DIAGNÓSTICO SISTÉMICO DA SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL
Manuel
José Lopes da Silva, Universidade Nova de Lisboa
I . INTRODUÇÃO
1 . A sociedade em que
vivemos tem sido avaliada por investigadores de áreas muito diferentes,
realizando aproximações características das várias especialidades científicas.
Daniel Bell é uma das
referências mais conhecidas, a ele se devendo a introdução do novo conceito.
Mas é talvez Yepes Stork quem propõe uma visão mais completa , nomeadamente
numa perspectiva de carácter antropológico.
Naturalmente que os
autores sistémicos teriam também de contribuir para tal reflexão com os seus
conceitos e métodos próprios com Jacques Lesourne.
2 . Actualmente o Sistema Político dos diferentes países exibe deficiências de regulação devidas essencialmente à incapacidade de fixação dum quadro teleo-axiológico de referência estável e devidamente ordenado, sendo claro que um tal diagnóstico corresponde , como seria de esperar, à crise geral da nossa civilização, em que um dos reflexos mais importantes pode ser identificado como uma certa “perda de sentido”, que inclusivamente é um dos principais factores do agravamento dessa crise geral.
3 .Será interessante
referir como exemplo concreto a relação existente entre Media e Sociedade
através das respectivas Teleologias, para mostrar como é hoje assumida,
claramente, uma inversão dos valores que recebemos do pensamento clássico e reflectir sobre algumas das suas
consequências mais importantes.
No entanto verificam-se
já reacções à massificação da sociedade
que daqui resulta, e eu gostaria de realçar nomeadamente as de investigadores
relevantes para o pensamento contemporâneo como as de Popper e Lorenz na área
filosófica e de Heisenberg , Dirac e
Einstein na área científica.
Gostaria de realçar,
numa perspectiva de testemunho pessoal, a
preocupação com tal evolução ,
particularmente devido à minha vivência
como profissional na área da Comunicação .
4 . E gostaria de
formular aqui o voto de que um renascimento intelectual da nossa Sociedade
permita uma saída da crise , para a qual a Comunicação Social pode e deve dar
um importante contributo.
Esse renascimento terá
de assentar nomeadamente na vivência de valores antes aceites, muito embora se
não esgote neles, e que devem continuar a ser considerados necessários: a
Verdade, a Bondade ou Benevolência, a Justiça e a Misericórdia para com os
outros, a Beleza tantas vezes olvidada.
II . A SOCIEDADE POS-INDUSTRIAL
5 . O conceito de
Sociedade Industrial foi aplicado por Raymond Aaron na década de 50 ao estudo
das sociedades capitalistas ocidentais e das sociedades socialistas de leste,
ambas exibindo fenómenos similares ainda que com regimens políticos diferentes.
Aaron constatava que uma
primeira característica da sociedade industrial era a de uma fracção crescente da mão de obra ser empregada nas
fábricas e nos serviços. Como consequência,
era necessário que uma grande preocupação pela produtividade permitisse aos
agricultores, que ainda trabalhavam no sector, satisfazer as necessidades em
aumento das cidades e zonas industrializadas.
Verificava-se também uma
necessidade cada vez maior de racionalização das empresas industriais que exigiam ganhos sempre em aumento de
produtividade, sendo este incremento de racionalização o segundo aspecto
característico da sociedade industrial.
A alteração dos hábitos
desta sociedade , evoluindo cada vez mais para uma sociedade de consumo,
determinou a acentuação dum terceiro aspecto típico, ou seja, o da crença de
que só uma técnica em acelerado progresso poderia produzir cada vez mais bens a
um menor custo.Podemos verificar que é justamente o desenvolvimento destas
tendências que leva ao surgimento da sociedade em que vivemos, objecto de
variadas avaliações de que vamos reter duas das mais interessantes.
6 . A primeira é de
Daniel Bell no seu livro “ The coming of the Pos-Industrial Society” de
1973. O autor recorda que formulou pela
primeira vez este conceito em 1962 , em Boston , como resultado da elaboração
duma reflexão global sobre os aspectos económico,técnico e psico-sociológico da
nossa sociedade.
O conceito de sociedade
pos-industrial assenta na constatação de que se tornou predominante uma
economia de serviços, de que adquiriram preponderância as classes profissionais
e técnicas, de que o crescimento se tornou a referência quase exclusiva das
políticas da sociedade, de que o controle da inovação tecnológica é um dado
estratégico e de que surge aquilo que se designa por nova Tecnologia
Intelectual.
Na base deste esquema
conceptual está uma crescente burocratização causada pelo intenso
desenvolvimento da informática e das técnicas de decisão.
Não surpreende por isso que o autor considere
que o papel fulcral desempenhado pela tecnologia tenha sido diferente em cada
uma das sociedades em estudo : na pre-industrial, o de promover a obtenção de
matérias primas, na industrial, o de produzir energia, e na pos-industrial, o
de multiplicar os sistemas de informação .
7 . Esta sociedade
pos-industrial é muito mais diversificada que as anteriores visto que aparecem sectores de actividade
novos.
Além do Terciário ( o
dos Serviços) temos agora o Quaternário englobando o Comércio, as Finanças , os
Seguros e os Bens de Raiz , e o Quinário englobando a Saúde , a Educação , a
Investigação , o Estado e os Lazeres.
Na sociedade
pre-industrial o Homem jogava contra a Natureza, na Industrial contra a
Natureza fabricada , agora joga contra as Pessoas, o que explica a intensa
necessidade social de haver cada vez mais informação .
À revalorização das Universidades e das Corporações de
Investigação e à necessidade de boas
políticas educativas e científicas de hoje, opõem-se a resistência social à
burocratização e a dificil articulação
entre os sectores público e privado.
A importância assumida
pelos investigadores leva também a que se faça uma reflexão sobre a natureza do
próprio conhecimento que eles perseguem, e que se torna fulcral para a
sobrevivência do sistema.
Alguns autores propõem a
consideração de cinco espécies de
conhecimento, sendo o primeiro, o prático , depois o intelectual, o das
vulgaridades e distracções e o último o conhecimento espiritual . Há ainda um
conhecimento residual , o involuntário, obtido sem relação com os interesses das pessoas.
Há autores que esperam
da actividade de aquisição de conhecimentos não só consequências de utilidade
imediata, mas também a possibilidade de “iluminar” os valores e metas e ajudar
a sociedade a realizá-los. É um facto que hoje vivemos já numa situação de excesso
de informação com todas as disfunções
daí resultantes , e que isso se reflecte nos próprios esquemas mentais e
sociais contemporâneos.
Criou-se uma
estratificação do poder nova, uma vez que o conhecimento tem agora o papel que
a posse da terra tinha na sociedade pre-industrial , e o da maquinaria na
industrial. A educação substitui a condição de ascensão social antes
desempenhada pela herança; e os cientistas substituíram os homens de negócios e
os terratenentes anteriores.
Crêem os defensores
desta sociedade que é possível definir um “ethos” relacionado com a norma da
livre investigação , de clara inspiração ilustrada.
Esse “ethos” teria
quatro elementos: universalismo, comunalismo, desinteresse e cepticismo
organizado.
Quem trabalha na área da
investigação pode reconhecer um ou outro destes elementos, perfeitamente
compatíveis quer com uma atitude idealista e romântica da profissão quer com
uma atitude realista e pragmática.
Toda esta reflexão de
Daniel Bell , apesar de ter tido em conta variáveis de natureza psicológica e
sociológica, propõe-nos fundamentalmente uma perspectiva de índole
principalmente economicista que ignora dimensões importantes da sociedade
pos-industrial.
8 . Para uma aproximação
que contemple essas outras dimensões da
sociedade podemos recorrer a Y. Stork , um antropólogo que se tem evidenciado
na abordagem original dos problemas actuais.
Em primeiro lugar aponta
os elementos positivos da sociedade:
a) . O extraordinário
avanço da ciência, que é talvez a maior e mais impressionante tarefa comum da
humanidade, em que hoje participa por igual toda a comunidade científica
mundial.
b) . O consequente
aperfeiçoamento do sistema tecnológico que traz consigo muitas e consideráveis
vantagens, incluindo um enorme aumento de bem-estar e de qualidade de
vida. As comunicações, as viagens, os
transportes, as tecnologias informática, industrial, urbana, doméstica, agrícola
, sanitária, etc., produziram, em grau nunca suspeitado, a diminuição da miséria e o aumento da
esperança de vida em grandes massas da população , ainda que subsista e mesmo
se agrave em outras.
c). A globalização dos mercados, dos sistemas de produção , de
comunicação ,de transporte e da própria sociedade tem inúmeras repercussões sociais, e sobretudo económicas
e políticas. Entre estas últimas, não é
de certo a menor, o avanço das liberdades realizado em muitos países, com o
consequente aumento de possibilidades reais de multiplicar a riqueza e
variedade dos projectos vitais, e a modificação dos sistemas políticos no
sentido dum maior respeito pela liberdade e pluralismo.
d) . Tudo isto multiplica várias vezes a velocidade ,
variedade e riqueza das mudanças sociais, económicas , culturais e políticas.
Vivemos mais depressa, com mais intensidade, e multiplicámos
extraordinariamente o número , qualidade e importância das obras humanas, e a
facilidade para a elas aceder: basta considerar as grandes quantidades de saber
objectivo acumulado. Os sistemas de
comunicação abrem cada dia possibilidades inéditas de relacionar todas
essas obras.
e) . Ao ter-se
prolongado a esperança de vida e as oportunidades disponíveis , a tarefa
possível para a vida humana dilatou-se extraordinariamente . É surpreendente
tudo o que hoje se pode fazer, viver e experimentar no decurso de uma vida.
O homem tem
portanto hoje muito mais possibilidades de realização, no sentido prático do
que no passado, e em muitos domínios.
9 . Mas, a par de todos estes elementos positivos
e animadores, há outros inquietantes.
a ) . Uma das constatações que mais frequentemente se
faz é a de que a nossa sociedade está despersonalizada. Tornou-se num sistema
anónimo, formado por sub-sistemas igualmente anónimos face aos quais os
indivíduos não são reconhecidos como pessoas singulares e concretas, com um
nome, mas como clientes, pacientes, contribuintes, condutores, peões,
consumidores, telespectadores, etc.
Não existem âmbitos
públicos em que possamos actuar com nome próprio e ser reconhecidos. Trata-se duma perspectiva exclusivamente
funcionalista.
b) . Uma sociedade tão
sofisticada e tecnológica exibe um elevado grau de complexidade. É um sistema
plural, diversificado, policêntrico e, em muitos casos, rígido.
A gestão desta
complexidade pode tornar-se extremamente pesada e torna-se necessário encontrar
fórmulas para simplificar esse sistema, devendo a técnica adquirir rosto
humano.
Uma sociedade complexa e
policêntrica gera necessariamente uma enorme burocracia, um aparelho
administrativo que tende a pressionar o homem com a sua lógica interna. É necessário portanto simplificar todo o
sistema , a começar pela Administração dotando-o de sentido humano.
c) . Como consequência
disto as pessoas singulares são situadas a grande distância do poder, e
participam de facto muito pouco na elaboração das decisões .
Estas são escritas de
forma impessoal, ignoram casos concretos , e tornam necessário viabilizar
complexos sistemas de reclamação dificilmente acessíveis
Por isso se generaliza a
convicção de que a autêntica democracia, de facto, não existe na nossa sociedade,
e de que o reconhecimento dos direitos expressos nas Leis não significa
participação no comando e na obediência.
O exercício da
autoridade na nossa sociedade é despótico, ou seja, pouco dialogado. A
organização do Poder é um sistema de liberdades baseado na efectiva existência
duma autoridade política que, frequentemente, se converte na luta de pequenas
autoridades despóticas que tratam de conquistar poder para impor, desde cima,
as suas decisões, sempre que isso não signifique perder esse poder.
Tal facto , longe de
desqualificar o sistema , deve levar-nos a todos a contribuir para uma
regeneração comunitária urgente das
instituições e para recuperação dos
verdadeiros ideais políticos.
d). A excessiva
abundância de autoridade despótica e o anonimato e despersonalização social,
produzem uma abdicação de responsabilidade pelos problemas públicos,
manifestada em perda de interesse pela intervenção na política e nos processos
de tomada de decisão e a aceitação duma
liberdade reduzida ao âmbito privado. Assim a nossa sociedade é marcadamente
individualista.
e). As sociedades mais
desenvolvidas de hoje caracterizam-se pelo pluralismo dos valores, fomentado
por essa perspectiva da sociedade de índole individualista.
Como consequência,
verifica-se o apagamento das instituições
não vinculadas nem ao estado , nem à Empresa.
Dum modo especial as
Instituições que tinham a missão de
transmitir os valores morais e religiosos ( família e organizações religiosas)
sofrem um processo de deslegitimação ocasionado por um retrocesso dos valores
compartilhados e dos bens comuns.
f) . E, no entanto, o
pluralismo dos valores significa muitas vezes a sua ausência e também dos
ideais, os quais são substituidos pelo consumo e pelos bens puramente
materiais.
Hoje quase ninguém nega
que a nossa sociedade é muito materialista, carente de convicções e, como
consequência, brutal e violenta, dominada pelo consumismo, pela busca de
bem-estar e a fuga ao incómodo, por isso mesmo menos feliz do que desejaria.
A terminar, Stork , recorda
que o Mundo em que vivemos é plural, mas comum a todos, e que a herança que
supõe recebê-lo nos obriga a adoptar uma atitude construtiva, de modo a que as
gerações que nos seguem recebam um “mundo melhor”.
III . ABORDAGEM SISTÉMICA
10 . A diversidade das
variáveis económicas, psicológicas, sociológicas e antropológicas da nossa
sociedade que temos estado a referir , ainda que de modo sucinto, torna muito difícil
um diagnóstico global seguro, conducente a propostas de ultrapassagem das
situações críticas que identificámos.
Na nossa sociedade
pos-industrial é possível identificar, mais do que nas anteriores, uma enorme
multiplicidade de sub-sistemas, tornando-se difícil o estabelecimento de
modelos simples , acessíveis pelos métodos mais usuais em ciências sociais e
humanas.
A sistémica privilegia
os domínios da regulação e da
teleologia, da adaptação e da ecologia,
que exibem relações estreitas entre si e caracterizam satisfatoriamente o
comportamento dos sistemas.
O Sistema Político da
sociedade é normalmente considerado o mais importante , e por isso é aquele que
tem suscitado os estudos mais atentos dos especialistas.
Jacques Lesourne
considera que este sistema deve ser estudado em três níveis: o individual ,o
nacional e o internacional. E constata a existência de insuficiências de
controle que explicam a crise em que nos debatemos nas últimas décadas ,
resultante de desequilíbrios cumulativos.
11. A primeira
insuficiência de controlo , a nível individual, deve-se a que no homem há uma
deficiência de ligações entre as estruturas cerebrais profundas , sede da
afectividade, e o neo-cortex sede de construções lógicas , estando mal
assegurado o controlo das pulsões ancestrais e, pelo contrário, sendo colocado
ao serviço destas o poder da simbolização e
da linguagem.
No fundo do nosso
próprio ser reside, sem dúvida, esta primeira insuficiência de controle, a mais
íntima, a mais radical, e no entanto precisamente aquela que é o motor de toda
a aventura humana.
A segunda origem de
desequilíbrio provém dos sistemas políticos nacionais.
Construídos ao longo da
história para assegurar a integração
das actividades nacionais, eles possuem apenas uma imperfeita capacidade
de regulação do curto prazo, são impotentes para dominar as demasiado rápidas
transformações sociais, e não chegam a elaborar os fins a longo prazo.
Aliás, os dirigentes
frequentemente escapam ao seu controlo, para além da margem de iniciativa
desejável, e projectam sobre a nação a sombra dos seus próprios desequilíbrios.
E a terceira
insuficiência de controlo reside na exagerada concorrência entre as nações
detentoras dum poder absoluto de destruição , estando situada no cume da
pirâmide dos sistema sociais.
Com ela aparece o
espectro da guerra, a luta pelas matérias primas , o choque entre a riqueza e a
pobreza, a destruição das minorias
pelas multidões.
Os efeitos cumulativos
destas insuficiências de controlo são extremamente inquietantes.
Dentre os vários
aspectos preocupantes da actual situação salientam-se dois. Um relativo à falta
de controlo hierárquico do sistema internacional e o outro, relativo ao papel
da ciência.
Quanto ao papel da
Ciência tem-se referido a circunstância da excessiva planificação reduzir a
capacidade de manobra dos investigadores criativos, e de permitir a excessiva
intervenção de factores exógenos como
a economia , a política a até a estratégia militar.
Os elementos da ética
científica que atrás referimos , não englobam valores fundamentais como o
respeito pela vida em geral ou pelo intelecto humano, sendo por isso possível a
sua manipulação sob pressão dos factores que referimos.
E a ausência de controlo hierárquico torna difícil, cada
vez mais, o estabelecimento dos equilíbrios exigidos pela convivência pacífica
entre as nações e dentro de cada
sistema político nacional , a convivência entre os cidadãos.
12 . Convém notar que a
ausência de controlo não resulta tanto da inexistência de instrumentos de
regulação que hoje são até extremamente
eficazes mas da incerteza na fixação de
metas e valores, num quadro teleológico explícito.
Dois autores da área
sistémica podem servir-nos para ilustrar esta grave deficiência dos sistemas
contemporâneos.
Jacques Lesourne refere
que os valores da sociedade contemporânea e perseguidos pelo poder político,
são a eficácia , a igualdade, a descentralização , a participação , a liberdade
e a adaptabilidade.
Mas Lasswell numa
perspectiva sociológica, identifica outros valores : o poder, a inteligência, o
respeito, a riqueza , a consideração e
o bem-estar.
Vemos como os valores de
natureza política podem entrar em conflito com os de natureza sociológica, e
que, mesmo dentro de cada um dos dois domínios, os correspondentes valores
podem entrar em conflito uns com os outros, surgindo uma crise sistémica.
A actual Teoria da
Complexidade confirma a gravidade da situação .
De facto a perspectiva
dos sistemas complexos baseada no exame da sua re-auto-eco-organização impõe,
muito mais que anteriormente, a existência dum quadro teleológico muito claro
como afirmam J. L. Lemoigne ou Edgar
Morin.
Só assim é possível
entender os comportamentos dos sistemas auto-organizadores face ao acaso característico do seu meio
exterior.
Lesourne (1991) insiste
em que um sistema dotado de capacidades de auto- organização deve produzir
acções “portadoras de sentido “, tanto mais quanto é patente o inconveniente e
até o perigo no domínio da Economia,
das empresas funcionarem segundo o princípio da “Racionalidade Limitada” de Herbert Simon , incapazes de
estabelecer objectivos próprios e actuando com puro oportunismo.
Por isso a complexidade
tem sempre que ver com o “incerto”, o “impreciso” como gostava de sublinhar
Abraham Moles, o que reafirma a importância da orientação teleológica.
É aquele conflito
Teleológico que caracteriza a sociedade em que vivemos , e não a perda de
valores frequentemente referida.
O Homem é um ser
teleológico, não pode viver sem uma referência aos valores que ele mesmo
selecciona. Como diz A.M. Nicot , do MCX-AIX (Modelização da Complexidade) , os
homens sempre descobrem o sentido da sua vida , o seu sentido, os seus valores.
Por isso o problema
fundamental dos nossos dias consiste na urgente necessidade de rearticular os
valores, não esquecendo que eles constituem uma totalidade ordenada, em que os
de ordem superior comandam os das ordens inferiores.
Generalizou-se uma
grande aspiração pelo aparecimento desse novo quadro de valores que restabeleça
o equilíbrio perdido, e que é identificada por autores como Viktor Frankl como
uma sede de sentido.
IV . MEDIA E SOCIEDADE
13 . As deficiências de
controlo que referimos situam-se na área política, mas é evidente que resultam
do funcionamento da própria sociedade e concretamente do incorrecto
relacionamento dos Poderes Político, Económico e Social.
Mas para além desta
constatação há um aspecto que ultimamente adquiriu relevância ,
tendo todavia sempre
condicionado as relações entre estes três Poderes. Trata-se do papel fulcral
desempenhado pelos modernos Meios de Comunicação no relacionamento a que nos
referimos.
Sabemos como o
desenvolvimento da moderna comunicação
de massa se verificou paralelamente com a industrialização ,
intensificada a partir de meados do sec.XIX.
As relações entre o poder político e o poder
económico tornaram-se cada vez mais ambíguas, e os Meios de Comunicação
contribuem grandemente para isso.
Dois episódios do século
passado ilustram muito bem como a situação foi evoluindo, um, de carácter
ficcional, outro, de carácter infelizmente bem real.
O primeiro é relatado
por Alexandre Dumas no seu clássico “O conde de Monte-Cristo”.
Aí se explica como o
conde arruinou um seu inimigo banqueiro, forjando um despacho telegráfico
falso, depois reproduzido nos jornais. O episódio serve para explicar a
importância do telégrafo no funcionamento da imprensa da época, e mesmo o
controlo que o Governo já exercia na
circulação das notícias.
E repare-se que o
telégrafo em questão era do tipo óptico, ainda não eléctrico, mostrando como a
Tecnologia já nessa altura contribuiu para acelerar os processos económicos e
políticos.
Naturalmente que o
procedimento de Monte-Cristo foi eticamente reprovável, de todos os pontos de
vista, o que leva a adoptar uma posição muito crítica ao reflectir sobre o
segundo episódio histórico esse , sim, bem real.
Trata-se do célebre caso
do “despacho de Ems “, muito referido pelos historiadores da actualidade.
O incidente deu-se na
altura em que as relações entre a França e a Alemanha tinham atingido um ponto
crítico, devido à disputa entre as grandes nações pela liderança da Europa.
Napoleão III tinha enviado um despacho ao imperador alemão solicitando a
sua não intervenção num assunto espanhol, e este respondera-lhe com um despacho
moderado ainda que não se comprometendo
com uma neutralidade.
Ao ser consultado por
Guilherme II sobre o seu teor, Bismarck altera de tal modo o texto que o
despacho se torna de facto uma declaração insultuosa para os franceses, tendo
provocado a guerra de 1870 de profundas
repercussões em toda a Europa começando pela Itália.
14 . A intensificação
das relações entre política, economia e tecnologia prosseguiu durante o resto
do Sec. XIX. tendo-se acelerado no
nosso século.
Infelizmente não é possivel ignorar o papel decisivo que as
guerras também tiveram no desenvolvimento da economia e da tecnologia.
Se a guerra
franco-prussiana revelou aos atónitos franceses um Império alemão apoiado por
uma indústria poderosa e pelos interesses económicos do capitalismo triunfante,
a verdade é que na guerra de 14-18 a produção em série e a inovação tecnológica
tiveram um papel fundamental. O avião ,o submarino e o tanque desempenham
papéis relevantes, mais decisivos do que os sistemas de comunicação .
Na guerra de 39-45 porém
foram os sistemas de comunicação que tiveram um papel central, com a
generalização dos walkie-talkie´s de campanha, do radar, dos mísseis e,
não podemos esquecer, da radiodifusão
Também na arte da guerra
se passou portanto insensivelmente da logística do Transporte de material
pesado para a logística da Comunicação .
O salto de qualidade
dado pela Ciência e pela Tecnologia entre 39 e 45 foi tal que, no fim das
hostilidades, surge nos Estados Unidos a TV como fenómeno de massa ,
transformando as mentalidades dos americanos para quem o sonho passou a ser a
aquisição da chamada, na altura, a
“trilogia do americano médio”, o carro, o frigorífico e a TV.
Iniciaram-se então nesse
país os estudos sociológicos da Comunicação , nalguns casos promovidos por
investigadores que tinham fugido da Europa , como é o caso dos ligados à Escola
de Frankfurt .
O nosso continente só
vinte anos depois recuperaria , na evolução da TV, o terreno ganho pelos
americanos.
Situação muito triste,
que os jovens de hoje mal podem imaginar, a da Europa dos anos 50.
Recordo ainda as visões
dessa época , de Londres, Amsterdam, Darmstadt ou Munique, com bairros inteiros
reduzidos a escombros, às vezes com as suas catedrais misteriosamente
preservadas.
E no entanto o nosso
continente tinha justamente sido o pioneiro da TV (com o Adriano de Paiva entre
outros), dos mísseis, do radar, e de tantas e tantas inovações de que os
americanos tiraram pragmaticamente as respectivas consequências económicas e
políticas.
Naturalmente que não é
correcto atribuir aos sistemas tecnológicos o papel de promotores exclusivos
das profundas transformações económicas, sociais e políticas dos meados do
século.
A crise foi muito
profunda, e justificou por exemplo o Vaticano II ou estudos como o do Clube de
Roma, que foram importante reflexões
do nosso século sobre a nova sociedade emergente.
15 . Podemos hoje
considerar a nossa sociedade como uma Sociedade da Informação no sentido,
referido antes, de que os sistemas de Informação passam a dominar a Economia, a
Política e a Cultura.
Os últimos anos têm sido
caracterizados pela chamada convergência 3C, ou seja pela convergência dos problemas
levantados nos campos das Comunicações ,dos Computadores e dos Conteúdos.
Tive o privilégio de
coordenar um projecto apoiado pela JNICT em 1990 que tratava já do problema da
Convergência do Audiovisual e das Telecomunicações em Portugal, levantando
algumas questões até então consideradas sem relevância.
Nesse estudo prevíamos a
evolução que de facto se veio a dar, ainda que com um dinamismo e uma
intensidade difíceis de então prever.
Sobretudo a prevalência
dos vectores económicos corresponde a uma opção recente, visível sobretudo no
funcionamento do sector Audio-visual em
que passámos com rapidez dum modelo caracterizadamente dominado pelo
Serviço Público , para um modelo concorrencial de base comercial
Como haviam estabelecido
os sociólogos da Comunicação , a cada modelo da Comunicação corresponde um
modelo diferente da sociedade.
Em 1956 três autores
americanos, Siebert, Peterson e Schramm propuseram “ Four Theories of the
Press” em que identificaram quatro formas diferentes de organização das sociedades
actuais: a forma autoritarista, a libertarista, a sovietico-comunista e a da
responsabilidade social.
A cada regimen
corresponde o seu modelo próprio de comunicação , com os seus métodos e
finalidades próprias, tornando-se evidente a relação íntima, cada vez mais
acentuada entre Media e Sociedade.
Como refere Denis
Mac-Quail estes quatro tipos de organização não esgotam todas as formas existentes.
Ele próprio propõe mais dois
tipos, o chamado
de “desenvolvimento”, o outro de “participação democrática” ,
constituindo-se um quadro de seis teorias dos Media
dos quais resultam
normas sobre as relações intitucionais
entre os vários Orgãos de Comunicação , os Comunicadores e a Sociedade.
Sendo tão íntimas as
relações entre os Media e a Sociedade, justifica-se um exame mais aprofundado
da Teleologia dos Media para um entendimento mais correcto do quadro
teleológico da própria sociedade.
V . TELEOLOGIA DOS MEDIA
16 . Os investigadores
dos processos de comunicação social dos
nossos dias têm reflectido, com particular cuidado, sobre os valores de
referência dos profissionais dos Media , dada a pressão sobre eles sempre
exercida pelos poderes político, económico e socio-cultural.
Com efeito só a
existência dum quadro teleológico/axiológico por todos lealmente aceite , os
pode preservar das investidas injustas dos detentores daqueles poderes.
Destaco de entre as
várias iniciativas relevantes a
contribuição do Grupo de Liège de, que fiz parte , e que desenvolveu os seus
trabalhos em 1990 sobre os “ Valores vulneráveis num Sistema multicanal de TV”.
Foi constituido por
investigadores de vários países da Europa ocidental, e coordenado pelo Prof. Jay Blumler da
Universidade de Leeds e assessor do Broadcastng Standards Council do Reino
Unido.
Da actividade do Grupo
resultaram várias obras de referência, sendo uma das mais importantes o livro “
Media Performance” de Denis Mac Quail , autor europeu que já referimos.
Mac Quail coloca-se numa
perspectiva pragmática e positivista e
parte duma crítica às anteriores Teorias da Comunicação Social
de que a de Siebert, Peterson e Schramm é o exemplo mais conhecido.
Como ponto de partida
propõe o que designa por valores básicos da comunicação face ao chamado interesse público , e
referenciados no debate público sobre o comportamento dos Media.
Todos os valores são
invocados simultaneamente, sendo dificil segundo o autor referido, encontrar um
ponto de entrada , ou seja, identificar o núcleo irredutível , a declaração
mais económica dos princípios chave da
qual outros princípios possam ser derivados ou com os quais possam ser
relacionados.
17 . Mac Quail reconhece
que, não obstante tal dificuldade, um tal núcleo irredutível de valores deve
coincidir com os valores nucleares da moderna sociedade ocidental, a que todos
pertencemos.
Sendo assim, propõe que
os valores básicos do quadro teleológico dos Media sejam a Liberdade , a
Justiça/ Igualdade (em coincidência), Ordem/Solidariedade (em coincidência).
O valor Ordem invocado é
estreitamente associado pelo autor à
Coesão social.
Na Liberdade radicam os
valores de Independência dos comunicadores, de possibilidade de Acesso aos
Media, de Diversidade de opiniões , de Objectividade/Verdade.
Na Igualdade/Justiça
também radicam os valores de Acesso e de Diversidade, e ainda os de
Objectividade/Verdade e Solidariedade.
Na Ordem/Coesão também a Solidariedade, mas ainda o Controlo
Social e a Cultura.
Explicando a natureza
dos vários valores Mac Quail relaciona a Objectividade com a Verdade, a Ordem
com a Coesão , a Integração com a
Unidade da Sociedade, a Solidaridade com a Fraternidade, ou Bondade ,
ou Benevolência para com os outros.
Constata o autor que
estes valores não são invocados
simultaneamente, embora não haja propriamente um conflito entre eles.
Por isso não parece
justificável encarar a proposta de Mac Quail como um quadro de referência
estabilizado, proposto globalmente à sociedade.
É porque os valores são
hierarquizáveis, como referem Max Scheler ou Viktor Frankl , que não é estranho não ter esta proposta um
grande poder motivador.
VI . EM BUSCA DE SENTIDO
18 . Na sua obra comum “
O futuro está aberto”, Karl Popper e Konrad Lorenz fazem uma fascinante
reflexão sobre os caminhos da ciência e
da filosofia de hoje, através dos problemas fundamentais de Deus, do homem e do
Mundo.
No fim do diálogo de
Altenberg, Lorenz manifesta apreensão
pelo facto do homem estar a ponto de se massificar, e também pelo facto
dos conhecimentos e programas da
ciência se atolarem na massificação, tudo se encaminhando para um sistema de
térmitas sujeito a uma horrível divisão de trabalho.
Popper vê antes, em tal
possibilidade, um desafio para que o homem escolha as boas oportunidades sem se
abandonar ao pessimismo. Segundo ele ,
vivemos no melhor dos mundos e temos de prosseguir na procura de um mundo
melhor.
O Mundo é belo e os
jóvens têm hoje a possibilidade de admirar este mundo maravilhoso, embora isso
não lhes seja frequentemente proposto.
Lorenz sublinha que
justamente o esvaziamento do sentido do mundo para os jovens, ou seja a perda
de sentido de Viktor Frankl, é um dos maiores perigos do nosso tempo. E propõe,
como melhor forma de o neutralizar, o dar a conhecer aos jovens a Beleza do
mundo natural.
Como ele diz “quem
conheça a Beleza de um bosque na Primavera, a beleza das plantas, a magnífica
complexidade de uma qualquer espécie animal, nunca poderá duvidar do sentido do
Universo”.
Esta proposta de colocar
o valor Beleza como prioritário na busca de sentido é surpreendente nos nossos
dias , visto que em muitas reflexões
contemporâneas sobre os valores (como a de Mac Quail), este valor não
aparece.
É o grande valor
olvidado, tal como o provam os grandes edifícios pos-modernos de que
desapareceram ornamentos arquitectónicos e mesmo o simples realismo das
janelas, substituidos por paredes de vidro escuro que fecham os edifícios sobre
si próprios, e sugerem um homem actual também fechado e isolado na solidão das
grandes cidades.
Deve dar que pensar aos
investigadores das ciências sociais e humanas , que sejam os seus colegas das
ciências naturais a recordar-lhes as
magnificências da Natureza, e naturalmente do próprio homem.
19 . É, porém, Werner
Heisenberg, físico atómico da Escola de Kopenhage e um dos criadores da
Mecânica Quântica, dotado duma excelente formação não só científica como
filosófica, quem propõe uma visão ampla e optimista dos valores.
As interrogações no
domínio da Filosofia da Natureza que eles suscitam, como por exemplo o da Ordem
da Natureza, leva directamente ao problema da existência duma Ordem central do
Mundo.
Essa ordem Central, esse
“Uno”, tem que ver com o Bem. A visão
duma cidade destruída por uma bomba atómica parece-nos pavorosa, uma
representação do Mal; mas alegramo-nos quando se consegue transformar um
deserto num campo fértil e florescente
O Uno também tem que ver
com a Beleza, a que Heisenberg ascende através da impressionante visão do átomo
e das partículas elementares proposta pela Mecânica Quântica, seja a
Ondulatória seja a das Matrizes.
A possibilidade que a Física contemporânea,
nas suas vertentes Atómica e Relativista hoje oferece de contemplarmos um
Universo maravilhosamente ordenado , desde a escala das galáxias à escala das
partículas elementares, tem verdadeiramente assombrado as maiores inteligências
humanas do nosso século.
Embora sabendo que os
seus belos modelos matemáticos têm uma vida limitada, e também que são
incapazes de esgotar totalmente a realidade , esses homens não duvidam da
existência dessa mesma Realidade que nos transcende e que é , afinal, o fundamento
da Verdade que buscam, como afirmava Platão com a expressão “ A Beleza é o esplendor da Verdade”.
Unidade, Verdade, Beleza
são afinal os valores fundamentais que permitem a ligação do Homem com o Ser, porque eles são os seus
atributos gerais.
Por isso Heisenberg
propõe que sejam considerados como
referências para a ordenação dos outros valores da sociedade,
assumindo-se como continuador da grande tradição clássica .
Outros físicos têm
também exprimido o seu reconhecimento da existência duma Ordem Central do Mundo
usando formas mais poéticas.
É Paul Dirac quem afirma
que Deus, tendo criado um mundo governado por Leis de tanta Beleza matemática,
“ é certamente um bom Matemático”.
E Einstein afirma
“Raffiniert ist der Herr Got, aber boshaft ist er nicht ( Subtil é o Senhor
Deus, porém malicioso não é)”.
Se retomarmos de novo o
quadro teleológico proposto por Mac Quail, surpreende-nos verificar que estes
valores transcendentais , em vez de constituírem o fundamento de todos os
valores, antes aparecem radicados noutros de índole individualista, explicando
em parte a crise de sentido que temos referido.
VII . PERSPECTIVA FINAL
20 . Lorenz e Popper
constataram, como vimos, a existência de um processo geral de massificação da
nossa sociedade, caracterizado pela perda de valores. Não se trata duma simples
afirmação teórica resultante duma grande abstracção da realidade mas sim do
reconhecimento de múltiplas e diversas situações práticas , como cada um de nós
pode verificar observando o ambiente profissional, social e até familiar em que
vivemos.
Constitui motivo de
satisfação para mim o ter tido oportunidade de trabalhar no sector da
Comunicação Social, quer como Quadro profissional quer como Professor.
Como alguns sabem fui um
dos pioneiros da TV em Portugal, e acompanhei de perto a sua evolução
espantosamente acelerada.
Fui dos primeiros
professores de Ciência da Informação em Portugal, primeiro na Universidade
Católica , depois nesta Universidade Nova de Lisboa.
Ora uma certa perda de sentido da sociedade pos-industrial
foi sendo constatada por mim na evolução da TV nacional, à medida que o vector
economicista de índole comercial se foi tornando cada vez mais preponderante.
Em meados da década de
80 a RTP caracterizava-se por reflexos audientistas, então inadmissíveis dadas
as suas responsabilidades de serviço público.
Mas já na década de 70
os sinais duma mentalidade consumista eram claros na sociedade portuguesa. Os
anos que precederam a revolução de 74 foram repletos dum especulação
capitalista sem precedentes, com a Bolsa de valores a funcionar exaustivamente.
A TV foi reflectindo
fielmente o crescimento dos hábitos consumistas, através da sua dimensão
publicitária.
A seguir a 74 a
democratização acelerou este processo, e verificamos hoje que os estratos
médios da sociedade adquiriram hábitos de consumo ao nível dos do mundo dito
civilizado.
Mas o processo só é
sustentável até um certo ponto e há
razões de carácter económico e social para insistir inteligentemente na sua
regulação .
Uma das razões que mais directamente nos interpela, é a da
existência de imensas bolsas sociais que, não tendo qualquer hipótese de aceder
à sociedade de consumo, são confrontadas com o espectáculo da aquisição de bens
supérfluos quando elas vivem abaixo do nível de subsistência.
A Publicidade dos nossos
Meios de Comunicação Social não ajuda
em nada a resolver esta situação profundamente injusta que interpela o Poder
Político e desacredita a Democracia , muito embora o actual sistema económico
já não possa crescer sem essa mesma publicidade.
Esta é uma segunda razão
que nos deve levar a rapidamente compatibilizar o regimen económico com o
regimen político, o que só pode ser feito mediante a regulação do primeiro,
preferivelmente por auto-regulação dos próprios operadores económicos.
21. É por isso urgente
recuperar rapidamente todos os valores humanos que desapareceram da nossa
convivência.
A Comunicação Social
pode ter um papel relevante neste programa de dignificação do Homem dos nossos
dias, numa última oportunidade de evitar o triunfo da massificação e da sociedade de térmitas a que nos
referimos.
Os comunicadores
responsáveis poderiam colocar acima dos constrangimentos empresariais a busca
da Verdade, como ainda se praticava em meados do nosso século,
e assumir uma atitude
ética e deontologicamente mais correcta, insistindo na descoberta do Bem que há
no Mundo , e não do relato insistente e
exaustivo da Mal.
Faz-nos falta uma
atitude benevolente dos comunicadores , positiva, optimista, face ao Mundo em
que vivemos.
E,porque não
,também apelar à visão justa e misericordiosa das situações e das pessoas ,
como em tempos ouvi propor ao Prof. D. Innerarity numas Jornadas sobre
Comunicação Social ?
A Informação
espectáculo, a cultura superficializante dos 3 minutos, do slogan, do impacto
psicológico , do mau gosto e da violência , tudo são características duma
cultura decadente e degradante que tarda em ser repudiada por todos os
homens lúcidos e generosos que
felizmente continuam a existir , vivendo nesta bela época do fim do Sec. XX,
porta aberta para o Século futuro.
Desejo sinceramente que
o Sec.XXI seja um século de renascimento intelectual, como julgo que todos os
presentes também desejam, em que os progressos materiais sejam orientados por
um desejo sincero do promoção do Homem, e a Política e a Economia sejam
colocadas ao seu serviço.