedia.html].

[15] Em concreto, em relação aos diários analisei, quando disponíveis, o número da primeira segunda-feira do ano, o número da terceira terça-feira do ano, o número da quinta quarta-feira do ano e assim sucessivamente.  Registe-se, porém, que, por vezes, se tornou necessário analisar outros números, pois nem todos os jornais estavam disponíveis na Biblioteca Municipal do Porto ou noutros locais.  Quando isso aconteceu, procurei analisar números próximos (por exemplo, o número do dia anterior ou posterior ou o número do mesmo dia da semana mas da semana anterior ou seguinte).  No caso de O Correio da Manhã, só foi possível analisar 20 números do jornal, pois os restantes não existiam na zona do Porto.  A pesquisa foi extremamente complicada devido ao facto de a Biblioteca Municipal do Porto ter enviado um grande número de jornais para encadernar, não ficando com quaisquer exemplares disponíveis para consulta.

[16] Em concreto, analisei, quando disponíveis, os números publicados na primeira semana de Janeiro, na segunda semana de Fevereiro, na terceira semana de Março, na quarta semana de Abril, na primeira semana de Maio e assim sucessivamente.  Registe-se, porém, que, por vezes, se tornou necessário analisar outros números, pois nem todos os jornais ou revistas estavam disponíveis na Biblioteca Municipal do Porto.  Quando isso aconteceu, procurei analisar números próximos, como fiz para o caso dos jornais diários.

[17] Segundo o conceito de Tuchman (1978).

[18] Federação Lusófona de Ciências da Comunicação.

[19] Como os cursos de Odontologia no Brasil duravam, geralmente, quatro anos, contra cinco ou seis em Portugal, quando os dentistas brasileiros pediam equivalência aos cursos portugueses de Medicina Dentária, essa equivalência era-lhes sistematicamente recusada.  A questão só foi resolvida em 1993, com um acordo que deu equivalência a todos os médicos dentistas brasileiros que tivessem tido, pelo menos, 4500 horas de formação e tivessem entrado em Portugal até 31 de Dezembro de 1993.

[20] Veja-se, por exemplo, a reportagem de Nuno Ferreira e Adriano Miranda, "Brasileiros na Clandestinidade", editada na revista Pública, de 21 de Maio de 2000, pp. 24-36.  A Grande Reportagem de Abril de 2000 também se debruça sobre o mesmo problema.  Legalmente, há cerca de vinte mil brasileiros em Portugal, dez mil luso-descendentes e mil euro-brasileiros (que beneficiam dos direitos dos cidadãos europeus).  No Brasil há cerca de um milhão de portugueses.

[21] O Tratado de Amizade e Cooperação entre Portugal e o Brasil remonta a 1953.  A 7 de Setembro de 1971, esse tratado foi reforçado pela assinatura, em Brasília, da Convenção Sobre a Igualdade de Direitos [civis e políticos] e Deveres Entre Portugueses e Brasileiros.  Em 1988, a Constituição Brasileira aprova a possibilidade de os portugueses com um ano de residência no Brasil requererem a dupla nacionalidade.  Os portugueses passaram a poder votar e ser eleitos (com excepção dos cargos de Presidente e Vice-Presidente) em todas as eleições brasileiras.  Mas Portugal manteve a situação anterior: os brasileiros só podem votar (para as autarquias e para a Assembleia da República), mas não podem ser eleitos.  Em 2000, foi assinado um novo Tratado de Amizade e Cooperação, aproveitando-se a comemoração dos 500 anos do "achamento" do Brasil, mas o problema ainda não foi resolvido, sendo da exclusiva competência da Assembleia da República.  No cerne da questão estão os números da população: Portugal tem dez milhões de cidadãos, o Brasil tem cerca de 170 milhões.

[22] Registe-se, porém, que a imagem que os brasileiros têm de Portugal ainda será a imagem que transportaram consigo os mais de três milhões de emigrantes portugueses que foram para o Brasil entre 1850 e 1960.  Escreve Mário Negreiros na Grande Reportagem de Abril de 2000 (p. 46)  "(...) o Brasil cristalizou a imagem trazida pela grande leva de imigração portuguesa dos anos cinquenta, e, para o brasileiro médio -cujo único contacto com Portugal é o difícil regatear da conta no 'botequim' do 'seu' Manuel- nada aconteceu em Portugal nos últimos cinquenta anos.  (...)  A referência desse imigrante (...) continuou a ser a pequena aldeia, tal como a deixou há cinquenta anos - sem telemóveis, sem bancos electrónicos, sem escolas, sem teatros, sem cinemas, sem mini-saias e, claro, sem televisão.  Serve, portanto, de perpetuador da imagem de arcaísmo que o brasileiro médio atribui, até hoje, a Portugal."  Somente com a Revolução Democrática do 25 de Abril de 1974 é que a imagem de Portugal cultivada no Brasil se começou a mostrar significativamente dissonante da realidade: "A Revolução é, em si mesma, o rompimento com um dos ingredientes fundamentais do arcaísmo lusitano - a ditadura salazarista", escreve Mário Negreiros na Grande Reportagem de Abril de 2000 (p. 46)

[23] A este propósito, pelo artigo de Henrique Monteiro "Perto da Vista, Longe do Coração", publicado na revista do semanário Expresso de 21 de Abril de 2000 (pp. 62-69) e  resultante de uma sondagem, nota-se que os brasileiros mais conhecidos em Portugal são jogadores de futebol (principalmente Ronaldo e Jardel), cantores (liderados por Roberto Carlos) e actores de telenovelas (com António Fagundes à cabeça), havendo um caso excepcional de um escritor, Jorge Amado, conhecido por 39,5% dos portugueses.  No entanto, apenas 28,3% dos portugueses inquiridos sabiam que o presidente do Brasil era Fernando Henrique Cardoso.  Curiosamente, 72% dos portugueses inquiridos consideraram que a influência do Brasil em Portugal era positiva e 12,9% disseram que ela era neutra, sendo que apenas 10,1% a consideravam negativa.  Os portugueses acham que os brasileiros são, principalmente, alegres e divertidos (62,9%), embora alguns portugueses também os julguem amigos e simpáticos (37,6%) e comunicativos (20,1%).

[24] Veja-se, por exemplo, a Grande Reportagem de Abril de 2000, p. 46 ("O Português Mais Famoso do Brasil").

[25] Veja-se, por exemplo, a reportagem de Ana Tomás Ribeiro "O Novo Ouro do Brasil", publicada na revista Visão de 13 de Julho de 2000, pp. 112-116.  Em quatro anos, o investimento português directo no Brasil foi de quatro mil milhões de contos.  Sobre o mesmo tema, veja-se também, por exemplo, o artigo de Luís Folhadela "A Mística do Real", publicada no suplemento do Jornal de Notícias JN em Foco - Brasil ano 500, a 24 de Maio de 2000 (pp. 6-8).

[26] Veja-se, igualmente, a reportagem de Nuno Ferreira e Adriano Miranda, "Brasileiros na Clandestinidade", editada na revista Pública, de 21 de Maio de 2000, pp. 24-36.  Entre as várias histórias de vida de imigrantes brasileiros indocumentados, os jornalistas referem que em 1999 foi barrada a entrada a 507 brasileiros e que em 2000, até Maio, já tinha sido barrada a entrada a 460 brasileiros.

[27] Citado por Mário Negreiros na Grande Reportagem de Abril de 2000 (pp. 46-47).

[28] Veja-se o artigo "Esta língua bendita", de Fernando Venâncio, publicado na revista do semanário Expresso de 21 de Abril de 2000 (pp. 104-107).

[29] Tendo-se, porém, em atenção a salvaguarda feita na introdução: como não foram classificados dados em todas as categorias, a partir da tabela 6, com raras excepções, apenas surgem expressas nas tabelas as categorias nas quais foi classificada informação.

[30] A propósito dos critérios de noticiabilidade ou de valor-notícia, consultar, por exemplo, Sousa (1999), onde abordo o aparecimento do conceito e as diferentes sistematizações desses critérios, que geralmente nos aparecem sob a forma de lista.  De qualquer modo, há que realçar que a ideia da existência deste(s) critério(s) de noticiabilidade pertence, principalmente, a Galtung e Ruge (Galtung, J. e Ruge, M. H. (1965) - The structure of foreign news.  Journal of International Peace Research, n.º 1)

[31] Ver nota de rodapé anterior, sobre os critérios de noticiabilidade.

[32] Não quero com isto dizer que a imagem do Brasil projectada pela imprensa portuguesa seja sempre positiva, pelo contrário.  Por exemplo, a revista Visão, a 8 de Junho de 2000, publicava uma reportagem intitulada "Brasil: Um Assassínio de 13 em 13 Minutos".

[33] Ver, por exemplo, a sistematização que faço no texto As Notícias e os Seus Efeitos (Sousa, 1999).

[34] Ver, por exemplo, a sistematização que faço no texto As Notícias e os Seus Efeitos (Sousa, 1999).

[35] Ver, por exemplo: Jorge Pedro Sousa (2000) - As Notícias e os Seus Efeitos; ou Jorge Pedro Sousa (1998) - Fotojornalismo Performativo - O Serviço de Fotonotícia da Agência Lusa de Informação.

[36] Relembre-se que a sondagem interpretada por Henrique Monteiro no artigo "Perto da vista, longe do coração", publicado na revista do semanário Expresso de 21 de Abril de 2000 (pp. 62-69), mostra que os brasileiros mais conhecidos em Portugal são, precisamente, futebolistas, cantores e actores de telenovelas, podendo incluir-se um escritor entre eles, Jorge Amado.  Em contraponto, penas 28,3% dos inquiridos sabiam que Fernando Henrique Cardoso é o Presidente do Brasil.

[37] É curioso, por exemplo, relembrar as "guerras comerciais" que sucedem dentro da indústria farmacêutica mas que são projectadas para os news media.  Não terá sido por acaso que quando o Xanax, medicamento para reduzir a obesidade, foi lançado, surgiram nos meios impressos notícias a divulgar os riscos para a saúde que derivavam do recurso a medicamentos com idêntico fim, como o Isomeride ou o Drenur.  Do mesmo modo, a atitude laudatória em relação à Aspirina e à Bayer, expressa em grandes reportagens quando o célebre medicamento fez cem anos, também não me passou despercebida, apesar de a Bayer ter sido acusada por um delegado de informação médica português de oferecer presentes a médicos que receitavam os seus medicamentos.