Jorge Pedro Sousa e Micaela Gonçalves, Universidade Fernando Pessoa
Introdução
Os cartoons são uma forma rica, multifacetada e popular
de humor. Uma das razões do seu sucesso será, provavelmente,
a flexibilidade aplicativa. Vemos os cartoons em livros escolares, onde
são usados com intuitos pedagógicos; ou em certos postais
ilustrados, onde comunicam emoções e desejos; ou, ainda,
na publicidade, onde levam as pessoas a reparar em anúncios. Mas
vemos também que a Imprensa aproveitou um determinado tipo de cartoons
para representar pessoas e situações de actualidade, avaliando-as,
interpretando-as e opinando sobre elas. Para esses cartoons propomos
a denominação
cartoons de actualidade, sendo objectivo
principal deste trabalho identificar problemas e circunscrever algumas
das questões relacionadas com a sua utilização como
género jornalístico.
Falamos dos cartoons de actualidade como género jornalístico porque, na verdade, nos parece que cumprem os requisitos que nos permitem inseri-los nessa categoria. Martínez Albertos (1991, 213), por exemplo, considera que os géneros jornalísticos correspondem a modos de criação linguística destinados a ser canalizados através de qualquer meio de difusão colectiva, com o propósito de cumprir os objectivos da informação de actualidade relatar acontecimentos, avaliá-los, interpretá-los e opinar sobre eles. Em consonância com a definição proposta por este autor, parece-nos que os cartoons de actualidade podem e devem ser considerados como um género jornalístico interpretativo-opinativo, já que:
São difundidos pela Imprensa;
A exemplo de outros géneros jornalísticos, como o editorial, colocam em evidência determinadas situações ou suas particularidades, analisam-nas e opinam sobre elas.
A delimitação conceptual a que procedemos é importante porque o significante cartoon nem sempre é usado com o mesmo significado por todas as pessoas. Provavelmente, alguns de nós, quando pensam em cartoons, nem sempre pensam em desenhos ilustrados humorísticos de interpretação subjectiva da actualidade, frequentemente satíricos e corrosivos, publicados na Imprensa. Podem, eventualmente, pensar em caricaturas de pessoas, em cartoons de situação "não actual", como muitos dos que surgem em álbuns temáticos e revistas humorísticas, em banda desenhada ou até naquela que poderíamos taxionomizar como uma submodalidade de banda desenhada, a "tira", uma forma particular de narração scripto-imagética que se desenvolve num pequeno número de vinhetas, possui normalmente heróis próprios e que, regra geral, não aborda temas da actualidade informativa "quente", antes explora assuntos mais perenes ou apenas determinadas situações (Calvin, Mafalda, etc.). Todavia, embora se possa falar na existência de algum parentesco entre as diversas modalidades de humor gráfico e da inexistência de fronteiras estanques nos géneros cartoonísticos, o cartoonismo jornalístico de actualidade, na nossa opinião, distingue-se dos restantes pela sua focalização específica.
Os cartoons de actualidade geralmente confinam-se a uma vinheta ou, em alternativa, ao desenvolvimento narrativo de uma situação numa única unidade espacial, com "vinhetas" semi-definidas (exemplos: Guarda Ricardo, Bartoon, ), embora também existam cartoons de actualidade em forma de tira (Simão, O Cidadão; Cravo & Ferradura, ). Embora haja excepções (Zé Povinho; Simão, O Cidadão, ), regra geral os cartoons de actualidade não possuem "heróis" fixos. Por outro lado, nem sempre se usam balões nos cartoons de actualidade. A exemplo do que sucedia nas primeiras bandas desenhadas europeias, a "legenda" ou o diálogo, quando existem, surgem em rodapé.
Registe-se ainda que os cartoons de actualidade constituirão,
como é lógico, uma parte significativa dos cartoonseditoriais,
conceito que empregaremos como sinónimo de cartoons editados na
Imprensa, e que, normalmente, satirizam assuntos políticos, acontecimentos
nacionais ou internacionais ou determinadas figuras, sob a forma de comentário
gráfico. Por vezes os cartoons editoriais são sérios,
mesmo nada humorísticos; outras vezes parecem quase exclusivamente
espaços de criação artística, em certas ocasiões
talvez mesmo maneirista. Mas estas são as excepções
que confirmam a regra.
1. Os cartoons em Portugal
Osvaldo de Sousa (1988, 57) situa na Guerra Peninsular do século XVIII o arranque do cartoonismo português. Nessa época, "( ) verifica-se uma importação directa de gravuras satíricas, adaptadas ao meio ibérico ( ).". De qualquer modo, será já no século XIX, com o triunfo do liberalismo e a proliferação da Imprensa, nomeadamente da Imprensa humorística, que os cartoons se desenvolvem. "Como o liberalismo não foi um regime pacífico nem trouxe a satisfação geral, a sátira desenvolveu-se ( ) numa oposição a todos os governantes ( )" (Sousa, 1988, 59). O cabralismo viria a ser, inclusivamente, a primeira grande vítima do cartoonismo português.
Os principais processos de satirização em voga nos alvores do liberalismo eram a alegoria e a metamorfose antropomórfica. A partir do meio do século, introduz-se o realismo pictórico, com Manuel Maria Bordalo Pinheiro e Manuel Macedo, autores que redireccionarão o cartoonismo para o refinamento da crítica inteligente e para a exploração do pitoresco, em substituição da agressividade que até aí o humor gráfico denotava.
Será já nos anos Setenta do século passado que surge Rafael Bordalo Pinheiro, o irónico criador da figura do Zé Povinho. Ele fundará uma escola que, embora inserível no naturalismo vigente, era marcada pelo exagero caricatural e pela profusão decorativa. Dessa escola fazem parte nomes como José de Almeida e Silva, que se distinguiu na satirização corrosiva do John Bull, a figura que encarnava o inglês que havia declarado o Ultimatum.
Pelo final do século, quase todos os cartoonistas alinhavam pelo campo republicano. A situação política pré-republicana tornou-se, assim, o tema mais em voga nos cartoons publicados em jornais e revistas. Esteticamente, assiste-se, em traços gerais, à simplificação do traço, à superação do barroquismo rafaelista e à expurgação dos excessos decorativos.
O Grupo de Coimbra favorecerá, por seu turno, a abertura do cartoonismo português ao modernismo vanguardista e ao futurismo. Almada Negreiros será, provavelmente, o mais relevante precursor dessa abordagem.
Com o advento do regime corporativista de Salazar, o humor gráfico português viu-se espartilhado aos limites da crítica social. Interessante será notar, porém, que as representações gráficas da mulher escapavam frequentemente aos tabus sexuais da censura, pois o Estado era condescendente. Vilhena ainda hoje pontifica entre os cartoonistas que se formaram nesta escola.
Nos anos Sessenta, João Abel Manta, dentro do espírito renovador e crítico da década, inicia um novo período áureo do cartoonismo português, que se prolongará nas obras de Vasco, António, Cid, Sam ou Pedro Palma. Foi ele, nomeadamente, que introduziu no País uma estética simplificadora e esquemática de influência norte-americana, que poderíamos caracterizar superficialmente pela legibilidade e simplicidade dos desenhos e textos e pela rápida apreensão de ideias que a conjugação desses elementos proporciona.
Note-se que a influência estética americana ainda perdura nos dias de hoje, provavelmente devido às circunstâncias histórico-culturais do pós-guerra e dos tempos que se lhe seguiram, nomeadamente: 1) aparecimento, desenvolvimento e fim da Nova Ordem Internacional da Informação; 2) Incremento dos contactos internacionais; e 3) Força crescente da indústria cultural norte-americana.
De qualquer modo, hoje, mais do que nunca, não há estilos
estanques. A busca da criatividade e originalidade motivada, simultaneamente,
ao que cremos, pelos valores da pós-modernidade e pela competição
que na esfera mediática promove a diferenciação dos
produtos, gera a mistura de estilos e a recorrência a novas-velhas
modalidades estilísticas, como a fotomontagem, as técnicas
da pintura ou os meios informáticos. Legendar em rodapé ou
usar balões, por exemplo, também constituem opções
diferenciadas.
2. O estudo dos cartoons
O estudo dos cartoons pode ser feito desde várias perspectivas,
entre as quais: 1) perspectiva artística/estilística; 2)
perspectiva ética; 3) perspectiva crítica; e 4) perspectiva
cultural. Da primeira, já falámos, embora superficialmente,
quando nos referimos à evolução histórica do
cartoonismo em Portugal. Restará abordar as restantes, embora também
pela rama.
2.1 Perspectiva ética
Tal como na comédia, nos cartoons de actualidade o humor pode ser produzido através de processos cómicos encenacionais, individualmente ou conjuntamente, tais como as representações de gestos, palavras ou situações. As representações cartoonísticas da realidade, devido às suas implicações, têm sido campo de uma abordagem ética, que, na opinião de Paul Lester (1995, 241) se concentra em sete áreas de estudo:
(2) Uso reduzido de personagens e abordagens multiculturais (etnocentrismo);
(3) Mensagens políticas;
(4) Construções problemáticas de sentido;
(5) Uso representacional inapropriado de temas sexuais e violentos;
(6) Estereotipização, especialmente estereotipização sexual;
(7) Problemas relacionados com o facto de, até certo ponto,
a introdução das crianças no mundo da Imprensa ser
feita, frequentemente, através das tiras e cartoons editados em
jornais e revistas.
Parece-nos que os cartoons de actualidade são uma parte essencial
da cultura de cada nação. Os assuntos abordados nos cartoons
de actualidade reflectirão, consequentemente, os valores, crenças,
expectativas e assuntos relevantes que são comuns a uma determinada
cultura num tempo determinado. Tal como muitas das restantes mensagens
visuais, os cartoons de actualidade podem, assim, ser estudados em função
desse sistema de valores, crenças e expectativas. A título
exemplificativo, poderão ser analisados com base nos mitos que perduram
numa sociedade (mal contra o bem, por exemplo) ou no uso de elementos simbólicos
(visuais e verbais) que clarificam o sentido e revelam intenções
do cartoonista. A construção frequentemente problemática
de sentido a partir desses códigos visuais e verbais constituirá,
inclusivamente, a principal perspectiva pela qual os cartoons de actualidade
são estudados por parte dos teóricos dos estudos culturais
aplicados à Comunicação Social.
2.3 Perspectiva crítica
O estudo dos cartoons de actualidade, artefactos culturais aparentemente simples, é, na realidade, um exercício complexo de análise semiótica, pois poucas formas de expressão conseguem entrelaçar palavras, imagens e sentido tanto como eles. Esse formato intelectual e emocionalmente complexo onde se unem, subjectivamente, texto e imagem, desvela-se sob a forma de um agente sedutor com influência sobre as pessoas e a sociedade, embora, claro está, essa influência dependa da resposta do consumidor da mensagem cartoonística.
Os cartoons de actualidade tornam-se tanto mais merecedores de uma abordagem
no campo da teoria crítica da Comunicação Social quanto
mais se repara que introduzem gerações sucessivas de leitores
nos problemas da sociedade e da natureza humana, pelo menos naqueles que
são abordados representacionalmente pelos news media que
não são, manifestamente,
todos os problemas e podem
até não ser os mais importantes. Por vezes, os cartoons
de actualidade conseguirão mesmo explorar a nossa sensibilidade
visual, trazendo de novo à superfície os conflitos dramáticos
e frustrações que fomos interiorizando. (Inge, cit. por Lester,
1995, 244) Outras vezes, ensinarão não apenas a combinar
palavras e imagens de maneira simbólica, mas também a confrontar
os assuntos controversos, embora significantes, que todas as sociedades
enfrentam. (Lester, 1995, 244)
3. Um estudo de caso na imprensa diária portuense
Tendo assumido que os cartoons de actualidade editados na Imprensa podem ser vistos como um género jornalístico interpretativo-opinativo importante no processo de geração de sentidos a partir dos news media, importa saber até que ponto a Imprensa os valoriza. Importa também, consequentemente, saber qual o seu conteúdo, pois este terá o seu papel no processo de construção simbólica e pode dar uma ideia sobre as intenções dos cartoonistas.
Restringimo-nos, espacialmente, à Imprensa diária portuense, ou seja, aos jornais Público (Porto), O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, Diário de Notícias (Norte) e Jornal de Notícias. Temporalmente, limitámos a pesquisa à semana entre 11 e 17 de Novembro de 1996. Como método de estudo enveredámos pela análise de conteúdo.
Não ignoramos que a análise de conteúdo é problemática e limitada quando usada individualmente e mesmo se usada com outras metodologias. No nosso caso, iremos sempre ignorar se o material recolhido é igualmente representativo de uma realidade menos limitada no tempo, mas pelo menos será representativo do período sob análise, pelo que, a partir daí, se podem extrair conclusões. Em segundo lugar, podemos interpretar o material como sendo o resultado das intenções do cartoonista e dos constrangimentos sócio-culturais na sua elaboração, mas será difícil saber se realmente o que encontrámos tem a ver com aquilo que o cartoonista "colocou lá", isto é, com as intenções do autor. Finalmente, nada nos indica se a nossa interpretação dos cartoons e as induções que possamos fazer acerca do processo de geração de sentidos pelos observadores terá efectiva correspondência com o que se passa com estes últimos. Inclusivamente, na actualidade concorda-se que as pessoas respondem diferentemente aos meios de comunicação, pois têm diferentes interesses, educação, personalidade e background, factores que influenciam a resposta aos media (reader response).
De facto, os recentes desenvolvimentos dos estudos sobre resposta dos consumidores ás mensagens mediáticas sugerem que os "leitores" têm um papel importante na geração de sentido para essas mensagens. Alguns teóricos argumentaram até que os consumidores desempenham um papel tão importante em encontrar sentido para essas mensagens como os "criadores" desempenham ao elaborar o material "transportado" pelo medium. Assim, é preciso ser-se cauteloso com quaisquer conclusões e, acima de tudo, evidenciar que os resultados da pesquisa científica são abertos e, claro, relativos.
Para o nosso estudo, em primeiro lugar, aferimos a importância dada pelos jornais aos cartoons de actualidade em função da sua disposição nas páginas e do espaço ocupado. Verificámos também a dependência de produção externa ao jornal. Depois aferimos as categorias que a seguir se inserem:
1.1 Nacional
1.2 Local
1.3 Internacional
1.4 Sociedade
1.5 Desporto
1.6 Cultura e entretenimento
2) Sujeitos
2.1 Sujeitos masculinos
2.1.1 Papéis sociais: político, militar, desportista, papel social, papel civil.
2.2 Sujeitos femininos
2.2.1 Papéis sociais: político, militar, desportista, papel social, papel civil. A posteriori, acrescentámos as categorias "Namoradas/esposas" e "Donas de casa".
3) Violência
3.1 Cartoons violentos ou representando situações de violência
A) Jornal de Notícias
Tabela 1 Jornal de Notícias: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade
de Notícias Nº de cartoons na metade inferior das páginas |
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11 Nov. |
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12 Nov. |
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13 Nov. |
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14 Nov. |
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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(30%) |
(70%) |
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DIÁRIAS |
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Tabela 2 Jornal de Notícias: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção
de Notícias |
cartoons coloridos |
cartoons a preto e branco |
cartoons em página ímpar |
cartoons em página par |
cartoons de produção própria |
cartoons de produção não própria nacional |
cartoons de produção não própria estran-geira |
11 Nov. |
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12 Nov. |
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13 Nov. |
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14 Nov. |
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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DIÁRIA |
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B) Público
Tabela 3 Público: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade
Público |
total (cm2) |
redacto- rial (cm2) |
de cartoons |
ocupado por cartoons (cm2) |
cartoons no espaço redacto- rial (%) |
cartoons em páginas de opinião |
cartoons na metade superior das páginas |
cartoons na metade inferior das páginas |
11 Nov. |
|
|
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12 Nov. |
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13 Nov. |
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14 Nov. |
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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91,7% |
(8,3%) |
DIÁRIAS |
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Tabela 4 Público: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção
Público |
cartoons coloridos |
cartoons a preto e branco |
cartoons em página ímpar |
cartoons em página par |
cartoons de produção própria |
cartoons de produção não própria nacional |
cartoons de produção não própria estrangeira |
11 Nov. |
|
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12 Nov. |
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13 Nov. |
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14 Nov. |
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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(8,3%) |
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(16,6%) |
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(75%) |
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(25%) |
DIÁRIA |
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C) Diário de Notícias
Tabela 5 Diário de Notícias: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade
de Notícias |
total (cm2) |
redactorial (cm2) |
de cartoons |
ocupado por cartoons (cm2) |
cartoons no espaço redactorial (%) |
cartoons em páginas de entretenimento |
cartoons na metade superior das páginas |
cartoons na metade inferior das páginas |
11 Nov. |
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12 Nov. |
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13 Nov. |
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14 Nov. |
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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34,6% |
65,4% |
DIÁRIAS |
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**Os restantes cartoons publicados a 11 de Novembro encontravam-se no
suplemento "Negócios" (712cm2), um deles na primeira página,
ao centro (374 cm2).
Tabela 6 Diário de Notícias: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção
de Notícias |
cartoons coloridos |
cartoons a preto e branco |
cartoons em página ímpar |
cartoons em página par |
cartoons de produção própria |
cartoons de produção não própria nacional |
cartoons de produção não própria estran-geira |
11 Nov. |
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12 Nov. |
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13 Nov. |
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14 Nov. |
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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(84,62%) |
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(84,62%) |
(92,31%) |
(7,69%) |
|
DIÁRIA |
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D) O Comércio do Porto
Tabela 7 O Comércio do Porto: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade
Comércio do Porto |
total (cm2) |
redactorial (cm2) |
de cartoons |
ocupado por cartoons (cm2) |
cartoons no espaço redactorial (%) |
cartoons em páginas editoriais |
cartoons na metade superior das páginas |
cartoons na metade inferior das páginas |
11 Nov. |
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12 Nov. |
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13 Nov. |
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14 Nov. |
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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(50%) |
(50%) |
DIÁRIAS |
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Tabela 8 O Comércio do Porto: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção
do Porto |
cartoons coloridos |
cartoons a preto e branco |
cartoons em página ímpar |
cartoons em página par |
cartoons de produção própria |
cartoons de produção não própria nacional |
cartoons de produção não própria estran-geira |
11 Nov. |
|
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12 Nov. |
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13 Nov. |
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14 Nov. |
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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DIÁRIA |
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E) O Primeiro de Janeiro
Tabela 9 O Primeiro de Janeiro: Número e espaço ocupado pelos cartoons de actualidade
de Janeiro |
total (cm2) |
redactorial (cm2) |
de cartoons |
ocupado por cartoons (cm2) |
cartoons no espaço redactorial (%) |
cartoons em páginas de opinião |
cartoons na metade superior das páginas |
cartoons na metade inferior das páginas |
11 Nov. |
|
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12 Nov. |
|
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|
13 Nov. |
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14 Nov. |
|
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15 Nov. |
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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33,3% |
66,7% |
DIÁRIAS |
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|
**O restante cartoon encontrava-se numa página de "Internacional",
e ocupava 200 cm2.
Tabela 10 O Primeiro de Janeiro: Uso de cor, ubiquação e tipo de produção
de Janeiro |
cartoons coloridos |
cartoons a preto e branco |
cartoons em página ímpar |
cartoons em página par |
cartoons de produção própria |
cartoons de produção não própria nacional |
cartoons de produção não própria estran-geira |
11 Nov. |
|
|
|
|
|
|
|
12 Nov. |
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|
|
|
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|
|
13 Nov. |
|
|
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|
14 Nov. |
|
|
|
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|
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15 Nov. |
|
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16 Nov. |
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17 Nov. |
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(100%) |
|
(100%) |
(66,6%) |
|
(33,3%) |
DIÁRIA |
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F) Temas
Tabela 14 Comparação dos temas representados nos cartoons
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de Notícias |
|
de Notícias |
do Porto |
de Janeiro |
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Média=0,43 |
Média=1,14 |
Média=1,57 |
Média=0,14 |
|
|
|
|
|
|
|
|
Média=0,14 |
Média=0,43 |
|
|
Média=0,28 |
|
|
|
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Média=0,86 |
Média=0,14 |
Média=0,28 |
|
Média=0,57 |
entretenimento |
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G) Sujeitos e personagens nos cartoons
Tabela 15 Sexo e papéis sociais dos sujeitos e personagens dos cartoons
personagens |
de Notícias |
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de Notícias |
do Porto |
de Janeiro |
de cartoons |
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sujeitos e personagens nos cartoons |
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sujeitos e personagens masculinos |
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(9,09% dos personagens masculinos) |
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(18,18% dos personagens masculinos) |
ou agente desportivo |
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|
(36,36% dos personagens masculinos) |
acção social |
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|
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(100% dos personagens masculinos) |
(100% dos personagens masculinos) |
(36,36% dos personagens masculinos) |
sujeitos e personagens femininos |
|
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|
|
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|
|
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ou agente desportivo |
|
|
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acção social |
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(100% dos personagens femininos) |
(100% dos personagens femininos) |
|
esposas |
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(80% dos personagens femininos) |
casa |
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|
(20% dos personagens femininos) |
multidão |
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|
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H) Cartoons violentos ou representando cenas de violência
Tabela 16 Violência representada nos cartoons
(entre parênteses surge o total de cartoons) |
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3.2 Discussão dos resultados e considerações finais
Face aos dados apresentados nas tabelas e aos cartoons publicados pelos jornais analisados de 11 a 17 de Novembro de 1996, podemos concluir o seguinte:
b) Os jornais tenderam, conscientemente ou não, a valorizar os cartoons de actualidade como um género jornalístico opinativo, de onde a colocação preferencial desses cartoons nas páginas de opinião; quando não foram editados nessas páginas, surgiram nas páginas editoriais (de informação geral), quase que poderíamos dizer que sob a forma de comentário gráfico. A excepção chama-se Diário de Notícias, um jornal que aparentemente perspectivava os cartoons de actualidade apenas como um género de entretenimento, já que a maioria dos cartoons foi inserida em páginas com este fim. O Comércio do Porto é um jornal difícil de avaliar, pois, durante o período analisado, só publicou um cartoon de actualidade.
c) Em termos absolutos, o Público foi o jornal que mais espaço consagrou aos cartoons e que mais os valorizou editorialmente, ao colocá-los, tendencialmente, nas metades superiores das páginas. Seguem-se, hierarquicamente, o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias (o seu maior formato reduz o destaque dado aos cartoons), O Primeiro de Janeiro e O Comércio do Porto. De qualquer modo, todos esses jornais, à excepção do último, colocaram os cartoons de actualidade em páginas pares, pelo que, se considerarmos que as páginas pares são menos atractivas quando graficamente semelhantes às ímpares, a valoração aferida é atenuada.
Note-se que pensávamos que o Jornal de Notícias, enquanto jornal popular, valorizaria mais os cartoons de actualidade do que o fez (a informação visual é, em princípio, mais legível). Os resultados, neste pormenor, contrariaram as nossas expectativas.
d) O Diário de Notícias (Norte) foi o único matutino a inserir regularmente cartoons a cor. Tal poderá ser explicado pela atenção dada à cor enquanto elemento susceptível de atrair o leitor e de destacar a peça em causa, numa sociedade embebida pela cultura da imagem e pelos formatos visuais. Mas a cor também pode ter uma outra leitura, se associarmos o seu uso à colocação dos cartoons em páginas de entretenimento: a ideia de que informação disponibilizada pelos cartoons é menos (pouco?) séria.
e) Os jornais optaram, tendencialmente, pela produção própria de cartoons de actualidade, com excepção do caso especial de O Comércio do Porto. A produção externa foi principalmente estrangeira no Público e em O Primeiro de Janeiro, e dizia respeito a temas internacionais; no Diário de Notícias, a produção não própria resumiu-se a um cartoon sobre o aborto, enviado por um leitor para o suplemento DN Jovem.
f) Com a excepção de O Primeiro de Janeiro, a narrativa (cartoons de actualidade em forma de tira) foi o sistema de provocação do riso mais usado. Os cartoons de actualidade que vivem da narrativa possuíam outra característica: personagens fixos, ao contrário do que é usual. Tal pode, julgamos, indiciar a existência de uma escola portuguesa de cartoonismo de actualidade, herdeira simultaneamente das concepções de Rafael Bordalo Pinheiro (personagem fixo) e de Stuart Carvalhais (cartoons em forma de tira, a caminho da banda desenhada).
g) A caricatura foi um método pouco empregue no cartoonismo de actualidade tal como este foi perspectivado pelos diários portuenses.
i) O destaque dado ao tema desporto nos cartoons de actualidade publicados no Jornal de Notícias é um reflexo dos problemas que o futebol português vivia e do destaque que a eles foi consagrado pela generalidade dos órgãos de comunicação social. Aliás, é provável que grande parte dos leitores do JN procure "a bola" como tema de leitura, pelo que é normal que um jornal como esse dedique uma atenção particular ao assunto, mesmo nos cartoons de actualidade. Na própria redacção, cheia de jornalistas desportivos, o assunto poderá, hipoteticamente, ser tema de conversa regular, pelo que o tema poderá ser perspectivado com um grau de importância que outros órgãos de comunicação social não lhe darão.
A necessidade imperiosa que o Janeiro terá de fidelizar audiências e conquistar leitores poderá estar por trás da importância que esse jornal também deu ao desporto como tema preferencial dos cartoons de actualidade.
O Público e o Diário de Notícias, enquanto jornais que tradicionalmente relevam a informação sobre a actualidade política e económica, concentraram nos temas nacionais a sua produção de cartoons de actualidade.
De todos os jornais analisados, o Público parece-nos o mais equilibrado em termos de gestão temática dos cartoons, o que corresponde às nossas expectativas, pois, pessoalmente, consideramos esse jornal um dos diários nacionais de referência.
É de notar, ainda, que os temas tratados são tendencialmente conflituais, o que pode facilitar a produção cartoonística. O futebol é um fenómeno eminentemente conflitual, tal como a política e algumas formas de relacionamento internacional. Pelo contrário, cartoons de actualidade sobre temas sociais ou da cultura e entretenimento talvez sejam mais difíceis de conceptualizar e realizar, e, em acréscimo, talvez também não sejam particularmente cativantes para a maior parte da audiência, razão pela qual não teriam sido abordados.
j) O mundo mediado pelos cartoons é um mundo masculino. Este é o sentido que se constrói a partir dos cartoons de actualidade publicados em todos os jornais, se nos abstrairmos da excepção chamada O Comércio do Porto. As mulheres são, efectivamente secundarizadas (não houve, no período analisado, uma única mulher-sujeito real caricaturada). No Janeiro, um jornal em que mais de um quarto das personagens representadas nos cartoons são mulheres, estas surgem exclusivamente como donas de casa e namoradas, o que é uma forma que julgamos negativa de estereotipização. Podemos, portanto, concluir que, no plano ético, todos os jornais são questionáveis, ao não relevar as mulheres como personagens cartoonísticas. No Janeiro, o caso é mais grave, pois as representações oferecidas das mulheres são estereotipadas e perpetuam imagens que, na nossa opinião, não são consentâneas com o mundo de hoje e, nomeadamente, com o mundo mais democrático e participativo que gostaríamos de construir.
A maior parte das personagens representadas nos cartoons (os "heróis") têm papéis civis, isto é, pessoas comuns nas suas actividades quotidianas, o que nos parece equilibrado e mais polifónico e democrático do que relevar unicamente as figuras-públicas.
k) A proporção de cartoons violentos ou representando situações de violência parece-nos equilibrada em todos os jornais, com excepção de O Primeiro de Janeiro, onde, na nossa opinião, é dada uma importância excessiva à violência (um terço dos cartoons). Esta situação particular aumenta a dissonância entre as representações oferecidas da violência e a violência na realidade social, pois o mundo social provavelmente não é tão violento como parece ser representado, de uma forma geral, nos cartoons.
O Comércio do Porto, como só publicou um cartoon de actualidade, não pode ser aferido da mesma maneira que os restantes jornais.
Fazemos também notar que nenhum dos jornais que publicou regularmente cartoons se aproveitou suficientemente das potencialidades destes, já que pouco foi o espaço que lhes consagrou. De facto, em nosso entender, os cartoons têm possibilidades negligenciadas pela Imprensa diária portuense: 1) Fazer rir, fazer reflectir, fazer conhecer, corrigir, educar (entre outras coisas, educar para a democracia e a tolerância); 2) Captar e fidelizar leitores; 3) Ancoragem gráfica; 4) Levar o leitor, pelo humor, a compreender, interpretar e saber explicar os acontecimentos e a associar acontecimentos que os news media lhe apresentam fragmentados, ou seja, levar o leitor a atingir o nível dos significados, das causas, das consequências e das ramificações/associações dos acontecimentos; 5) Ser instrumento de luta concorrencial; e 6) Os cartoons são uma forma de aproveitar a potencial legibilidade da imagem, seja esta informativa, interpretativa, explicativa, contextualizante ou tudo isso, especialmente no seio de uma cultura do visual como a nossa.
Salientamos, ainda, que nos parece imprescindível abrir os cartoons ao sexo feminino, explorar a diversidade temática e incentivar a criação (o que, inclusivamente, se poderá reflectir na multiplicação dos estilos e dos sistemas de provocação do riso). Criar, participar, abrir os espíritos, são instrumentos essenciais para fazer viver as cidadanias, democratizar mais profundamente, gerar a polifonia, e não entorpecer.
No jornalismo, a aceitação dos cartoons de actualidade
como género jornalístico opinativo ou analítico, um
género crítico, com ponto de vista assumido, é uma
forma de ampliar a polifonia social e, assim, de acentuar as vivências
democráticas, enriquecendo a democracia com a intervenção
aliada à arte. A arte, a criação, pode, em democracia,
acentuar a perspectiva do novo, mobilizar e, consequentemente, activar
o exercício das cidadanias.
LESTER, Paul Martin (1995) Visual Communication. Images With Messages. New York: Wadsworth Publishing Company.
SOUSA, Osvaldo de (1988) Do Humor da Caricatura. Lisboa: Salão Nacional da Caricatura.
SOUSA, Osvaldo de (1991) A Caricatura Política em Portugal. Lisboa: Salão Nacional de Caricatura.