OS CARTOONS COMO GÉNERO JORNALÍSTICO:
UMA INCURSÃO NA IMPRENSA DIÁRIA PORTUENSE

Jorge Pedro Sousa e Micaela Gonçalves, Universidade Fernando Pessoa





Introdução
Os cartoons são uma forma rica, multifacetada e popular de humor. Uma das razões do seu sucesso será, provavelmente, a flexibilidade aplicativa. Vemos os cartoons em livros escolares, onde são usados com intuitos pedagógicos; ou em certos postais ilustrados, onde comunicam emoções e desejos; ou, ainda, na publicidade, onde levam as pessoas a reparar em anúncios. Mas vemos também que a Imprensa aproveitou um determinado tipo de cartoons para representar pessoas e situações de actualidade, avaliando-as, interpretando-as e opinando sobre elas. Para esses cartoons propomos a denominação cartoons de actualidade, sendo objectivo principal deste trabalho identificar problemas e circunscrever algumas das questões relacionadas com a sua utilização como género jornalístico.

Falamos dos cartoons de actualidade como género jornalístico porque, na verdade, nos parece que cumprem os requisitos que nos permitem inseri-los nessa categoria. Martínez Albertos (1991, 213), por exemplo, considera que os géneros jornalísticos correspondem a modos de criação linguística destinados a ser canalizados através de qualquer meio de difusão colectiva, com o propósito de cumprir os objectivos da informação de actualidade — relatar acontecimentos, avaliá-los, interpretá-los e opinar sobre eles. Em consonância com a definição proposta por este autor, parece-nos que os cartoons de actualidade podem e devem ser considerados como um género jornalístico interpretativo-opinativo, já que:

É, assim, sobre os cartoons de actualidade publicados na Imprensa que nos deteremos. Sobre esses espaços de humor gráfico susceptíveis de ter mais impacto no leitor do que a restante informação, porque fazem reconhecer, atractivamente, a estupidez e cupidez de seres humanos e das instituições que estes criaram. Sobre esses espaços onde se alia a arte à perspicácia jornalística.

A delimitação conceptual a que procedemos é importante porque o significante cartoon nem sempre é usado com o mesmo significado por todas as pessoas. Provavelmente, alguns de nós, quando pensam em cartoons, nem sempre pensam em desenhos ilustrados humorísticos de interpretação subjectiva da actualidade, frequentemente satíricos e corrosivos, publicados na Imprensa. Podem, eventualmente, pensar em caricaturas de pessoas, em cartoons de situação "não actual", como muitos dos que surgem em álbuns temáticos e revistas humorísticas, em banda desenhada ou até naquela que poderíamos taxionomizar como uma submodalidade de banda desenhada, a "tira", uma forma particular de narração scripto-imagética que se desenvolve num pequeno número de vinhetas, possui normalmente heróis próprios e que, regra geral, não aborda temas da actualidade informativa "quente", antes explora assuntos mais perenes ou apenas determinadas situações (Calvin, Mafalda, etc.). Todavia, embora se possa falar na existência de algum parentesco entre as diversas modalidades de humor gráfico e da inexistência de fronteiras estanques nos géneros cartoonísticos, o cartoonismo jornalístico de actualidade, na nossa opinião, distingue-se dos restantes pela sua focalização específica.

Os cartoons de actualidade geralmente confinam-se a uma vinheta ou, em alternativa, ao desenvolvimento narrativo de uma situação numa única unidade espacial, com "vinhetas" semi-definidas (exemplos: Guarda Ricardo, Bartoon,…), embora também existam cartoons de actualidade em forma de tira (Simão, O Cidadão; Cravo & Ferradura,…). Embora haja excepções (Zé Povinho; Simão, O Cidadão,…), regra geral os cartoons de actualidade não possuem "heróis" fixos. Por outro lado, nem sempre se usam balões nos cartoons de actualidade. A exemplo do que sucedia nas primeiras bandas desenhadas europeias, a "legenda" ou o diálogo, quando existem, surgem em rodapé.

Registe-se ainda que os cartoons de actualidade constituirão, como é lógico, uma parte significativa dos cartoonseditoriais, conceito que empregaremos como sinónimo de cartoons editados na Imprensa, e que, normalmente, satirizam assuntos políticos, acontecimentos nacionais ou internacionais ou determinadas figuras, sob a forma de comentário gráfico. Por vezes os cartoons editoriais são sérios, mesmo nada humorísticos; outras vezes parecem quase exclusivamente espaços de criação artística, em certas ocasiões talvez mesmo maneirista. Mas estas são as excepções que confirmam a regra.
 
 

1. Os cartoons em Portugal

Osvaldo de Sousa (1988, 57) situa na Guerra Peninsular do século XVIII o arranque do cartoonismo português. Nessa época, "(…) verifica-se uma importação directa de gravuras satíricas, adaptadas ao meio ibérico (…).". De qualquer modo, será já no século XIX, com o triunfo do liberalismo e a proliferação da Imprensa, nomeadamente da Imprensa humorística, que os cartoons se desenvolvem. "Como o liberalismo não foi um regime pacífico nem trouxe a satisfação geral, a sátira desenvolveu-se (…) numa oposição a todos os governantes (…)" (Sousa, 1988, 59). O cabralismo viria a ser, inclusivamente, a primeira grande vítima do cartoonismo português.

Os principais processos de satirização em voga nos alvores do liberalismo eram a alegoria e a metamorfose antropomórfica. A partir do meio do século, introduz-se o realismo pictórico, com Manuel Maria Bordalo Pinheiro e Manuel Macedo, autores que redireccionarão o cartoonismo para o refinamento da crítica inteligente e para a exploração do pitoresco, em substituição da agressividade que até aí o humor gráfico denotava.

Será já nos anos Setenta do século passado que surge Rafael Bordalo Pinheiro, o irónico criador da figura do Zé Povinho. Ele fundará uma escola que, embora inserível no naturalismo vigente, era marcada pelo exagero caricatural e pela profusão decorativa. Dessa escola fazem parte nomes como José de Almeida e Silva, que se distinguiu na satirização corrosiva do John Bull, a figura que encarnava o inglês que havia declarado o Ultimatum.

Pelo final do século, quase todos os cartoonistas alinhavam pelo campo republicano. A situação política pré-republicana tornou-se, assim, o tema mais em voga nos cartoons publicados em jornais e revistas. Esteticamente, assiste-se, em traços gerais, à simplificação do traço, à superação do barroquismo rafaelista e à expurgação dos excessos decorativos.

O Grupo de Coimbra favorecerá, por seu turno, a abertura do cartoonismo português ao modernismo vanguardista e ao futurismo. Almada Negreiros será, provavelmente, o mais relevante precursor dessa abordagem.

Com o advento do regime corporativista de Salazar, o humor gráfico português viu-se espartilhado aos limites da crítica social. Interessante será notar, porém, que as representações gráficas da mulher escapavam frequentemente aos tabus sexuais da censura, pois o Estado era condescendente. Vilhena ainda hoje pontifica entre os cartoonistas que se formaram nesta escola.

Nos anos Sessenta, João Abel Manta, dentro do espírito renovador e crítico da década, inicia um novo período áureo do cartoonismo português, que se prolongará nas obras de Vasco, António, Cid, Sam ou Pedro Palma. Foi ele, nomeadamente, que introduziu no País uma estética simplificadora e esquemática de influência norte-americana, que poderíamos caracterizar superficialmente pela legibilidade e simplicidade dos desenhos e textos e pela rápida apreensão de ideias que a conjugação desses elementos proporciona.

Note-se que a influência estética americana ainda perdura nos dias de hoje, provavelmente devido às circunstâncias histórico-culturais do pós-guerra e dos tempos que se lhe seguiram, nomeadamente: 1) aparecimento, desenvolvimento e fim da Nova Ordem Internacional da Informação; 2) Incremento dos contactos internacionais; e 3) Força crescente da indústria cultural norte-americana.

De qualquer modo, hoje, mais do que nunca, não há estilos estanques. A busca da criatividade e originalidade motivada, simultaneamente, ao que cremos, pelos valores da pós-modernidade e pela competição que na esfera mediática promove a diferenciação dos produtos, gera a mistura de estilos e a recorrência a novas-velhas modalidades estilísticas, como a fotomontagem, as técnicas da pintura ou os meios informáticos. Legendar em rodapé ou usar balões, por exemplo, também constituem opções diferenciadas.
 
 

2. O estudo dos cartoons

O estudo dos cartoons pode ser feito desde várias perspectivas, entre as quais: 1) perspectiva artística/estilística; 2) perspectiva ética; 3) perspectiva crítica; e 4) perspectiva cultural. Da primeira, já falámos, embora superficialmente, quando nos referimos à evolução histórica do cartoonismo em Portugal. Restará abordar as restantes, embora também pela rama.
 
 

2.1 Perspectiva ética

Tal como na comédia, nos cartoons de actualidade o humor pode ser produzido através de processos cómicos encenacionais, individualmente ou conjuntamente, tais como as representações de gestos, palavras ou situações. As representações cartoonísticas da realidade, devido às suas implicações, têm sido campo de uma abordagem ética, que, na opinião de Paul Lester (1995, 241) se concentra em sete áreas de estudo:

2.2 Perspectiva cultural

Parece-nos que os cartoons de actualidade são uma parte essencial da cultura de cada nação. Os assuntos abordados nos cartoons de actualidade reflectirão, consequentemente, os valores, crenças, expectativas e assuntos relevantes que são comuns a uma determinada cultura num tempo determinado. Tal como muitas das restantes mensagens visuais, os cartoons de actualidade podem, assim, ser estudados em função desse sistema de valores, crenças e expectativas. A título exemplificativo, poderão ser analisados com base nos mitos que perduram numa sociedade (mal contra o bem, por exemplo) ou no uso de elementos simbólicos (visuais e verbais) que clarificam o sentido e revelam intenções do cartoonista. A construção —frequentemente problemática— de sentido a partir desses códigos visuais e verbais constituirá, inclusivamente, a principal perspectiva pela qual os cartoons de actualidade são estudados por parte dos teóricos dos estudos culturais aplicados à Comunicação Social.
 
 

2.3 Perspectiva crítica

O estudo dos cartoons de actualidade, artefactos culturais aparentemente simples, é, na realidade, um exercício complexo de análise semiótica, pois poucas formas de expressão conseguem entrelaçar palavras, imagens e sentido tanto como eles. Esse formato intelectual e emocionalmente complexo onde se unem, subjectivamente, texto e imagem, desvela-se sob a forma de um agente sedutor com influência sobre as pessoas e a sociedade, embora, claro está, essa influência dependa da resposta do consumidor da mensagem cartoonística.

Os cartoons de actualidade tornam-se tanto mais merecedores de uma abordagem no campo da teoria crítica da Comunicação Social quanto mais se repara que introduzem gerações sucessivas de leitores nos problemas da sociedade e da natureza humana, pelo menos naqueles que são abordados representacionalmente pelos news media — que não são, manifestamente, todos os problemas e podem até não ser os mais importantes. Por vezes, os cartoons de actualidade conseguirão mesmo explorar a nossa sensibilidade visual, trazendo de novo à superfície os conflitos dramáticos e frustrações que fomos interiorizando. (Inge, cit. por Lester, 1995, 244) Outras vezes, ensinarão não apenas a combinar palavras e imagens de maneira simbólica, mas também a confrontar os assuntos controversos, embora significantes, que todas as sociedades enfrentam. (Lester, 1995, 244)
 
 

3. Um estudo de caso na imprensa diária portuense

Tendo assumido que os cartoons de actualidade editados na Imprensa podem ser vistos como um género jornalístico interpretativo-opinativo importante no processo de geração de sentidos a partir dos news media, importa saber até que ponto a Imprensa os valoriza. Importa também, consequentemente, saber qual o seu conteúdo, pois este terá o seu papel no processo de construção simbólica e pode dar uma ideia sobre as intenções dos cartoonistas.

Restringimo-nos, espacialmente, à Imprensa diária portuense, ou seja, aos jornais Público (Porto), O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, Diário de Notícias (Norte) e Jornal de Notícias. Temporalmente, limitámos a pesquisa à semana entre 11 e 17 de Novembro de 1996. Como método de estudo enveredámos pela análise de conteúdo.

Não ignoramos que a análise de conteúdo é problemática e limitada quando usada individualmente e mesmo se usada com outras metodologias. No nosso caso, iremos sempre ignorar se o material recolhido é igualmente representativo de uma realidade menos limitada no tempo, mas pelo menos será representativo do período sob análise, pelo que, a partir daí, se podem extrair conclusões. Em segundo lugar, podemos interpretar o material como sendo o resultado das intenções do cartoonista e dos constrangimentos sócio-culturais na sua elaboração, mas será difícil saber se realmente o que encontrámos tem a ver com aquilo que o cartoonista "colocou lá", isto é, com as intenções do autor. Finalmente, nada nos indica se a nossa interpretação dos cartoons e as induções que possamos fazer acerca do processo de geração de sentidos pelos observadores terá efectiva correspondência com o que se passa com estes últimos. Inclusivamente, na actualidade concorda-se que as pessoas respondem diferentemente aos meios de comunicação, pois têm diferentes interesses, educação, personalidade e background, factores que influenciam a resposta aos media (reader response).

De facto, os recentes desenvolvimentos dos estudos sobre resposta dos consumidores ás mensagens mediáticas sugerem que os "leitores" têm um papel importante na geração de sentido para essas mensagens. Alguns teóricos argumentaram até que os consumidores desempenham um papel tão importante em encontrar sentido para essas mensagens como os "criadores" desempenham ao elaborar o material "transportado" pelo medium. Assim, é preciso ser-se cauteloso com quaisquer conclusões e, acima de tudo, evidenciar que os resultados da pesquisa científica são abertos e, claro, relativos.

Para o nosso estudo, em primeiro lugar, aferimos a importância dada pelos jornais aos cartoons de actualidade em função da sua disposição nas páginas e do espaço ocupado. Verificámos também a dependência de produção externa ao jornal. Depois aferimos as categorias que a seguir se inserem:

3.1 Resultados

A) Jornal de Notícias

Tabela 1 — Jornal de Notícias: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade

Jornal
de
Notícias
Nº de
cartoons
na metade
inferior das
páginas
Seg.
11 Nov.
122.964
68.715
1
321
0,47
1 (100%)
0
1
Ter.
12 Nov.
108.498
80.921
1
321
0,40
1 (100%)
0
1
Qua
13 Nov.
104.881
62.386
2
463
0.74
1 (50%)*
1
1
Qui
14 Nov.
115.731
73.236
1
321
0,44
1 (100%)
0
1
Sex.
15 Nov.
115.731
66.003
1
321
0,49
1 (100%)
0
1
Sábado
16 Nov.
151.897
66.907
1
321
0,48
1 (100%)
0
1
Domingo
17 Nov.
144.664
68.715
3
940
1,37
2 (66,7%)*
2
1
TOTAL
864.366
486.883
10
3008
0,62
8 (80%)
3
(30%)
7
(70%)
MÉDIAS
DIÁRIAS
123.481
69.555
1,43
430
0,62
1,14
0,43
1
*Os restantes cartoons encontram-se em páginas editoriais e ocupam 141,75 cm2 (quarta, 13 de Novembro) e 371,25 cm2 (domingo, 17 de Novembro).
 
 

Tabela 2 — Jornal de Notícias: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção

Jornal
de
Notícias
Nº de
cartoons
coloridos
Nº de
cartoons
a preto
e branco
Nº de
cartoons
em página
ímpar
Nº de
cartoons
em página
par
Nº de
cartoons
de
produção própria
Nº de
cartoons
de
produção não própria
nacional
Nº de
cartoons
de
produção não própria
estran-geira
Seg.
11 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Ter.
12 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Qua.
13 Nov.
0
2
0
2
2
0
0
Qui.
14 Nov.
0
1
1
0
1
0
0
Sex.
15 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Sáb.
16 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Dom.
17 Nov.
0
3
0
3
3
0
0
TOTAL
0
10 (100%)
1 (10%)
9 (90%)
10 (100%)
0
0
MÉDIA
DIÁRIA
0
1,43
0,14
1,29
1,43
0
0

 

B) Público

Tabela 3 — Público: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade

Público

Espaço
total
(cm2)
Espaço
redacto-
rial
(cm2)

de
cartoons
Espaço
ocupado
por
cartoons
(cm2)
Peso dos
cartoons
no espaço
redacto-
rial
(%)
Nº de
cartoons
em páginas
de opinião
Nº de
cartoons
na metade
superior
das
páginas
Nº de
cartoons
na
metade
inferior
das
páginas
Seg.
11 Nov.
105.560
66.430
2
563,5
0,85
1 (50%)*
2
0
Ter.
12 Nov.
54.600
40.495
1
336
0,83
1 (100%)
1
0
Qua
13 Nov.
69.160
48.685
1
336
0,69
1 (100%)
1
0
Qui
14 Nov.
54.600
39.130
1
336
0,86
1 (100%)
1
0
Sex.
15 Nov.
61.880
41.860
1
336
0,80
1 (100%)
1
0
Sábado
16 Nov.
72.800
53.690
2
661
1,23
1 (50%)*
2
0
Domingo
17 Nov.
65.520
39.130
4
671,5
1,72
1 (25%)*
3
1
TOTAL
484.120
329.420
12
3240
0,98
7 (58,3%)
11
91,7%
1
(8,3%)
MÉDIAS
DIÁRIAS
69.160
47.060
1,71
462,9
0,98
1
1,57
0,14
*Os restantes cartoons encontram-se no suplemento de economia, em página editorial (227,5cm2), no dia 11 de Novembro; na página editorial de "revisão da semana", denominada "A Semana" (325 cm2), no dia 16 de Novembro; e numa página editorial de "Internacional" (335,5cm2), no dia 17 de Novembro.

Tabela 4 — Público: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção

 

Público
Nº de
cartoons
coloridos
Nº de
cartoons
a preto
e branco
Nº de
cartoons
em página
ímpar
Nº de
cartoons
em página
par
Nº de
cartoons
de
produção própria
Nº de
cartoons
de
produção não própria
nacional
Nº de
cartoons
de
produção não própria
estrangeira
Seg.
11 Nov.
1
1
1
1
2
0
0
Ter.
12 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Qua.
13 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Qui.
14 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Sex.
15 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Sáb.
16 Nov.
0
2
1
1
2
0
0
Dom.
17 Nov.
0
4
0
4
1
0
3
TOTAL
1
(8,3%)
11 (91,7%)
2
(16,6%)
10 (83,3%)
9
(75%)
0
3
(25%)
MÉDIA
DIÁRIA
0,14
1,57
0,28
1,43
1,29
0
0,43

 

C) Diário de Notícias

Tabela 5 — Diário de Notícias: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade

Diário
de
Notícias
Espaço
total
(cm2)
Espaço
redactorial
(cm2)

de
cartoons
Espaço
ocupado
por
cartoons
(cm2)
Peso dos
cartoons
no espaço
redactorial
(%)
Nº de
cartoons
em páginas
de
entretenimento
Nº de
cartoons
na metade
superior
das
páginas
Nº de
cartoons
na
metade
inferior
das
páginas
Seg.
11 Nov.
93.600
53.138
3
1.039,5
1,96
1 (33,3%)**
1
2
Ter.
12 Nov.
74.100
49.725
1
327,5
0,66
1 (100%)
0
1
Qua
13 Nov.
81.900
56.550
1
327,5
0,58
1 (100%)
0
1
Qui
14 Nov.
70.200
44.606
1
327,5
0,73
1 (100%)
0
1
Sex.
15 Nov.
81.900
51.675
1
327,5
0,63
1 (100%)
0
1
Sábado
16 Nov.
128.700
88.238
5*
645
0,73
5 (100%)
2,5
2,5
Domingo
17 Nov.
70.200
46.800
1
182
0,39
1 (100%)
1
0
TOTAL
600.600
390.732
13
3.176,5
0,81
11 (84,6%)
4,5
34,6%
8,5
65,4%
MÉDIAS
DIÁRIAS
85.800
55.819
1,86
453,8
0,81
1,58
0,64
1,21
*Os cinco cartoons de actualidade publicados ao longo da semana foram reunidos num único espaço.

**Os restantes cartoons publicados a 11 de Novembro encontravam-se no suplemento "Negócios" (712cm2), um deles na primeira página, ao centro (374 cm2).
 
 

Tabela 6 — Diário de Notícias: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção

Diário
de
Notícias
Nº de
cartoons
coloridos
Nº de
cartoons
a preto
e branco
Nº de
cartoons
em página
ímpar
Nº de
cartoons
em página
par
Nº de
cartoons
de
produção própria
Nº de
cartoons de
produção não própria
nacional
Nº de
cartoons de
produção não própria
estran-geira
Seg.
11 Nov.
2
1
2
1
3
0
0
Ter.
12 Nov.
1
0
0
1
1
0
0
Qua.
13 Nov.
1
0
0
1
1
0
0
Qui.
14 Nov.
1
0
0
1
1
0
0
Sex.
15 Nov.
1
0
0
1
1
0
0
Sáb.
16 Nov.
5
0
0
5
5
0
0
Dom.
17 Nov.
0
1
0
1
0
1
0
TOTAL
11
(84,62%)
2 (15,38%)
2 (15,38%)
11
(84,62%)
12
(92,31%)
1
(7,69%)
0
MÉDIA
DIÁRIA
1,57
0,29
0,29
1,57
1,71
0,14
0

 

D) O Comércio do Porto
 


Tabela 7 — O Comércio do Porto: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade

O
Comércio
do
Porto
Espaço
total
(cm2)
Espaço
redactorial
(cm2)

de
cartoons
Espaço
ocupado
por
cartoons
(cm2)
Peso dos
cartoons
no espaço
redactorial

(%)

Nº de
cartoons
em páginas
editoriais
Nº de
cartoons
na metade
superior
das
páginas
Nº de
cartoons
na
metade
inferior
das
páginas
Seg.
11 Nov.
42.328
33.189
0
0
0
0
0
0
Ter.
12 Nov.
34.632
30.784
0
0
0
0
0
0
Qua
13 Nov.
34.632
29.822
0
0
0
0
0
0
Qui
14 Nov.
42.328
31.746
0
0
0
0
0
0
Sex.
15 Nov.
34.632
30.303
1
86,25
0,29
1 (100%)
0,5
0,5
Sábado
16 Nov.
34.632
29.822
0
0
0
0
0
0
Domingo
17 Nov.
38.480
33.430
0
0
0
0
0
0
TOTAL
261.664
219.096
1
86,25
0,04
1 (100%)
0,5
(50%)
0,5
(50%)
MÉDIAS
DIÁRIAS
37.381
31.299
0,14
12,3
0,04
0,14
0,07
0,07

 

Tabela 8 — O Comércio do Porto: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção

O Comércio
do Porto
Nº de
cartoons
coloridos
Nº de
cartoons
a preto
e branco
Nº de
cartoons
em página
ímpar
Nº de
cartoons
em página
par
Nº de
cartoons
de
produção própria
Nº de
cartoons
de
produção não própria
nacional
Nº de
cartoons
de
produção não própria
estran-geira
Seg.
11 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
Ter.
12 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
Qua.
13 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
Qui.
14 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
Sex.
15 Nov.
0
1
1
0
0
1
0
Sáb.
16 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
Dom.
17 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
TOTAL
0
1 (100%)
1 (100%)
0
0
1 (100%)
0
MÉDIA
DIÁRIA
0
0,14
0,14
0
0
0,14
0

 

E) O Primeiro de Janeiro
 
 

Tabela 9 — O Primeiro de Janeiro: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade

O Primeiro
de
Janeiro
Espaço
total
(cm2)
Espaço
redactorial
(cm2)

de
cartoons
Espaço
ocupado
por
cartoons
(cm2)
Peso dos
cartoons
no espaço
redactorial

(%)

Nº de
cartoons
em páginas
de opinião
Nº de
cartoons
na metade
superior
das
páginas
Nº de
cartoons
na
metade
inferior
das
páginas
Seg.
11 Nov.
28.288
24.752
0
0
0
0
0
0
Ter.
12 Nov.
31.824
28.730
1
142,5
0,5
1 (100%)
0
1
Qua
13 Nov.
31.824
28.067
2
418
1,49
1 (50%)*
1
1
Qui
14 Nov.
31.824
28.730
1
142,5
0,5
1 (100%)
0

 

1
Sex.
15 Nov.
31.824
27.846
0
0
0
0
0
0
Sábado
16 Nov.
31.824
26.962
0
0
0
0
0
0
Domingo
17 Nov.
31.824
29.172
2
342,5
1,17
1 (50%)**
1
1
TOTAL
219.232
194.259
6
1.045,5
0,54
4 (66,7%)
2
33,3%
4
66,7%
MÉDIAS
DIÁRIAS
31.319
27.751
0,9
149,4
0,54
0,6
0,3
0,6
*O restante cartoon encontrava-se numa página intitulada "Factos e fatos" (entretenimento informativo), e ocupava 275,5cm2.

**O restante cartoon encontrava-se numa página de "Internacional", e ocupava 200 cm2.
 
 

Tabela 10 — O Primeiro de Janeiro: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção

O Primeiro

de Janeiro

Nº de
cartoons
coloridos
Nº de
cartoons
a preto
e branco
Nº de
cartoons
em página
ímpar
Nº de
cartoons
em página
par
Nº de
cartoons
de
produção própria
Nº de
cartoons de
produção não própria
nacional
Nº de
cartoons de
produção não própria
estran-geira
Seg.
11 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
Ter.
12 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Qua.
13 Nov.
0
2
0
2
1
0
1
Qui.
14 Nov.
0
1
0
1
1
0
0
Sex.
15 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
Sáb.
16 Nov.
0
0
0
0
0
0
0
Dom.
17 Nov.
0
2
0
2
1
0
1
TOTAL
0
6
(100%)
0
6
(100%)
4
(66,6%)
0
2
(33,3%)
MÉDIA
DIÁRIA
0
0,86
0
0,86
0,57
0
0,29

 

F) Temas
 
 

Tabela 14 — Comparação dos temas representados nos cartoons

Temas
Jornal
de
Notícias
Público
Diário
de
Notícias
O Comércio
do
Porto
O Primeiro
de
Janeiro
Nacional
3 (30%)
Média=0,43
8 (66,67%)
Média=1,14
11 (84,61%)
Média=1,57
1 (100%)
Média=0,14
0
Local
0
0
0
0
0
Internacional
1 (10%)
Média=0,14
3 (25%)
Média=0,43
0
0
2 (33,33%)
Média=0,28
Sociedade
0
0
0
0
0
Desporto
6 (60%)
Média=0,86
1 (8,33%)
Média=0,14
2 (15,39%)
Média=0,28
0
4 (66,67%)
Média=0,57
Cultura e
entretenimento
0
0
0
0
0
TOTAL
10
12
13
1
6

 

G) Sujeitos e personagens nos cartoons

Tabela 15 — Sexo e papéis sociais dos sujeitos e personagens dos cartoons

Representações dos sujeitos e
personagens
Jornal
de
Notícias
Público
Diário
de
Notícias
O Comércio
do
Porto
O Primeiro
de
Janeiro
Número
de
cartoons
10
12
13
1
6
Número de
sujeitos e
personagens
nos cartoons
20
26
24
4
19
Número de
sujeitos
e personagens
masculinos
20 (100%)
26 (100%)
16 (66,67%)
1 (25%)
11 (57,89%)
Político
1 (5%)
4 (15,39%)
0
0
1 (5,26%)
(9,09% dos
personagens
masculinos)
Militar
0
1 (3,85%)
0
0
2 (10,53%)
(18,18% dos
personagens
masculinos)
Desportista
ou agente
desportivo
3 (15%)
1 (3,85%)*
0
0
4 (21,05%)
(36,36% dos
personagens
masculinos)
Papel em
acção social
0
0
0
0
0
Civil
16 (80%)
20 (76,9%)
16 (66,67%)
(100% dos
personagens
masculinos)
1 (25%)
(100% dos
personagens
masculinos)
4 (21,05%)
(36,36% dos
personagens
masculinos)
Número de
sujeitos e
personagens
femininos
0
0
4 (16,67%)
3 (75%)
5 (26,32%)
Político
0
0
0
0
0
Militar
0
0
0
0
0
Desportista
ou agente
desportivo
0
0
0
0
0
Papel em
acção social
0
0
0
0
0
Civil
0
0
4 (16,67%)
(100% dos
personagens
femininos)
3 (75%)
(100% dos
personagens
femininos)
0
Namoradas e
esposas
0
0
0
0
4 (21,05%)
(80% dos
personagens
femininos)
Donas de
casa
0
0
0
0
1 (5,26%)
(20% dos
personagens
femininos)
Indistintos ou
multidão
0
0
4 (16,67%)
0
1 (5,26%)
Animal
0
0
0
0
2 (10,53%)

 

H) Cartoons violentos ou representando cenas de violência

Tabela 16 — Violência representada nos cartoons

Jornal

(entre parênteses surge o total de cartoons)

Número de cartoons violentos ou representando cenas de violência
Jornal de Notícias (10 cartoons)
3 (30%)
Público (12 cartoons)
2 (16,67%)
Diário de Notícias (13 cartoons)
1 (7,69%)
O Comércio do Porto (1 cartoon)
0
O Primeiro de Janeiro (6 cartoons)
2 (33,33%)

 

3.2 Discussão dos resultados e considerações finais

Face aos dados apresentados nas tabelas e aos cartoons publicados pelos jornais analisados de 11 a 17 de Novembro de 1996, podemos concluir o seguinte:

Com base nos resultados e na sua discussão, parece-nos que o jornal Público é o órgão de comunicação social que maior importância dá aos cartoons e que destes faz uma utilização mais equilibrada e consentânea com a sua natureza de género jornalístico, embora não os use com o relevo que, no nosso entender, os cartoons de actualidade merecem. No ponto oposto, encontramos O Comércio do Porto, que praticamente despreza os cartoons de actualidade. Os restantes jornais ficam no meio destes pólos, mas enquanto o Jornal de Notícias e O Primeiro de Janeiro valorizam aparentemente os cartoons de actualidade como género jornalístico opinativo, o Diário de Notícias só lhes dá destaque enquanto género jornalístico (já que produz informação de actualidade) "de entretenimento", algo que, manifestamente, não nos parece ser. Por isso, julgamos que o Diário de Notícias não insere os cartoons de actualidade nos espaços mais aconselháveis: as páginas de opinião, em primeiro lugar; ou as páginas editoriais, em segundo lugar.

Fazemos também notar que nenhum dos jornais que publicou regularmente cartoons se aproveitou suficientemente das potencialidades destes, já que pouco foi o espaço que lhes consagrou. De facto, em nosso entender, os cartoons têm possibilidades negligenciadas pela Imprensa diária portuense: 1) Fazer rir, fazer reflectir, fazer conhecer, corrigir, educar (entre outras coisas, educar para a democracia e a tolerância); 2) Captar e fidelizar leitores; 3) Ancoragem gráfica; 4) Levar o leitor, pelo humor, a compreender, interpretar e saber explicar os acontecimentos e a associar acontecimentos que os news media lhe apresentam fragmentados, ou seja, levar o leitor a atingir o nível dos significados, das causas, das consequências e das ramificações/associações dos acontecimentos; 5) Ser instrumento de luta concorrencial; e 6) Os cartoons são uma forma de aproveitar a potencial legibilidade da imagem, seja esta informativa, interpretativa, explicativa, contextualizante ou tudo isso, especialmente no seio de uma cultura do visual como a nossa.

Salientamos, ainda, que nos parece imprescindível abrir os cartoons ao sexo feminino, explorar a diversidade temática e incentivar a criação (o que, inclusivamente, se poderá reflectir na multiplicação dos estilos e dos sistemas de provocação do riso). Criar, participar, abrir os espíritos, são instrumentos essenciais para fazer viver as cidadanias, democratizar mais profundamente, gerar a polifonia, e não entorpecer.

No jornalismo, a aceitação dos cartoons de actualidade como género jornalístico opinativo ou analítico, um género crítico, com ponto de vista assumido, é uma forma de ampliar a polifonia social e, assim, de acentuar as vivências democráticas, enriquecendo a democracia com a intervenção aliada à arte. A arte, a criação, pode, em democracia, acentuar a perspectiva do novo, mobilizar e, consequentemente, activar o exercício das cidadanias.