O município de marmeleiro na representação mental da criança

Eliane Maria Gonçalves Padilha e
Mafalda Nesi Francischett1

 

 

Índice

 

Resumo

Este artigo é resultado de pesquisa desenvolvida em 2004 com alunos de 4a série, no município de Marmeleiro-PR, nas escolas municipais de ensino fundamental, especificamente as situadas no perímetro urbano. A idéia foi procurar entender o que, como e de que forma gráfica (símbolos, cores, hachuras etc.), a criança representa no mapa os símbolos representativos de seu município. Outro dado balizador na análise foi à observação do mapa elaborado, construído pela criança como representação do seu município (lugar), referindo-se às propriedades cartográficas como: proporção (escala), perspectiva, coordenadas e simbologia (convenções/legenda). Procurou-se verificar como o aluno representa os espaços por ele freqüentados, como representa graficamente e qual a linguagem gráfica aplicada. Sabe-se que o mapa tem como intenção transmitir informação. Nosso objetivo foi integrar os alunos, instigá-los a refletir e reconhecer o potencial do município. Para tal, lançamos o projeto ``Como vejo Marmeleiro no mapa'', também com finalidade de contribuir para o aprendizado da questão ambiental e da cartografia do município através da representação mental da criança. O projeto foi bem recebido pelas escolas e trouxe resultados importantes que seguem no corpo do texto.

1  Apresentação

O Município de Marmeleiro na Representação Mental da Criança é resultado de um sonho por acreditamos que a educação é a base na formação do indivíduo. Pois, a prática individual geralmente é resultado de experiências com resultados obtidos. A idéia germinou de observações do processo de compreensão da transposição que a criança tem e faz do seu município ao representá-lo no mapa. Ou seja, de perguntas como: qual a imagem mental da criança sobre o município? Que significado do real está representado no mapa da criança?

A pesquisa foi realizada com alunos de 4asérie do ensino fundamental. A justificativa para a utilização do mapa se deve, em primeiro lugar, porque na série anterior (3asérie) eles tiveram a oportunidade de conhecer e estudar o mapa do município, uma vez que este é o conteúdo principal nesta série. Em segundo lugar, nosso principal propósito foi verificar que informações conceituais, simbólicas e perceptivas as crianças trazem ou fazem do seu município e por último, porque o nosso propósito foi verificar quais as noções infantis, principalmente em relação ao espaço do município (lugar) são apresentadas pelas crianças nas suas representações cartográficas, especificamente no mapa do município.

O encaminhamento definido para a realização de nossas observações empíricas constituiu-se na proposição de realizar um concurso com os alunos das 4as séries. Além das razões já mencionadas, também optamos pelo critério interesse, considerado por estudiosos como um fator relevante para o processo cognitivo, principalmente em se tratando do ensino-aprendizagem do mapa.

A questão da análise dos mapas pode se dar de várias maneiras. Entretanto, nos propomos a analisar a questão da representação cartográfica abordando a parte cognitiva, ou seja, procuramos compor a busca de respostas em relação ao que elas apresentam no desenho. Neste caso, vamos nos ater somente ao resultado final, considerando que, sempre será um ponto de partida e indicativo de como proceder no processo.

Embora a abordagem na análise teve cunho subjetivo, estudamos a representação das crianças de maneira objetiva, considerando o que foi possível para nós subtrair da própria representação da criança.Uma vez adotada essa perspectiva metodológica, estamos tratando da situação no sentido do ``fazer e compreender''. O erro, mais do que um problema é um dado não negativo, mas é um fator de ordem a agregar valor qualitativo ao processo, como também ao caminho percorrido. Que simbologia a criança usa para representar? Qual significado tem para ela o seu município?

Para efetivar a tarefa de construir o mapa do município a criança necessariamente fará uso tanto do conhecimento físico sobre o espaço, como também o raciocínio lógico-matemático no sentido de compreender a relação entre os elementos do espaço e a sua representação.

No que se refere à informação, percebemos que a imagem tem grande importância, assim como os mapas, pois estes representam informações históricas, políticas, econômicas, físicas e biológicas de diferentes lugares do mundo e do espaço. Saber utilizar mapas permite compreender as transformações do mundo.

Vivemos num mundo tão repleto de tecnologias e informações, porém nem sempre se tem acesso ou sabe-se como utilizá-las. Além disso, deixa-se de lado ou simplesmente ``ignora-se'' o meio em que se vive, a realidade das cidades.

A Cartografia está presente no nosso cotidiano.Tanto que muitas vezes nem nos damos conta de sua importância, dos problemas que causaria sua ausência, ou que possíveis transtornos e dificuldades decorrentes de mapas e cartas desatualizados, ou equivocados trazem ao nosso dia-a-dia. Encontramos mapas em casa, nas escolas, nas bibliotecas, nas livrarias, no jornaleiro, no noticiário da televisão, nas repartições públicas, em quase todo lugar. Consultamos mapas nas viagens, ao visitar um amigo ou parente que mora longe de nós, ou em outra cidade; para planejar uma viagem de férias; para conhecer nossa História como povo e como nação. Ou não? Na verdade, nossa Cartografia é um dado essencial da nossa cultura e da nossa História. Ela nos identifica como país, como povo, nos torna únicos e singulares.

2  Processo Histórico de Marmeleiro

O município de Marmeleiro foi assim nomeado, segundo Vaz (1995), devido a quantidade exuberante da árvore da espécie nativa rupretchia Laxiflora, da família Poligonaceal. O município localiza-se no Terceiro Planalto ou Planalto de Guarapuava, na região Sudoeste do Estado do Paraná, microrregião de Francisco Beltrão. Limitando-se ao Norte com o município de Francisco Beltrão, ao Sul com o Estado de Santa Catarina, a leste com o município de Renascença e a Oeste com o município de Flor da Serra do Sul.

Sua formação histórica-geográfica ocorreu basicamente através da vinda de famílias de outras regiões, segundo Vaz (1995), a partir de 1912, as quais se assentaram as margens do rio Marmeleiro. Inicialmente fora considerado ``Comarca de Clevelândia''. A partir de sua emancipação em 1960, deu-se início seu desenvolvimento em maiores proporções. Hoje, o município é composto por 51 comunidades na zona rural, e 11bairros na zona urbana. Apresenta clima subtropical mesotérmico e está a uma altitude média de 660 m.

Pelo município passa uma rodovia federal a BR-373, liga Marmeleiro à Barracão; duas rodovias estaduais, a PR-280 ligando Marmeleiro, Pato Branco, Francisco Beltrão e a PR-180 que liga Marmeleiro à Campo Erê, Santa Catarina. A população do município, conforme censo (2000) chega a 13.664 habitantes, sendo que destes 9.983 são eleitores.

Os primeiros habitantes, segundo Vaz (1995), vieram com esperança de melhorar a qualidade de vida, de trabalho farto principalmente na lavoura. A região de solo fértil favorecia a plantação de produtos que garantiria a sobrevivência da família. Hoje, o município tem um grande potencial agrícola, possuindo também um bom desenvolvimento da cidade, na área de comércio, de indústria.

O município de Marmeleiro iniciou sua colonização, segundo Vaz (1995), tendo os primeiros moradores imigrantes em 1915 com chegada da família do senhor Hormino Carneiro Lobo, até então habitado somente por índios e bugres. Com o passar do tempo, chegam mais moradores. Porém, o auge da colonização deu-se somente após 1940, com grande fluxo de migrantes, em sua maioria, vindos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, motivados pela fertilidade da terra para o cultivo agrícola.

Em 1946 inicia-se a construção da rodovia Pato Branco -- Marrecas, pela CANGO -- Colônia Agrícola Nacional General Ozório, com término em 1947, denominada BR-280.

Em fins de 1958, segundo Vaz (1995), políticos da região, aliados e líderes locais, convidam a população em geral para reunião onde começou ser discutido o interesse pela idéia de criação de um município com o nome de Marmeleiro. A denominação foi devido a predominância desta espécie arbórea, abundante nas barrancas do rio, também com o mesmo nome, que banha a cidade.

Em agosto de 1960 Telmo Octávio Müller, foi nomeado como 1o administrador pelo decreto n.o 31.526, exercendo o cargo até o início do ano de 1961. Vaz (1995), cita que em Marmeleiro, as primeiras eleições para prefeito e Câmara de Vereadores, foram realizadas em outubro de 1961, elegendo Assis Gabriel Bandeira, como primeiro prefeito de Marmeleiro.

Ficou decretado como Dia do Município, 25 de novembro, foi decidido no ano de 1961, na administração de Rigoleto Andreoli. No ano de 1969 foi elaborado o hino do município, sendo autor da letra o Sr Sebastião Lima e da música o Sr. Telmo Soares com a Banda Militar do estado do Paraná.

Entre 1963 e 1964, é instituída a bandeira do Município, de formato retangular medindo 95 cm de altura e 1,35 cm de comprimento, dividida em 3 porções horizontais, a de cima na cor amarela e com 20 cm de altura; a do meio na cor branca, com 55 cm de altura e a debaixo, na cor verde, com 20 cm de altura. No centro do pano há um brasão com um retângulo amarelo, alçado por uma coroa que termina na parte superior, em bicos, representando a muralha de um forte. Sobre esse retângulo um pinheiro, na cor verde, cujas raízes sustentam o retângulo. Na parte superior do retângulo, à direita do pinheiro, na cor branca o símbolo da indústria; na metade inferior, no mesmo lado, um tinteiro com pena e um globo terrestre sobre um livro. No lado superior esquerdo do retângulo, o símbolo do comércio, no interior, um trator, representando a agricultura. Abaixo do retângulo, três faixas vermelhas, com a inscrição em preto: ``Marmeleiro'', ``Paraná'', ``25/11/61''. Anexado ao retângulo no lado direito, um ramo verde representando um pé de milho, no lado esquerdo, um ramo de trigo.

Para o atual mandato de Prefeito e vice (2005-2008) foram eleitos, respectivamente, o Sr. Juvenal Ghettino (reeleito) e Marcos Monteiro. Para vereadores: Ari Vicente Muller, Amilton de Oliveira Lima, Alcindo Neriques Dias, José Ivanir Pilatti, Vilson Hartwing, Deomir Pavan, Carlos Carniel, Pedro Pastorizo, Luiz Carlos Giovanella.

3  O Mapa Mental da Criança

O que seriam mapas mentais? Para que servem?

Na visão sócio-interacionista da teoria vygotskyana o conhecimento acontece por meio de interações de fatores cognitivos, ambientais e sociais. O conhecimento reflete o mundo exterior filtrado e influenciado pela cultura, pela linguagem, pelas crenças e pelas interações com outros.
``Anderson afirma que, imagens são representações baseadas em percepções. A medida que formamos imagens, tentamos lembrar ou recriar atributos físicos e estrutura espacial da informação. (...) As imagens são úteis para se tomar muitas decisões práticas (...) as imagens podem ser úteis no raciocínio abstrato'' (In WOOLFOLK, 2000, p. 229).
A criança não nasce sabendo se movimentar nem falar. Para interagir ela precisa da presença de outro, de alguém mais experiente, ou de um adulto, quem ela possa ter ou sentir apoio. Pode-se inferir que a aprendizagem cognitiva seria a tentativa da mente humana em compreender o mundo.
``Vygotsky entende que o desenvolvimento é fruto de uma grande influência das experiências do indivíduo. Mas cada um dá um significado particular a essas vivências. O jeito de cada um aprender o mundo é individual (...), o desenvolvimento e o aprendizado estão intimamente ligados: nós nos desenvolvemos se aprendemos''. (PELEGRINI, 2001, p. 25).
O bom ensino, portanto, é o que incide na zona proximal: ``ensinar o que a criança já sabe é pouco desafiador e ir além do que ela pode aprender é ineficaz. O ideal é partir do que ela domina para ampliar seu conhecimento''. (PELEGRINI, 2001, p. 25).

Quando o assunto é interessante, seu estudo tende a obter resultados melhores, o ideal é investigar o que os alunos já sabem sobre determinados assuntos, fazer com que eles consigam expressar seus pensamentos, debater assuntos questionar, mas nunca reprimir.

De acordo com Moser (2003), a aprendizagem para que ser eficaz exige que se respeite a condição do aprendiz, como sujeito pleno do processo de aprendizagem. Segundo Woolfolk (2000), ensinar é ciência, necessita de criatividade, de talento e de compreensão.

O cérebro humano é formado por um conjunto complexo de sistemas que trabalham em harmonia para construir o entendimento. Esses sistemas mudam com o tempo ao longo de toda a vida, à medida que o indivíduo amadurece e aprende, renova-se.

``Vygotsky também acreditava que as ferramentas reais e simbólicas (...) os números e sistemas matemáticos, os sinais os códigos e a linguagem, desempenham papéis importantes no desenvolvimento cognitivo''. (WOOLFLK, 2000, p. 53).

Os alunos precisam de condições para compreender e de momentos onde possam expressar estes conhecimentos, apoiados pelo professor e pelos colegas. (...). Os alunos devem ser estimulados a usar a linguagem para organizar seu pensamento e a falar sobre o que estão tentando realizar. O diálogo e a discussão são caminhos importantes para a aprendizagem.

As pessoas se desenvolvem em ritmos diferentes, pois o desenvolvimento é um processo ordenado e gradualmente acontece, através do conhecimento, sendo este resultado da aprendizagem, compreendendo que o objetivo final do ensino deve ser impreterivelmente o entendimento do aluno. A criança na medida em que se desenvolve vai se apropriando de sua realidade

Com auxílio dos signos, segundo Rego (1995), o homem pode controlar voluntariamente sua atividade psicológica e ampliar sua capacidade de atenção, memória e acúmulo de informações.
``Vygotsky, inspirado nos princípios do materialismo dialético, considera o desenvolvimento da complexidade da estrutura humana como um processo de apropriação pelo homem da experiência histórica e cultural. Segundo ele, o organismo e meio exercem influência recíproca, portanto o biológico e o social não estão dissociados. Nesta perspectiva, a premissa é de que o homem constitui-se como tal através de suas interações sociais, portanto, é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações produzidas em uma determinada cultura. É por isso que seu pensamento costuma ser chamado de sócio- interacionista''. (REGO, 1995, p.93).
A aprendizagem, conforme Lakomy (2003), ocorre quando através de uma experiência, muda-se o conhecimento anterior sobre uma determinada idéia, comportamento ou conceito. É importante entender que, para a aprendizagem ocorrer, é necessário que haja uma interação, ou troca de experiências do indivíduo com o meio ambiente.

A teoria cognitiva no procedimento do método cartográfico envolve operações mentais lógicas como a comparação, análise, síntese, abstração, generalização e modelização cartográfica. Nesta perspectiva de pesquisa cartográfica, o mapa é considerado como uma fonte variável de informações, dependendo das características do usuário. Desenvolvida a partir da psicologia, trouxe grandes avanços para a Cartografia, tanto no processo de mapeamento, em que o cartógrafo passou a ter uma preocupação maior com as características do usuário, como no processo de leitura, no qual o mapa passou a ser um instrumento para aquisição de novos conhecimentos sobre a realidade representada. Entre as principais contribuições estão os mapas mentais e a alfabetização cartográfica.
``As representações são criações sociais ou individuais de esquemas pertinentes do real. Essas imagens quando dizem respeito à questão da representação do espaço, quando leva em consideração a orientação, localização ou outras informações sobre o lugar de vida, são constituídas em mapas mentais''. (NOGUEIRA, 1994, p.64).
Imagens estas das quais se obtém muito conhecimento. Na maioria são representações de imagens adquiridas pelo sujeito no seu dia-a-dia e depende muito da interpretação que cada um faz das mesmas. O homem sempre buscou expressar-se através de gravuras e símbolos, descrições de lugares, rituais, animais, marcas que preservam a história em forma de traços rudes, porém carregado de significados, únicos.

Do local ao global, a representação cartográfica, por muitas gerações, busca representar cada vez mais próximo do real, também se utiliza métodos, cognoscíveis, visto que o real e o imaginário complementam-se.

Os mapas mentais, quando bem trabalhados pelos professores, tornam-se importante fonte didático-pedagógica auxiliar no estudo das categorias de análise geográficas do espaço. O lugar, por exemplo, nas séries iniciais da educação básica é um atributo bem constituído no ensino elementar nas e pelas representações cartográficas.

O uso do mapa como recurso na pesquisa científica, expandiu horizontes da Cartografia. Com o desenvolvimento das novas tecnologias na Cartografia, o grande avanço da informática, possibilitou novas formas de registro da informação. Os mapas e outras formas de representação cartográfica, hoje, podem ser feitos, observados e analisados não só no tradicional formato analógico, mas no formato digital e de forma tridimensional.

Podemos ressaltar que a cognição cartográfica é um processo único, na medida em que desenvolve o uso do cérebro humano para reconhecer padrões e relações no seu contexto espacial.

O mapa enquanto fonte de comunicação traz orientações importantes que facilitam e possibilitam muitas decisões. Nos quesitos localização e planejamento, o mapa carrega uma intencionalidade podendo ser elaborado para finalidades distintas.

Por séculos os mapas cartográficos trazem um significado de como o mundo pode ser explicado e entendido. Considerados como poderosas ferramentas gráficas, classificam, representam e comunicam as relações espaciais servindo como ponto de referência para tomadas de decisão. Os mapas revelam valores culturais e hegemônicos, são criados num contexto histórico.

Os mapas são embutidos de valores, do reflexo da cultura, de julgamentos dos indivíduos que os constroem. Nestas representações são inseridos dados, símbolos quantitativos e qualitativos, os quais facilitam a representação mental posteriormente.

Cognição e comunicação não são conceitos novos na Cartografia, mas eles têm assumido novos significados na era da informação. Os conceitos de mapas sejam eles construções mentais ou produtos físicos, são tão básicos que psicólogos, geralmente, falam das estratégias de mapeamento como centrais ao entendimento de como o cérebro humano funciona.

O mapa é objeto central da Cartografia. Por isso, aparece explicitamente na própria definição, na organização, na apresentação, na comunicação e na utilização da geo-informação, nas mais variadas formas gráficas, digital ou tátil. Incluir todas as etapas, desde a apresentação dos dados até o uso final na criação de mapas e produtos relacionados com a informação espacial.

A cognição cartográfica é um processo único, na medida que envolve o uso do cérebro humano para reconhecer padrões e relações no seu contexto espacial. A comunicação cartográfica assume uma nova importância na era da informação e novos desafios são apresentados. Estes envolvem tanto a criação de novos produtos para melhorar a eficácia da transmissão de informação, como um melhor entendimento do processo de comunicação. A tecnologia, especialmente a da informática, continuará sendo importante para Cartografia, mas não pode ser permitido que ela domine.

4  A Pesquisa com os Alunos

Neste trabalho, participaram os alunos das escolas municipais do perímetro urbano de Marmeleiro, sendo elas: São Judas Tadeu, Padre Afonso, Perseverança e D. Pedro I. As escolas particulares: Centro Educacional João XXIII e Tio Patinhas, totalizando 225 alunos matriculados entre os meses de junho a setembro de 2004, sendo que 185 apresentaram os seus desenhos. Conforme consta no regulamento deste concurso, elaborado especificamente para nortear este trabalho, cada aluno (a) que estivesse cursando a 4a série do Ensino Fundamental, que desejasse participar deveria fazer um desenho relacionado ao seguinte tema: ``COMO VEJO MARMELEIRO NO MAPA''. Cada aluno podia concorrer com somente um desenho, (mapa), entregue em folha A4. Constando no verso a identificação do aluno: nome, endereço, telefone; identificação da Escola e do(a) professor(a), tudo conforme se apresentava no regulamento entregue uma cópia para cada escola.

O objetivo do concurso foi avaliar a originalidade, a criatividade, a temática, a precisão cartográfica, bem como: a proporção, a localização, a perspectiva e a simbologia. Foi escolhido o trabalho mais original de cada turma. Como incentivo, o aluno contemplado recebeu um livro infantil e ou um jogo didático.

Na análise dos mapas verificamos que os alunos (faixa etária entre 10 e 11 anos) procuraram enfatizar em seus desenhos, principalmente, os limites territoriais do município, a agricultura, a distinção entre o espaço urbano e rural, as estradas, a passarela foi bastante enfatizada, um atrativo importante pela função que realiza em possibilitar o trajeto das pessoas sobre a rodovia, com segurança. As edificações e vias de fluxo não faltaram nos mapas. A prefeitura, a escola e a igreja, enquanto simbologia na representação que compete a cada um destes signos, com valor e importância fortíssimos para eles. Apresentaram os pontos cardeais e a legenda especificando cada significado. Apenas um aluno desenhou e identificou a árvore marmeleiro, que originou o nome da cidade. Estes conhecimentos, na maioria das vezes, são adquiridos na escola.

O concurso foi lançado no início do mês de julho e no final do mesmo mês foram recolhidos os mapas (desenhos) realizados em sala de aula pelos alunos. No mês de setembro voltamos nas escolas com o resultado. Foram escolhidos os mapas que apresentaram as mais significativas representações mentais. Na seqüência, os trabalhos na ordem respectiva:

 


Mapa 1, 2 e 3
 


 
 
Mapa 4, 5 e 6
 
 

 


Mapa 7 e 8
 


 
Mapa 9 e 10
 

 

Thaís Regina Leopoldo (Mapa 01), aluna da Escola Municipal Padre Afonso, da professora Ivanete Dalla Costa Guarda, obteve o mérito do trabalho mais original.Ela retrata no mapa, muito bem, as noções de: proporção (escala), perspectiva (bem distribuídos no espaço e na representação), as coordenadas geográficas (latitude e longitude), as convenções e simbologia (com a legenda identificando todos os itens inseridos no desenho), bem definida a inclusão espacial na representação.

O aluno Paulo Roberto De Lima, (Mapa 02), estuda na Escola Municipal Perseverança, tem como professor Vanderlei Antônio Gallina. Recebeu o título de segundo mérito.Ele representou bem as categorias proporção e perspectiva, nos contornos do município, inseriu uma via de acesso, ao fundo contemplou prédios e residências distribuídos aleatoriamente como na realidade.

Daniélli Signori, (Mapa 03), estuda na Escola Municipal D. Pedro I, sua professora é Vera Lúcia Antes, obteve o terceiro mérito.A aluna representou as categorias inclusão no espaço, convenção, representatividade nos contornos do município, inseriu bem os símbolos que representam a cidade de Marmeleiro. Inseriu a árvore a qual descreveu como a espécie símbolo que representa Marmeleiro.

Jean Luis Farias, (Mapa 04), estuda na Escola Municipal D. Pedro I, professora Ana Maria Dalla Rosa, obteve o quarto mérito pela originalidade do desenho. O aluno apresentou a categoria cartográfica da representação pictórica. Retratou o contorno do município, o urbano e o rural. Na área urbana inseriu casas, carros, ruas pavimentadas e indústrias. Na área rural, o rio faz a divisa com a cidade.

Amanda Caroline Loch, (Mapa 05), estuda na Escola Municipal D. Pedro I com a professora Rita Cleide Biava Arise e obteve o quinto mérito.Ela mostrou no seu mapa as categorias proporção, coordenadas e perspectiva. Mostra o urbano enfatizando o centro do município, onde destaca a presença do hospital, a igreja, a escola, o parque, áreas verdes, residências e o comércio. Apresentou bem a visão em perspectiva.

Jhonatan Luis Castoldi, (Mapa 06), estuda no Centro Educacional João XXIII, com a professora Alice Chioquetta, obteve o sexto mérito. Ele desenhou o centro de Marmeleiro onde está inserida a prefeitura municipal, a praça, a avenida e o acesso a Igreja Matriz. Em uma visão aérea ele a projetou em perspectiva a realidade, com proporção.

A aluna Maiara Bressiani, (Mapa 07), estuda na Escola Municipal Padre Afonso com a professora Ione Maria Maciel Maier, obteve o sétimo mérito. Ela retratou os contornos do município, aspectos do urbano e do rural, a legenda, as vias de acesso e as coordenadas geográficas.

Rodrigo Walter Juntes, (Mapa 08), estuda na Escola Municipal São Judas Tadeu, tem como professora Juleide Maria Gehlen e obteve o oitavo mérito. Ele retratou o urbano e o rural. Sendo que no primeiro, inseriu a prefeitura, a praça, os veículos, as vias de acesso, a ``Mata Nativa'', enquanto local de lazer e no âmbito representativo do rural, apresentou árvores, residências com cercados e a Igreja. Com ênfase nas categorias: proporção e coordenadas geográficas.

Valter Felipe Padilha, (Mapa 09), estuda na Escola Tio Patinhas com a professora Sandra Aparecida Martins, obteve o nono mérito. Ele descreve os contornos da cidade e o centro, as quadras, terrenos baldios, estacionamentos, casas comerciais, pessoas, o rio e seus afluentes. Apresentou legenda e a seguinte frase: ``Eu vejo Marmeleiro evoluindo''. Enquanto categorias apareceram bem: proporção e coordenadas.

A aluna Fabiane Faoro Weitbrecht, (Mapa 10), estuda na Escola Municipal São Judas Tadeu com a professora Lourdes Spoltti, recebeu o décimo mérito. Ela representou como categorias: a proporção e as coordenadas no desenho. Retratou a zona rural, os aspectos mostrados no mapa foram inseridos com significativa proporcionalidade, as residências, o cercado de animais, as árvores, o lago, o ônibus escolar.

5  Algumas Considerações

Os mapas mentais das crianças apresentam importantes reflexões sobre aspectos do ensino do espaço geográfico nas séries iniciais do ensino fundamental. Grande enfoque foi dado pelas crianças para alguns aspectos mais significativos para elas como a escola, a prefeitura, o centro da cidade, a igreja. Estiveram presentes, na maioria dos desenhos também: o comércio, a área do urbano e do rural. A delimitação do município, a passarela enquanto símbolo do município, por ser considerada ``a passarela do sudoeste''. As rodovias, pois o município é um entroncamento de três, uma federal pavimentada BR -- 373, ligando Marmeleiro à Barracão, duas estaduais pavimentadas, PR- 280 ligando Pato Branco à Francisco Beltrão e a PR -- 180 ligando Marmeleiro à Campo Erê em Santa Catarina.

A questão dos pontos cardeais traz a certeza da presença do conhecimento das coordenadas geográficas pelas crianças. Embora é um conteúdo difícil, eles demonstraram que aprenderam. A legenda apresenta a categoria convenções, uma das propostas na nossa análise dos mapas mentais dos alunos participantes e que trouxe a certeza do entendimento por parte das crianças sobre conteúdos temidos por muitos professores como a visão em perspectiva, escalas, coordenadas geográficas e das convenções.

Um ponto que merece cuidado é ao trabalhar sobre o município, o professor precisa dar atenção a questão da inclusão do espaço sempre atento ao local e não desmerecendo o todo, para que a criança possa fazer a relação. Verificou-se em muitos desenhos forte a divisão urbano-rural. É preciso saber identificar que ambos são importantes, um está integrado ao outro, existem relações entre ambos. Na questão: transporte, educação, saúde, lazer, economia, política e social, meio ambiente, apareceram com grande enfoque nos mapas das crianças.

As professoras comentavam da dificuldade que encontram para trabalhar o conteúdo sobre o município, devido à falta de materiais referentes ao assunto. Essa carência dificulta o aprendizado, pois, a visualização do mapa ajuda a desenvolver o cognitivo da criança, uma vez que as informações nele contidas são as principais fontes de conhecimentos sobre o espaço geográfico não presente ou mais distante.

As crianças demonstraram conhecimento das noções de localização, de proporção, de simbologia, de significados dos signos e dos elementos representados como as convenções. Conforme Clark (1985), os principais marcos urbanos tendem a dominar a imagem coletiva e as áreas centrais são percebidas muito claramente, provavelmente porque é a parte da cidade mais visitada pela população urbana como um todo.

De nada adianta ensinar sem a preocupação com o aprendizado. Por isto, sempre que possível o ensino deve estar atrelado à pesquisa, pois as contribuições serão mais qualitativas tanto para docentes quanto para os discentes.
``O espaço é, simultaneamente, noção e categoria. É noção no sentido de estrutura mental que se constrói desde o nascimento até a formalização do pensamento e é categoria como objeto de estudo da Geografia. (...). A Aquisição da noção de espaço é um processo complexo e progressivo de extrema importância no desenvolvimento das pessoas''. (PCN, 2001, p. 157).
Nossa preocupação foi referente a como esses alunos visualizam o município, como o representam no mapa, através dos limites, aspectos ambientais, o rural e o urbano. Enfim, o que é mais expressivo para eles, daí a questão: ``Como vejo Marmeleiro no Mapa?''.

Não é difícil para a criança perceber o que passa ao seu redor. No entanto, faz-se necessário um estímulo mediador para que a mesma formule e represente esta visão, suas idéias e seus anseios, importante para o aprendizado, principalmente de mapas.

O aluno deve sentir satisfação no aprendizado, deve associá-lo, compartilhá-lo, o conhecimento deve ir além das quatro paredes da sala de aula. É preciso estimulá-lo a refletir sobre o assunto, a imaginar, comparar o real à sua representação, para que o conhecimento possa ser de fato compreendido. Faz-se necessário quebrar a rotina, fazer dinâmicas de ensino, ``provocar'' o aluno a buscar e entender. Afinal, em muitos casos, para conhecer e aprender é preciso fazer.

O aluno do ensino fundamental é capaz de observar, conhecer, explicar, comparar e representar as características do lugar em que vive. Diferenciar paisagens e espaços geográficos. É importante resgatar as imagens dos lugares vividos, dos lugares percebidos, considerando o conhecimento dos alunos e a partir dos mapas mentais, é possível compreender o nível de organização espacial em que se encontram em relação ao espaço geográfico que habitam: a cidade, o bairro, o município, o estado, o país, o mundo e vice-versa.

Realmente, ler e representar o espaço não são tarefas fáceis, porém nada como a imaginação de uma criança, aliada as suas lembranças e ao aprendizado. Que se faça realçar aos olhos e na mente dos alunos as representações do espaço vivido e aprendido. Aliados a isto, mais o desejo de aprender e de conhecer tão expressivos na criança, possibilitam o desenvolvimento cognitivo que possibilita o entendimento do real e de sua representação.

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Eliane Maria Gonçalves Padilha é Licencianda do curso de Geografia da Unioeste - Campus de Francisco Beltrão - E-mail:elianemaria7@hotmail.com. Mafalda Nesi Francischett é Professora do Curso de Geografia da Unioeste de Francisco Beltrão; do Mestrado em Letras de Cascavel. E-mail: mafalda@wln.com.br.