Tendo em conta a ``Falta de unanimidad sobre como debe ser una notícia
difundida través de Internet''2, torna-se imperioso avaliar os modos de produção
informativa para e através da rede internacional de computadores,
recorrendo a uma metodologia de trabalho com bases sólidas, que permita
um desempenho mais eficaz, sempre que se enuncie uma notícia digital.
Inquietação idêntica é trazida por Chris Lapham, que
equaciona o problema desta maneira, ``The bottom line, whatever the medium,
is how well you tell a story''3.
Embora este seja o momento de avaliar os procedimentos que permitem a
construção de uma notícia on-line, é determinante reconhecer que
``Cyberspace belongs to readers, not writers''4. A validação desta teoria surge
em Newswriting for the Web, um estudo do The Poynter Institute of Media Studies da Universidade do
Alasca Anchorage. Sustenta Carole Rich, ao introduzir as linhas centrais da
investigação, que ``The journalist who carefully crafts a story with
a lead, middle and ending is at the mercy of World Wide Web users who
resemble TV couch potatoes with a mouse for a remote control. With a world
at their fingertips, readers can link to another Web site in an instant
before they even access the story''.5 Este é o cenário real. Cada vez mais, a decisão
encontra-se na ponta dos dedos, remetendo a escolha para o círculo das
preferências individuais. Cumprir na internet, o formulário de
requisitos do jornalismo tradicional, significa, antes de mais, não
estar conforme o novo media, no limite, desenvolver um trabalho de qualidade
e eficácia altamente duvidosas.
Lembra a autora que, inclusive, no formato tradicional, a notícia
produzida corre igualmente riscos de não ser lida na totalidade, ou
olhada apenas de rompante. ``But news stories on the Web offer more
diversions and problems. With a multitude of links to others sites and
technology that causes poor readability and slow download time, getting and
keeping readers attention is more difficult on-line than a print''.6
Vale a pena fixar as questões principais deste estudo, de modo a
contextualizar a investigação que se pretende realizar. Interroga-se
Carole Rich
Objectivo
Começar a notícia pela notícia. A clareza do objectivo é
meio caminho andado para que essa notícia seja lida com eficácia.
Na estruturação de uma notícia, o que é verdadeiramente
importante, não pode aparecer descrito no corpo da mesma, ou na pior das
hipóteses em rodapé.
Conteúdo
A forte aposta nos conteúdos, faz da notícia matéria prima por
excelência da nova linguagem digital. A ênfase do jornalismo é
agora colocada na esfera dos conteúdos disponíveis on-line.
Identificar a fonte de informação é determinante para
credibilizar a notícia. Com a proliferação de experiências
infomativas na rede, torna-se crucial reconhecer a quem pertence determinado
site, quem escreveu determinada notícia. Esta preocupação ao
nível dos conteúdos é fundamental para que se estabeleça a
fronteira nítida entre a actividade jornalística e a propaganda,
publicidade, etc.
Daí que a descrição dos conteúdos com base na
hipertextualidade, deverá permitir ao utilizador aceder a links
reconhecidos pelo jornalista e pelo media em questão. Desta forma fica
reforçada a idoneidade dos destinos sugeridos ao longo do texto, dos
seus recursos e fontes.
Organização
A contenção no desenvolvimento da notícia pressupõe que a
escrita se desenvolva com base numa estrutura arborescente. O hipertexto vai
permitir que a informação se alongue no justo equilíbrio entre
os elementos disponíveis para a construção da notícia e o
interesse do leitor. Ao analisar as novas Cartas de Navegação, Carlos Correia constata que
``(...)o modelo interactivo possui um sistema estruturado de menus e
submenus, portos de abrigo primários e secundários a partir dos
quais a navegação interactiva se pode iniciar, desenvolver e
abrigar''13.
A ligação dinâmica, assinalada pela cor contrastante ou por
outra diferença gráfica, remete possiveis desenvolvimentos, para
leituras transversais do documento. As páginas secundárias, assumem
o papel de background, ou, narrativa particular de uma das componentes da
notícia. Ao construir as ramificações de um jornal, ou de uma
notícia Melinda Mcadms apercebe-se da necessidade de ser flexivel na
construção ``(...)a design or hierarchy that we think is very good
may have to be changed substantially if we discover that users find it
unwieldly or unintuitive''.14
A clareza da organização é determinante para a arquitectura da
escrita, por isso, sugerem-se palavras, conceitos e metáforas,
absolutamente determinantes e essenciais Melinda Mcadms defende que ``A
fundamental principle of this venture has been that the newspaper metaphor
provides a superior structural model for an on-line service''15. Mcadms sustenta
que ``The importance of a good user matephor can not be understimated. (...)
A designer must choose metaphors that help the users understand the system.
The newspaper metaphor uses the ``front page'' as the entry point to the
system; it relies on headlines to tell users what items in the system are
most important; it employs division into sections similar to the sections of
a large metropolitan daily. It does not restrict the content of the system
to the content of newspaper, but it promotes an assumption that users can
follow a typical newspaper organizational structure to find any information
they want''.16
Está subjacente ao comentário de Mcadms uma preocupação,
absolutamente determinante no universo das novas tecnologias, ou seja, o
modo como o homem se relaciona com a máquina e vice-versa. Daí que,
a optimização do interface seja decisiva para que se retire o melhor
partido dos recursos apresentados ao público. No entanto, a defesa da
metáfora enquanto entidade integradora, através da
estimulação visual, de construções aproximadas a objectos do
quotidiano, ou a sínteses de funções está longe de ser
consensual.
Ted Nelson é um dos críticos da utilização da metáfora,
enquanto elemento de representação digital. O recurso ao desktop, é no
entender do criador do hipertexto, uma amálgama afixada no ecrã, que grosseiramente estabelece pontos de
contacto com a realidade quotidiana. Por seu lado, Nicholas Negroponte,
director do Media Lab do MIT sonha com um computador semelhante ao homem. A defesa desta
ideia remete o conceito de interface para um conjunto de
características absolutamente fundamentais ``(...)precisa de possuir
uma configuração, uma forma, uma cor, um tom de voz e todo o poder
de atracção sensorial''17. Negroponte
chega a personificar esta interface ideal - um mordomo inglês com muito estilo... Um agente de interface que
estabelecesse as diplomacias, fizesse cumprir os protocolos, de modo subtil
mas imediato e eficaz.
Um outro contributo decisivo parta enquadrar esta questão, surge nas
propostas de Brenda Laurel, uma referência fundamental quando se trata
de estabelecer um diálogo frutuoso entre o conhecimento académico e
a prática instrumental. A autora defende a aproximação entre o
interface gráfico e o teatro, uma forma de avaliar os processos de
mediação entre utilizador e máquina através das mais
variadas figuras da representação. Laurel sugere uma
aproximação entre duas funções específicas: o
construtor de interfaces gráficas e o director de teatro, já que
ambos têm muitas coisas em comum.
De acordo com o enquadramento teórico referido é possível
identificar, telegraficamente, algumas situações que se apresentam
como referêncial ou padrão:
O recurso a títulos, sub titulos, ligações dinâmicas deve
pontuar a notícia, de modo equilibrado, para que não provoque
dispersão na leitura. A escrita por tópicos, limitada às
principais guide-lines, do tipo - um parágrafo, uma ideia; sugere uma
construção sustentada na simplicidade e no recurso ao essencial.
Não só as palavras, mas também as fotografias, os vídeos, a
infografia, o som devem confluir na organização interna da
notícia. A combinação dos elementos envolvidos permite
acrescentar novos métodos de abordagem, enriquecendo a notícia, e
dando ao leitor coordenadas várias que complementam o todo informativo.
Um media on-line terá que ter uma preocupação fundamental com a
escrita. A capacidade de síntese é determinante para uma boa
construção da notícia, aconselhando-se a reduzir para metade as
palavras que, eventualmente poderiam ser escritas num media tradiconal.
Organizar a notícia de modo a permitir uma leitura rápida. Está
provado que perante um ecrã de computador fica mais reduzida a
capacidade de leitura e compreensão. O utilizador não tem por
hábito ler os documentos, em vez disso, utiliza a visão como um scanner,
identificando blocos e estímulos ao longo da narrativa.
Porque a leitura se faz em parcelas, a fórmula clássica de
pirâmide invertida, tem sido adoptada pelo novo media, ainda que nem
sempre cumprida à risca. A graduação da notícia consiste em
reduzir a importância dos seus elementos à medida que se desenvolve.
Primeiro a resposta à notícia, depois os pormenores, por último
o background da informação.
Estilo
No contexto da informação on-line, esta característica não assume
um papel preponderante. O estilo é, frequentemente, moldado pelo
próprio meio de comunicação social onde se exerce a actividade.
No entanto, faz sentido falar em estilo pessoal e intransmissível
(sobriedade/exuberância, protagonismo/discrição, etc.), que em
circunstância alguma poderá colidir com as regras gramaticais e os
preceitos linguisticos. Pretende-se que impere uma abordagem directa,
factual, afastada de editorialismos e preceitos rebuscados. A informalidade
e o estilo coloquial devem sobrepôr-se às abordagens formais.
Propositadamente, a análise sobre a Audiência, será desenvolvida
no próximo subponto do trabalho, já que as questões que lhe
estão subjacentes serão articuladas com a Leitura e o processo de
construção da narrativa
Uma outra abordagem é ainda proposta por Jakob Nielsen ao avaliar em
How to Write for the Web quatro modelos de escrita. Um modelo fundado nos sites comerciais, propondo
uma abordagem promocional da informação, recorrendo ao uso de
adjectivos; outro na concisão dos textos, utilizando, em média,
metade das palavras das utilizadas num modelo tradicional. Uma terceira
proposta assente numa página que possibilita a busca de
informação como se a visão tivesse a característica de um
scanner; por último um formato de escrita baseado numa linguagem
objectiva, ausente de adjectivos. Notaram os autores que ``The concise text
was the most popular, followed by the scannable model with bullets and then
the objective language model.''18
A estória digital
Tendo em conta as característica enunciadas, que pretendem ser
orientaçõs para encarar a notícia on-line, podemos afirmar, que é
o carácter multimédia que vai tornar original esta unidade
informativa e a sua renovada organização interna. É essa riqueza
de produção, de encenação dramatúrgica que leva Pierre
Levy a considerar que uma escrita baseada no hipertexto ``estará
seguramente mais próxima da montagem de um espectáculo do que da
redacção clássica''19. Tal
como na montagem de um espectáculo, também aqui se depreende que
haja um colectivo de especialistas em vários domínios de modo a
levar à boca de cena a produção noticiosa mais completa e
estimulante.
Esta ideia de realização cinematográfica, surge também no
estudo de Carole Rich. Quando a autora se debruça sobre o On-line Writing Process, é
identificada, à cabeça uma ideia estruturante - tudo começa com
o planeamento da estória. Esta é a etapa em que se avaliam as
notícias e os recursos técnicos que a vão cruzar, mas
também o corpo humano necessário para que tal tarefa se realize.
Jeff Garrard, Produtor Executivo da CNN Interactive, um dos convidados a opinar nesta
investigação sobre a experiência do site que produz, refere que
o planeamento da estória envolve uma equipa vasta, da qual se destacam o
autor/escritor, o editor, um especialista em Multimédia e pessoal
técnico. Habitualmente, as linhas fortes da actualidade são
colocadas num quadro, e a partir daí é feita a selecção das
notícias que vão integrar a página. Passos seguintes: ``Then a
writer and associate producer team up. The writer sifts through wires, CNN
reportes and video feeds. The associate producer tracks down multimédia
elements and consults with a multimédia designer. A Web editor then
searches the Internet for appropriate links''.20
Mas antes mesmo da notícia começar a ser teclada, é crucial
descrever o seu storyboarding. A construção desse mapa informativo afigura-se
determinante para que a estória se encaixe sem sobressaltos, e para que
fiquem inventariados todos os elementos e recursos imprescindíveis.
Carole Rich define esta etapa da construção noticiosa - ``A
storyboard is a diagram like an organizational chart. Each chunk of the
story is a box on the chart. Including audio and visual elements. The
storyboard is a concept borrowesd from film or cartooning where each panel
of the cartoon is a box in the diagram showing the sequence''.21
Ainda no estudo desenvolvido por Rich, surge uma outra abordagem que
enriquece a análise sobre o processo de construção da
notícia on-line. Leah Gentry enquanto dirigiu editorialmente a versão
digital do Los Angeles Times sugeriu uma forma de formatar a actualidade, apostando num
processo de Desconstrução e Reconstrução. Desconstruir uma estória significa cumprir estes
procedimentos ``Divide your story into component pieces. Look for
similarities and relationships between the pieces. Group those that are
similar''22. Cumprida esta primeira fase, sucede-se o
processo de reconstruir a narrativa ``Then use a storyboard to diagram the
relationships between the groupings''23 Para que a notícia, enquanto unidade discursiva faça
sentido, Gentry entende que deve ser encontrado o seu componente
fundamental. Quer isto dizer que ``Every story has a micro element, the part of the story
that must be linear. For example, a man walk into a room and is shot. The
man must have walked into the room before he can be hit with the bullet, so
that sentence is the micro story, a linear part that explains what the story
is about. It could be a sentence or paragraph similar to a nut graph or
several paragraphs''.24
Todos os desenvolvimentos que tenham a ver com o resto da estória, dizem
respeito à macro story, ou seja, contexto e informação relacionada com o
enredo central. Já na fase de abordagem multimédia, Leah Gentry
é defensora da libertação da notícia através dos mais
variados recursos. ``Not all parts of the story have to be text''25. Devidamente articulados, a directora editorial do Los Angeles Times digital, defende o recurso a imagens, som gráficos, etc.
Também John Caserta, Web Designer do Chicago Tribune entende que
``Design is communication of information in a clear way. Text is not always
the best way to communicate it. I think the traditional story should be
questioned''26. Gentry deixa, no entanto, um alerta, em
relação ao uso de recursos e tecnologia de forma exagerada e
gratuita. Os excessos podem traduzir-se na ampliação do ruído,
e numa óbvia perda de eficácia informativa.
A variedade de meios e recursos, a confluência de dados de natureza
diferente, faz da notícia multimédia uma unidade síntese de
contaminações e mestiçagens. A abordagem que é sugerida por Gonzalo Abril remete esta nova figura
do jornalismo e dos media para um patamar inovador da produção
informativa. A simbiose que se afigura, remete a análise para renovadas
inquietações avaliadas nestes termos: ``(...)entre cotidianeidad y
fantasia, entre experiencia sentimental y discurso racional, entre
narración dramática y argumentación, entre repetición e
innovacion; dicotomías que remiten al abigarrado y paradójico
engranaje entre e proyecto ilustrado de lo público e la expresión, a
menudo resistente, de las culturas populares sometidas al orden
capitalista''.27
Deixando de lado a interpretação política, as dicotomias
assinaladas traduzem os parâmetros em que as estórias do quotidiano
se enquadram. Ou seja, a construção da notícia, e mais ainda da
notícia on-line, aproxima-se progressivamente da ficcionalização e da virtualização dos factos28. O discurso das
notícias será o espaço, por excelência, das tecnologias
audiovisuais e dos múltiplos recursos da comunicação. O produto
final resultará da performance conseguida pelos vários profissionais
envolvidos e pelo cruzamento das fontes. Com este pano de fundo, Abril
defende que ``La hipótesis de que los hábitos y disposiciones que
orientan nuestra experiencia cultural han sido intensivamente trabajados por
una cultura audiovisual espectacularizante, desrrealizadora y generadora de
incertidumbre cognitiva y moral no es descabellada''29.
Neste sentido, a notícia multimédia surge como a mais recente curta
metragem da actualidade ao mostrar os factos, com a riqueza da mise en scéne e
apresentada na subtileza do plateau. Doravante, a notícia não surge apenas
para servir ``(...)o sangue discursivo ou o discurso sanguinário na
taça de cristal de um banquete que acompanha a morte do
imprevisível''30. A partir deste momento, ao relatar os factos com
elementos de várias origens, ao compor a realidade da forma mais
espectacular, ao buscar o sucesso da sua apresentação, a
notícia multimédia, produz, constrói, organiza, planifica,
realiza, ficciona, serve o fim trágico, por exemplo, da Princesa Diana.
A mais recente estrela do jornalismo electrónico mostra a cada segundo
que passa a produção noticiosa mais elaborada da história do
jornalismo mundial.