O município de marmeleiro na representação mental da criança
Eliane Maria Gonçalves Padilha e
Mafalda Nesi Francischett1
Índice
Resumo
Este artigo é resultado de pesquisa desenvolvida em
2004 com alunos de 4a série, no município de Marmeleiro-PR,
nas escolas municipais de ensino fundamental, especificamente as situadas no
perímetro urbano. A idéia foi procurar entender o que, como e de
que forma gráfica (símbolos, cores, hachuras etc.), a criança
representa no mapa os símbolos representativos de seu município.
Outro dado balizador na análise foi à observação do mapa
elaborado, construído pela criança como representação do
seu município (lugar), referindo-se às propriedades
cartográficas como: proporção (escala), perspectiva, coordenadas
e simbologia (convenções/legenda). Procurou-se verificar como o
aluno representa os espaços por ele freqüentados, como representa
graficamente e qual a linguagem gráfica aplicada. Sabe-se que o mapa tem
como intenção transmitir informação. Nosso objetivo foi
integrar os alunos, instigá-los a refletir e reconhecer o potencial do
município. Para tal, lançamos o projeto ``Como vejo Marmeleiro no
mapa'', também com finalidade de contribuir para o aprendizado da
questão ambiental e da cartografia do município através da
representação mental da criança. O projeto foi bem recebido
pelas escolas e trouxe resultados importantes que seguem no corpo do texto.
1 Apresentação
O Município de Marmeleiro na Representação Mental da
Criança é resultado de um sonho por acreditamos que a
educação é a base na formação do indivíduo. Pois, a
prática individual geralmente é resultado de experiências com
resultados obtidos. A idéia germinou de observações do processo
de compreensão da transposição que a criança tem e faz do
seu município ao representá-lo no mapa. Ou seja, de perguntas como:
qual a imagem mental da criança sobre o município? Que significado
do real está representado no mapa da criança?
A pesquisa foi realizada com alunos de 4asérie do ensino
fundamental. A justificativa para a utilização do mapa se deve, em
primeiro lugar, porque na série anterior (3asérie) eles
tiveram a oportunidade de conhecer e estudar o mapa do município, uma
vez que este é o conteúdo principal nesta série. Em segundo
lugar, nosso principal propósito foi verificar que informações
conceituais, simbólicas e perceptivas as crianças trazem ou fazem do
seu município e por último, porque o nosso propósito foi
verificar quais as noções infantis, principalmente em
relação ao espaço do município (lugar) são apresentadas
pelas crianças nas suas representações cartográficas,
especificamente no mapa do município.
O encaminhamento definido para a realização de nossas
observações empíricas constituiu-se na proposição de
realizar um concurso com os alunos das 4as séries. Além das
razões já mencionadas, também optamos pelo critério
interesse, considerado por estudiosos como um fator relevante para o
processo cognitivo, principalmente em se tratando do ensino-aprendizagem do
mapa.
A questão da análise dos mapas pode se dar de várias maneiras.
Entretanto, nos propomos a analisar a questão da representação
cartográfica abordando a parte cognitiva, ou seja, procuramos compor a
busca de respostas em relação ao que elas apresentam no desenho.
Neste caso, vamos nos ater somente ao resultado final, considerando que,
sempre será um ponto de partida e indicativo de como proceder no
processo.
Embora a abordagem na análise teve cunho subjetivo, estudamos a
representação das crianças de maneira objetiva, considerando o
que foi possível para nós subtrair da própria
representação da criança.Uma vez adotada essa perspectiva
metodológica, estamos tratando da situação no sentido do ``fazer
e compreender''. O erro, mais do que um problema é um dado não
negativo, mas é um fator de ordem a agregar valor qualitativo ao
processo, como também ao caminho percorrido. Que simbologia a
criança usa para representar? Qual significado tem para ela o seu
município?
Para efetivar a tarefa de construir o mapa do município a criança
necessariamente fará uso tanto do conhecimento físico sobre o
espaço, como também o raciocínio lógico-matemático no
sentido de compreender a relação entre os elementos do espaço e
a sua representação.
No que se refere à informação, percebemos que a imagem tem
grande importância, assim como os mapas, pois estes representam
informações históricas, políticas, econômicas,
físicas e biológicas de diferentes lugares do mundo e do
espaço. Saber utilizar mapas permite compreender as
transformações do mundo.
Vivemos num mundo tão repleto de tecnologias e informações,
porém nem sempre se tem acesso ou sabe-se como utilizá-las. Além
disso, deixa-se de lado ou simplesmente ``ignora-se'' o meio em que se vive,
a realidade das cidades.
A Cartografia está presente no nosso cotidiano.Tanto que muitas vezes
nem nos damos conta de sua importância, dos problemas que causaria sua
ausência, ou que possíveis transtornos e dificuldades decorrentes
de mapas e cartas desatualizados, ou equivocados trazem ao nosso dia-a-dia.
Encontramos mapas em casa, nas escolas, nas bibliotecas, nas livrarias, no
jornaleiro, no noticiário da televisão, nas repartições
públicas, em quase todo lugar. Consultamos mapas nas viagens, ao visitar
um amigo ou parente que mora longe de nós, ou em outra cidade; para
planejar uma viagem de férias; para conhecer nossa História como
povo e como nação. Ou não? Na verdade, nossa Cartografia é
um dado essencial da nossa cultura e da nossa História. Ela nos
identifica como país, como povo, nos torna únicos e singulares.
2 Processo Histórico de Marmeleiro
O município de Marmeleiro foi assim nomeado, segundo Vaz (1995), devido
a quantidade exuberante da árvore da espécie nativa rupretchia Laxiflora, da
família Poligonaceal. O município localiza-se no Terceiro Planalto ou Planalto
de Guarapuava, na região Sudoeste do Estado do Paraná,
microrregião de Francisco Beltrão. Limitando-se ao Norte com o
município de Francisco Beltrão, ao Sul com o Estado de Santa
Catarina, a leste com o município de Renascença e a Oeste com o
município de Flor da Serra do Sul.
Sua formação histórica-geográfica ocorreu basicamente
através da vinda de famílias de outras regiões, segundo Vaz
(1995), a partir de 1912, as quais se assentaram as margens do rio
Marmeleiro. Inicialmente fora considerado ``Comarca de Clevelândia''. A
partir de sua emancipação em 1960, deu-se início seu
desenvolvimento em maiores proporções. Hoje, o município é
composto por 51 comunidades na zona rural, e 11bairros na zona urbana.
Apresenta clima subtropical mesotérmico e está a uma altitude
média de 660 m.
Pelo município passa uma rodovia federal a BR-373, liga Marmeleiro
à Barracão; duas rodovias estaduais, a PR-280 ligando Marmeleiro,
Pato Branco, Francisco Beltrão e a PR-180 que liga Marmeleiro à
Campo Erê, Santa Catarina. A população do município,
conforme censo (2000) chega a 13.664 habitantes, sendo que destes 9.983
são eleitores.
Os primeiros habitantes, segundo Vaz (1995), vieram com esperança de
melhorar a qualidade de vida, de trabalho farto principalmente na lavoura. A
região de solo fértil favorecia a plantação de produtos que
garantiria a sobrevivência da família. Hoje, o município tem
um grande potencial agrícola, possuindo também um bom
desenvolvimento da cidade, na área de comércio, de indústria.
O município de Marmeleiro iniciou sua colonização, segundo Vaz
(1995), tendo os primeiros moradores imigrantes em 1915 com chegada da
família do senhor Hormino Carneiro Lobo, até então habitado
somente por índios e bugres. Com o passar do tempo, chegam mais
moradores. Porém, o auge da colonização deu-se somente após
1940, com grande fluxo de migrantes, em sua maioria, vindos do Rio Grande do
Sul e de Santa Catarina, motivados pela fertilidade da terra para o cultivo
agrícola.
Em 1946 inicia-se a construção da rodovia Pato Branco -- Marrecas,
pela CANGO -- Colônia Agrícola Nacional General Ozório, com
término em 1947, denominada BR-280.
Em fins de 1958, segundo Vaz (1995), políticos da região, aliados e
líderes locais, convidam a população em geral para reunião
onde começou ser discutido o interesse pela idéia de criação
de um município com o nome de Marmeleiro. A denominação foi
devido a predominância desta espécie arbórea, abundante nas
barrancas do rio, também com o mesmo nome, que banha a cidade.
Em agosto de 1960 Telmo Octávio Müller, foi nomeado como 1o
administrador pelo decreto n.o 31.526, exercendo o cargo até o
início do ano de 1961. Vaz (1995), cita que em Marmeleiro, as primeiras
eleições para prefeito e Câmara de Vereadores, foram realizadas
em outubro de 1961, elegendo Assis Gabriel Bandeira, como primeiro prefeito
de Marmeleiro.
Ficou decretado como Dia do Município, 25 de novembro, foi decidido no
ano de 1961, na administração de Rigoleto Andreoli. No ano de 1969
foi elaborado o hino do município, sendo autor da letra o Sr
Sebastião Lima e da música o Sr. Telmo Soares com a Banda Militar do
estado do Paraná.
Entre 1963 e 1964, é instituída a bandeira do Município, de
formato retangular medindo 95 cm de altura e 1,35 cm de comprimento,
dividida em 3 porções horizontais, a de cima na cor amarela e com 20
cm de altura; a do meio na cor branca, com 55 cm de altura e a debaixo, na
cor verde, com 20 cm de altura. No centro do pano há um brasão com
um retângulo amarelo, alçado por uma coroa que termina na parte
superior, em bicos, representando a muralha de um forte. Sobre esse
retângulo um pinheiro, na cor verde, cujas raízes sustentam o
retângulo. Na parte superior do retângulo, à direita do
pinheiro, na cor branca o símbolo da indústria; na metade inferior,
no mesmo lado, um tinteiro com pena e um globo terrestre sobre um livro. No
lado superior esquerdo do retângulo, o símbolo do comércio, no
interior, um trator, representando a agricultura. Abaixo do retângulo,
três faixas vermelhas, com a inscrição em preto: ``Marmeleiro'',
``Paraná'', ``25/11/61''. Anexado ao retângulo no lado direito, um
ramo verde representando um pé de milho, no lado esquerdo, um ramo de
trigo.
Para o atual mandato de Prefeito e vice (2005-2008) foram eleitos,
respectivamente, o Sr. Juvenal Ghettino (reeleito) e Marcos Monteiro. Para
vereadores: Ari Vicente Muller, Amilton de Oliveira Lima, Alcindo
Neriques Dias, José Ivanir Pilatti, Vilson Hartwing, Deomir
Pavan, Carlos Carniel, Pedro Pastorizo, Luiz Carlos Giovanella.
3 O Mapa Mental da Criança
O que seriam mapas mentais? Para que servem?
Na visão sócio-interacionista da teoria vygotskyana o conhecimento
acontece por meio de interações de fatores cognitivos, ambientais e
sociais. O conhecimento reflete o mundo exterior filtrado e influenciado
pela cultura, pela linguagem, pelas crenças e pelas interações
com outros.
``Anderson afirma que, imagens são representações baseadas em
percepções. A medida que formamos imagens, tentamos lembrar ou
recriar atributos físicos e estrutura espacial da informação.
(...) As imagens são úteis para se tomar muitas decisões
práticas (...) as imagens podem ser úteis no raciocínio
abstrato'' (In WOOLFOLK, 2000, p. 229).
A criança não nasce sabendo se movimentar nem falar. Para interagir
ela precisa da presença de outro, de alguém mais experiente, ou de
um adulto, quem ela possa ter ou sentir apoio. Pode-se inferir que a
aprendizagem cognitiva seria a tentativa da mente humana em compreender o
mundo.
``Vygotsky entende que o desenvolvimento é fruto de uma grande
influência das experiências do indivíduo. Mas cada um dá um
significado particular a essas vivências. O jeito de cada um aprender o
mundo é individual (...), o desenvolvimento e o aprendizado estão
intimamente ligados: nós nos desenvolvemos se aprendemos''. (PELEGRINI,
2001, p. 25).
O bom ensino, portanto, é o que incide na zona proximal: ``ensinar o que
a criança já sabe é pouco desafiador e ir além do que ela
pode aprender é ineficaz. O ideal é partir do que ela domina para
ampliar seu conhecimento''. (PELEGRINI, 2001, p. 25).
Quando o assunto é interessante, seu estudo tende a obter resultados
melhores, o ideal é investigar o que os alunos já sabem sobre
determinados assuntos, fazer com que eles consigam expressar seus
pensamentos, debater assuntos questionar, mas nunca reprimir.
De acordo com Moser (2003), a aprendizagem para que ser eficaz exige que se
respeite a condição do aprendiz, como sujeito pleno do processo de
aprendizagem. Segundo Woolfolk (2000), ensinar é ciência, necessita
de criatividade, de talento e de compreensão.
O cérebro humano é formado por um conjunto complexo de sistemas que
trabalham em harmonia para construir o entendimento. Esses sistemas mudam
com o tempo ao longo de toda a vida, à medida que o indivíduo
amadurece e aprende, renova-se.
``Vygotsky também acreditava que as ferramentas reais e simbólicas
(...) os números e sistemas matemáticos, os sinais os códigos e
a linguagem, desempenham papéis importantes no desenvolvimento
cognitivo''. (WOOLFLK, 2000, p. 53).
Os alunos precisam de condições para compreender e de momentos onde
possam expressar estes conhecimentos, apoiados pelo professor e pelos
colegas. (...). Os alunos devem ser estimulados a usar a linguagem para
organizar seu pensamento e a falar sobre o que estão tentando realizar.
O diálogo e a discussão são caminhos importantes para a
aprendizagem.
As pessoas se desenvolvem em ritmos diferentes, pois o desenvolvimento é
um processo ordenado e gradualmente acontece, através do conhecimento,
sendo este resultado da aprendizagem, compreendendo que o objetivo final do
ensino deve ser impreterivelmente o entendimento do aluno. A criança na
medida em que se desenvolve vai se apropriando de sua realidade
Com auxílio dos signos, segundo Rego (1995), o homem pode controlar
voluntariamente sua atividade psicológica e ampliar sua capacidade de
atenção, memória e acúmulo de informações.
``Vygotsky, inspirado nos princípios do materialismo dialético,
considera o desenvolvimento da complexidade da estrutura humana como um
processo de apropriação pelo homem da experiência histórica
e cultural. Segundo ele, o organismo e meio exercem influência
recíproca, portanto o biológico e o social não estão
dissociados. Nesta perspectiva, a premissa é de que o homem constitui-se
como tal através de suas interações sociais, portanto, é
visto como alguém que transforma e é transformado nas
relações produzidas em uma determinada cultura. É por isso que
seu pensamento costuma ser chamado de sócio- interacionista''. (REGO,
1995, p.93).
A aprendizagem, conforme Lakomy (2003), ocorre quando através de uma
experiência, muda-se o conhecimento anterior sobre uma determinada
idéia, comportamento ou conceito. É importante entender que, para a
aprendizagem ocorrer, é necessário que haja uma interação,
ou troca de experiências do indivíduo com o meio ambiente.
A teoria cognitiva no procedimento do método cartográfico envolve
operações mentais lógicas como a comparação,
análise, síntese, abstração, generalização e
modelização cartográfica. Nesta perspectiva de pesquisa
cartográfica, o mapa é considerado como uma fonte variável de
informações, dependendo das características do usuário.
Desenvolvida a partir da psicologia, trouxe grandes avanços para a
Cartografia, tanto no processo de mapeamento, em que o cartógrafo passou
a ter uma preocupação maior com as características do
usuário, como no processo de leitura, no qual o mapa passou a ser um
instrumento para aquisição de novos conhecimentos sobre a realidade
representada. Entre as principais contribuições estão os mapas
mentais e a alfabetização cartográfica.
``As representações são criações sociais ou individuais
de esquemas pertinentes do real. Essas imagens quando dizem respeito à
questão da representação do espaço, quando leva em
consideração a orientação, localização ou outras
informações sobre o lugar de vida, são constituídas em
mapas mentais''. (NOGUEIRA, 1994, p.64).
Imagens estas das quais se obtém muito conhecimento. Na maioria são
representações de imagens adquiridas pelo sujeito no seu dia-a-dia e
depende muito da interpretação que cada um faz das mesmas. O homem
sempre buscou expressar-se através de gravuras e símbolos,
descrições de lugares, rituais, animais, marcas que preservam a
história em forma de traços rudes, porém carregado de
significados, únicos.
Do local ao global, a representação cartográfica, por muitas
gerações, busca representar cada vez mais próximo do real,
também se utiliza métodos, cognoscíveis, visto que o real e o
imaginário complementam-se.
Os mapas mentais, quando bem trabalhados pelos professores, tornam-se
importante fonte didático-pedagógica auxiliar no estudo das
categorias de análise geográficas do espaço. O lugar, por
exemplo, nas séries iniciais da educação básica é um
atributo bem constituído no ensino elementar nas e pelas
representações cartográficas.
O uso do mapa como recurso na pesquisa científica, expandiu horizontes
da Cartografia. Com o desenvolvimento das novas tecnologias na Cartografia,
o grande avanço da informática, possibilitou novas formas de
registro da informação. Os mapas e outras formas de
representação cartográfica, hoje, podem ser feitos, observados e
analisados não só no tradicional formato analógico, mas no
formato digital e de forma tridimensional.
Podemos ressaltar que a cognição cartográfica é um processo
único, na medida em que desenvolve o uso do cérebro humano para
reconhecer padrões e relações no seu contexto espacial.
O mapa enquanto fonte de comunicação traz orientações
importantes que facilitam e possibilitam muitas decisões. Nos quesitos
localização e planejamento, o mapa carrega uma intencionalidade
podendo ser elaborado para finalidades distintas.
Por séculos os mapas cartográficos trazem um significado de como o
mundo pode ser explicado e entendido. Considerados como poderosas
ferramentas gráficas, classificam, representam e comunicam as
relações espaciais servindo como ponto de referência para
tomadas de decisão. Os mapas revelam valores culturais e
hegemônicos, são criados num contexto histórico.
Os mapas são embutidos de valores, do reflexo da cultura, de julgamentos
dos indivíduos que os constroem. Nestas representações são
inseridos dados, símbolos quantitativos e qualitativos, os quais
facilitam a representação mental posteriormente.
Cognição e comunicação não são conceitos novos na
Cartografia, mas eles têm assumido novos significados na era da
informação. Os conceitos de mapas sejam eles construções
mentais ou produtos físicos, são tão básicos que
psicólogos, geralmente, falam das estratégias de mapeamento como
centrais ao entendimento de como o cérebro humano funciona.
O mapa é objeto central da Cartografia. Por isso, aparece explicitamente
na própria definição, na organização, na
apresentação, na comunicação e na utilização da
geo-informação, nas mais variadas formas gráficas, digital ou
tátil. Incluir todas as etapas, desde a apresentação dos dados
até o uso final na criação de mapas e produtos relacionados com
a informação espacial.
A cognição cartográfica é um processo único, na medida
que envolve o uso do cérebro humano para reconhecer padrões e
relações no seu contexto espacial. A comunicação
cartográfica assume uma nova importância na era da
informação e novos desafios são apresentados. Estes envolvem
tanto a criação de novos produtos para melhorar a eficácia da
transmissão de informação, como um melhor entendimento do
processo de comunicação. A tecnologia, especialmente a da
informática, continuará sendo importante para Cartografia, mas
não pode ser permitido que ela domine.
4 A Pesquisa com os Alunos
Neste trabalho, participaram os alunos das escolas municipais do
perímetro urbano de Marmeleiro, sendo elas: São Judas Tadeu, Padre
Afonso, Perseverança e D. Pedro I. As escolas particulares: Centro
Educacional João XXIII e Tio Patinhas, totalizando 225 alunos
matriculados entre os meses de junho a setembro de 2004, sendo que 185
apresentaram os seus desenhos. Conforme consta no regulamento deste
concurso, elaborado especificamente para nortear este trabalho, cada aluno
(a) que estivesse cursando a 4a série do Ensino Fundamental, que
desejasse participar deveria fazer um desenho relacionado ao seguinte tema:
``COMO VEJO MARMELEIRO NO MAPA''. Cada aluno podia concorrer com somente um
desenho, (mapa), entregue em folha A4. Constando no verso a
identificação do aluno: nome, endereço, telefone;
identificação da Escola e do(a) professor(a), tudo conforme se
apresentava no regulamento entregue uma cópia para cada escola.
O objetivo do concurso foi avaliar a originalidade, a criatividade, a
temática, a precisão cartográfica, bem como: a
proporção, a localização, a perspectiva e a simbologia. Foi
escolhido o trabalho mais original de cada turma. Como incentivo, o aluno
contemplado recebeu um livro infantil e ou um jogo didático.
Na análise dos mapas verificamos que os alunos (faixa etária entre
10 e 11 anos) procuraram enfatizar em seus desenhos, principalmente, os
limites territoriais do município, a agricultura, a distinção
entre o espaço urbano e rural, as estradas, a passarela foi bastante
enfatizada, um atrativo importante pela função que realiza em
possibilitar o trajeto das pessoas sobre a rodovia, com segurança. As
edificações e vias de fluxo não faltaram nos mapas. A
prefeitura, a escola e a igreja, enquanto simbologia na
representação que compete a cada um destes signos, com valor e
importância fortíssimos para eles. Apresentaram os pontos cardeais
e a legenda especificando cada significado. Apenas um aluno desenhou e
identificou a árvore marmeleiro, que originou o nome da cidade. Estes
conhecimentos, na maioria das vezes, são adquiridos na escola.
O concurso foi lançado no início do mês de julho e no final do
mesmo mês foram recolhidos os mapas (desenhos) realizados em sala de
aula pelos alunos. No mês de setembro voltamos nas escolas com o
resultado. Foram escolhidos os mapas que apresentaram as mais significativas
representações mentais. Na seqüência, os trabalhos na ordem
respectiva:
Mapa 1, 2 e 3
Mapa 4, 5 e 6
Mapa 7 e 8
Mapa 9 e 10
Thaís Regina Leopoldo (Mapa 01), aluna da Escola Municipal Padre
Afonso, da professora Ivanete Dalla Costa Guarda, obteve o mérito do
trabalho mais original.Ela retrata no mapa, muito bem, as noções de:
proporção (escala), perspectiva (bem distribuídos no espaço
e na representação), as coordenadas geográficas (latitude e
longitude), as convenções e simbologia (com a legenda identificando
todos os itens inseridos no desenho), bem definida a inclusão espacial
na representação.
O aluno Paulo Roberto De Lima, (Mapa 02), estuda na Escola Municipal
Perseverança, tem como professor Vanderlei Antônio Gallina. Recebeu
o título de segundo mérito.Ele representou bem as categorias
proporção e perspectiva, nos contornos do município, inseriu
uma via de acesso, ao fundo contemplou prédios e residências
distribuídos aleatoriamente como na realidade.
Daniélli Signori, (Mapa 03), estuda na Escola Municipal D. Pedro I, sua
professora é Vera Lúcia Antes, obteve o terceiro mérito.A aluna
representou as categorias inclusão no espaço, convenção,
representatividade nos contornos do município, inseriu bem os
símbolos que representam a cidade de Marmeleiro. Inseriu a árvore a
qual descreveu como a espécie símbolo que representa Marmeleiro.
Jean Luis Farias, (Mapa 04), estuda na Escola Municipal D. Pedro I,
professora Ana Maria Dalla Rosa, obteve o quarto mérito pela
originalidade do desenho. O aluno apresentou a categoria cartográfica da
representação pictórica. Retratou o contorno do município,
o urbano e o rural. Na área urbana inseriu casas, carros, ruas
pavimentadas e indústrias. Na área rural, o rio faz a divisa com a
cidade.
Amanda Caroline Loch, (Mapa 05), estuda na Escola Municipal D. Pedro I com a
professora Rita Cleide Biava Arise e obteve o quinto mérito.Ela mostrou
no seu mapa as categorias proporção, coordenadas e perspectiva.
Mostra o urbano enfatizando o centro do município, onde destaca a
presença do hospital, a igreja, a escola, o parque, áreas verdes,
residências e o comércio. Apresentou bem a visão em perspectiva.
Jhonatan Luis Castoldi, (Mapa 06), estuda no Centro Educacional João
XXIII, com a professora Alice Chioquetta, obteve o sexto mérito. Ele
desenhou o centro de Marmeleiro onde está inserida a prefeitura
municipal, a praça, a avenida e o acesso a Igreja Matriz. Em uma
visão aérea ele a projetou em perspectiva a realidade, com
proporção.
A aluna Maiara Bressiani, (Mapa 07), estuda na Escola Municipal Padre Afonso
com a professora Ione Maria Maciel Maier, obteve o sétimo mérito.
Ela retratou os contornos do município, aspectos do urbano e do rural,
a legenda, as vias de acesso e as coordenadas geográficas.
Rodrigo Walter Juntes, (Mapa 08), estuda na Escola Municipal São Judas
Tadeu, tem como professora Juleide Maria Gehlen e obteve o oitavo
mérito. Ele retratou o urbano e o rural. Sendo que no primeiro, inseriu
a prefeitura, a praça, os veículos, as vias de acesso, a ``Mata
Nativa'', enquanto local de lazer e no âmbito representativo do rural,
apresentou árvores, residências com cercados e a Igreja. Com
ênfase nas categorias: proporção e coordenadas geográficas.
Valter Felipe Padilha, (Mapa 09), estuda na Escola Tio Patinhas com a
professora Sandra Aparecida Martins, obteve o nono mérito. Ele descreve
os contornos da cidade e o centro, as quadras, terrenos baldios,
estacionamentos, casas comerciais, pessoas, o rio e seus afluentes.
Apresentou legenda e a seguinte frase: ``Eu vejo Marmeleiro evoluindo''.
Enquanto categorias apareceram bem: proporção e coordenadas.
A aluna Fabiane Faoro Weitbrecht, (Mapa 10), estuda na Escola Municipal
São Judas Tadeu com a professora Lourdes Spoltti, recebeu o décimo
mérito. Ela representou como categorias: a proporção e as
coordenadas no desenho. Retratou a zona rural, os aspectos mostrados no mapa
foram inseridos com significativa proporcionalidade, as residências, o
cercado de animais, as árvores, o lago, o ônibus escolar.
5 Algumas Considerações
Os mapas mentais das crianças apresentam importantes reflexões sobre
aspectos do ensino do espaço geográfico nas séries iniciais do
ensino fundamental. Grande enfoque foi dado pelas crianças para alguns
aspectos mais significativos para elas como a escola, a prefeitura, o centro
da cidade, a igreja. Estiveram presentes, na maioria dos desenhos
também: o comércio, a área do urbano e do rural. A
delimitação do município, a passarela enquanto símbolo do
município, por ser considerada ``a passarela do sudoeste''. As
rodovias, pois o município é um entroncamento de três, uma
federal pavimentada BR -- 373, ligando Marmeleiro à Barracão, duas
estaduais pavimentadas, PR- 280 ligando Pato Branco à Francisco
Beltrão e a PR -- 180 ligando Marmeleiro à Campo Erê em Santa
Catarina.
A questão dos pontos cardeais traz a certeza da presença do
conhecimento das coordenadas geográficas pelas crianças. Embora
é um conteúdo difícil, eles demonstraram que aprenderam. A
legenda apresenta a categoria convenções, uma das propostas na nossa
análise dos mapas mentais dos alunos participantes e que trouxe a
certeza do entendimento por parte das crianças sobre conteúdos
temidos por muitos professores como a visão em perspectiva, escalas,
coordenadas geográficas e das convenções.
Um ponto que merece cuidado é ao trabalhar sobre o município, o
professor precisa dar atenção a questão da inclusão do
espaço sempre atento ao local e não desmerecendo o todo, para que a
criança possa fazer a relação. Verificou-se em muitos desenhos
forte a divisão urbano-rural. É preciso saber identificar que ambos
são importantes, um está integrado ao outro, existem
relações entre ambos. Na questão: transporte, educação,
saúde, lazer, economia, política e social, meio ambiente,
apareceram com grande enfoque nos mapas das crianças.
As professoras comentavam da dificuldade que encontram para trabalhar o
conteúdo sobre o município, devido à falta de materiais
referentes ao assunto. Essa carência dificulta o aprendizado, pois, a
visualização do mapa ajuda a desenvolver o cognitivo da criança,
uma vez que as informações nele contidas são as principais
fontes de conhecimentos sobre o espaço geográfico não presente
ou mais distante.
As crianças demonstraram conhecimento das noções de
localização, de proporção, de simbologia, de significados
dos signos e dos elementos representados como as convenções.
Conforme Clark (1985), os principais marcos urbanos tendem a dominar a
imagem coletiva e as áreas centrais são percebidas muito claramente,
provavelmente porque é a parte da cidade mais visitada pela
população urbana como um todo.
De nada adianta ensinar sem a preocupação com o aprendizado. Por
isto, sempre que possível o ensino deve estar atrelado à pesquisa,
pois as contribuições serão mais qualitativas tanto para
docentes quanto para os discentes.
``O espaço é, simultaneamente, noção e categoria. É
noção no sentido de estrutura mental que se constrói desde o
nascimento até a formalização do pensamento e é categoria
como objeto de estudo da Geografia. (...). A Aquisição da
noção de espaço é um processo complexo e progressivo de
extrema importância no desenvolvimento das pessoas''. (PCN, 2001, p.
157).
Nossa preocupação foi referente a como esses alunos visualizam o
município, como o representam no mapa, através dos limites,
aspectos ambientais, o rural e o urbano. Enfim, o que é mais expressivo
para eles, daí a questão: ``Como vejo Marmeleiro no Mapa?''.
Não é difícil para a criança perceber o que passa ao seu
redor. No entanto, faz-se necessário um estímulo mediador para que
a mesma formule e represente esta visão, suas idéias e seus anseios,
importante para o aprendizado, principalmente de mapas.
O aluno deve sentir satisfação no aprendizado, deve associá-lo,
compartilhá-lo, o conhecimento deve ir além das quatro paredes da
sala de aula. É preciso estimulá-lo a refletir sobre o assunto, a
imaginar, comparar o real à sua representação, para que o
conhecimento possa ser de fato compreendido. Faz-se necessário quebrar a
rotina, fazer dinâmicas de ensino, ``provocar'' o aluno a buscar e
entender. Afinal, em muitos casos, para conhecer e aprender é preciso
fazer.
O aluno do ensino fundamental é capaz de observar, conhecer, explicar,
comparar e representar as características do lugar em que vive.
Diferenciar paisagens e espaços geográficos. É importante
resgatar as imagens dos lugares vividos, dos lugares percebidos,
considerando o conhecimento dos alunos e a partir dos mapas mentais, é
possível compreender o nível de organização espacial em
que se encontram em relação ao espaço geográfico que
habitam: a cidade, o bairro, o município, o estado, o país, o
mundo e vice-versa.
Realmente, ler e representar o espaço não são tarefas
fáceis, porém nada como a imaginação de uma criança,
aliada as suas lembranças e ao aprendizado. Que se faça realçar
aos olhos e na mente dos alunos as representações do espaço
vivido e aprendido. Aliados a isto, mais o desejo de aprender e de conhecer
tão expressivos na criança, possibilitam o desenvolvimento cognitivo
que possibilita o entendimento do real e de sua representação.
6 Bibliografia
- CARLOS, Ana Fani (org.). Geografia na sala de aula, 4 ed.São
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- Eliane Maria Gonçalves Padilha é Licencianda do curso de Geografia da Unioeste - Campus de Francisco Beltrão -
E-mail:elianemaria7@hotmail.com. Mafalda Nesi Francischett é Professora do Curso de Geografia da
Unioeste de Francisco Beltrão; do Mestrado em Letras de Cascavel.
E-mail: mafalda@wln.com.br.