AS INFLUÊNCIAS DAS NOVAS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL NA FORMAÇÃO POLÍTICA

CRISTIANE PIMENTEL NEDER

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Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo no Departamento CTR – Cinema, Televisão e Rádio, sob a orientação do Prof. Dr. Marcello Giovanni Tassara. Aprovada na data de 05 de junho de 2001, no curso ciências da comunicação, da área de concentração em comunicação e estética do audiovisual.


SÃO PAULO, JUNHO DE 2001


RESUMO:

Esta dissertação de mestrado tem como objetivo discutir as influências que as novas tecnologias de comunicação exercem sobre a formação política da sociedade.

Contém temas atuais que abordam a dicotomia do desenvolvimento tecnológico à frente do desenvolvimento social.

Mostra como a história dos meios de comunicação sempre esteve interligada aos acontecimentos políticos nacionais ou internacionais; como a política usou os meios de comunicação para abranger a sociedade; como os políticos se servem dos meios de comunicação para beneficiarem a si próprios e como os meios de comunicação manipulam a sociedade em favor de sistemas políticos que lhe interessem.

O uso público dos meios de comunicação pode ser meio de libertação ou de dominação na sociedade, dependendo de quem tem o poder de informar e de conduzir a informação para a formação de uma sociedade democrática ou autoritária, e de como a partir do surgimento das novas tecnologias de comunicação a sociedade se organiza e de como ela é influenciada pelos meios em menor ou maior escala.

A relação tempo presencial e tempo virtual, o estar presente estando ausente, como as novas tecnologias diminuem as distâncias no mundo, como as culturas se difundem umas com as outras em tempos de globalização, pasteurizando-as a favor de um mercado econômico mundial, e como tudo isto ocorre em um tempo curto e vivencialmente falso e sintético, em detrimento real de tempo cronológico histórico.

As várias mega-fusões das empresas de comunicação formando conglomerados enormes nas mãos de poucos homens com poderes políticos inéditos mais fortes do que os poderes dos próprios políticos e da própria sociedade, usando dos meios de comunicação para manipular a sociedade mundialmente em beneficio próprio e do capital internacional. O perigo de uma ditadura tecnológica e do poder da imprensa substituir o próprio poder democrático, levando ao absolutismo e ao totalitarismo desenvolvido pelos meios de comunicação, atuando como chefes de Estado assessorados pelo desenvolvimento tecnológico.

A sociabilidade na multimídia, como as pessoas estão se relacionando em comunidades virtuais a partir do surgimento das novas tecnologias de comunicação e de como o ser humano está perdendo ou ganhando novas sociabilidades através da utilização das técnicas. A sociedade sintética, o pensamento, o amor sentidos através dos meios e a política exercida através da cibernética. Como os relacionamentos humanos estão mudando desde quando as novas tecnologias fazem parte do quotidiano “humano”.

Os políticos robôs e os homens públicos sintéticos que as novas tecnologias de comunicação formam aliados aos efeitos do “marketing media”. Os discursos políticos frios formados dentro dos estúdios de tevê e do computador, os homens públicos de carne e osso transformados em fantoches através dos recursos técnicos. Os políticos que não têm mais ideologia e nem programa de governo, são movidos pelos efeitos das pesquisas de opinião pública de dos comentários de imprensa. Os políticos inconstantes que fazem política, cercados pelo palanque eletrônico e não pela vontade popular.

A favela eletrônica: A modernidade convivendo com as desigualdades sociais. Como as novas tecnologias de comunicação estão sendo inseridas nos países de terceiro mundo, e como as inovações técnicas e informacionais estão a frente do desenvolvimento político e social. As disparidades de miséria, do analfabetismo, da falta de moradia e de alto índice de doenças convivendo ao lado da revolução das novas tecnologias de comunicação.

As pessoas que se relacionam, trabalham e se divertem usando as novas tecnologias como suportes de novos ambientes sociais de convívio e de relacionamento humano. Os garotos e garotas de “programa”, a nova geração de jovens que formam um nicho de pessoas basicamente virtuais.

A questão da democracia, as discussões políticas dentro da rede, as novas formas de fazer manifestação política usando das novas tecnologias de comunicação. Análise de se a democracia vivencial sempre foi virtual e se a democracia virtual só não oficializou a forma de democracia real no ambiente virtual.

O trabalhador virtual e as novas formas de escravidão na rede, denominadas com tema de ciber-escravos que formam no seu conjunto uma espécie de senzala eletrônica. Como as novas tecnologias escravizam o ser humano em nome do mercado mundial?

O trabalho foi concluído dando perspectivas futuras de como as novas tecnologias de comunicação vão influenciar no desenvolvimento e na formação política, e de como o próprio tempo futuro se torna fictício no universo cibernético, e no tempo real presente, e de que a promessa de modernização acaba desempenhando uma função política de vender o futuro somente pela finalidade de avanço tecnológico e não social.

ABSTRACT:

The objective of this master's dissertation is to discuss the influences that the new communication technologies have on the political formation of society.

It is divided into up-to-date themes that are influenced by the dichotomy of technological development confronting that of social development.

Since the history of communications has always been interlinked with national or international political events, and vice versa, politics has used communications to embrace society. So too the politicians have used communications for their own benefit and they have used communications to manipulate society in favor of a political system, which benefits them.

The public's use of communications as a way of freeing or of dominating society depends on who has the power to inform and direct information for the formation of a more democratic or more authoritarian society. And since the appearance of the new communication technologies society is now being organized and is being influenced by these to a greater or lesser degree.

The relationship between real time and virtual time, which is absent right now, how the new technologies decreases distances throughout the world and how cultures are influencing one another with globalization. They are being ’pasteurized’ in favor of a world economic market, and how all of this is happening in such a short time. This process is essentially false and synthetic - in detriment to real historical chronological time.

The various mega - fusions of the communication companies have concentrated enormous conglomerates in the hands of a few individuals who have incredible political powers - powers stronger than those of the elected politicians and of society itself. They are using all the means of communication to globally manipulate society for their own benefit and that of international capital. There is a danger of a technological and press dictatorship substituting democratically elected governments - turning media bosses into heads of state through the absolutism and totalitarianism made possible by technological development.

The social interaction of the multimedia, linking people together in virtual communities - started from these new communication technologies human beings are losing or winning new sociabilities through the use of these techniques. The synthetic society, thinking and loving in now being done and felt through these means. Even politics is coming through the cybernet. How human relationships are moving too since these new technologies make part of our daily life.

The political robots and the synthetic public men from the new communication technologies have formed allies with those of ‘the marketing media’. The impersonal political speeches being made inside television and computer studios are transforming the real men of flesh and blood into puppets through technical resources. The politicians no longer have an ideology or program for governing - they are governed by the effects of public opinion polls and press comments. Fickle politicians are making decisions surrounded by electronic gadgets and not by the will of the people.

The electronic slum: How the modern world is living with social inequalities. How the new communication technologies are being installed in third world countries, together with the technical and it innovations, which are at the forefront of political and social development. Disparities of misery and illiteracy; the lack of housing and the high index of diseases exist together with the revolution in the new communication technologies.

The way people relate to each other, and how their relationships at work and socially using the new technologies makes for new social atmospheres of conviviality and human relationships. The boys and girls of ‘these programs’ are the new generation that forms a niche of virtual people.

Then there is the question of democracy; the political discussions inside the netiand the new forms of making political protests using the new communication technologies. Also analyzing if the democratic experience is always virtual and if virtual democracy only makes official a form of real democracy in the virtual environment.

The virtual worker and the new forms of slavery on the net, known as cyber - slaves who form a type of electronic slave quarter. How do the new technologies enslave the human being on behalf of the world market?

The work concludes by giving future perspectives on how the new communication technologies will influence the development of political opinion, and how future time becomes fictitious in the cybernetic universe of present real time. And how the promise of modernization ends up fulfilling a political function of selling the future only for the purpose of technological and not social progress.



SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO: As Influências das Novas Tecnologias dos Meios de Comunicação na Formação Política

CAPÍTULO 1: Os Meios de Comunicação e o Poder: as influências das novas tecnologias de comunicação como meios de dominação e libertação

CAPÍTULO 2: Tempo Presente e Tempo Virtual: o estar ausente estando presente, e as diferenças culturais das nações nos processos das difusões

CAPÍTULO 3: A Ditadura Tecnológica: o absolutismo e o totalitarismo das mega-corporações

CAPÍTULO 4: A Sociabilidade na Multimídia: a cibersociedade e os relacionamentos “humanos”

CAPÍTULO 5: Os Políticos Robôs e os Homens Públicos Sintéticos

CAPÍTULO 6: A Favela Eletrônica: a modernidade convivendo com as desigualdades sociais

CAPÍTULO 7: Os Novos Garotos e Garotas de “Programa”

CAPÍTULO 8: Democracia Virtual

CAPÍTULO 9: O Trabalhador Virtual e os Ciber-Escravos da Senzala Tecnológica

CAPÍTULO 10: De Volta Para o Futuro

CONSIDERAÇÕES FINAIS/CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



INTRODUÇÃO:

As Influências das Novas Tecnologias dos Meios de Comunicação na Formação Política

“A pergunta sobre o sentido da política exige uma resposta tão simples e tão conclusiva em si que se poderia dizer que outras respostas estariam dispensadas por completo. A resposta é: O sentido da política é a liberdade”.[1]

As novas tecnologias dos meios de comunicação social estão começando a revelar os seus primeiros efeitos e como eles se apresentarão nos próximos anos. Isto não significa que os países mais desenvolvidos economicamente irão ter maior sucesso no acesso as informações do que os demais.

Esta pesquisa, sobre as influências das novas tecnologias de comunicação na formação política, foi desenvolvida a partir dos próprios meios impressos, televisivos e da Internet. Foram coletadas diversas matérias entre os principais jornais do Brasil e do mundo, reproduzidas na mídia nacional.

O trabalho se estruturou da mídia a partir da mídia, da fonte da pesquisa para o próprio objeto de pesquisa. Se vamos falar sobre meios de comunicação, penso que não há melhor fonte para se retirar informações e coletar dados do que os próprios meios. A pesquisa constituiu em buscar seu observador no seu próprio espelho de projeção, e nisto reside a característica essencial desta pesquisa.

Questões como: “Quem são as pessoas que controlarão estas informações?” “Qual valor estará disponível ao consumidor?” Refletem o surgimento de novas classes sociais tiradas do ‘web style of life’, do web estilo de vida, ou pela própria discriminação produzida pelo acesso fácil, dado que somente poucas pessoas têm recursos financeiros para ter ou usufruir deste estilo de vida.

Esta proposta consiste em analisar como a sociedade irá se dividir, entre aqueles que podem possuir meios eletrônicos para ingressar no novo contexto social informatizado e aqueles que nem sequer sabem lidar com os meios e as novas tecnologias.

As pessoas estão procurando suas “tribos” e encontram-se fragmentadas em gostos e estilos pessoais e individuais. As tendências das novas televisões a cabo por sistemas participativos e interativos mexendo com a velha tendência do telespectador passivo que só recebe informações e não emite, o ‘pay-per-view’, o pagar pelo que se assiste. Os canais segmentados por gostos e opiniões abrindo um leque de debates públicos nos meios virtuais que criam uma espécie de arena democrática eletrônica, que nos próprios ‘chats’ e salas de discussão da Internet costuma-se chamar de democracia virtual.

Como o virtual pode ser atualizado na democracia dita convencional, e se ela realmente é participativa, ou somente manipulativa, ou seja, votada pela maioria tendenciosa das opiniões fraudadas pelas redes de informação, ou dadas realmente pelo público usuário. Questiona-se, no próprio conjunto do texto, se a democracia dita convencional é vivencial, se não é tão manipulativa quanto participativa, e se os meios eletrônicos e a realidade virtual imitam a democracia fora da cibersociedade, como se a nossa sociedade também não fosse real, mas imaginada e criada pelos meios eletrônicos.

O passado da televisão convencional e do rádio, assim como os meios de comunicação modernos, já haviam causado mudanças sociais e modificações políticas antes da aquisição pela humanidade da Rede Internet e dos meios eletrônicos de informação. Como os líderes políticos fizeram uso do rádio e da televisão para fazer seus palanques políticos, e como os atuais políticos são motivados pelo “marketing-mídia” e não mais por programas partidários e pelas idéias políticas.

As legislações e as constituições dos países vêm sendo mudadas e conturbadas por causa das novas mídias e das novas tecnologias; as grandes fusões dos mercados dos meios de comunicação, as mega empresas engolindo outras mega empresas ainda maiores ou iguais em tamanho, e as empresas pequenas e médias de comunicação nacionais sendo devoradas pelas empresas internacionais, no surgimento dos monopólios sem concorrência, e dos novos “deuses” do mercado do entretenimento e da informação comandando o mundo através de satélites.

As matrizes européias e norte-americanas sem bloqueios econômicos. A falta de políticas de regulamentação destes acordos comerciais, criando a imposição de uma minoria que tem o poder de aquisição dos meios de comunicação ao restante do mundo. O mundo miniaturado, parecendo televisão em polegadas, o mundo que cabe na palma da mão, o universo local de cada nação sendo desmembrado em função de uma política imposta pelos meios de comunicação, conveniente e multinacional da atual globalização, onde novas tecnologias e meios eletrônicos fazem parte deste novo cenário político internacional.

As características dos novos políticos que são meio robôs-máquinas e meio cidadãos de carne e osso. Os políticos que não têm mais sensibilidade popular e verdade no olhar. O olhar de vidro eletrônico na tela do computador ou do vídeo que faz da propaganda política um show de efeitos especiais e de promessas sociais futuristas, mas quase sempre sem futuro algum.

Os estereótipos dos novos políticos que parecem garotos propaganda de bens de consumo e não de ideais, as imagens idealizadas e criadas pelos meios não são a de homens de ideologias formadas por partidos, mas a da pesquisa e a do Ibope realizada pelas mídias. O voto que a sociedade deposita nas pessoas idealizadas e não nos programas partidários, a queda das ideologias e o enfraquecimento das utopias como um todo não só no novo universo midiático, mas também na realidade mundial presente, reflexo da terceira onda informatizada.

A maior interatividade das pessoas com as novas mídias, os recursos acoplados (texto, vídeo, áudio) num único lugar, gerando ao mesmo tempo pluralidade de pensamento e esgotamento cultural. A vida em rede compactuada e ampliada, ao mesmo tempo os séculos se passando em segundos com o arquivamento da historia em enciclopédias virtuais, acumulando os ensinamentos milenares em dias, os segredos místicos em redes, as filosofias e ciências em chats, tudo sendo duplicado também a cada segundo em Cd-roms ou em home-pages.

As necessidades políticas e sociais dos seres humanos sendo repensadas, não segundo um padrão de conduta social quotidiano, mas segundo um padrão de conduta estereotipada pelos personagens e pelas estórias realizadas dentro da artificialidade dos meios.

O desejo de o povo buscar uma exteriorização de sua própria imagem num meio de comunicação, ligado mais à imagem, principalmente da televisão, é um fenômeno criado a partir de um vácuo das sociedades pós-industriais que, desde a revolução industrial na Inglaterra despertou no ser humano a necessidade de se exteriorizar para se autoprojetar. Hoje, buscando no infinito do mundo das novas tecnologias, essa necessidade se intensifica como forma de recuperar a capacidade lúdica enlatada pela fabricação em massa e em série dos comportamentos herdados por essa nova fase robótica e capitalista retórica.

“Na modernidade industrial, o dinamismo das ciências e das novas tecnologias participa da reconstrução permanente do cosmos, o que revela a face divina do homem como Criador, ao qual se associa, no entanto, a alienação. Pode-se reconhecer na transformação do olhar a longa distância, pelo telescópio de Galileu, um choque a partir do qual se separam o mundo e o universo”.[2]

CAPÍTULO 1:

Os Meios de Comunicação e o Poder: as influências das novas tecnologias de comunicação como meios de dominação e libertação

“Há um século, o conflito entre a imprensa e o poder é uma questão da atualidade, mas toma uma dimensão inédita hoje, porque o poder não é mais identificado só ao poder político (o qual, além disso, vê suas prerrogativas roídas pela ascensão do poder econômico e financeiro) e porque a imprensa, os meios de comunicação de massa não se encontram mais, automaticamente, em relação de dependência com o poder político; o inverso é quase sempre o caso. Pode-se até mesmo dizer que o poder está menos na ação do que na comunicação”.[3]

Há uma visão estereotipada na sociedade do que seja política. Sempre se pensa em política como algo vinculado aos gabinetes públicos, partidos, agremiações políticas ou sindicatos e, pior ainda, existe a convicção de que as pessoas que fazem política são somente aquelas ligadas a esses órgãos de representação popular, jurídica ou pública.

“De todas os ramos da filosofia, Aristóteles acreditava ser a política o mais importante, por ser ela a única capaz de assegurar uma vida boa às pessoas. É impossível garantir o bem individual já é por si só desejável, fazê-lo no caso de um Estado ou de um povo é algo muito mais nobre e sublime”. [4]

Segundo alguns estudiosos de comunicação, a política não se faz na arte, a não ser quando a arte tem caráter ideológico; há preconceitos, às vezes por parte dos mesmos, em contextualizar novelas, filmes, livros ou desenhos animados como obras políticas. Veremos que elas, mesmo os desenhos animados e as histórias em quadrinhos (que parecem serem obras ideologicamente inocentes) nada têm de inócuo, pois são muitas vezes impregnadas de características de cunho político. Obras artísticas em geral, mediadas ou não pelos meios de comunicação e pelas novas tecnologias, são elementos de formação política, de maneira direta ou indireta.

Isso até pode agredir artistas de esquerda engajados, mas, mesmo os que se propõem a ser alternativos, têm que aceitar a realidade de que cultura e arte são mercados, são serviços, são produtos disponíveis no mercado. Até os alternativos formam uma facção de produtores diferenciados, e mais do que nunca, na era da informática, cultura e informação são armas de sobrevivência dentro do mercado, tanto artística quanto profissionalmente.

Cercados por “fetiches” e conceitos rudimentares em relação ao que seja política, alguns estudiosos de comunicação e profissionais da área dizem que não estudam ou fazem política em suas atividades profissionais e, pior ainda, afirmam que não fazem política porque não se envolvem em política de militância ou de representação sindical, que são apolíticos por serem apartidários, sem filiações em partidos políticos.

“A comunicação política não será restabelecida pela habilidade de conselheiros em comunicação ou em ‘political marketing’, ela virá de baixo, das 'gentes’ que marcam hoje os meios de exprimir ou mesmo de formular o significado social e político das experiências dos problemas em que vivem. E eu não proporia esta idéia se não observasse que a mídia de todo tipo logra melhor êxito, ou seja, é mais lida ou mais executada quando assume melhor este papel. Em vez de lançar seu desprezo sobre a mídia, os intelectuais deviam contribuir para demarcar o papel de expressão dos anseios, das iras e esperanças da maioria, que devem e podem ser aqueles da televisão, do rádio e da imprensa escrita”. [5]

Não percebem, muitas vezes, que não estudam somente radionovela, cinema novo, dramaturgia, nouvelle-vague, ou o conteúdo que existe implícito em todas essas manifestações artísticas, divulgadas ou não através dos meios de comunicação. Muitos deles infelizmente não conseguem ver que por detrás de todas estas manifestações, ocorrem as circunstâncias históricas marcadas por características políticas e sociais de uma época, que deram pano de fundo para a origem de todas elas, portanto quanto mais cavam fundo na historia das tendências artísticas e surgimentos de movimentos estéticos, mais o tecido social político vem a tona e fica descoberto, tanto quanto sua superfície se torna transparente e tocável.

É como ir caminhando num labirinto e abrindo portas semi-abertas, procurando sempre uma saída. Mas, quando se chega ao final, na última porta, que está trancada, o segredo para abri-la é cruzar pelo campo político, pois a epiderme de todos os estudos humanos é o tecido social, porque está abaixo das cicatrizes da vida humana.

Debaixo de todas as máscaras socioculturais, como arte, cultura, tecnologia, mercado, comportamento, modismo, religião e outras, a política vai sempre ser encontrada. E como se a política fosse um ralo por onde tudo deságua.

Os meios de comunicação utilizam-se, da forma indireta, de belas mulheres e homens bonitos, enredos e roteiros fantásticos e não fazem discurso direto. Além disso, nem sempre os autores têm consciência de serem formadores políticos, porque, em sua maioria, estão cobertos por uma mega estrutura (Hollywood, Rede Globo, Time) a serviço de um sistema ou de um conjunto ideológico.

Tenho a preocupação, neste trabalho, de fornecer às pessoas uma visão política ampla, para que elas possam entender o tema em uma extensão mais abrangente. Escolhi, como campo de estudo, as influências das novas tecnologias dos meios de comunicação, mas a política permeia os outros caminhos, embora por sua amplitude torna-se impossível analisá-los exaustivamente.

O objetivo é o de mostrar que a política está fora e dentro das relações mediáticas, fora e dentro das próprias relações políticas entre si, que se movimenta em um fluxo contínuo histórico por onde as relações sociais se movimentam, seja dentro dos meios de comunicação ou não, da arte ou não, e que ela se desloca em fluxos dentro deles e dos seus valores culturais, que nascem de várias ramificações, mas sempre brotadas da mesma raiz: a do poder político.

Obviamente, nem sempre a questão política ocorre em via direta como nas produções de filmes em série sobre questões da guerra realizados por exemplo nos períodos da Primeira e da Segunda Guerra; nem sempre vão ser desnudadas aos olhos do receptor. Ao contrário, na maioria das vezes, passam de forma sutil, são sedutoras por outras maneiras, e não precisam de manifestos para se manifestar, nem de operários nem de políticos tradicionais.

“...a política não está nos poderes, na ideologia, na técnica, na organização social e nas rupturas geo-históricas. A política está também e sobretudo nas nossas utopias e nos nossos afetos, as nossas escatologias e visões do mundo que se defrontam em cada um de nós e cujas lutas partidárias não passam de ecos ensurdecedores. A parada é alta, trata se aqui do fim da comunicação. Trata-se do aparecimento do tautismo, dos seus fundamentos, do seu sentido, do seu futuro”. [6]

Hoje, quando se discutem as influências que as novas tecnologias de comunicação exercem na vida política, tanto na partidária quanto na social, em escala planetária, parece que estamos falando de algo completamente novo e que ocorre fora da sociedade, do corpo econômico e das relações políticas. Em parte estamos falando de algo novo mas, por outro lado, isso nunca teve um significado histórico tão profundo.

As novas tecnologias de comunicação são objetos de poder. A história dos meios de comunicação sempre esteve aliada à história política mundial ou local, desde a invenção dos primeiros meios de comunicações impressos: livros e jornais.

“A esfera do debate público surge na Europa, no século 18, graças ao aparato técnico da imprensa e dos jornais. No século 20, o rádio (sobretudo nos anos 30 e 40) e a televisão (a partir dos anos 60) deslocaram-se, ampliaram-se e confiscaram a um só tempo, o exercício da opinião pública. Não se pode ver, hoje, uma nova metamorfose, uma nova complicação da própria noção de ‘público’ já que as comunidades virtuais do ciberespaço oferecem ao debate coletivo um campo de prática mais aberto, mais participativo, mais distribuído que o da mídia clássica? Quanto as relações ‘virtuais’, elas não se substituem pura e simplesmente aos encontros físicos nem às viagens, antes as auxiliam na preparação. Em geral, é um erro pensar as relações entre os antigos e novos dispositivos de comunicação em termos de substituição”.[7]

Os meios de comunicação, por sua vez, interferem em todos os âmbitos da vida pública, familiar e das comunidades, interligando as partes um todo desconhecido.

Quando os meios de comunicação passam a ser elementos de formação política, temos que ver que isso faz com que sejam também modificados todos os contextos políticos, bem como a historicidade da humanidade, enquanto agentes próprios de suas ações históricas.

O rádio, o simples rádio, teve vários momentos decisivos na política. No Brasil, basta lembrar o Ganha Corpo do Movimento Queremista, por exemplo, entre tantos:

“Luís Carlos Prestes, o líder comunista, lançou no estádio do Pacaembu, em São Paulo a Campanha ‘Constituinte com Getúlio’. Menos de um mês depois, 13 de agosto, lideranças sindicais e funcionários do Ministério do Trabalho, sob inspiração de Hugo Borghi, promoveram comícios transmitidos pela rádio para todo o país. ‘Queremos Getúlio! Queremos Getúlio!’, era o slogan gritado em uníssono. Em 20 de agosto, novo comício no Largo da Carioca foi transmitido para todo o país pelas Emissoras Tupi e Tamoio”. [8]

Depois, com a invenção da televisão, o rádio perdeu a força de sua influência, permitindo que o novo veículo de comunicação se tornasse a “toda-poderosa” máquina de influenciar a sociedade, aquela que faz com que os parafusos de uma estrutura engrenem sem que se perceba que estão engrenando.

“A televisão se caracteriza por uma coisa: entretenimento relaxa e diverte. Como dizia anteriormente, cultiva ao homo ludens, porém a televisão invade toda nossa vida, se afirma inclusive com um dormidor. Depois, de haver ‘formado’ as crianças, continua formando, de algum modo, influenciando os adultos por meio de ‘informação’. Em primeiro lugar, lhes informa notícias (mais que noções), e depois proporciona notícias do que acontecem no mundo, por distante ou acerca que sejam. A maioria destas notícias termina por ser desportivas, ou sobre sucessos, ou sobre assuntos do coração (ou lacrimogêneas) ou sobre diferentes catástrofes. O que não é óbvio para que as notícias de maior repercussão, de maior importância objetiva, sem que se trate de informação política. As informações sobre a polis (nossa cidade). Saber de política é muito importante, porque a política condiciona toda nossa vida e nossa convivência. A cidade perversa nos encarcera, há pouco ou nada livre da malha política -que obviamente inclui a política econômica -que nos empobrece”. [9]

Eles têm o poder coletivo da ação comunicacional e da ação política que nasce da forma de influenciar o outro, de influenciar suas vontades e escolhas do outro e de toda a sociedade. Por isso, a comunicação e a política, acredito, estão sempre ligadas e de braços dados com a História.

Com a Historia, porque não é nem velha nem habitual, mas sempre em mutação; dos primeiros desenhos na caverna, do homem primitivo, à retratabilidade de sua imagem na fotografia para o cinema, da voz do telefone e do rádio para a televisão, da televisão para o vídeo, do vídeo para a tela do computador, do computador de grande porte para o computador sofisticado em tamanho pequeno e de uso pessoal, do telefone comum para o celular e, por último, da comunicação com todos esses elementos combinados no computador, com todos os recursos do áudio ao vídeo.

“Mas poderemos observar que todas as tecnologias de vanguarda, eu digo todas, das biotecnologias à inteligência artificial, do audiovisual ao ‘marketing’ e à publicidade, se enraízam num princípio único: a comunicação. Comunicação entre o homem e a natureza (biotecnologia), entre homens em sociedade (audiovisual e publicidade), entre o homem e o seu duplo (a inteligência artificial); comunicação que proclama a convivialidade, a próxima ou mesmo uma relação de amizade (friendship) com o computador. Mas há mais: a comunicação torna-se a Voz única, aquela que pode unificar um universo que tenha perdido pelo caminho qualquer outro referente. Comunicamos. Comunicamos pelos instrumentos que têm exatamente enfraquecido a comunicação: eis o paradoxo a que estamos voltados”. [10]

Todas as tecnologias juntas, redimensionadas, melhoradas e ampliadas. Isso é permitido entre tantas coisas, tornando a comunicação planetária e não somente local, com o advento da Internet.

Essas novas tecnologias de comunicação são, portanto, uma amálgama de tudo o que o homem já inventou até hoje para se comunicar com seu semelhante, de forma dinâmica, moderna e sofisticada.

“A máquina é, pois, um simples utensílio para que o homem cumpra sua a ação mais facilmente. E essa metáfora não nos comove muito. Consideramos ‘natura’ utilizar termo ‘máquina’ para uma qualquer instrumentalização dos meios ‘naturais’ de transporte de um ponto para outro. No limite, a máquina nos parece merecer o nome de metáfora. Dizer máquina ‘equivale’ a colocar em evidência uma característica inteiramente comum de um conjunto de elementos que funcionam em ligações para alcançar um objetivo ou cumprir uma tarefa determinada”. [11]

As novas tecnologias de comunicação em si não têm a capacidade e o poder de influenciar as pessoas, pois elas são tão somente artefatos de comunicação; o poder é construído por um discurso comunicativo, e esse discurso é que deve ser analisado, porque ele nunca pode ser neutro.

“O termo tecnologia como termo moderno, é sinal de que a técnica representa o papel de suporte para uma sociedade dividida. Este mesmo termo designa o discurso (logos) técnico, sentido autônomo de reflexão, que, longe de contribuir para uma filosofia de sujeito, se confina no estudo dos objetos de que confirma a legitimidade”. [12]

O avanço da tecnologia contemporânea que faz a relação dos meios de comunicação com a sociedade mudar, porque as técnicas só se aprimoraram, mas são as mesmas que sempre estiveram presentes na história. O que mudou, portanto, é a forma de exercer e por em prática as técnicas na sociedade atual, ou seja, a utilidade tecnológica se tornou política e pública, na medida em que passou a ser usada politicamente na sociedade.

O homem ampliou seus canais de expressão, da linguagem rudimentar para a linguagem cibernética. Todo esse processo serve para explicar que os sistemas políticos não nascem do nada, porque é preciso que haja um meio de preparação para sua fermentação ideológica, física e social.

“Em um mundo feito de objetos técnicos, o homem deve contar com a organização complexa de hierarquias que ele sofre. A idéia de domínio apaga-se para dar lugar à de adaptação. Utilizando essa preposição em, o homem insere-se num outro modelo, o de organismo, que faz parte de uma relação interna das partes ao todo. A metáfora do organismo comanda os desenvolvimentos de uma ecologia universalizante e encontraremos o traço disso nas muitas teorias da comunicação. O artefato não é, pois, o utensílio, mas o próprio meio, ao mesmo tempo político, social e econômico, biológico, tal como o ideológico, no seio do qual o homem se completa a si mesmo, sem poder ultrapassar os limites nem recusar a presença. O computador não foi exatamente expulso, porque nós vivemos com em um mundo pleno de máquinas e isto é para nós uma espécie de natureza”. [13]

CAPÍTULO 2:

Tempo Presente e Tempo Virtual: o estar ausente estando presente, e as diferenças culturais das nações nos processos das difusões

“Não havia datas. Esse era um característico das gentes daquele lugar: ninguém sabia muito bem do tempo. Os únicos calendários que existiam no povoado eram da casa dos Amarais e o do vigário, o Pe. de Lara. Os outros moradores de Santa Fé continuavam a marcar a passagem do ano pelas fases da lua e pelas estações. E quando queriam lembrar-se dum fato, raramente mencionavam o ano ou o mês em que ele se tinha passado, mas ligavam-no a um acontecimento marcante da vida da comunidade. Diziam, por exemplo, que tal coisa tinha acontecido antes ou depois da praga de gafanhotos, dum inverno especialmente rigoroso que fizera gelar as águas das lagoas, ou então duma peste qualquer que atacara o trigo, o gado ou as pessoas. Muitos sabiam de cor o ano de muitas guerras. Os velhos diziam: ‘Foi na guerra de 1800...’, ou ‘Foi na de 1811... ou 1816... ou 1825. Mas o espírito na maioria, principalmente no das mulheres - que faziam o possível para esquecer as guerras -, essas datas se misturavam. Era por isto que o túmulo de Ana Terra não tinha datas. Ninguém sabia em que ano ela nascera; todos porém se lembravam de que a velha morrera exatamente no dia em que chegara a Santa Fé a notícia de que os 33 de Lavalleja tinham invadido a Cisplatina”. [14]

Hoje o intercâmbio de informações de forma rápida e dinâmica é uma realidade, mas as conseqüências dessa velocidade são, também, preocupações nos dias atuais.

O impacto das novas tecnologias propicia uma difusão extremamente ágil. Mesmo o modo de aprender, divertir-se e trabalhar se torna novo, e muito mais prático. Para que essa praticidade se concretizasse, houve mudanças substanciais nas formas da linguagem, na leitura das linguagens e na concepção das relações sociais em si.

No próprio trabalho acadêmico, procedimentos eram muito mais trabalhosos antes da invenção do computador, do fax e da Internet; na execução das tarefas nas quais era necessário, por exemplo, utilizar cola, tesoura, máquina de escrever. A cada passo interrompia-se o ato de escrever para apagar com borracha e refazer, em um complexo de operações estafantes.

Hoje, ao elaborar um texto em um microcomputador ou fazer modificações, o processo é mais simples; por fax é possível enviar e receber textos; pela tevê a cabo pode-se ter contato com diversos documentários estrangeiros da televisão do mundo inteiro; pela Internet é possível acessar links sobre os assuntos preferidos e participar de debates e discussões acerca dos temas relacionados.

Vejamos que o mundo, antes das revoluções tecnológicas na área da comunicação e em outras, ainda era definido por fronteiras estabelecidas por acordos políticos, por tratados, ou delimitações territoriais e pelas descobertas feitas nas áreas das ciências e da navegação.

Grande parte dos padrões culturais de um dado sistema social não foi criado por um processo de produção própria, ou seja, autóctone, mas copiada de outros sistemas culturais. Aos empréstimos culturais os antropólogos denominam difusão, e essa difusão massifica o processo de produção cultural. Com o uso das novas tecnologias da comunicação de informação, esse processo de difusão sofre uma aceleração e modifica, no contexto geral, a divisão geopolítica do desenvolvimento das nações.

“Padrões originários do Oriente Próximo, mas modificados na Europa Setentrional, antes de ser transmitidos à América. O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo Próximo; ou de seda cujo emprego foi descoberto na China. Todos estes materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama faz uso dos ‘mocassins’ que foram inventados pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são uma mistura de invenções européias e norte-americanas, umas e outras recentes. Tira o pijama, que é vestuário inventado na Índia e lava-se com sabão que foi inventado pelos antigos gauleses, faz a barba que é um rito masoquístico que parece provir dos sumerianos”. [15]

Essa difusão cultural acontece sem uma consciência clara, pois sua evolução, às vezes, passa despercebida aos olhos das pessoas leigas em pesquisa científica, por ter ocorrido ao longo dos séculos, de forma gradativa e contínua, sendo resultado de várias invenções e estudos.

“É humano que a fantasia responda a estímulos - e são muitos estimulantes as novidades científicas antes de estarem concretamente incorporadas à vida social. É também muitas vezes incontível, antes as façanhas tecnológicas, a tentação de investi-las de faculdades tecnológicas, a tentação de investi-las de faculdades como ‘formar um novo tipo de indivíduo’, ‘moldar a consciência’ ou ‘revolucionar o planeta’. Por outro lado, não são menos simplificadoras algumas evidências recorrentes de que a cultura norte-americana impõe-se ao mundo para moldá-lo à sua imagem e semelhança. (...) Um dos exemplos mais corriqueiros da inexorabilidade dessa americanização em escala mundial é a rede de lanchonetes Mc Donald´s, embora a difusão da pizza italiana e da comida chinesa alcancem as mesmas proporções - livres, no entanto, da acusação de destruir hábitos alimentares autóctones e autênticos”. [16]

No contexto da cultura visual contemporânea, a tecnologia se transformou em cultura, na cultura cibernética. Ao mesmo tempo, essa tecnologia possibilita o contato com outras dimensões e o encontro com novas geografias. A cultura de hoje não se constrói mais somente no plano do tocar a cultura do outro por processos históricos relevantes e por sua absorção natural, pois vivemos uma cultura translocal, que ultrapassa os limites da territoriedade.

“Tome-se como exemplar da ‘world music’, modo como passou a ser designado, inicialmente nos EUA, um conjunto relativamente heterogêneo de formas musicais originárias de diversas regiões do planeta. A rigor, essas musicas têm em comum apenas a vinculação a situações étnicas ou localistas, ainda que possam adotar procedimentos da modernidade: é o canto árabe, é a toada brasileira, são as vozes búlgaras ou os batuques africanos”. [17]

Hoje, a uniformização dos meios eletrônicos e, principalmente, as uniões das empresas da área, compondo aglomerados gigantescos e de porte internacional, produzem a massificação da cultura ocidental.

“Talvez nunca as nações ocidentais tenham-se visto, como hoje, na contingência de conviver com a diversidade cultural no interior de suas próprias fronteiras. Se a ‘invasão americana’ é um tema importante na pauta da esquerda das periferias, a invasão do ‘Terceiro Mundo’ também é para a direita dos países centrais”. [18]

Para a concretização desse projeto capitalista de futuro ocorrem as megafusões, envolvendo as grandes empresas de telecomunicações, de computadores, de entretenimento e de jornalismo. Tudo vai se misturando e a igualdade nasce da anulação do diferente, através do aborto do senso crítico. A escravidão contemporânea acontece em não se saber anular a manipulação da idéia coletiva das mídias, e em aceitá-la como uma adaptação da verdade coletiva, feita por estas, fazendo com que uma metamorfose da desigualdade vire igualdade, através da ausência da comparação entre elas.

“O comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo que chamamos de endoculturação. Um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada”. [19]

A conquista é feita pela adesão acrítica dos conquistados. As imigrações já não acontecem apenas de uma terra para a outra como antes, mas de uma língua para a outra, para a língua que predomina nos meios eletrônicos; com isso, há povos inteiros imigrando sem sair do lugar, na consumação de um processo de “etnocentrização” dos padrões culturais europeus e americanos.

“O fato de que o homem vê o mundo através da sua cultura tem como conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais”. [20]

O empobrecimento cultural dos mais frágeis não se esgota aí. Ele parece deixar um reflexo no plano político, na cultura política. Pode-se ver isso na questão da falta prática da crítica nos espaços democráticos ditos, necessariamente públicos, com igual prejuízo da diversidade e da presença.

“Entretanto uma questão fundamental se coloca: como conciliar o respeito a singularidade, à diferença, à necessária autonomia do sujeito, em um contexto de globalização, com todas as implicações que daí decorrem? Como conciliar etnocentrismo com multiculturalismo? Heterogênese da história com a hegemonia das metas que visam a unificação das aspirações, desejos e necessidades que garantam um mercado comum e, portanto a dominação completa com a uniformização do discurso”.[21]

É sabido que a marcha de uma civilização sempre provocará a destruição de outras civilizações, e sempre foi assim. Mas, em nossos dias, com o uso das novas tecnologias, a televisão e os meios eletrônicos não podem ser responsabilizados sozinhos pelo estrago. Eles, porém, assumem um papel destacado ao arrematar o serviço: são veículos de comunicação, ou melhor, veículos de globalização, os interlocutores da palavra do mais forte sobre o mais fraco, cobrando inclusive o sacrifício dos idiomas mais frágeis.

A expansão dos mercados, a mesma que exige a subjugação cultural, depende da redução dos espaços críticos. A globalização passa como algo dotado de poder adormecedor, porque acontece muito menos pelo resultado de conflitos desse processo de endoculturação (ou seja, acontece muito menos pelo tratamento organizado, justo e transparente dos conflitos entre diversos interesses e muito mais pela adesão: mais ou menos como adesão conseguida pelas línguas dominantes da TV). Enfim caminha para conseguir a unanimidade.

Comecemos a falar das perdas culturais:

“Em primeira edição do ano de 1996 a revista semanal americana New Scientist publicou um artigo sobre a morte iminente de milhares de idiomas que ainda hoje são falados. Segundo Gail Vines, autor do texto, existem cerca de 6 mil línguas vivas. Metade delas deve sumir nos próximos cem anos. Pelo menos 2 mil já se encontram ameaçadas de extinção: nenhuma delas é falada por mais de mil pessoas”. [22]

Ao abarcar mais e mais públicos, a televisão pressiona pela prevalência de uma linguagem sobre as outras:

“Mais números: cinco línguas (o inglês, o russo, o espanhol, e chinês e o hindi) representam metade dos humanos vivos, e com mais outras cem teremos 95% da população do planeta. A diminuição da diversidade cultural é inexorável. Milhares de identidades culturais e lingüísticas estão virando poeira no passado”. [23]

Na busca por novos mundos e pela conquista de um padrão cultural de Primeiro Mundo, os telespectadores comuns somente aceitam a língua que essas novas mídias, reforçadas pelas novas tecnologias, falam.

Com as novas tecnologias de comunicação, os padrões culturais de cada país são ingredientes adicionais para uma única receita mundial, e assim se reproduz também em sua linguagem, como um pano de seda originário da China e que hoje é feito com pedaços de retalhos dos países mais desenvolvidos, tentando produzir uma única peça de seda autêntica, da mesma cor, da mesma textura e do mesmo corte.

“Marcuse (1966) já nos mostra que a operacionalização da dominação efetuada pela tecnologia através do fechamento do universo da locução leva a um comportamento unidimensional, tecnológico produzindo hábitos de pensar sociais uniformizando o que é diferente”.[24]

Sobre isso, Gail Vines cita a opinião de Rupert Murdoch, o mais famoso magnata da mídia mundial, para quem a homogeneização lingüística é uma força em prol da harmonia global e da eficiência econômica. O magnata analisa o caso da Índia:

“Com o advento dos meios eletrônicos, o hindi finalmente se espalhou, porque todo mundo quer ter acesso à TV de melhor programação”. [25]

Nesta lógica, podemos avaliar que, para que o hindi triunfasse, foi preciso que outros idiomas se rendessem. Mas, Murdoch vê neste fenômeno algo positivo. Um fenômeno semelhante ao da Índia pode acontecer na China.

Ordem e paz aparecem nesta citação como conseqüências da eliminação das diferenças. Nesse contexto, eliminar as diferenças seria como um desejo de eliminar, no plano ideológico, sustentando a manutenção das culturas submissas aos padrões sociais do colonizador sobre o colonizado, o desejo de homogeneizar para aniquilar o inimigo comum, ou seja, reforçar a indiferença através da aparência da igualdade.

“Note-se o rótulo, amplo para abarcar manifestações de todos os continentes, convive nos magazines com categorias tradicionais, de gênero ou origem, tais como pop inglês e bossa nova. Essa sobreposição é sugestiva e ajuda a compreender o estágio atual da mundialização cultural: um processo em curso, sugerido, mas não concluído, no qual formas culturais nacionais ou locais entram crescentemente em contato, desterritorializam-se, geram mediações e criam ‘terceiras culturas’”. [26]

Como se o branco pudesse tornar o negro branco, como se a cultura masculina calasse o desejo de emancipação feminina, como se o Ocidente desprezasse o Oriente pelo simples motivo de não ser um modelo retirado do projeto do colonizador. A imagem diferente do espelho neoliberal é a ameaça ao avanço do projeto capitalista como um todo, no final do século.

Com a revolução digital, é possível, para populações de inúmeras nações, integrarem-se sem sair do lugar físico onde estão situadas; é uma espécie de “alma digital”, que se desloca do corpo físico através da conexão entre objeto-máquina com o ser humano, em formato cibernético, pois o ser humano deixou de ser somente um corpo físico representado em uma figura com pele e osso e passou a ser um elemento imaginário dentro de uma rede eletrônica chamada de “information superhighway”, interligando todas as pessoas, empresas e órgãos políticos e diversos segmentos sociais por meio da Internet, da televisão a cabo, do computador, dos satélites de comunicação e da telefonia celular.

Com o advento das novas tecnologias de comunicação, no campo de domínio territorial, o que se vê é que hoje o mais importante não é delimitar os espaços de ocupação territorial (como antes era por espaço físico ocupado) ou por partes de determinado solo de uma nação sobre a outra. Hoje, a ocupação de idéias nos espaços mutantes das nações é o mais importante. Espaço mutante, porque é o espaço ocupado de forma globalizada, ou seja, um pedaço de cada nação em que não há nação nenhuma.

“Ao mesmo tempo que o capital tende, por um lado, necessariamente, a destruir todas as barreiras espaciais opostas ao tráfego, isto é, ao intercâmbio, e a conquistar a terra inteira como um mercado, ele tende, por outro lado, a anular o espaço por meio do tempo, isto é, a reduzir a um mínimo o tempo tomado pelo movimento de um lugar ao outro”. [27]

É como se as idéias estivessem em um lugar e em todos ao mesmo tempo. Isso não quer dizer que as idéias que os meios transportam não têm lugar fixo, de onde são transmitidas ou estruturadas em suas matrizes, que as gerenciam para depois transportar para um espaço físico transnacional.

As idéias flutuantes em espaços transnacionais geram comportamentos coletivos, e são muito mais perigosas do que as forças armadas de uma nação, porque as forças armadas usam força e violência para ocupar determinado solo, enquanto os meios de comunicação usam a sedução, a linguagem ideológica disfarçada de entretenimento e informação, e sem espaço aéreo delimitado. Porque as parabólicas e os satélites são os melhores soldados contemporâneos.

“A notícia do assassinato do presidente norte-americano Abraham Lincoln, em 1865, levou 13 dias para cruzar o Atlântico e chegar à Europa. A queda da Bolsa de Valores de Hong-Kong, na semana passada, levou 13 segundos para cair como um raio sobre São Paulo e Tóquio, Nova York e Tel Aviv, Buenos Aires e Frankfurt. Eis, ao vivo e em cores, a globalização. Não como fenômeno teórico, que já produziu um punhado de livros, ‘papers’, ensaios e muita incompreensão. Mas como um fato da vida real”. [28]

Hoje, o mais alarmante para a humanidade não são as armas químicas, como na Guerra Fria e nas Guerras da Terra. A Era da Informática e da Informação é marcada pelas bombas de dominação psicológica, pelas bombas das desigualdades sociais produzidas pela globalização, mais nocivas do que bombas químicas porque derrubam e atacam nações e governos sem demonstrar de forma transparente a arma que foi usada; formam opiniões e “estrangeirizam” nações inteiras sem mobilizar nenhum representante do exterior. Tudo é feito por meio de imagens e mensagens de forma estrategicamente elaborada e oficializada, como se nenhuma palha tivesse sido movida do palheiro.

“Cabe assinalar também a aparição de uma ideologia de corte biológico: a ‘ideologia espacialista’, com suas noções de ‘espaço de vida’ e de ‘fronteiras naturais’, base de legitimidade para muitos expansionistas futuros, isto é, o espaço vital considerado como expressão de as leis de o território animal, justificando a guerra, as conquistas e as invasões”.[29]

Os símbolos ideológicos que os meios de comunicação trabalham são mais eficientes e de maior penetração psicoemocional para influenciar a sociedade, para a tomada de decisões coletivas, do que os símbolos ditos verdadeiramente políticos, como bandeiras, escudos, brasões ou hinos.

O sonho do homem de estar em vários lugares ao mesmo tempo começa a se realizar por meio das novas tecnologias de comunicação. A maior influência, assim, é satisfazer sua vontade de ter infinidade na vida e no espírito, deixando seus rastros, marcas e registros históricos marcados para o futuro.

CAPÍTULO 3:

A Ditadura Tecnológica: o absolutismo e o totalitarismo das mega-corporações

“Que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro se vem a perder sua alma? Afinal, ele tinha compreendido; e a vida humana estava lá a sua volta, num palco de paz onde homens, como formigas, trabalhavam fraternalmente, seus mortos dormindo debaixo de quietos montículos”.[30]

Devemos analisar o quanto a sociedade se apresenta como meio de sedução para os meios de comunicação e, por outro lado, o quanto os meios de comunicação também são sedutores, por serem objetos de poder de informação e de domínio público.

“Nos encontramos em plena e rapidíssima revolução multimídia. Um processo que tem numerosas ramificações (Internet, ordenadores pessoais, ciberespaço) e sem embargo, se caracteriza por um comum denominador: tele-ver e, como conseqüência, nosso vídeo-viver. Em este livro centramos a atenção na televisão, e a tese de fundo que o vídeo está transformando o homo sapiens, produto da cultura, em homo videns para a qual a palavra está destronada para a imagem. Tudo acaba sendo visualizado. Porém, que sucede com a visualidade (que é a maior parte)? Assim, nos preocupamos com quem controla os meios de comunicação, não nos preocupamos de quem é o instrumento em si e por si mesmo, o que nos há escapado das mãos”.[31]

O poder não é um elemento próprio enraizado nos meios de comunicação, mas um elemento que faz parte da condição normal do ato de passar informação, da posse do saber ou da crença de saber.

O discurso das falas ideológicas é mais perigoso do que as forças armadas para ocupar uma nação.

“A guerra de 1914-1918 foi a primeira guerra total, e teve como uma norma fundamental o que para uns era ‘mobilização das consciências’, e que para outros era simplesmente ‘lavagem de cérebros’ ou ‘manipulação’. Foi um conflito a escala mundial que descobriria o marco próprio das operações militares, convertendo-se em uma guerra plantada também em os campos político, econômico e ideológico. Os beligerantes criaram organismos oficiais de propaganda e de censura. O mais ativo de todos em ação exterior foi a Crewe House britânica. Trabalharam em este organismo periodistas como Lord Northcliffe, proprietário de o Times, e novelistas como G. H. Wells e Rudyard Kipling. Londres era o centro emissor das notícias e referencia técnica em relação a informação ao mundo sobre a guerra. O governo dos Estados Unidos criaram o Comitê sobre Informações Públicas (Committee on Public Information), o Comité Creel (tomando o nome, Creel do periodista que o presidia) Edwards Bernardys (1892 - 1995), futuro fundador da indústria de relações públicas, daria seus primeiros passos em este comitê. A quantidade de rumores, de informações manipuladas, de temas falseados que tinham que circular era diretamente proporcional a severidade dos mecanismos da censura”. [32]

Cabe discutir em que grau de persuasão ocorre a interferência do poder das mídias na sociedade, quais são suas influências, pequenas ou grandes, na esfera política. Independentemente se de forma civilizatória ou colonizadora, não há como negar um papel político aos meios de comunicação e que seus poderes foram ampliados com a chegada das novas tecnologias de comunicação, prolongando, aumentando e até modificando aquilo que o rádio e a televisão já fizeram.

“O verdadeiro poder da imprensa, segundo Harold Laski , pesquisador norte-americano, vem de ‘sua capacidade de circundar os fatos por uma sugestão ambiental, normalmente apenas meio consciente, que procura um caminho para a mente do leitor e forma para esse leitor as suas premissas Freqüentemente jornalistas expõem os problemas da tecnologia na forma do mito ou drama social, elevando a ciência a um tipo superior de conhecimento e atribuindo àqueles que a atingiram idéias especiais sobre todo tipo de problema”. [33]

O problema é que há sempre, por detrás desses interesses, um boneco ou símbolo para representar seu funcionamento, como talvez Gorbachev e a Perestroika foram. É aquilo que os meios reforçam como desejo popular.

O cartaz do Dia Comemorativo da Imprensa, 10 de setembro, criado pela empresa de publicidade Lintas/Brasil em 1991, mostrava o seguinte: Sobre a foto de Mikhail Gorbachev, há o texto “22/08/1991: Mikhail Gorbachev reassume. Uma rádio que não se calou derrota os golpistas e seus ataques” -e em destaque -A Culpa é da Imprensa”. [34]

Pode haver certo exagero na colocação da mensagem do cartaz. Afinal, é um cartaz comemorativo, que ressalta e saúda as funções e qualidades da imprensa, e principalmente mostra aos olhos nus do leitor seu poder sem maquiagem.

Na antigüidade, a religião (clero) e a nobreza (reis) simbolizavam o poder e, para não serem contestados usaram durante séculos uma estranha figura sem face para simbolizar Deus. Da figura platônica do paraíso representado pelo céu, que ninguém sabe como é, ainda hoje as instituições conservadoras mantêm essas incógnitas intactas, no intuito de resguardar o seu poder.

Houve, nesses anos todos, a capacidade de mudança da colocação de poder, sendo que o poder nunca morre: ele só se transforma e se personifica em outras espécies, como nas entidades políticas e em seus representantes; amanhã, pode ser nos robôs, na moderna tecnologia, e depois transferir-se para a mídia.

O poder já não se concentra nas mãos dos políticos somente, até porque essa classe anda perdendo o poder para artistas, religiosos, empresários e outras personalidades que a mídia fabrica, ou para o próprio poder da mídia, colocando-se como poder principal através da sua influência na sociedade, apresentando vácuos de imperfeição na vida e na imagem dos políticos, nos casos de corrupção, traição familiar, falta de ética, etc. Porque a grande preocupação da mídia é resguardar o poder para si própria em primeiro lugar.

“Sem dúvida, nosso tempo”, escreveu Feuerbach, “prefere a imagem à coisa. A ilusão é sagrada, a verdade profana”. Isso significa a entronização do divino em objetos inanimados, a radicalização do feiticismo, o que ocorre dada a ‘vocação humana-divina dos homens’, que se manifesta em sua história ao dominar a natureza desconhecida e ameaçadora. Ao transformar o mundo, tornando-o ‘inteligível, controlável e seguro’, mesclando-se humanização-reconhecimento de si na exterioridade e teofania”. [35]

Uma das maiores influências que as novas tecnologias de comunicação podem exercer na formação e na estrutura política mundial é a de auxiliar regimes e sistemas políticos a ficarem descobertos.

“Uma comunidade virtual constrói-se sobre afinidades de interesses ou de conhecimentos, sobre a comunhão de projetos, num processo de cooperação e de troca - e isto independentemente das proximidades geográficas ou dos vínculos institucionais”. [36]

As novas tecnologias de comunicação servem como o “buraco da fechadura” de um país para o outro, em que um país pode supervisionar o outro sem usar espiões, aviões ou submarinos, radares terrestres, aéreos ou marítimos; elas anulam por completo a velha idéia de muros altos para sistemas políticos fortes e autoritários.

As idéias de muro de Berlim e Cortina de Ferro estão anuladas, não porque o comunismo mudou ou porque a Guerra Fria, tenha acabado, mas porque as comunicações no mundo mudaram. A grande revolução não veio das armas, mas da palavra e da imagem. Havia um mundo estruturado antes e depois do muro de Berlim e da Cortina de Ferro; havia também um mundo estruturado antes e depois de satélites, parabólicas e Internet.

“Parece ser verdade. Uma conseqüência disso é que, nas ditaduras, as pessoas muitas vezes buscam informações em outras partes. Estudos acadêmicos e do governo americano feitos nos anos 70 revelaram que na URSS, a maior parte da população ouvia transmissões estrangeiras, e a imprensa independente (‘Samizdat’) atingia quase metade dos profissionais e muitos trabalhadores de colarinho azul. Nos EUA, praticamente ninguém ouve transmissões estrangeiras, e até mesmo a imprensa levemente independente atinge apenas uma minúscula fração da população, em sua maioria instruída. (...) Se esses resultados forem corretos, indicam que, sob a tirania soviética, as pessoas tinham acesso a fontes de informação muito mais amplas do que os americanos, segundo alguns critérios”'. [37]

Não há como pensar mais em “guardar segredos” em um mundo globalizado, televisionado, plugado e conectado, do Oriente ao Ocidente, 24 horas por dia, de sol a sol. E por mais que jornal, televisão ou rádio tentem enganar as pessoas com idéias ou imagens manipuladas sobre determinado assunto, pessoa ou coisa, não conseguem mais, porque há os movimentos de poder alternativos, os grupos que não se atemorizam com a pressão de governos, religiões ou empresa e capital.

“O mundo inteiro assistiu, em direto e pela primeira vez, entre a estupefação e a incredibilidade, a uma espetacular concentração e ostentação dos mais sofisticados dispositivos tecnológicos. A recente demolição do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, acordos de redução de armas estratégicas e o entendimento entre as duas superpotências que, desde os acordos de Yalta, partilharam o mundo, ainda eram saudados e festejados com o prenúncio de uma nova era, de uma era de paz universal. Inesperadamente, perante o eclodir da Guerra do Golfo, as leituras messiânicas destes acontecimentos, ainda frescos na memória coletiva, esmoreciam e perdiam grande parte da sua credibilidade. Em vez do prenúncio da paz, o fim da guerra fria acabaria por vez, de maneira inesperada, a sua fase bélica, iniciando antes a emergência de novas modalidades do exército da violência”. [38]

Os grupos alternativos de poder são os que, por exemplo, fazem na Internet movimentos contra Pinochet; são os zapatistas; são os curdos. Deles todos recebo mensagens via Internet.

A eles, os meios de comunicação nunca deram licença para se manifestar, e só agora, com a Internet, eles podem tirar o “esparadrapo da boca”. Antes, puderam fazê-lo com as rádios piratas e os jornais alternativos, como o Pasquim, mas com a ameaça constante de intervenção do Estado: agora os Estados não têm controle sobre a imensa Torre de Babel da Internet, porque a rede é muito maior do que a malha de qualquer autoridade.

Os novos rebeldes, hoje, são os guetos que nascem à margem do desenvolvimento tecnológico, enquanto a tecnologia se reproduz nos laboratórios das multinacionais, vinda do berço das forças armadas, sendo que foi do medo americano de um ataque nuclear soviético que se originou a rede das redes, tornando possível a conexão entre milhões de computadores diferentes. A idéia de multiplicar a rede surgiu nos anos 60, quando Paul Baran concebeu uma rede de computadores na qual cada máquina seria capaz de orientar o trabalho das outras, independentemente.

“A rebeldia dos anos 90 se expressa por meio de atos não belicosos e mais discretos, de denúncia, quase imperceptíveis aos olhos do chamado grande público. Os alvos principais dos novos rebeldes não são os Estados e nações, mas publicidade, os meios de comunicação, as grandes corporações empresariais”. [39]

Quanto mais os meios interferem nas políticas locais ou estrangeiras, mais os desejos internacionais de um grupo se tornam desejos populares, porque a vontade de um povo é construída por símbolos que conjugam uma universalidade de valores entre homens e governos.

“A Internet, assim como a maior parte da tecnologia avançada, foi desenvolvida com dinheiro público, supostamente para fins de ‘segurança’, e agora está sendo entregue ao poder privado. Muitos analistas da indústria prevêem que, a continuarem os processos já em curso, o sistema será controlado, em grande medida, por algumas poucas enormes megacorporações internacionais. Elas, naturalmente, vão procurar modificar o caráter da Internet para atender a seus próprios interesses”. [40]

A televisão a cabo, a Internet, as tevês por fios de cobre, microondas, pelo Direct TV ou qualquer outro recurso técnico ou tecnológico novo propiciam tanto a imagem dos pedaços do Muro de Berlim caindo no chão quanto a transparência da Cortina de Ferro, em poucos segundos. Isso faz com que haja uma sensação imediatista de morte e vida, transformando o que é um fato histórico em parte do quotidiano universal.

A própria imprensa joga confetes em si mesma e se convence de que seu poder é a prova de fogo. As novas tecnologias de comunicação aumentaram esse poder de fogo, são a “bomba atômica” do século, pois as informações que percorrem o mundo em maior velocidade destronam governos, criam “cortinas transparentes” em oposição à antiga cortina de ferro, e os jornalistas sabem que a profissão deles é aliada ao poder.

“Coube a Gorbachev esvaziá-lo de vez, ao deixar claro, numa visita a Berlim, que o exercito soviético não apoiaria nenhuma repressão a manifestações populares. Conclamando os líderes alemães a fazer sua própria perestroika, ele vaticinou: ‘A vida castiga aqueles que vivem adiando as coisas’ a ponto de Egon Krenz, sucessor de Honecker, tomar em 9 de novembro uma decisão histórica: ele mandou abrir brechas no Muro de Berlim para que todos circulassem livremente nos dois lados da cidade. Terminavam assim os sombrios dezoito anos de vida dos mais polêmico símbolo da cortina de ferro”. [41]

Nesse conjunto de ligações comunicacionais, os desejos internacionais se tornam ainda mais internacionais, porque os canais de proliferação de idéias se multiplicam em nível global. O que temos que analisar, portanto, é se o resultado dessa política internacionalista das mídias comprova ou não uma integração internacional das nações, e se o encadeamento da política internacional deles pode ou não reforçar o sentimento local de nação.

“Há luzes amarelas de alerta acendendo nos corredores da Casa Branca e nas organizações de defesa do consumidor: cuidado com os monopólios. Um pequeno número de empresas gigantes vai controlar um naco muito grande de mídia eletrônica. O número preocupante é 50 %, ou seja, que uma só empresa de comunicação eletrônica consiga chegar à metade das 95 milhões de casas americanas”. [42]

Com as novas tecnologias de comunicação o sistema amputa de forma globalizante, de forma geral, não só local. O negro da favela da Rocinha e o africano de Angola estão agora no mesmo barco.

Não é de estranhar, por exemplo, que a comunicação mundial esteja dividida entre grupos relacionados aos mesmos grupos fortes econômicos mundiais, e os mesmos que gozem dos benefícios que hoje a globalização representa para os países ricos e desenvolvidos; portanto não é de estranhar que a democracia seja propriedade privada de alguns e franquia paga por outros, pelo fenômeno da globalização.

“Na globalização da economia, a cultura da humanidade sofreu um drástico empobrecimento. É uma constatação indiscutível, como logo se verá. Esse empobrecimento é acelerado pelos movimentos que a globalização provoca no campo dos negócios das comunicações: a disseminação planetária e uniformização dos meios eletrônicos, e principalmente as fusões de empresas da área compondo aglomerados gigantescos. Aglutinam-se blocos empresariais com poderes inéditos enquanto o homem perde em diversidade cultural.”[43]

Quando se observa que o número dos países mais desenvolvidos, o grupo dos oito, é quase semelhante ao número dos grupos que dominam a produção mundial de comunicação, divididos em sete grupos que formam o Império da Mídia, constata-se que comunicação e poder estão vinculados sempre, são montadores políticos eternamente. Mas quando blocos econômico-políticos se sobrepõem um ao outro, se castra a diversidade cultural pelo abuso do poder, do capital e da informação estrangeira.

“A dualidade política foi substituída por um consenso. Uma só superpotência impôs seu predomínio ao mundo, quase todas as sociedades procuram se aproximar de seu modelo. Com pouca variação de grau, há uma só receita econômica (o mercado), uma só fórmula institucional (a democracia), num mundo que tende inevitavelmente à ‘globalização’. Pois não se trata de um sistema estanque, mas que se propõe a enquadrar toda a diversidade étnica e cultural num mesmo modelo, já batizado como ‘fim da História’, desde que cumpridos os preceitos da livre competição e da técnica”. [44]

As artes e as informações locais se desmontam em conseqüência das influências dos megamercados internacionais que representam os Estados-Nações de um império só: o dos meios de comunicação.

“Se quisermos entender os órgãos de imprensa, devemos começar por perguntar o que são. Os maiores órgãos de imprensa são empresas enormes que integram conglomerados ainda maiores. São estreitamente integrados com o nexo Estado-privado que domina a vida econômica e política. Como outras empresas, vendem um produto a um mercado. Seu mercado é composto por outras empresas (anunciantes). O ‘produto’ que vendem é a audiência; no caso da mídia de elite, que estabelece a agenda para as outras, são audiências privilegiadas”. [45]

Esse império é, hoje assim constituído: Grupo Berstelsmann, base Alemanha (jornais, revistas, livros, gráficas, vídeo, cinema, televisão, rádio, música, multimídia, fábrica de papel, hits); Grupo Rede Globo, base Brasil (jornal, revistas, rádio, televisão, vídeo, livros, gráfica, música, multimídia, hits); Grupo Televisa, base México (televisão, música, multimídia, revistas, hits); Grupo Viacom, base EUA (televisão, cinema, editora, música, videolocadora, vídeo, multimídia, hits); Grupo News Corp, base Austrália (jornais, revistas, televisão, cinema, editoras, telecomunicações, multimídia, hits); ABC Disney, base EUA (jornais, revistas, televisão, cinema, editoras, telecomunicações, multimídia, hits), Grupo Time Warner (revistas, quadrinhos, editoras, televisão, cinema, vídeo, música, rádio, parques temáticos, multimídia, hits).

Há dois grupos fortes que não são do Primeiro Mundo -a Rede Globo de Televisão do Brasil e a Televisa do México -, mas usam recursos importados e imitam a programação norte-americana. Transmitem programações importadas, além de suas produções nacionais, mas com os padrões culturais estrangeiros. A herança de padrão estrangeiro na programação da televisão brasileira vem desde o início da história da Rede Globo, com seu acordo ilegal com o Grupo Time Life norte - americano:

“O Grupo Time - Life instalou-se no Brasil. A Rede Globo estava nascendo. O sistema que instalou-se no Brasil, em 1964, com o golpe militar, chegou para ficar por bom tempo”. [46]

Hoje o poder de comandar já não basta, a industrialização de idéias para influenciar coletivamente é a maior arma que as nações podem ter, e os meios de comunicação são veículos certos que abrem os caminhos para conduzir, porque conduzir é mais forte que dirigir.

A diferença é que conduzir é algo feito pelo poder do argumento e do convencimento, da persuasão, enquanto que dirigir é uma atitude imperativa. O poder de mandar e de dirigir é diferente do de influenciar.

Conduzir é um ato mais suave, a influência não é percebida diretamente, e nem precisa da autoridade para se realizar, por isto é que grandes líderes políticos, religiosos, militares e artistas não dirigem, mas conduzem e influenciam.

O poder de influenciar é mais abrangente do que o de mandar, porque a influência pode marcar a vida de uma pessoa. Há pessoas que por influência política tomam posicionamentos de direita, centro e esquerda, por influência religiosa tornam-se protestantes ou católicas, na arte recebem influências que se tornam tendências de uma linha de criação, como os estilos do cubismo, surrealismo, barroco entre outros.

“Todo militar deve saber que seu ofício é dirigir homens. Conduzir. É uma arte e, como tal, tem uma teoria, que é algo inerente à arte. Mas o artista é que é vital. Qualquer um pode pintar um quadro ou esculpir uma estátua, mas uma Pietà como a de Michelangelo ou uma Última ceia como a de Leonardo não existiriam sem eles. Qualquer um também é capaz de conduzir um exército, mas se o que se quer são obras-primas de guerra, como as batalhas de Alexandre, o Grande ou Napoleão, faz necessário um general que tenha nascido como eles, ungido pelo óleo sagrado de Samuel. Um condutor não se faz por decreto. Ele nasce feito. Assim como os verdadeiros artistas”. [47]

As influências das novas tecnologias de comunicação são exercidas pela construção das falas do discurso das mídias, e é necessário demonstrar que a tecnologia em si não tem poder, a fala ideológica de quem as domina é que tem poder.

“A própria tecnologia, em si, é neutra: pode ser usada para dominar e controlar ou para liberar. Depende de quem está no comando. Se, como se prevê, o sistema for entregue a algumas poucas megacorporações, será usado como apenas mais um meio de tentar transformar o público em átomos isolados de consumo, passivos e marginalizados, obedientes e separados uns dos outros. Isso não precisa obrigatoriamente acontecer, assim como não é característica necessária de outras tecnologias de comunicações - a imprensa escrita, o rádio, a televisão, etc. O poder privado e os órgãos do Estado que atendem a ele têm suas próprias pautas de prioridades, que são secretas, longe disso. A luta popular pode, como sempre, produzir um resultado diferente”. [48]

Um sinal objetivo disso é que a independência jornalística antes “cutucada” por profissionais e empresas da área que faziam críticas, com a cobertura da realidade, hoje, se apresenta relativizada em função do novo contexto dos meios de comunicação, sobretudo nos aspectos sócio-econômicos.

“O modelo televisual CNN vai também se impondo aos jornais e isto é muito grave. Na guerra, tivemos a ilustração disso: a imprensa se afastou da sua função de complementariedade pela análise, pela reflexão, pelo comentário, pela crítica, para fazer a mesma coisa que a TV - a informação espetáculo. Isso, precisamente no momento em que a transmissão ao vivo da TV tende se a tornar norma para os jornais. E numa entrevista ao Le Figaro, a diretora do Washington Post, Katharine Graham, se manifestou preocupada com essa evolução da informação espetáculo na imprensa. A demasiada concisão dos textos, a busca sistemática da notícia sensação, de uma ‘imagem-choque’ a ser encapsulada em poucas linhas, a lógica arbitrariamente redutora da escrita, tudo isso faz com que os jornais se pareçam cada vez mais com a televisão”. [49]

A televisão, que sempre se caracterizou como um aparelho, uma maquina que dá às pessoas um lado lúdico de entretenimento, foi, por diversas vezes, não só no nosso país como no estrangeiro, o sedativo político da sociedade.

“A lobotomia é tida hoje como neurocirurgia que incapacita as pessoas ao exercício da cidadania. Mas quando foi apresentada à imprensa parecia ser a solução de vários problemas. Dr. Walter Freeman, descobridor e introdutor da técnica, solicitou que jornalistas de ciências promovessem a técnica. A coletiva de imprensa sobre a cirurgia psiquiátrica refletiu a convergência dos esforços promocionais para divulgar a visão dos repórteres sobre a vida social vigente”. [50]

A própria legislação americana sobre a propriedade dos meios de comunicação, vem sofrendo mudanças com o objetivo de abrir terreno para as grandes fusões. No projeto de eliminar as diferenças, seu propósito é diminuir os conflitos de interesses, escolhendo um interesse particular para cobrir toda a sociedade.

“As transformações do regime de acumulação não tem nada de irreal. O discurso sobre a ‘mundialização dos benefícios’ é a cobertura ideológica que busca mascarar os fundamentos do regime de acumulação financeiro - rentista, bem como seu pobre desenvolvimento, revelado pelo último relatório do Unctad. Não há muito como negar o fato de que o novo regime de acumulação permite ao capital explorar a fundo e para seu exclusivo benefício as vantagens da liberalização. Nós não estamos diante de uma miragem”. [51]

Os novos Al Capones são aqueles que mexem com as vontades humanas e não com os crimes de natureza humana, são os donos e criados dos meios de comunicação, principalmente da televisão.

São os que vendem para a humanidade, por meio da publicidade, desde supositórios até xaropes, para tudo e para todos, em frascos de remédio ou em formato de sexo, de moda, de música ou de diversão.

Vendem e convencem. Induzem a sociedade a sentir determinados desejos e vontades que não são suas, da natureza social, porque ninguém nasce com dependência de cigarros ou bebidas, com vontade de comer chocolate, tomar Coca-cola ou comer pipoca quando vai ao cinema: são padrões de conduta adquiridos através dos meios.

Mas esses padrões de conduta têm chegado aos extremos da exploração, pois convencem até que cartilagem de tubarão pode curar câncer. Convencem-nos a formar determinadas imagens estéticas: um exemplo é o de que o certo é cultivar a estética de ser magro, bonito e bem sucedido na vida. Dessas imagens saem as figuras vendáveis de Carla Perez, Lair Ribeiro e “Rambo” (Sylvester Stallone).

Isso, além de muitas outras distorções sociais que os novos Al Capones promovem, como o papel social dos sem-terra. Na novela O Rei do Gado (1997) da Rede Globo, uma sem-terra, interpretada pela atriz Patrícia Pillar, acaba se casando com o proprietário de terras e criador de gados interpretado por Antônio Fagundes.

A novela mostrou que, em vez de a sem-terra continuar no movimento e tentar ganhar uma causa coletiva, era mais fácil pensar em si própria e se aliar à classe dominante. Esse é o pensamento neoliberal, da globalização e do capitalismo sem força de atrito, como relata o capítulo “Um computador em cada mesa, em cada casa” do livro de Bill Gates, ou seja, cada um no seu universo particular e não coletivo.

Se a mídia gera sedução, ela é feita pelo objeto de prazer: o poder. Se as pessoas estão procurando acompanhar os padrões que a mídia fabrica é porque querem ou são obrigadas a estar dentro do padrão social generalizado, para não serem excluídas do sistema. Portanto, se a personagem da novela é uma sem terra, a única opção que a mídia coloca como melhoria de sua condição social é a de se casar com o personagem milionário da história.

A mídia cria uma espécie de vertigem coletiva, pois em maior ou menor dimensão a figura da mídia é articuladora de transferência de valores na sociedade, ditando regras morais, costumes, comportamentos e dando a aparência, numa visão fria e desenvolvida em estúdios, de que a sociedade é realmente aquilo que ela desenvolveu dentro de seu espelho contextual.

Assisti a um seriado da Rede Globo, chamado Decadência, que fazia uma abordagem irônica sobre as seitas evangélicas. Em especial, a Globo tentava atacar o Edir Macedo, e o artista Edson Celulari, que fazia o papel do personagem Emannuel, um motorista que vira bispo e enriquece, num dado momento da história fala que ninguém quer ser feliz depois que morre, e por isso as religiões evangélicas estavam ganhando fiéis, pois elas prometiam a felicidade aqui e agora.

Saindo do templo da novela e entrando ajoelhado no templo da mídia, vamos observar as questões da felicidade que são simuladas até em pensamento.

Um exemplo que vou dar é de um pedreiro, cansado, que trabalhou o dia todo, comeu marmita, pegou o trem cheio etc, uma vida sem purpurina televisiva e midica, chega em casa liga a tevê e vê um carnaval na tela, cheio de mulheres lindas, modelos fotográficos se exibindo de forma insinuante. Ele se deita ao lado da sua companheira de anos, por vezes uma mulher de poucos atrativos físicos comparados com a imagem que a estruturada política da mídia vende para a sociedade, no conceito geral e comum do que seja beleza.

“O debate sobre a colocação de imagens pornográficas na rede não é novo nos EUA. Em junho, o Senado aprovou emenda à lei de telecomunicações, proibindo a divulgação de material pornográfico na Internet e em redes on-line. A proposta foi apresentada pelo senador Jim Exxon. As multas previstas para quem transmitir textos ou imagens obscenas podem chegar a US$ 100 mil e prisão de até dois anos”. [52]

O que vai acontecer? O pedreiro, diante daquelas imagens de modelos, por um momento vai criar uma fantasia de que sua própria mulher, deitada a seu lado, pela imaginação passa a ser também um modelo ou será um galã com um saldo positivo dentro de sua vida artificial? Ou então vai enfrentar um grande transtorno, frustração e decepção por ter uma realidade tão sem tempero e sabores novos diante daquela a que ele assiste.

O primeiro exemplo é o mais comum, de o pedreiro fantasiar a si ou a visão da mulher que ele tem para realizar sua fantasia, porque a mídia não fabrica sonho sozinha, sem que o receptor permita que ela entre em sua fantasia. Aliás, a promessa de felicidade criada dentro dos meios de comunicação é a própria chantagem feita por meio da fantasia de Narciso: de precisar se achar belo como única opção de escolha para não se achar feio, ou nem conhecer o conceito de feio para não se frustrar. Essa chantagem é a chantagem do mercado, e a felicidade é um objeto enlatado, por mais que queiramos retirar dela e dos nossos sonhos alguma poeira de ingenuidade.

A influência dessa mentalidade imediatista das novas tecnologias é de que tudo é vendido, tudo é comprado, e o “Baú da Felicidade” já não é mais propriedade exclusiva do apresentador de televisão e empresário brasileiro Sílvio Santos.

“Quando descreveu o conceito de mercado em A riqueza das nações, em 1776, Adam Smith teorizou que se cada comprador soubesse o preço de cada vendedor e cada vendedor soubesse quanto cada comprador estava disposto a pagar, todos no ‘mercado’ poderiam tomar decisões totalmente informadas e os recursos da sociedade seriam distribuídos com eficiência. Até agora, não atingimos o ideal de Smith, pois compradores e vendedores em potencial raramente tem informações completas um sobre o outro”. [53]

Assim, o socialismo passou a ser um corpo estranho dentro do novo mercado smithniano idealizado pelos capitalistas como sendo perfeito.

“Uns poucos mercados já estão funcionando bastante perto do ideal de Smith. Os investidores que compram e vendem moeda e algumas outras commodities participam de eficientes mercados eletrônicos que fornecem informação quase instantânea e completa sobre oferta, demanda e preços mundiais. Todos fazem negócios semelhantes porque as notícias sobre ofertas, apostas e transações circulam pelos fios das mesas de operações do mundo todo. Porém a maioria dos mercados é muito ineficiente -a estrada ampliará o mercado eletrônico e fará dele o intermediário universal e definitivo. Isso acontecerá graças aos market-makers -aqueles cuja a função é juntar compradores vendedores”. [54]

Outras influências das novas tecnologias dos meios de comunicação são as de, sustentar a indústria dos sonhos e da fantasia que o mercado capitalista nos dá e amplia, através do mercado eletrônico, numa comunicação aparelhada em redes.

Isso faz com que a antiga idéia de Adam Smith de unir compradores a vendedores seja realizada e dê a sensação de prazer do consumo ao maior número de pessoas por meio da infinidade da Internet. Oferece uma variedade de escolha de produtos, em um mercado globalizado, com uma variedade de fontes de abastecimento espalhadas pelo mundo, para todos os tipos de sonhos.

A tela do computador, os canais das televisões a cabo, com emissoras particularmente especializadas em venda de produtos, serviços e informações estão ampliando o mercado, e o desejo de consumo também.

A máquina não só pode ser, como relata Giovanni Sartori, de fazer dormir, porque quando a ligamos à noite nos relaxa a ponto de fecharmos os olhos, mas também aquela que nos fez, em épocas ditatoriais, “dormir de olhos bem abertos”.

No Brasil, a televisão, oscilando entre um período criativo e um período sombrio, foi como um calmante nas massas, também; no período de ditadura militar, atuou como remédio para fazer dormir longamente, remédio que se perpetuou por cerca de -duros - 20 anos, mal resolvidos na mente das pessoas até hoje, porque a ditadura passou, mas a força das imagens na cabeça das pessoas não se apaga tão simplesmente.

A democracia fica sombria e acaba quando as novas tecnologias de comunicação “modernizam” o autoritarismo, seja nos países islâmicos e fundamentalistas (como países árabes), ou no racismo que tinha a África do Sul ou nos regimes ditadores como os da América Latina.

Com a descentralização do poder dentro do próprio poder político, sobra só o totalitarismo das imagens, que convencem com maior facilidade do que o próprio poder relacionado ao governo.

Os militares envelheceram nossa mentalidade durante esses longos anos, até deixarem caduca nossa noção de cidadania e nossa memória e história política.

“Um dos ditadores brasileiros, o general Médici, sempre falava: ‘Me sinto feliz todas as noites, quando ligo a televisão para assistir o jornal. Enquanto as manchetes dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, nosso Brasil caminha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse calmante todas as noites após um dia de trabalho’”. [55]

Desde sua fundação em 1969, cinco anos depois que as forças armadas tomaram o poder, a Globo transformou-se, por assim dizer, na rede oficial. Recebeu o tratamento diferenciado dos militares que, além de investirem pesado na infra-estrutura de telecomunicações, deram-lhe a maioria de suas contas de propaganda. Os generais usaram a televisão para legitimar a opressão e o governo tornou-se o maior investidor em publicidade.

A Rede Globo soube usar essa “modernização” a seu favor no regime militar brasileiro, e tinha recursos de sobra acrescidos por um contrato inicial com a Time-Life para investir na modernização gerencial e no refinamento técnico.

Dentre as prioridades estratégicas dos militares estava a consolidação do vasto território e unificação dos 120 milhões de brasileiros do censo da época. Torres de microondas foram construídas a cada 60 quilômetros, ligando as principais cidades, de forma que os sinais pudessem chegar a cada canto do país. O poder financeiro da Globo lhe dava condições de alugar a metade das ligações todo tempo.

Embora vivendo em regime democrático, os meios de comunicação continuam formando uma sociedade autoritária e continuam submetidos à tutela do Estado.

Em 1969, nasceu a ARPAnet. Os militares achavam que os Estados Unidos eram muito vulneráveis a um ataque soviético. Naquele tempo, os computadores eram enormes trambolhos. A rede de defesa foi expandida, já nos anos 70, para os computadores das universidades e centros de pesquisa nos Estados Unidos. Mais tarde, nos anos 80, a Europa entrou em rede e, depois, o Japão. Finalmente, nos anos 90 empresas comerciais foram admitidas e a Internet ganhou, então, suas feições contemporâneas.

Isso sem mencionar ainda a forma como os meios de comunicação são regulamentados por lei. Por exemplo: em vez de ligações terrestres, a televisão nacional poderia usar um sistema de transmissão de US$ 210 milhões composto por dois satélites construídos no Canadá, mas vejamos o que ocorreu, segundo matéria publicada sobre mídia eletrônica em 10 de setembro de 1995 na Folha de S. Paulo, com o título “Faroeste marcou o início da TV a cabo no Brasil”.

“A portaria 250 foi assinada pelo ex-ministro das comunicações Antônio Carlos Magalhães no final do governo Sarney e, com base nela, outorgadas 101 concessões de DisTV. Segundo a portaria DisTV é a distribuição de sinais de TV por meios físicos. Mas o que vem a ser meio físico? A portaria só se referia, na realidade, às distribuições por cabos, fossem eles de fibra ótica ou cobre”. [56]

A preocupação em não explicar com clareza os termos da lei tinha uma só finalidade: a de não deixar que a Rede Globo percebesse o que, na verdade, a portaria encobria com sua linguagem confusa, de sentido pouco transparente.

Em certo sentido, portanto, as novas tecnologias de comunicação servem para influenciar a redemocratização da sociedade quando quebra monopólios, mesmo que depois outros monopólios estrangeiros ocupem o lugar. Mas temos que ver que o lugar de origem de domínio do primeiro já não é omesmo, e pode se modificar pelo fato de não haver estagnação do mesmo poder no mesmo lugar.

“O artifício deu certo, porque a portaria saiu sem que a Globo percebesse que estava sendo criada a TV a cabo no país”.[57]

No final dos anos 80 e início dos anos 90, a Globo apostava que o futuro da tevê por assinatura estava na transmissão direta por satélite para casa -e criou a Globosat. Na mesma época, o grupo Abril, principal concorrente da Rede Globo na TV por assinatura no sistema de transmissão por microondas, criou a TVA. Estudos da HBO, TV a cabo dos EUA, diz que o Brasil tem potencial de mercado superior ao resto da América Latina e pode chegar a 7 milhões de assinantes em cinco anos. Algumas empresas, hoje em poder do Multicanal, foram negociadas por cabeças de gado.

Em julho de 1984, o Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) liberou o uso das antenas parabólicas sem fins comerciais para pessoas. Daí em diante, o mito pela técnica abriu a sociedade para adorar a “coisificação” dos equipamentos dos meios de comunicação, daquilo que eles podem abranger na sua capacidade e potência de imensidão e pela sua insaciabilidade de abraçar o planeta de uma vez só.

“Em um dos maiores lances na disputa pelo novo mercado, a Globo vai investir cerca de US$ 500 milhões em sociedade com a News Corporation - um império de comunicação espalhado pelos cinco continentes, que inclui o canal e os estúdios da Fox. Os primeiros sinais DTH criado pelos dois grupos”. [58]

Por que brigar tanto? Talvez esta pergunta seja respondida na observação de que os homens mais poderosos do mundo hoje em dia não são os políticos, mas os homens de comunicação, que não deixam de ser políticos no sentido de influenciarem o comportamento da sociedade.

Os donos dos negócios de comunicação atualmente elegem políticos, são eles que fazem alterações nos sistemas políticos. Em toda parte do mundo eles colocam e tiram representantes políticos.

A professora Lúcia Santaella, em “Produção de Linguagem e Ideologia”, nos fala do uso da ideologia dominante, mostrando que a visão política de uma sociedade se faz pelos determinantes econômicos, e que a construção se ergue por elementos de dominação, sendo a própria arquitetura política um meio de poder.

Cada vez mais por isso, as decisões políticas atuais são tomadas por pessoas que não pertencem ao grupo de decisão, e que em sua maioria são donos dos grandes conglomerados dos meios, os quais não são da esfera diretamente política.

Lúcia Santaella usa a seguinte definição em relação ao que seja o arquiteto:

“Nesta medida, podemos concluir que os arquitetos são, na realidade os termos de uma função mais ampla que é o complexo social”. [59]

A autora analisa o sentido simbólico da arquitetura social, no modo de abranger a palavra “arquitetura” para a relação das mídias com o poder. Podemos adaptar o sentido simbólico da construção de uma linguagem arquitetônica ao conteúdo ideológico de uma linguagem política, pois a arquitetura não dá só a forma a um determinado espaço físico ou a um objeto, uma vez que é por meio dela que o uso da palavra transforma-se em mensagem.

Os criadores dos produtos apresentados dentro do mercado dessas mídias são pessoas aliadas ao pensamento absolutista dos donos do mercado de comunicação, uma vez que a subsistência deles está atrelada ao regime capitalista, ou mesmo a um sistema socialista, pois a arquitetura é feita a partir de um modelo de sociedade construída pelo poder.

“Rush Limbaugh e Noam Chomsky têm razão, ambos: a maioria das pessoas na imprensa americana compartilha os preconceitos culturais da esquerda, mas ainda implementa as vendetas políticas da direita. Os objetivos da esquerda são políticos e suas vitórias são culturais, enquanto as aspirações da direita são culturais e suas vitórias políticas.”[60]

Esse sistema não se forma sem direcionamento, portanto o modelo de mídia não é completo sem a imagem da ideologia, com o adestramento da imagem da direita ou da esquerda, pois são essas duas coisas que, quando se encontram, permitem a construção da linguagem dos meios.

Mostras de como os novos meios influenciam para formar uma sociedade autoritária aparecem muito, em um dos aspectos, em “atrações” como Programa do Ratinho, Leão Livre, Cidade Alerta, Aqui e Agora, e em outros aspectos, em filmes, desenhos e novelas de conteúdos agressivos e violentos.

“Existe um aspecto que me preocupa muito e chamo de deslocamento de culpas. Pais e professores não resolvem problemas de escrita, de leitura, de conhecimento e até de falta de afeto, e acabam dizendo que é tudo culpa da TV. É mais fácil dizer isso. A TV leva a culpa por desempenho ruim da criança na escola e em casa. A questão da violência é outro ponto que me irrita muito. As pessoas jogam sobre a TV a culpa por violência urbana e social que está nas ruas. ‘Vêem na TV e saem fazendo igual’ dizem. Como se as pessoas fossem tabulas rasas sobre as quais se imprime o que bem entende. A TV não provoca violência, ela retoma e pinta com contornos mais fortes. O processo é da sociedade para a TV e não o contrário. O telespectador não é passivo. Reelabora o que recebe. A criança sabe brincar com a TV. Sabe que aquilo que está recebendo é simulacro, não é real. Sabe inconscientemente qual o limite entre verdade e ficção. O que é ruim é quando a criança acaba ficando muitas horas em frente à TV por dia. A média é aproximadamente 4 horas e meia diárias, para crianças entre 5 e 12 anos . Esse dado vem de pesquisa que eu mesma fiz para o meu livro Linguagem Autoritária: Televisão e Persuasão (editora brasiliense). A criança tem de desenvolver sua afetividade e sua sociabilidade, e isso ele só faz em contato com outras crianças. A criança gosta mais de ouvir estórias contadas por alguém do que ver TV. Pode soar antigo estranho, mas é verdade. A relação pessoa-pessoa é insubstituível. Atenção de adulto é fundamental. Acaba não existindo uma regulamentação na casa, na família, sobre o que ver e quando ver. Os pais não conseguem hoje fazer esse controle com seus filhos, por falta de tempo, etc. Você vê a criança de 6 e 7 anos vendo coisas pesadas , grotescas. Deve - se poupar a criança do grotesco, porque ela ainda vai ser criada, não está pronta, daí o nome criança. Vê coisas que ainda não consegue elaborar no seu imaginário infantil ou elabora de forma errada e inadequada”.[61]

A televisão a cabo mostra não ser diferente da televisão embrionária do sistema ditador brasileiro, porque tanto hoje como ontem está preocupada não só com a construção de uma sofisticada infra-estrutura tecnológica, cuja preocupação básica é a expansão de um espaço público mediático mas com a redução das ideologias no espaço público não mediático. É um regime autoritário oficializado, porque apesar de os meios de comunicação serem modernizados no sentido de mais avançados no aparato tecnológico, ainda estão submetidos à censura do capital estrangeiro, e o espaço público eletrônico não divulga acontecimentos que têm ou vão ter repercussão nacional.

“Sim, ouçamo-nos todos, os políticos, os homens dos médias, os industriais, eles nos falam das técnicas, mas das tecnologias, quase só da tecnologia, que não é uma simples adição de técnicas particulares, mas sobretudo um discurso superior que pretende desequilibrar a sociedade e erguer a sua altura técnica e eficácia de todas as atividades do mundo terreno, talvez mesmo de outros universos habitados e desabitados. Esta mudança de vocabulário de ‘técnica’ para ‘tecnologia’ é capital. Traduz uma mudança de estatuto. A técnica como simples instrumento, torna-se soberana e, como todos os soberanos, serve-se das escribas que cantam os seus louvores, a sua força, os seus raios benfeitores. Uma palavra técnica faz-se então ouvir e essa palavra tem o peso dos objetos que ela sustenta e os quais permite-se desenvolver-se. Ao lado do discurso técnico, os outros discursos fazem figura de satélites. Ministros industriais e escribas não são mais do que pregadores da nova igreja”.[62]

Minha preocupação é pensar e fazer a seguinte reflexão: se as novas tecnologias não estão somente a serviço de supervisionar essa face narcisista de Primeiro Mundo, de nações desenvolvidas para encobrir os desfalques que o Primeiro Mundo dá nos demais países, embora sempre respondendo com uma aparência de perfeição subcontrolada aos demais países, proporcionada para reforçar esse aspecto de felicidade imediata para falsificar a realidade próxima.

“Toda forma de poder espetacular justificava-se denunciando a outra; e nenhum sistema, além destes dois, devia ser imaginável. Debord, portanto, reconheceu na URSS, nada menos do que 25 anos antes de seu fim, uma forma subalterna, e destinada, enfim, a sucumbir, da sociedade da mercadoria. Mas por um longo período, enquanto existia um proletariado inquieto, o comunismo de estado desempenhou uma função essencial para o espetáculo ocidental: a de assegurar que os rebeldes potenciais se identificassem com a mera imagem da revolução, delegando a ação real aos Estados e aos partidos comunistas -totalmente cúmplices do espetáculo ocidental; ou então a pressupostos revolucionários muito distantes no Terceiro Mundo”. [63]

Especificando o pensamento de Debord, durante muito tempo eu recebi uma revista russa, da ex-URSS, chamada Sputnik. As mensagens eram todas

Pré - concebidas com a face narcisista do espelho do comunismo soviético. A essência do suco noticioso era extraída como se espremessem uma laranja do pensamento totalitário do antigo Kremlin em suas páginas, em formato e em idéias, sem fugir em nenhum número da revista ou artigo a isto, a não ser nos artigos corriqueiros e de menor importância, em reportagens de trabalhos manuais e caseiros para donas de casa. Portanto, os regimes e os sistemas dos modelos políticos adotados podem se modificar, mas a forma de colocar o poder é a mesma, mudando só a ideologia imposta.

Após as reformas políticas, da Glasnost e Perestroika, o rosto da Sputnik também se modificou, suas matérias se adaptaram ao novo sistema como a água ao formato de uma nova vasilha.

“Teria como programa de revolução da vida cotidiana a realização dos desejos oprimidos, a recusa dos partidos, dos sindicatos e de todas as formas de luta alienadas e hierárquicas, a abolição do dinheiro, do Estado, do trabalho e da mercadoria. Por isso Debord sempre considerou o conteúdo profundo de 1968 como uma confirmação das suas idéias”. [64]

A idealização de Debord não passa de uma utopia, não só pelas relações entre os seres humanos serem políticas, mas pelos seres humanos gostarem do poder. Para obter esse poder, se submetem a hierarquias, trabalho, mercadoria e dinheiro. Portanto, o poder não está basicamente na face de Narciso enquanto modelo de perfeição, mas na maquiagem que compõe a perfeição.

“Roubaram-me a vida! Roubaram-me tudo e não me deixaram nada. Eu que acreditava viver honestamente, do trabalho dos justos. Mas verifica-se que durante trinta anos nunca parei de mentir aos meus alunos. De mentir com inspiração e paixão, acreditando naquilo que dizia e fazia. A biblioteca, formada no curso de decênios, em que os livros sobre Lênin, Kolontai, Krassine e Kamo ocupavam o lugar principal ao lado das obras sobre a Revolução e os decretos do poder soviético, para que vai servir daqui em diante? Que vou eu fazer dos recortes de imprensa que tinha reunido durante dezenas de anos para as lições de história? Constituem velhos papéis ou os testemunhos de uma criminosa lavagem ao cérebro?”. [65]

Em contrapartida, para nós, brasileiros, pela colonização capitalista a que fomos submetidos e não socialista, a revista mais conhecida nossa no mesmo formato jornalístico, estético e visual da Sputnik, é a representante do maior opositor do regime comunista da ex-URSS, a conhecida revista Seleções, e vejam como era seu conteúdo de opinião jornalística nos tempos fortes da perseguição ao comunismo no mundo. O artigo começa na página Seção de Livros, com o título “A Máquina do Terror”, uma condensação do livro de Gregory Klimov, tradução da versão inglesa de um original alemão.

“O oficial soviético Gregory Klimov nasceu durante a Revolução de Outubro de 1917, tornando-se um ‘inquieto lobinho da geração de Stálin’. Em 1947, após dois anos num cargo de responsabilidade na Administração Militar Soviética de Berlim, ele teve de reconhecer contra a sua vontade a natureza profundamente desumana do sistema sob o qual vivera e fugiu para o Ocidente. Nestas páginas movimentadas, o Major Klimov conta o que é a burocracia soviética por dentro e como a mesma deve apresentar-se a inúmeros outros russos ora empenhados em fazer funcionar essa máquina monstruosa”. [66]

Portanto, as mídias em geral, salvo algumas alternativas, piratas por exemplo, sempre foram dirigidas a obter uma opinião conjugada com o regime político. Talvez por isso Debord retoma o aparecimento de um movimento de contestação de tipo novo: retomando o conteúdo libertário da arte moderna.

Debord logo viu que sua visão de libertação da sociedade seria isolada, não por ele não ter enxergado as coisas que aprisionam o comportamento humano a ser condicionado, e neste condicionamento a mídia responde em boa parte pela responsabilidade nos tempos atuais.

Assim, quem quer se isolar desse poder sofre o reverso do mito de Narciso, se torna um elemento de face oculta, sem espelho e sem poder de sedução diante dos mecanismos sociais.

CAPÍTULO 4:

A Sociabilidade na Multimídia: a cibersociedade e os relacionamentos “humanos”

“As técnicas determinam a sociedade ou a cultura? Se aceitarmos a ficção de uma relação, ela é muito mais complexa do que uma relação de determinação. A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma evolução geral da civilização. Uma técnica e produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra-se condicionada por sua técnicas. E digo condicionada, não determinada”. [67]

Os desenhos nas cavernas da pré-história simbolizavam alguma coisa, como a caça ou pesca do homem, rituais, etc. Enfim, era o registro de alguma forma de sua existência. E hoje o que vemos nas expressões cibernéticas, desde um sorriso digital até uma lágrima seca virtual e artificial na vida do hábitat do computador, será que podemos chamar de epígrafes modernas?

“Assim pois, a expressão animal simbólico compreende todas as formas de vida cultural do homem. E a capacidade simbólica dos seres humanos se despregar em sua linguagem, em a capacidade de comunicar mediante uma articulação desom e signos ‘significantes’ previstos de significado. Atualmente, falamos de linguagem em plural, por tanto as linguagens do cine, e das artes figurativas, das emoções e etc. Porém, estas são acepções metafóricas. Pois, a linguagem essencial que de verdade caracteriza e institui o homem como animal simbólico é a ‘linguagem -palavra’ e a linguagem de nossa fala. Digamos, por tanto, que é o homem é um animal falante, um animal loquaz ‘que continuamente está falando consigo mesmo’ (CASSIER, 1948, p. 47) e que esta é a característica que o distingue radicalmente de qualquer espécie de ser vivente”.[68]

As pessoas, agora, através da cibernética, usam uma linguagem denominada “internetiquês”, uma espécie de linguagem formada pelos próprios usuários da Internet. O “internetiquês” serve também para mostrar sentimentos no computador, de zangado a apaixonado. Essas evoluções na forma de se comunicar continuaram levando o homem, apesar de tanta evolução, a se ritualizar, ou seja, a transferir para objetos, coisas, máquinas e símbolos a sua presença.

“Acho que ela tem um lado positivo, mas há outros aspectos que me preocupam. Bem entendido, esta é uma resposta intuitiva, não tenho provas do que vou dizer, mas acho que como as pessoas não são autômatos ou marcianos, o contato pessoal direto entre elas é uma parte da vida humana extremamente importante, que ajuda a desenvolver a auto compreensão e o crescimento de uma personalidade saudável. (....) O relacionamento entre duas pessoas é diferente quando elas falam olhando uma para a outra e quando digitam um teclado, e recebem alguns símbolos de volta. Suspeito que a ampliação dessa forma de relacionamento abstrato e remoto em lugar do contato direto e pessoal, terá efeitos desagradáveis sobre as pessoas: reduzirá a sua humanidade”. [69]

É importante destacar a simbologia que o homem dá às coisas ao seu redor, como se elas tivessem também, pelo fato de ele as possuir, um papel social, e o poder de ser um pedaço próprio de sua existência. Da forma de gravar numa escala somatória tudo o que é e o que faz a sua história.

“A universalização das formas mais complexa de sociedade seria também a consolidação universal do valor do indivíduo como ente moral. Isso coloca Durkheim numa posição interessante com relação ao debate que atualmente se trava entre posições éticas e políticas com base em um liberalismo de perfil universalista e posições de caráter ‘comunitarista’. Enquanto as primeiras tomam como referência o indivíduo como sede e fonte de direitos universais com base racional, as segundas enfatizam valores coletivos e impossibilidade teórica e prática de conceber coerentemente os indivíduos fora da sua imersão em contextos comunitários”. [70]

Pode, por meio da política internacional dos medias, tanto o ser humano se encontrar mais materializado e enraizado dentro de seu próprio país, e despertar para uma cidadania plural, ou -pelo contrário -pode afastá-lo cada vez mais de sua identidade cultural local, cortando o cordão umbilical. O ser humano pode se perder, de dentro para fora de sua própria origem, como um homem -máquina e não como um homem - cidadão.

“Duas crenças em oposição, dois antagonismos que se alimentam um do outro. Duas falsificações. Observemos, em primeiro lugar, que se Frankestein nos ameaça no plano tecnológico, as nossas defesas não podem situar-se nas tecnologias da comunicação. Se estamos doentes da bicha-solitária, só há um remédio: deitar fora as bichas-solitárias. A questão da tecnologia é central para o nosso objetivo, porque hoje a comunicação é tecnológica, ou não é, e isto eqüivale também para a psicoterapia de Palo Alto, uma tecnologia complexa de espírito e corpo, com suas receitas e acasos. Porque a tecnologia não está apenas na técnica e este discurso (logos) sobre a técnica invadiu a totalidade das atividades humanas, incluindo a comunicação”.[71]

Robôs e máquinas não são cidadãos mesmo sendo fabricados por multinacionais: a cidadania é algo precioso que só seres humanos podem exercer.

“Frankestein é uma metáfora e o ‘tautismo’ é o seu conceito. Metáfora e conceito que correspondem a uma terceira atitude: a verificação tecnológica domina - o, rege a sua visão de mundo. O sujeito não existe senão para o objeto técnico que lhe aponta os seus limites e determina as suas qualidades. A tecnologia é o discurso da essência. Diz se tudo sobre o homem e sobre o seu futuro. E aqui é a preposição por que o domina. Pela técnica, o homem pode existir, mas não para lá do espelho que ela lhe mostra. Quem sabe, talvez se possa apagar como produtor para ser apenas um produto, deixando a primazia à máquina inteligente, de que receberá todas as lições?”.[72]

Quando o ser humano passou a ser um elemento da cibernética, não só sua imagem passou a ser cibernética, mas toda sua conjuntura cultural, suas idéias, seus pensamentos, crenças e ideologias passaram pelo filtro do virtual.

Será que nós, que somos o ponto apical da biologia do ser vivo, vamos deixar que o sistema econômico e político dos dias de hoje nos faça pensar que a mente é apenas algo forjado para dissimular, esconder, auto - emancipar, esquecendo-nos da solidariedade e respeito com o semelhante?”. [73]

A partir do momento em que o homem passa a utilizar os meios de comunicação virtuais para transmitir suas reivindicações, frustrações, desejos, fantasias e argumentações, sejam de ordem particular ou coletiva sobre os diferentes condutores de sua vida e da vida política planetária, ele encontra ecos vindos de personalidades similares, sendo repartidas em grupos de afinidades com modos semelhantes de agir, pensar e se relacionar.

“Viver um estilo de vida web vai significar que você vai recolher e utilizar informações em grande medida por meio da rede interativa. A rede passará a ser parte integrante de sua vida, à qual você se voltará instintivamente, sem pensar duas vezes”. [74]

Os ecos de afinidade podem ser novas tribos vizinhas, como os países são hoje, ou um único ser desenvolvido numa dimensão coletiva. Portanto, a formação geocultural cibernética que as novas tecnologias de comunicação dão ao ser humano influenciam em sua forma de exercer a cidadania e na noção de hegemonia e homogenia que se desenvolve na esfera pública política real.

“Uma comunidade virtual não é irreal, imaginária ou ilusória: trata-se unicamente de uma coletividade mais ou menos permanente, que se organiza por intermédio do novo correio eletrônico mundial. (...) Os amantes da cozinha mexicana, os loucos por gatos angorás, os fanáticos por certa linguagem de programação ou os intérpretes apaixonados por heidegger, antes dispersos pelo planeta, muitas vezes isolado ou pelo menos sem contatos regulares entre si, dispõem agora de um lugar familiar de encontro e de troca. Pode-se dizer, portanto que as chamadas ‘comunidades virtuais’ conseguem uma verdadeira atualização (no sentido de pôr efetivamente em contato) de grupos humanos que eram somente potenciais antes do advento do ciberespaço. A expressão ‘comunidade atual’ seria, no fundo, muito mais própria para descrever os fenômenos de comunicação coletiva no ciberespaço do que ‘comunidade virtual’”.[75]

Nunca a sensação de imensidão que os meios de comunicação passam através das novas tecnologias, foi tão importante e valorizada pelo homem, talvez porque esta sensação mexa com a vontade de plenitude. O homem busca na própria vida a mesma plenitude da infinidade que nos passam o alto do céu e o fundo do mar; a mesma infinidade que o navegador, o descobridor e o aventureiro carregam dentro de si.

“Com a cibercultura, exprime-se a aspiração à construção de um liame social, que não se fundaria nem em vínculos territoriais, nem em relações institucionais, nem em laços de poder, mas a reunião ao redor de centros de interesse comuns, no jogo, na comunhão do saber, no aprendizado cooperativo, nos processos abertos de colaboração. O apetite pelas comunidades virtuais depara-se com um ideal de relação humana desterritorizada transversal livre”. [76]

O ser humano, a partir do momento em que começou a usar a máquina como companhia social, como meio de trabalho e como lazer, não pode ter sua cidadania vista da mesma maneira.

“O cinema não eliminou o teatro - deslocou-o. Depois da escrita, fala-se o mesmo tanto, mas de forma diversa. As cartas de amor não impedem que os amantes se beijem. As pessoas que mais falam ao telefone são as que mais encontram os amigos O desenvolvimento das comunidades virtuais acompanha a evolução geral dos contatos e das interações de todo tipo. A imagem de um ‘indivíduo isolado diante de sua tela’ é muito mais um fantasma do que um resultado da pesquisa sociológica”.[77]

Há pessoas comprando porta - copos, ferramentas, cosméticos e outras coisas por simples impulso desregrado de consumo. Com isso, os cartões de crédito faturam como nunca, e as pessoas ficam cada vez mais endividadas por causa de coisas fúteis, das quais na grande maioria das vezes não precisam. Isso sem contar as contas de telefone absurdas graças aos disques-900 e as BBS, com seus serviços de conversação ao vivo, em pequena ou longa distância, para amenizar a solidão das pessoas.

“Por fim, há os MOOs. Embora não sejam exclusivamente dedicados a sexo ou pornografia, freqüentemente incluem ambos. São jogos em que as pessoas assumem personalidades e nomes fantasiosos em mundos imaginários. Dentro dos MOOs há até casamentos virtuais e já houve pelo menos um caso de ‘estupro’. Um usuário roubou a identidade de uma jogadora MOO e ‘obrigou-a’ a fazer sexo com outro”.[78]

O mercado capitalista, por meio das novas tecnologias de comunicação, nunca se aproveitou tanto da fragilidade humana, fazendo uma espécie de “curativo” de auto - ajuda nas pessoas.

“Ainda dentro da Usenet há uma quantidade de grupos de discussão dedicados ao sexo e erotismo. Um dos mais curiosos é o alt.sex.wizards, onde os usuários colocam perguntas que vão ser respondidas por supostos experts no assunto. Mas há para todos os gostos: altsex; alt.sex.motts (motts é um acrônimo para ‘membros do mesmo sexo’, alt. sex. bondage (para quem gosta de fazer sexo amarrado) e muitos outros”.[79]

A tela do computador, com os serviços de chats e com as home-pages que vendem mercadorias culturais ou bens de consumo tangíveis e intangíveis, representam, no meu modo de entender, uma vitrina, um segundo conceito de vitrina a partir da criação do universo virtual.

“Vitrina: 1 - Vidraça atrás da qual ficam expostos objetos destinados a venda. 2 - Espécie de caixa com tampa envidraçada, ou armário com vidraça móvel, onde se guardam objetos expostos à venda”. [80]

Na busca de saciar todas essas suas ansiedades atuais, que são resumidas em medos e em falhas psicológicas, o oco do ser humano torna o tudo num todo, no qual a intertextualidade do nada é absorvida por meio da artificialidade da razão.

Se passássemos a vida inteira querendo buscar e pesquisar tudo, não conseguiríamos: é o fax para mensagens convencionais escritas, é o correio eletrônico para mensagens virtuais do e-mail e são os chats de discussão e debate. Portanto, se quiséssemos, poderíamos estar as 24 horas do dia ligados física e ou psicologicamente a um meio de comunicação. Hoje, o computador já representa, para muitas famílias, o novo cão de estimação, um membro da família, um tipo meio “cyberdog”. Traça-se não só um novo perfil humano de se comunicar e se expressar.

“A centralidade em Durkheim da preocupação com o estabelecimento de laços entre homens naquilo que literalmente é sua convivência social o levou a dar especial relevo à idéia de comunicação, que também reapareceria sob várias formas no centro da reflexão social deste século. É verdade que nele a referência aos vínculos comunicativos está marcada por uma referência muito sua, que leva o limite a idéia de traços morais compartilhados. É que vários momentos a idéia da comunicação entre partes da sociedade aparece como uma espécie de realização imperfeita de uma unidade moral mais funda, daquilo que em seus próprios termos seria uma ‘comunhão’”'.[81]

Temos que enxergar que, neste processo de tecnologia avançada da comunicação, se os interesses públicos chegarem ao fim ocorrerá também o fim da cidadania, da historia e da memória.

“Sim, ouçamo-nos todos, os políticos, os homens dos médias, os industriais, eles nos falam das técnicas, mas das tecnologias, quase só da tecnologia, que não é uma simples adição de técnicas particulares, mas sobretudo um discurso superior que pretende desequilibrar a sociedade e erguer a sua altura técnica e eficácia de todas as atividades do mundo terreno, talvez mesmo de outros universos habitados e desabitados. Esta mudança de vocabulário de ‘técnica’ para ‘tecnologia’ é capital. Traduz uma mudança de estatuto. A técnica como simples instrumento, torna-se soberana e, como todos os soberanos, serve-se das escribas que cantam os seus louvores, a sua força, os seus raios benfeitores. Uma palavra técnica faz-se então ouvir e essa palavra tem o peso dos objetos que ela sustenta e os quais permite-se desenvolver-se. Ao lado do discurso técnico, os outros discursos fazem figura de satélites. Ministros industriais e escribas não são mais do que pregadores da nova igreja”. [82]

O homem nunca foi tão abastecido em suas crenças de infinidade quanto agora. As novas tecnologias de comunicação são capazes de reproduzir o mundo várias vezes e, ao mesmo tempo, numa coisa só, num vasto território ocupado pelos mídias. Assim sendo, todos os equipamentos são pequenos diante da infinidade do pensamento humano e dos recursos tecnológicos.

“Mas qual é, pois o lugar de origem da nova religião? Elemento essencial da crítica: situar a origem das ideologias e das práticas . Neste caso, ‘comunicar’ é o modo simbólico privilegiado das sociedades com ‘política dividida’. Esse modo é próprio de um corpo social em vias de dispersão, que encontra a sua origem na sociedade norte-americana, sem memória, onde o melting-pot é rei e onde a unificação simbólica nunca pode passar pela memória simbólica de uma história muito recente, mas pelo regime de trocas lingüísticas de homens vindos de horizontes tão diversos e obrigados hic et nunca viverem juntos. Para assegurar a sua coesão, as sociedades com memória servem-se da história e as sociedades sem memória servem-se da comunicação”. [83]

A partir do momento em que o homem deixa de ser elaborador único, de forma direta, da organização em sociedade, através de uma política local, e do estabelecimento de transformações e revoluções das partes ao todo, por meio de sua integração do micro ao macropoder, surgem grandes modificações na pequena e na média estrutura política do globo terrestre. No geral, essa estrutura se torna grande, porque as partes fragmentadas passam a fazer parte de um denominador comum organizacional político.

“Assim, Disney só precisa se inclinar para recolher a realidade tal como ela é. ‘Espetacular integrado’, diria Guy Debord. Mas não estamos mais na sociedade do espetáculo, transformada, ela própria, em conceito espetacular. Não é mais o contágio do espetáculo que altera a realidade, é o contágio do virtual que apaga o espetáculo”. [84]

As influências que as novas tecnologias de comunicação oferecem é virtualização do real, tornando-o mais imaginável, mais ainda agora quando, na Internet, podemos ter a identidade secreta que quisermos. Na tevê não havia essa interação, por não ser participativa. O real absoluto nunca coube muito bem dentro dos meios de comunicação porque renega todo o princípio dos meios, que é fantasiar a realidade.

“Disney sai ganhando ainda em outro plano também. Não contente em apagar o real, transformando-o em imagem virtual tridimensional, mas sem profundidade, ele apaga o tempo de sincronizar todas as épocas, todas as culturas, no mesmo ‘travelling’, justapondo-as no mesmo roteiro”. [85]

Os meios de comunicação conduzem a sociedade a viver no irreal. O problema ocorre quando a indústria dos sonhos faz sonhar, mas não pode proporcionar ao receptor do sonho a realização.

Os personagens e estilos de vidas construídos nos meios não condizem com a realidade da vida social real. A mídia produz arquétipos para que o ser humano crie uma realidade política social dentro de uma fantasia imaginária irreal que transmite um padrão de vida ficcional do qual somente os personagens é que podem vivenciar dentro dos estúdios e não dentro da sociedade.

“Quando pensamos em alguém, pensamos nos heróis de novela. Quando pensamos uma imagem da realidade, o político, a dona – de – casa , nós idealizamos pelo que já está nos arquétipos. A mídia produz o arquétipo. O simulacro é a questão central, é a própria abertura do debate. É para ver se ainda trabalhamos com a carne humana ou com, digamos imagens que correspondem à idealização dos comportamentos e seus atores”.[86]

Não dá para pensar numa mídia solta sem papel social, sendo ela veiculada ou não com as tecnologias de comunicação, que fazem o papel de assentamento social, despertando nas mais diferentes amplitudes a pasteurização de seus costumes, hábitos e projetos sociais, criando uma verdade dentro da ficção e fazendo a verdade participar de um argumento de ficção.

Sempre havia uma idéia de que a televisão era culpada pelo modo que as pessoas buscavam meios de fuga para se ausentarem da realidade política, ou para não assumirem quem elas são, o que elas acreditam ou o que vivem. Por estes motivos a televisão durante muito tempo foi chamada de um meio alienatório, que servia para que as pessoas não tomassem consciência da realidade que acontecia a sua volta.

O problema hoje é analisar se a televisão enquanto fábrica de programações é culpada realmente por este processo de fuga do ser humano, ou se ela só atende uma necessidade psicológica das pessoas de terem sonhos e fantasias, que estravassem o território de suas vidas quotidianas e que temperem-nas com pitadas de imaginação. Por isto é que a Internet pode ter dado tão certo; porque a rede é um lugar onde todo mundo pode mudar a sua identidade, falsificar-se, mascarar-se e modificar-se da forma mais completa; porque é um processo direto onde em um e-mail pode-se passar dados errados da personalidade de cada um, tanto quanto da aparência física, social ou psicológica.

É um absurdo a quantidade de informações que lemos das pessoas na Internet nos chats de conversas e nos e-mails. São louras, altas de olhos claros e com situação econômica estável e cultas, pelo menos é o que elas dizem, ou melhor escrevem e, sem esquecer um detalhe, a grande maioria se diz bonita, inteligente e bem dotada sexualmente.

Precisamos estudar o porque da mentira na conversação via Internet, ou melhor, na comunicação por Internet feita pelas pessoas. O porque de ser tão parecida no campo das idéias com as estórias produzidas pela televisão, sendo que as próprias pessoas comuns que fazem e que criam arquétipos semelhantes aos galãs de TV, e o porque que continuam mantendo a necessidade de uma mentira para tapar os buracos do vazio do cotidiano comum.

Temos que nos questionar porque as pessoas têm a necessidade da mentira, num meio de comunicação livre como a Internet. Ou porque falsificar a sua realidade é tão importante. Até os próprios codnomes usados nas salas de bate-papo na Internet são, muitas vezes, retirados da televisão, tais como: Rambo, Mulher Maravilha, Tiazinha, Capitão América, Super Homem e etc.

“As manipulações e mentiras são sempre possíveis nas comunidades virtuais, mas, afinal, elas o são em todo lugar - na televisão , nos jornais impressos, no telefone, nas cartas, assim como em toda reunião ‘em carne e osso’”.[87]

Verificamos que a culpa alienatória atribuída durante anos somente à televisão talvez não seja somente da televisão, mas englobe universos políticos e psicológicos que a televisão talvez só tenha reafirmado e não criado na sociedade. Aí, vale uma análise não somente sócio - política quanto à luz da psicologia social; estudar o fenômeno do porque em um meio livre como a Internet as pessoas têm ainda necessidade de falsificar suas emoções e suas identidades.

“A primeira questão é identificar que o mundo do simulacro não é mais o mundo da realidade. É um mundo já expropriado por esse poder que a mídia tem, absolutamente dominado, que é a edição. Mas de repente apareceu a Internet. Na Internet nós temos a imagem à distância, mas interativa, ela cria uma sociedade clandestina. As pessoas formam redes de contatos. Só que as redes podem servir para o conhecimento verdadeiro ou para o conhecimento desclassificado”. [88]

Os personagens de televisão têm uma vida política que normalmente não precisam justificar, nem onde estudam ou trabalham, porque esses pilares essenciais da vida pública corriqueira não interessam nem aos meios nem aos usuários desses meios, porque quebra as expectativas de que algum dia o telespectador possa ter uma vida de ócio igual a desses personagens, só de romances, sexo, festas e dinheiro.

“O sistemático final feliz da telenovela não se reproduz na vida real, especialmente em se tratando de um país infestado pelo desemprego, inflação, disparidade de renda, pobreza generalizada e violência”. [89]

O sistema vigente é o fabricante principal da mídia, e de tudo o que é belo e sedutor, ou se passa por ser. É o cirurgião plástico eletrônico que procura despertar a perfeição artificial no telespectador, no receptor e no seu narciso adormecido na imensidão do virtual, vendendo diariamente uma nova imagem do feio para se comparar com o belo ao olhar o espelho da fantasia pluralista que invade nossa intimidade em nossos lares, quotidianamente.

Quando Muniz Sodré analisa a televisão sob a perspectiva da semiótica cultural, mostra que o papel político da televisão é artificializar o real bem, assim como de artificializar as características normais do corpo social que se instaura fora do espaço técnico da TV strictu sensu, tornando-o simulacro da fantasia industrializada pelos medias, como uma perfumaria social:

“...a forma televisiva pode instaurar-se fora do espaço técnico da TV stricto sensu e ganhar as ruas como um meio de artificializar o real e, por aí, neutralizá-lo imaginariamente, inclusive a nível político”.[90]

Com a aquisição de meios de comunicação potencializados por essas novas tecnologias, que nos levam onde queremos ir sem que precisemos sair de casa, ou seja, tudo da rua para casa, do público ao privado: o supermercado, a universidade, o banco e as diversões, como cassinos e outros.

“....a chamada revolução digital precisa ser revista, pois corre o risco de apenas aumentar o consumo supérfluo da sociedade sem resolver seus problemas. (...) A crise de Breton traz conseqüências para nós: dotar o país de mais de 12 milhões de telefones é um sinal de progresso, mas o que aconteceria se mais alguns milhões de linhas fossem utilizados para jogar conversa fora, drama expresso no poema de Drummond (‘Ao telefone, perdeste muito tempo de semear’)?”.[91]

Com a nova vitrina, as pessoas podem ter um estilo de vida semelhante do idealizado para o personagem Riquinho das histórias em quadrinhos, que Petrie Donald adaptou para o cinema, personagem marcado pelo fundamento capitalista e pelo pensamento smithniano.

“...o próprio tema do individualismo como uma característica intrínseca das sociedades complexas modernas, nas quais representa um avanço em relação às formas mais simples de organização da sociedade. A esse respeito o argumento que Durkheim construiu ao longo da sua obra sociológica é dos mais engenhosos, considerando-se que sua preocupação básica sempre foi a de mostrar que em nenhum aspecto a sociedade pode ser reduzida ao nível dos indivíduos que a compõe nem derivada dele. A idéia básica é a de que a própria figura do indivíduo é uma criação social. Mais especificamente, é uma figura que não ocorre em qualquer tipo de sociedade. É um fenômeno do mundo moderno, em que sociedades baseadas na interdependência de funções diferenciadas geradas pela divisão do trabalho substituem aquelas em que a amarração do conjunto se dá pela compacta junção de partes semelhantes entre si. Mas, ao ser engendrada pela sociedade, essa figura do indivíduo já não corresponde a um ente isolado, voltado sobre si próprio. Já traz a marca da ligação com o outro, com todos os outros. Laços, que, sendo sociais e não naturais, são da ordem dos significados e da consciência. Laços, morais portanto (e é por isso que Durkheim usa o termo ''solidariedade ‘para designá-los’)”. [92]

No filme, ele tem seu próprio McDonalds e seu próprio parque de diversões, sua escola particular residencial, com professores disponíveis somente para ele, e mais outras coisas que deveriam ser coletivas e que se tornam particulares, como a biblioteca, o cinema e o espaço de brincar. Por isso ele não tem amigos para brincar.

Isso, causa a sensação de sermos proprietários desses serviços e bens, embora de forma lúdica, desses lugares e produtos, mas eles estão na nossa residência quando entram pela televisão ou pela Internet, assim como setivéssemos realmente um McDonalds em casa, como no caso do Riquinho mostrado no filme.

Essas novas tecnologias nos dão a ilusão de sermos uma espécie de donos de propriedades virtuais privadas mas de uso coletivo.

“...relações entre o corpo como base última da individualidade subjetiva e como fonte de impulsos e a sociedade como instância objetiva de sua regulação (a propósito, um estudo mais demorado de Durkheim obrigaria a confrontar suas idéias como as de dois dos seus maiores contemporâneos, Freud e Saussure)”. [93]

O problema que se levanta com isso, no entanto, é o de que, se cada um dispuser de serviços coletivos de forma particular, o resultado será o surgimento de um novo ciclo de exércitos de excluídos, ou desempregados em massa.

“Aumentando e acelerando os efeitos da acumulação, a centralização amplia e acelera ao mesmo tempo as transformações na composição técnica do capital, as quais aumentam a parte constante às custas da parte variável, reduzindo assim a procura relativa de trabalho”. [94]

Sendo assim, o uso de toda tecnologia e da ampliação do sistema capitalista vai favorecer uma classe social que almeja chegar à condição do personagem Riquinho. De sua individualização em consumir bens, produtos e informações nasce o exército de excluídos, numa nova fase da chamada Terceira

Onda, num ciclo novo aperfeiçoado pela modernidade das novas tecnologias de comunicação.

Os meios de comunicação interferem no campo social porque criam expectativas de realizar sonhos que muitas das vezes, na realidade, não são permitidos ou viáveis.

“Assim, pode-se dizer que, dentro de cem ou mil anos, ou pelos antigos serão vistos como filmes romanos verdadeiros, da época romana, como verdadeiros documentos da Antigüidade; que o museu Paul Getty, em Malibu, ópia de uma casa de Pompéia antiga, será confundido, anacronicamente, com uma casa do século 3 a C. (incluindo as obras que estão em seu interior: Rembrandt, Fra Angélico, tudo confundido no mesmo tempo esmagado); que a comemoração da Revolução Francesa em Los Angeles, em 1989, será confundida, em retrospectiva, com acontecimento real da revolução”. [95]

CAPÍTULO 5:

Os Políticos Robôs e os Homens Públicos Sintéticos

“Sabemos que o carisma, o poder da personalidade sempre existiu através da história. Cristo, Lênin, De Gaule, Hitler são alguns destes exemplos. Sabemos também que foi creditado a alguns reis o dom de curar. Aos olhos da massa a realeza detinha um caráter sagrado. Mas o que dizer do poder da personalidade quando este é inserido na estrutura atual dos meios de comunicação eletrônicos? Percebe-se que houve um processo de dessacralização do poder das grandes figuras públicas, dos mitos e dos heróis”. [96]

O próprio processo eleitoral hoje, devido as novas tecnologias de comunicação, torna-se cada vez mais conturbado, cada vez menos democrático, porque estamos a cada dia mais elegendo o político mais bem maquiado pela computação gráfica, pelos comícios eletrônicos ou pelo marketing visual – virtual , ao invés de fazê–lo pelas propostas e pelos programas políticos por ele apresentados, ou pela racionalidade que deveríamos exercer antes de votar.

“Barre e Recard já reconhecem que as negociações de um governo com os diversos setores da vida ativa são cada vez mais difíceis por causa da pressão da mídia, com sua lógica do ‘furo’ da transparência instantânea. E o grave é que os governantes se prestam a esse jogo, contribuem para que a ação política deixe de ser um meio de resolver os problemas e se transforme em espetáculo”. [97]

Os meios de comunicação são, no entanto, condutores da sociedade e, hoje, se tornam suportes que tendem a substituir o poder de influência dos grandes líderes. E é papel dos intelectuais e de toda a sociedade chamar atenção para suas formas de atuação e de condução.

“De fato, as razões da crítica extrema dirigida contra a mídia situam-se em outro plano que não estes dois níveis, um muito elementar, outro muito doutrinário. A crítica da mídia revela antes de tudo , creio das populações com relação aos dirigentes e aos partidos políticos. Descontentamento que por seu turno vem do fato de os políticos da liberalização da economia promoverem crises, ameaças e insegurança a uma grande parte da população. Não se sentindo protegida por seus representantes políticos, esta última tem a sensação de que os jornais ou a televisão são meios pelos quais o sol ardente do mercado vem lhes queimar a pele e os olhos”. [98]

“Diante do governo paralelo da imagem é preciso muita coragem para comprar uma briga com a Justiça ou fora dela. Compreende-se: na sociedade da comunicação os políticos em geral e os agentes de setores vitais da sociedade não podem viver sem a mídia, que controla o acesso ao espaço público, sem o qual não se obtém o reconhecimento em democracia. Pode-se calcular, então, o poder real de pressão e da intimidação que a mídia concentra”. [99]

Constatamos que os líderes políticos, hoje em dia, caem e sobem muito mais pela ação direta dos medias do que por circunstâncias próprias de atos de bravura, coragem ou de covardia.

“O líder todo-poderoso foi admirado porque encarnava os sonhos de autoridade que pessoas humildes alimentavam em segredo e tentavam desempenhar em suas vidas privadas. Mas agora a obsessão pelo domínio e subordinação começa a ser desafiada por uma imaginação mais ampla, faminta de estímulo, em busca de alguém a quem ouvir, por lealdade e confiança, e acima de tudo pelo respeito. O poder de dar ordens já não basta”. [100]

Isso tudo ocorre porque, a partir do momento em que o mundo da imagem toma conta do mundo do discurso político, este discurso se esvazia para ser monitorado pelos medias.

“O público se abstém por desilusão, por desesperança, uma vez que os políticos não tratam dos verdadeiros problemas, desconhecem o vocabulário e os números da vida cotidiana. Eles talvez não se dêem conta disso porque vivem em círculo fechado com os jornalistas, no mesmo espaço cultural, freqüentando os mesmos lugares, falando o mesmo ‘midiapolitiquês’ e achando que o público não entende nada”. [101]

É importante notar a direita e a esquerda envolvidas por uma “aura” de preconceitos retirada da própria imprensa, que elabora o contexto político para o resto da sociedade.

“Para o campo oposto, é claro, a história recente da direita norte-americana parece ser de vitórias quase ininterruptas, mas a própria direita não a enxerga assim. A direita vem dominando o debate político americano -ela conseguiu colocar seu líder na Casa Branca por oito anos, e seu seguidor por mais quatro, e até agora nada mudou realmente. Se alguma coisa mudou, foi a enxurrada de transformações sociais que se tornou até mais forte”.[102]

Na citação é interessante avaliar e até sublinhar a expressão retirada do texto: “mas a própria direita não a enxerga[103]assim”.

Temos que considerar que a mídia não projeta uma imagem sobre a sociedade tirada do nada. Todo o estereótipo criado pela mídia é retirado do real para transformar-se em simulacro da realidade. Desde os estudos de Guy Debord, essa combinação da realidade palpável ou figurativamente palpável é separada ou intercalada com a imaginária, e retratada com especificação no livro A Sociedade do Espetáculo, em 1967, na França.

“O espetáculo de que fala Debord vai muito além da onipresença dos meios de comunicação de massa, que representam somente o seu aspecto mais visível e mais superficial (...) Debord explica que o espetáculo é uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta na sua existência real”. [104]

Debord ainda não tinha a concepção de fragmentação do que viria na era moderna das mídias com o avanço das novas tecnologias de comunicação nem da sociedade. Sua visão de fragmentação se comportava dentro do contexto fracionário do desejo e de mercado, não pegou os tempos de ecstasy, de Prozac, de Internet, de celular, de tevês a cabo ou de pay-per-view. Sua antena plugada no mundo não era ainda parabólica, nem se utilizava dos bem - dotados satélites instrumentados para em segundos apresentar um panorama do mundo sem sair do lugar. Debord traduz a necessidade de se criar modelos vindos do espelho superficial da mídia, alimentando a necessidade da perfeição narcísica.

“Para Debord, no entanto, a imagem não obedece a uma lógica própria, como pensam, ao contrário, os pós-modernos ‘a La Baudrillard’ que saquearam amplamente Debord. A imagem é uma abstração do real, e o seu predomínio, isto é, o espetáculo, significa um ‘tornar-se abstrato’ do mundo. A abstração generalizada, porém, é uma conseqüência da sociedade capitalista de mercadoria, da qual o espetáculo é a forma mais desenvolvida. A mercadoria se baseia no valor de troca, em todas as qualidades completas do objeto são anuladas em favor da quantidade abstrata de dinheiro que se representa. No espetáculo a economia, de meio que era, transformou-se em fim, a que os homens submetem-se totalmente, e a alienação social alcançou o seu ápice: o espetáculo é uma verdadeira religião terrena e material, em que o homem se crê governado por algo que, na realidade, ele próprio criou”. [105]

“Têm de olhar para outros (estrelas, homens políticos etc.) que vivem em seu lugar. A realidade torna-se uma imagem, e as imagens tornam-se realidade; a unidade que falta à vida, recupera no plano da imagem. Enquanto a primeira fase do domínio da economia sobre a vida caracterizava-se pela notória degradação do ser em ter, no espetáculo chegou-se ao reinado soberano do aparecer”. [106]

“Na mídia moderna são os presidentes que se tornam caricaturas, exatamente como acontecia aos reis e rainhas nas redes de comunicação do passado. São figuras de repertório num novo folclore político: Richard Nixon, vilão maligno; Jimmie Carter, sulista ingênuo; George Bush aristocrata empavonado; Bill Clinton, yuppie peso-pena. O único bom rapaz dessa galeria de personalidades é Ronald Reagan, ele mesmo um profissional da mídia que conquistou a Casa Branca a partir de Hollywood”. [107]

Uma das grandes influências exercidas pelas novas tecnologias de comunicação é a de fazer com que as pessoas votem ou escolham algo muito mais pelo emocional do que pelo racional. Não estamos mais escolhendo grandes líderes ou estadistas por sua vida política, porque as novas tecnologias de comunicação acabaram com os estadistas, só fabricam políticos pela imagem, e fazem com que não enxerguemos quem são os políticos de carne e osso, mas os personagens políticos de ficção, como o “Caçador de Marajás” e o “Homem do Real”.

“John Kennedy que, como candidato à presidência dos Estados Unidos em 1960, foi o primeiro a fazer da televisão um eficiente cabo eleitoral. E ele estava apenas engatinhando no domínio do meio televisivo, muito aperfeiçoado por outro candidato Ronald Reagan, um ex-ator que na campanha de 84 mostrou-se um dos melhores políticos que já apareceram no vídeo”.[108]

Muitos dos grandes líderes políticos foram fabricados pelos meios e suas imagens foram vendidas através da mídia ou assessoradas por ela.

O que se constata é que os governantes pensam mais na imagem do que na ação política ou administrativa. Querem governar na mídia. Mesmo sendo refratário à badalação, Michel Rocard confessa que, quando ministro da Agricultura, consagrava grande parte de seu tempo às tentativas de se desvincilhar da engrenagem midiática. Uma vez na chefia do governo, decidiu que ‘governar é se calar’. Deu-se bem, porque deixou o cargo ao cabo de três anos, recentemente, por razões de ordem política, com uma popularidade superior a 50 %. Porém, os políticos, em sua grande maioria, pensam que agem aparecendo e falando na TV. Com isso, os jornalistas tornam - se árbitros da ‘ ação’ política”. [109]

Na Internet também não enxergamos os cidadãos reais, os seres humanos de verdade que estão atrás da máscara eletrônica.

“O governo não deve interferir na navegação na Internet e as regras de controle de informação tem de ser estabelecidas pelo bom senso dos próprios usuários da rede. A ausência de regras formais definidas pelo Estado é defendida, em São Paulo, por usuários e administradores de provedores, as empresas encarregadas de intermediar o acesso dos navegadores à rede”. [110]

Com o uso das novas tecnologias, o debate político não faz parte exclusivamente da vida pública, mas da privada. Por exemplo: quando há um contato, na BBS, com uma pessoa desconhecida e até certo ponto imaginária, por vezes torna-se mais satisfatório do que pelas relações pessoais palpáveis, e se registra uma ilusão do poder na posse do elemento imaginado.

“Por fim, há os MOOs. Embora não sejam exclusivamente dedicados a sexo ou pornografia, freqüentemente incluem ambos. São jogos em que as pessoas assumem personalidades e nomes fantasiosos em mundos imaginários. Dentro dos MOOs há até casamentos virtuais e já houve pelo menos um caso de ‘estupro’. Um usuário roubou a identidade de uma jogadora MOO e ‘obrigou-a’ a fazer sexo com outro”.[111]

Onde é que a mídia vai buscar artifícios para se maquiar e para se transformar no que é e no que busca ser cada vez mais com melhor atuação e perfeição no espelho social?

“As relações entre os homens já não são medidas apenas pelas coisas, como fetichismo da mercadoria de que Marx falou, mas diretamente pelas imagens.” [112]

CAPÍTULO 6:

A Favela Eletrônica: a modernidade convivendo com as desigualdades sociais

“(...) Mais uma vez, dublados em português. Nós somos a sua cara em Rede Nacional. Nós somos o Terceiro Mundo Digital, correndo atrás das nuvens, enquanto os ventos mudam”.[113]

“Prometemos a vocês a utopia da democracia eletrônica, do saber compartilhado e da inteligência coletiva. Na verdade, eles não terão nada além do domínio de uma nova classe virtual, composta por magnatas das industrias dos sonhos (cinema, televisão, videogames), dos programas, da eletrônica e das telecomunicações, rodeados pelos idealizadores, cientistas e engenheiros que comandam o canteiro de obras do ciberespaço, sem esquecer os ideólogos ultraliberais ou anarquistas e os sumos sacerdotes do virtual, que justificam o poder dos outros. Uma outra versão – terceiro mundista ou européia - dessa visão paranóica apresenta o desenvolvimento do ciberespaço como uma extensão do império militar, econômico e cultural americano (...)”.[114]

O que há de novo, além do fato do homem projetar em si mesmo a vontade de se comunicar com seu semelhante, desse sentimento do álter, da busca do outro como elemento de complementação de si mesmo, de compartilhar com o outro a sua forma de ser e estar no mundo? De falar de si mesmo ao outro,usando gestos, palavras, códigos e até, quase de forma metafórica visual, de transpirar no computador?

“O uso do computador expressa-se em um contexto de contínua interação. Nesse sentido, o computador não é apenas um instrumento que prolonga nossos poderes de comunicação ou de processar informações e modo correspondente ao nosso. Com isso, possibilita uma qualidade de interação, que tem o valor e desenvolvimento”. [115]

O fato da revolução dos meios de comunicação vir precipitando no planeta uma sintonia entre países, só imaginada antes em obras de literatura de ficção científica, não esclarece ou mostra que as prioridades políticas do século XX são de ficção científica também, nem que a modificação na relação tempo-informação muda a relação desenvolvimento-sociedade.

“Damos por descontado que todo progresso tecnológico é por definição um progresso. Sim e não. Depende do que entendamos por progresso, por si mesmo, progresso é só ‘ir sempre adiante’ e isto comporta um crescimento. E não está claro que o aumento tenha que ser positivo. Também de um temor podemos dizer que cresce e em este caso o que aumenta é um mal, uma enfermidade. Em numerosos contextos, pois a noção de progresso é neutra. Porém com respeito a progressão da história, a noção de progresso é positiva. Para ilustração, e hoje para nós, progresso significa um crescimento da civilização, um avanço a algo melhor, que faz uma melhoria. (...) A advertência é pois, que o aumento quantitativo não é um progresso qualitativo sempre”. [116]

Apesar de algumas vezes gastarmos nosso tempo com uma série de descobertas e invenções que nem sempre resultam em inovações positivas para o mundo, em outras ocasiões estas mesmas descobertas são reveladas a partir de fases negativas da humanidade, caracterizadas por guerras, chacinas, e outras barbaridades, provenientes da natureza humana.

“Grandes poesias saíram da guerra, grandes eventos bélicos acabaram se elevando a instrumentos de salvação de vidas, em tempos de paz. Não há base para o pessimismo. Até o chicote, tão temido, tornou -se instrumento de prazer nos círculos sadomasoquistas”. [117]

“Tarde demais. Quando descobriram o átomo também não pensavam na bomba. Podemos - e devemos - estourar uma garrafa de champagne para comemorar cada descoberta humana. Desde que suportemos as dores, como diria um personagem de Samuel Beckett. (...) O forno microondas apareceu por aqui na década dos 80. Simplificou a vida das donas – de – casa . Viva. Imaginem se já o tivessem inventado em plena ditadura militar e o fabricassem em tamanho bem grande, a ponto de abrigar um prisioneiro”. [118]

“Marx dizia que a natureza mesmo já não existia mais, pois foi transformada pela ação humana. A camada de ozônio por exemplo, foi humanizada e tem um imenso buraco. (...) ...a explosão do celular de Yahya Ayyash, o jovem palestino acusado de vários atentados terroristas em Israel. Ele simplesmente atendeu a um chamado e um dispositivo de controle remoto explodiu o aparelho. Yahya Ayyash perdeu a cabeça. (...) Toda vez que formos escrever a história do telefone celular, pensaremos na mobilidade, no conforto, na eficiência e tudo mais. É um aparelho usado para melhorar a vida das pessoas, se possível salva-lá.(...) Mas jamais poderemos dissociar a história do telefone celular dessa explosão que decapitou Yahya Ayyash. Esse tronco inerte e essa cabeça perdida entraram na história do aparelho e vão dotá-lo de uma cota de horror para todos os tempos”.[119]

Nos países de Terceiro Mundo se vê que cantores sertanejos e jogadores de futebol vão se tornando classes emergentes, enquanto professores estão cada dia mais pobres. Ilude-se o pai que acha que, comprando um computador para seu filho, está garantindo a ele um futuro melhor. As coisas não são tão simples assim, e esta é uma das tantas questões do porque a política é fundamental.

“O uso do computador expressa - se em um contexto de contínua interação. Nesse sentido, o computador não é apenas um instrumento que prolonga nossos poderes de comunicação ou de processar informações e modo correspondente ao nosso. Com isso, possibilita uma qualidade de interação, que tem o valor e desenvolvimento”.[120]

Há pessoas que consideram o povo brasileiro mal resolvido política e culturalmente pelo o fato de que aqui existe uma paixão nacional pelo futebol e pelo carnaval, e que a vida política do povo brasileiro gira em torno da “temperatura” destes dois eventos sociais. É comum ouvir que o futebol e o carnaval são o ópio do povo, e que razão do povo ser ignorante está nessas duas raízes culturais.

“Como é possível um povo que produziu Beethoven também tenha produzido Hitler? É uma contradição tremenda: um dos países mais civilizados e ao mesmo tempo um dos mais bárbaros. Explicar qual a origem disso é um problema para o historiador”. [121]

Em parte acredito que isto seja verdade em determinados períodos políticos, e em outros não, porque durante a ditadura militar o futebol da Copa de 70 foi visado para encobrir crueldades cometidas pelo regime. Mas o nosso povo independentemente de regime político vigente, sempre gostou de futebol.

Em uma década em que nasce a figura ídola do Rei Pelé, é difícil distinguir a alienação da válvula de escape do descontentamento coletivo.

Isto não significa que o povo brasileiro (ou qualquer outro povo que goste de futebol e carnaval) seja ignorante por isso. O carnaval brasileiro e o futebol podem até representar, no plano coletivo imaginário de uma nação, a figura metafórica da droga como o ópio, mas à maneira de adolescente que usa maconha para fugir dos problemas familiares ou afetivos.

Quando o país esteve mergulhado em um período de massacre social como o da ditadura, podemos indagar porque se correu coletivamente para processos de catarse. Acredito ser este um fenômeno relacionado à Internet de hoje. A Internet é a catarse do momento, como o futebol foi na década de 70, e como o LSD foi na década de 60, bem como a ideologia do paz e amor.

Temos, hoje uma crise mundial diferente das ditaduras do passado; somos marcados pelo individualismo e neoliberalismo da globalização, onde, pela primeira vez, as pessoas têm um meio de comunicação para se manifestarem livremente e continuam criando estes processos de catarse. Continuam até discutindo futebol pelas salas de chat especializadas em falar sobre futebol e de sexo em sites de sexo virtual. Isto mostra que em qualquer período histórico as pessoas procuram coisas divertidas e prazerosas para aliviarem seus problemas.

Se pensarmos nos fenômenos da bossa-nova, do movimento hippie, da jovem - guarda, tudo poderia ser visto como desabafos coletivos. Até os movimentos darks e punks na década de 80 na Inglaterra nos ajudam a diagnosticar que, quanto mais a sociedade se encontra reprimida, mais ela parte para os processos de catarse.

Foi no auge do tacherismo que os darks e punks nasceram. As pessoas fogem da realidade porque a realidade não dá segurança e conforto às pessoas. Nem sempre elas são manipuladas ou alienadas; muitas vezes guardam seus problemas na memória, como se fosse uma gaveta trancada onde os mesmos se armazenam. Elas podem autoalienarem - se ou estarem predispostas a serem alienadas, segundo a vontade dos meios de comunicação, do sistema ou do governo.

Mesmo conhecendo inconscientemente o que é real e o que não é, preferem a irrealidade, por ser mais cômoda e menos traumatizante para elas.

Seria desejável que estudos futuros analisassem algumas semelhanças entre os jogos lotéricos e a Internet, porque o próprio processo dos sorteios seria alienante, e o próprio ato de jogar seria uma catarse, com as pessoasapostando porque precisam sonhar com uma realidade que elas não podem alcançar.

A internet usa também este modelo - laboratório de sonhos das loterias. Na mesma vertente, questiono-me sobre a televisão e os meios de comunicação. As pessoas usam os meios porque elas querem se alienar.

Defendo a idéia de que o que leva à alienação coletiva de uma nação é o medo da exclusão de cada indivíduo que forma esta nação. Os meios de comunicação como rádio, televisão, Internet ou de arte como música, dança, cinema e o próprio esporte como o futebol, são catarses. São instrumentos que proporcionam algum prazer na vida. Não só no Brasil: hoje o futebol é paixão na Inglaterra, na Espanha e na Itália.

Os europeus também são atraídos por programas de auditório e sorteios. Isso porque assistem diversos programas semelhantes aos de Sílvio Santos, na RAI, na TV Espanhola e na RTP. Além disso, as nossas novelas são sucesso no mundo inteiro. Assim, é comum a busca da catarse para fugir dos problemas políticos e sociais; não só no Brasil, mas no mundo todo.

Nesses momentos os indivíduos se isolam da sua realidade e de suas dificuldades. O Brasil tem sérios problemas de miséria e de distribuição de renda, mas países como a Suíça tem problemas de depressão e suicídio, com todo o seu desenvolvimento social. Portanto, tecnologia não é sinal nem de qualidade e nem de satisfação de vida.

Em várias partes do mundo e por vários motivos as pessoas procuram entrar em processos de catarse, uma vez que os desenvolvimentos humanos, sociais e políticos não acompanharam o desenvolvimento técnico - científico. Por isto também temos tantos gurus contemporâneos e as pessoas acreditam em fadas, em anjos, em duendes, porque o desenvolvimento técnico e industrial não conseguiu tampar os buracos de ordem afetiva e emocional.

O ser humano se desenvolveu muito tecnologicamente e cientificamente, e pouco abriu-se para as questões da essência humana, do seu eu e do seu ego, descobriu menos sobre sua mente e seu comportamento psicológico do que sobre computadores, e quanto mais ele se aproxima do computador como seu alter-ego, mais seu espelho interior fica embaçado.

Lembremos, por exemplo, que a crise da Bolsa de Valores (1929) de Nova Iorque, não foi somente uma crise financeira, mas uma crise emocional mundial, como quando o governo Collor tirou o dinheiro da poupança das pessoas no Brasil; foi uma crise emocional coletiva e nacional. Teve gente morrendo mais do coração pela emoção do que pela falta do dinheiro propriamente dito.

Defendo que o povo brasileiro não é ignorante por gostar de futebol e carnaval, mas por outros motivos, pela falta de alfabetização, de escolaridade, de respeito aos direitos humanos.

Os alemães cometeram a maior catarse alienatória da história. Quiseram eliminar as diferenças culturais pasteurizando o mundo numa raça só e numa cultura só. A globalização quer eliminar as diferenças aniquilando as comunidades que resistem a sua uniformização e os países periféricos pela falta de modernização tecnológica.

Várias pessoas como no fascismo vão ser excluídas do mercado. A “raça superior dos ricos” vai ficar mais rica e os dos pobres mais pobre, porque a globalização acumula o capital estrangeiro do mundo inteiro nos países centrais e não no terceiro mundo.

“Em lugar de canhões, o que prevalece é a informação, a disseminação de idéias. Em lugar de revolução pela força, temos que buscar a revolução de conhecimentos e da comunicação. Para surpresa de muitos, são estas novas tecnologias que irão tornar realidade algumas das mais caras aspirações humanas, particularmente as que envolvem elevação da qualidade de vida, igualdade e participação”. [122]

Assim como os americanos têm o blues e o jazz e o baiseboll, os ingleses o rugby, nós temos futebol e carnaval. É formação cultural e não alienação. Grande preconceito aqui no Brasil é dizer que intelectual não possa gostar de time de futebol e de escola de samba, como se fosse reduzir sua maneira de pensar e a sua formação cultural. Pelo contrário, isto tenderia a enriquecer a qualidade e quantidade das informações, tornando-os apreciadores da nossa própria cultura e não colaborando com o seu esvaziamento.

Acho que um dos grandes problemas da globalização é o de que ela nos leve a um nazi - fascismo de mercado, a um totalitarismo gerado pelo capital. Perdemos o totalitarismo das ideologias e podemos entrar no totalitarismo do mercado. E este é mais perigoso porque não tem líder visível, como Hitler ou Mussolini. Podemos deixar de ser noveleiros e passar a consumir os filmes enlatados que, sem parar, Hollywood produz.

O totalitarismo de mercado diferente do nazismo não acaba com a raça dos negros, árabes e judeus, mas com a cultura deles, e quando acabamos com a cultura de um povo o suicidamos. O “holocausto da globalização” é fazer com que todos os povos se submetam a cultura euro - americana sem resistir. Um índio, por exemplo, não deixa de ser índio porque perdeu a sua terra, mas porque perdeu os costumes que faziam parte da sua cultura.

Não acredito na afirmação de que as novas tecnologias de comunicação trarão mais qualidade de vida e igualdade para as classes sociais, maior participação política ou melhor cobertura democrática; pelo contrário, creio que as novas tecnologias de comunicação estão muito ligadas à questão econômica – financeira , e de que toda informação é paga, se não por via direta da técnica e dos meios, por via indireta do saber para se ter, entender e criticar.

“A TV por assinatura, considerada um serviço para a classe média-alta, está entrando na Rocinha. A partir do final de abril, os moradores da que é considerada a maior favela do Rio, na zona sul, terão acesso a 33 canais por intermédio da TV Roc. (...) Com investimento inicial de US$ 3 milhões do grupo argentino Quinterno, Sanches Elia y Associados, a TV Roc está vendendo os mesmos canais que são distribuídos pela Net, das Organizações Globo, além de um canal comunitário, que deve entrar no ar no segundo semestre”.[123]

Não acredito que as novas tecnologias possam mudar nossa realidade social. Nos países subdesenvolvidos ainda há doenças infantis que nos desenvolvidos já foram eliminadas, e um alto índice de mortalidade infantil. Então, como acreditar que vamos nos modernizar e ter uma sociedade mais justa por meio das tecnologias de comunicação, se não conseguimos nem sequer através de livros, revistas e jornais formar uma nova geração?

“A proliferação da oferta acirra a disputa pelo tempo do consumidor. Como o leque de opções é amplo na televisão paga e praticamente inesgotável na Internet, a tendência é que as inclinações pessoais, especialidades e hobbies encontrem seus ninchos, levando ousuário a dedicar parte crescente do tempo a eles. Além disso, o aperfeiçoamento tecnológico dos novos meios ainda está em curso, conforme eles convergem para um mesmo aparelho físico, capaz de enfeixar e redefinir o uso do televisor, do telefone, do livro, da revista e do jornal”.[124]

A infinita variedade dos meios de comunicação é redundante e não propicia o avanço da sociedade para direção alguma; sua influência é sinérgica, é corrompida pela obrigatoriedade de se ter altos índices de audiência e publicidade.

Há escolas no Nordeste que não podem instalar um televisor sequer porque não há luz elétrica. Portanto, ter condições de obter informação e de ser socialmente desenvolvido está ligado à distribuição de renda e não somente ao fato de obter tecnologia de ponta e aparelhos sofisticados de comunicação.

“O canal de TV comunitário, que também se chama TV Roc, vai mostrar programas educativos, fará a cobertura do Raiz da Gávea, time de futebol da Rocinha, da escola de samba Acadêmicos da Rocinha e de eventos da comunidade”. [125]

O país não se torna desenvolvido somente por uma questão de equipamentos eletrônicos e máquinas tecnológicas avançadas. Seria como pensar que o ensino da USP depende da cor do chão e das janelas para ser transmitido, ou da quantidade de frascos que o laboratório de química ou física possam ter.

“A Net, a TVA e a Multicanal já começam a disputar os consumidores das favelas de São Paulo. As três redes de TV a cabo já tem entre seus clientes consumidores de menor poder aquisitivo. (...) Os moradores da favela Buraco Quente, na zona sul da cidade, tem acesso aos serviços do Multicanal e da TVA. Sem nenhum desconto no preço da assinatura, eles podem escolher entre os dois serviços oferecidos”. [126]

O terceiro mundo chega a receber as sobras dos países do primeiro mundo, como televisões educativas a cabo que priorizam programações que levem cultura e saber à todos mas que, por ser a cabo favorece que o conhecimento se acumule novamente nas mãos de poucos e faz com que o poder da informação esteja atrelado ao poder econômico.

“O problema é que, neste momento, para transformar a questão educacional em algo que não se esgote no proselitismo impõem-se redefinir os objetivos, procedimentos e o próprio alcance histórico da educação. O modelo iluminista que durante certo tempo rondou nossas escolas, mas que por vários motivos não conseguiu se firmar plenamente, foi comido pelo seu próprio mito de origem e acabou tentando adequar-se ao projeto da razão instrumental burguesa. E o que fez de forma canhestra, contribuindo, ao que parece, para o surgimento de um modelo híbrido, só que ajustado pela sua vertente negativa: nem elaborou a necessária solide da formação humanista tampouco conseguiu entender o sentido e as funções desta outra face da razão instrumental: aquela voltada ao estrito pragmatismo operacional das novas tecnologias”. [127]

Como acontecia durante a revolução industrial, quando não se podiam importar máquinas junto com mão de obras, hoje não se pode importar computadores juntamente com habilidade, criatividade, desenvolvimento cultural e conhecimento acumulado em milhares de anos: o êxodo desta vez não é somente do rural para o urbano, mas da inteligência dita emocional que sabe conjugar diversas habilidades motoras, sensitivas e criativas num lugar comum de vivência empírica. Portanto não adianta importarmos toda uma variedade de máquinas para aprendermos algo, se a semente da inteligência emocional não estiver preparada para dar frutos. Podemos colocar uma televisão educativa numa favela, mas isso não terá muito sentido se as pessoas não tiverem motivações em suas vidas para assistirem a televisão educativa.

“Para simular a realidade com que deparão as crianças, a educação em si mesma tem que se transformar em uma atividade na qual a hora e o lugar não tenham importância. E isso significa que muita coisa deve acontecer fora, e não dentro das salas de aula”. [128]

“A melhoria constante dos programas de computador, em função de uso e das exigências que fazemos deles, ilustra um princípio que Piaget reivindicava para a própria vida. A vida, se não somos impedidos pela doença, pela injustiça social ou pela miséria, será sempre para melhor; isto é, exigirá contínuos aperfeiçoamentos em torno daquilo que caracteriza sua função ou razão de ser”. [129]

“Só em países africanos como Nigéria, Etiópia e Serra Leoa, ou da Ásia meridional, como Bangladesh, é possível encontrar taxas semelhantes. Mesmo, assim , em comparação ao índice de analfabetismo da população adulta”. [130]

“A ‘crise da educação’, espectro que assombra quase todos os países, não pode ser resolvida dentro das salas de aulas. Nem mesmo se houver um computador e uma conexão com a Internet em cada uma delas”. [131]

“Uma educação que prepare as crianças para o século 21 deve combinar cinco elementos: Primeiro, a informática. ‘O computador na sala de aula’ é o mantra da moda. Mas simplesmente enfiar um PC na classe sem mudar a própria escola é desperdício de dinheiro e energia. Nenhuma instituição é, hoje, menos capacitada para aproveitar as vantagens do potencial do PC ligado à Internet que a burocracia escola do modelo fabril. Muitos professores sabem menos sobre o uso de computadores que os alunos. (...) Segundo, a mídia. Os meios de comunicação não podem ser ignorados pelos educadores, nem a presença da mídia se restringir à presença de televisores nas salas de aula. A terceira onda da mídia com seus poderosos efeitos especiais e, em breve, também com funções interativas, mas sua capacidade para disparar mensagens talhadas especificamente para cada criança individual, se provará muito mais sedutora e influente que a segunda, na qual a mesma mensagem é transmitida a todos. (...) Terceiro, os pais. Diferentemente de 1900, quando sociedades amplamente iletradas produziam a transição do meio rural para o urbano, os professores de hoje já não têm o monopólio das letras e do conhecimento. E triste, porém verdadeiro, o fato que muitos professores atualmente sabem menos que os pais e outros membros da comunidade. A crise da educação não encontrará solução sem que esses pais sejam atraídos para o processo educacional, não em visitas ocasionais à escola, mas como professores particulares, fazendo uso de seus computadores e da conexão com a Internet. (....) Quarto a comunidade. Precisamos aproveitar o conhecimento distribuído no interior das comunidades e permitir que mentores voluntários ou orientadores adjuntos sejam apontados, sob a supervisão de professores. (...) Quinto e último: professores. Em vez de disparar lições-padrão, os professores devem ser libertados da escola-fábrica e solicitados a contribuir no reprojeto do processo educacional como um todo, do começo ao fim”.[132]

“Eles resolveram entregar computadores carregados com os mais modernos programas educativos e cem bibliotecas, todas instaladas em favelas, e bairros periféricos das cidades brasileiras.(...) A doação do material é detalhe. Importante é a produção da tecnologia do conhecimento, num país com escassos exemplos de escolas públicas eficientes. Esse projeto vai transformar as bibliotecas, na prática, em laboratórios sociais”. [133]

“Se der certo, o projeto tende a inspirar o sistema público, habilitando as escolas a preparar o trabalhador do futuro, obrigando a lidar com tecnologias sofisticadas. O que é mais estratégico: distribuir terras ou computadores?”. [134]

“Escola que não ensina a manejar as informações, não mantendo-o aluno em permanente reciclagem, cria novos analfabetos.(...) O sem-computador de hoje é o sem-terra do futuro. Vai ficar vagando à procura de auxílio oficial, com poucas chances de encontrar um bom emprego”. [135]

“Ainda que possamos questionar o narcisismo tecnológico contemporâneo é preciso considerar o significado e a extensão das novas linguagens que marcam o cotidiano de nossas crianças. A sedução exercida pelos videogames, pela sintaxe descontínua da televisão, pelos fragmentos publicitários, pelos sistemas computacionais parece chocar-se com os comportamentos retóricos tradicionalmente balizadores do discurso escolar. O desafio da escola renovada, que esperamos ter, é o de conseguir atuar na interface entre o trabalho reflexionante, crítico e a aprendizagem de uma série de linguagens e recursos que podem habilitar alunos a melhor enfrentar os requisitos do próximo século”. [136]

Agora, os telespectadores das tevês a cabo podem se isolar de assistir aos problemas sociais do seu país para “estrangeirizar” sua desgraça política com as de outras nações. O vulcão do Japão, tanto quanto o caso Monica Lewinsky e Bill Clinton, podem ser mais um caso social nosso do que dos outros, e o nosso analfabetismo e nossa desnutrição infantil podem ser mais fatos sociais dos outros do que de nós mesmos.

“Não faz muito tempo eu estava lendo um artigo sobre as glórias da ‘super-rodovia da informação’. Não poderia reproduzí-lo exatamente, mas a matéria falava sobre a maravilha que seriam essas novas tecnologias interativas, e dava dois exemplos básicos. (...) Para as mulheres, elas proporcionariam métodos altamente aperfeiçoados de fazer compras sem sair de casa. A idéia é observar o produto que aparece na tela do televisor, e pensar: ‘Meu Deus, preciso conseguir um deles’. Apertar um botão e em algumas horas o objeto anunciado é entregue em casa. Desse modo, supõe - e que a tecnologia interativa vá liberar as mulheres. (...) Para os homens, o exemplo dado envolvia um campeonato de futebol, que concentra a atenção de todo público masculino. Atualmente, muitos homens se limitam a acompanhar os jogos pela televisão, torcendo pelo seu clube e bebendo cerveja, mas a nova tecnologia interativa permitirá que o público participe do jogo, decidindo por exemplo a escalação do time, a jogada a ser feita em cada momento, etc. Naturalmente, essas decisões, transmitidas por computador, não influenciarão o jogo real, mas depois será possível comparar a opinião dos espectadores com as decisões do técnico de cada time. (...) Essa é a utilidade da tecnologia interativa para os homens. Agora sim, você estará participando realmente do que acontece no mundo. Deixemos de lado o problema de decidir como deve ser organizado o sistema de saúde pública, para nos dedicar a algo realmente importante”. [137]

Quando divulgados os fatos de repercussão nacional os mesmos são mostrados de forma pasteurizada, com informações ao gosto do olhar estrangeiro, ou seja, passa-se um pano nos dados relevantes, de modo que suas fontes nacionais sejam manipuladas de fora; sofremos portanto, hoje, a ditadura e a censura do capital estrangeiro.

“Robson Dalmo da Silva, 19, é assistente da TVA há quatro meses. Divide o pagamento da mensalidade, de R$ 49, com mais dois irmãos. (Ele dá o depoimento): ‘O que mais gosto de assistir são os programas de esporte’. Muitos jogos de futebol que não são transmitidos pela ‘TV comum’ passam ao vivo na TVA. Os jogos internacionais também são ‘muito bons’, afirma Robson. (...) Ele mora com a mãe e mais cinco irmãos no barraco. A renda per capita da família é de R$ 286. Robson estudou até a sexta - série do primeiro grau e trabalha como auxiliar de padeiro, com salário de R$ 240”. [138]

Na televisão por assinatura não se pode dizer que tudo é diferente pois, embora haja maior variedade de programações, ela é copiada a partir de um modelo conhecido da televisão comercial.

“A infinita variedade prometida revela-se enganosa. Umas novelas em espanhol piores do que as nossas; programas que lembram o extinto ‘Almoço com as Estrelas’; shows musicais ao estilo Raul Gil; a TV americana imitando Chaves; entrevistas oligofrênicas; campeonatos regionais de golfe; a ‘Cozinha de Ofélia’ em línguas diversas; os filmes de vídeo - locadora; shoptours, leilões, pregadores; o conjunto de TV internacional parece pior do que pensávamos”. [139]

A televisão a cabo é hoje um cadáver perfumado da televisão comercial de ontem. Os programas da tevê convencional com a nova à cabo se misturam, e o que se copia não é só a programação com perfumaria, mas a forma de elaborar o conteúdo da caixa ideológica da programação, como a maquiagem também. Temos programas tão ruins na televisão a cabo hoje quanto tínhamos na tevê comum ontem.

É como se a televisão convencional fosse uma loja popular, e os canais fechados, a cabo, as boutiques de comunicação, como as dos “shopping centers”: em ambos os lugares há mercadorias para vender e vitrina para seduzir. A diferença está no público que atende, a marca (emissora, canal) e a forma de transmitir seu marketing (entretenimento/vitrina).

O que se chama de “brega” ou “cafona” em um meio de comunicação, politicamente poderia ser traduzido por “gosto popular”. O “gosto popular”, nesses casos mediáticos, é formado pelo vazio que se forma na esfera social por falta de propostas políticas com comprometimento de modernidade cultural. Esse tal “gosto popular”, portanto, é definido pelo mercado e não pelo povo em si.

“Os programas e seu conteúdo se baseiam em a informação e o entretenimento, sustentado em a especularidade, com uma carga tendenciosa, alienante, deformadora e superficial”. [140]

Um traço importante que caracteriza o crescimento tecnológico dos meios de comunicação é a sua aceleração simultânea nos três grandes centros da área capitalista e dos “quatro dragões da Ásia”. Cabe ainda destacar o brusco aumento do comércio internacional. Os Estados Unidos, país produtor da maior quantidade de programas de entretenimento, diversão e cultura na mídia, é o mesmo que, com o desenvolvimento nos últimos anos, baseou-se na estabilidade da demanda na esfera do consumo.

“Pena que anos antes de trilhar a aventura ‘high-tech’, Breton não tenha lido Jean Jacques Salomon e André Lebeau. Num livro sobre a miragem do desenvolvimento afirmava tudo isso com a maior clareza. Em 88, já mandavam mil recados: ‘Idéias mistificadoras: é inexato que um esforço de pesquisa fundamental seja indispensável ao desenvolvimento; é inexato que a tecnologia mais avançada responda às necessidades da maioria dos países subdesenvolvidos; é inexato que a revolução da informática seja um atalho para tornar a economia produtiva ...”. [141]

Com a globalização da economia, a cultura da humanidade sofreu um drástico empobrecimento, monitorado pelos negócios das comunicações.

“A explicação talvez mais didática está no teorema do economista Eduardo Gianetti da Fonseca: O fenômeno da globalização resulta da conjunção de três forças poderosas: 1) a terceira revolução tecnológica (tecnologias ligadas à busca, processamento, difusão e transmissão de informações, inteligência artificial; engenharia genética); 2) a formação de áreas de livre comércio e blocos econômicos integrados (como o Mercosul, a União Européia e o Nafta); 3) a crescente interligação e interdependência dos mercados físicos e financeiros em escala planetária”. [142]

A linguagem dos meios desenvolvida em consonância com a lei de mercado não cria fugas ao processo circulatório do mercado. Pelo contrário, curva-se e se torna discípula ortodoxa dessa realidade manipulada e atrativa da demanda na esfera do consumo.

“O sistema econômico dos EUA revela assombrosa capacidade de adaptação às novas condições de reprodução e concorrência, o que lhes permitiu reagir de modo adequado à queda do dólar e dos preços do petróleo e ao boom dos países na Europa Ocidental”.[143]

“A modernidade começa, segundo Sombart, quando a posse e o uso de bens de luxo (e não as castas) determinam o status social. Ou seja, quando as diferenças sociais são quantitativas (quem tem mais e quem tem menos). Ora, a resistência do capitalismo brasileiro à distribuição das rendas e à abertura de um mercado interno se entende como uma maneira de manter diferenças qualitativas, reservando o acesso ao luxo para castas privilegiadas . Por esse caminho, Harrison poderia descobrir que a diferença crucial não é a de religião, mas entre o individualismo avançado norte-americano e uma sociedade em transição, ainda hierárquica e tradicional”. [144].

CAPÍTULO 7:

Os Novos Garotos e Garotas de “Programa”

O ANDRÓIDE SEM PAR: Passeando outro dia com meu Rayban Escuro, eu conheci um Andróide sem par nem futuro, porque também não existe mais nenhum futuro. Não tem sonho nenhum menina da espera, por isso nem repara a manhã do poeta, porque também não existe nenhuma saudade, não existe maldade na terra do Andróide sem par. Uns viram Messias e andam no mar, outros andam armados para te matar, fazem amor por esporte, vivem a vida não pensam na morte”. [145]

O cidadão está sendo, cada dia mais, consumido por robôs, seja no trabalho ou em suas outras atividades, e os espaços públicos, como a rua e a própria cidade, vão sendo miniaturizados, substituídos por deliveries e espaços de ruas, avenidas e empresas virtuais. A cidadania vai sendo sufocada e colocada em software, e já há duas categorias de seres humanos: os digitais e tecnológicos e os que não se preocupam tanto com a nova realidade, boa ou ruim.

“Afinal, é raro a comunicação, pelas redes informáticas substituir-se pura e simplesmente aos encontros físicos: a maioria das vezes, ela lhes acrescenta um complemento ou uma pitada de sal. (...) Mesmo que o afluxo de novos usuários por vezes a dilua, os participantes das comunidades virtuais desenvolveram uma rígida moral social, um código de leis costumeiras - não escritas - que regem suas relações. Essa ‘netiqueta’ diz, respeito, sobretudo, à pertinência das informações. Não devemos depositar mensagens sobre certo assunto num tema de conferência eletrônica que trata de outro assunto”.[146]

“Mas, apesar desse grande aumento no uso da rede, ainda não há ninguém que realmente viva um estilo web de vida - e isso não acontecer até um dia em que os computadores puderem ser ligados instantaneamente, as conexões de rede funcionarem mais rapidamente, os softwares forem mais fáceis de usar e as pessoas perderem o medo do computador e não se preocuparem com a segurança na Internet”. [147]

“As pessoas que chegam mais perto de viver um estilo web de vida provavelmente são alguns estudantes universitários. É uma moçada que recorre a alguém pergunta. Se você perguntasse a esses jovens por que trocam as Páginas Amarelas pela Web para procurar coisas, talvez nem soubessem responder. Seria como perguntar a eles por que usam o telefone ou a televisão”. [148]

Na Espanha, por exemplo, já há um grupo de periodistas (jornalistas) digitais, que têm uma organização de trabalho diferente daquela dos jornalistas de meios impressos. Os jornalistas digitais não são uma categoria que digita, que trabalha com computador simplesmente, porque isso os jornalistas de meios impressos também podem fazer, mas uma categoria que só publica matérias e artigos em meios de comunicação virtuais. Seria melhor chamá-los de periodistas virtuais, mas por algum motivo escolheram o nome “digitais”. Eles podem ser contactados pelo e - mail: gpd@aleph.pangea.org.

Pensamos em categorias de seres humanos diferentes, não biologicamente, mas profissionalmente, e quando as avaliamos em nível profissional, a questão política imediatamente aparece. Um grupo de profissionais digitais dá origem a outros. E este é o primeiro passo para que haja sindicatos virtuais, para atender a empregados virtuais.

Será que para atender a reivindicações e interesses virtuais também? As noções de cidadania e de ser humano ficam confusas com a influência dessas novas tecnologias de comunicação, pois há uma vontade de que a máquina exerça a cidadania e de que o robô seja cidadão, coisas que, politicamente, são impossíveis de acontecer.

“O processamento analógico, somado à simultaneidade de múltiplos canais, dota o cérebro de capacidades insuspeitáveis a Deep Blue. O digital somado à velocidade do chip de sílica, é capaz de nos derrotar no xadrez. Nas metáforas, cenários complexos e, sobretudo, na capacidade de engendrar sociedade e moral, ainda não”.[149]

A Teoria de Shannon sobre a concepção de um computador que seria capaz de jogar habilmente uma partida de xadrez diz: “Ou temos que afirmar que um computador desse tipo ‘pensa’ ou temos que modificar substancialmente a implicação convencional de verbo pensar”. [150]

“Só existe mente quando, ao perito de falhar no cálculo, se acrescenta o perigo de falhar na expectativa depositada sobre si. Essa carga humana, demasiada humana, é ainda hoje dificilmente reproduzível em máquinas. As emoções e a vontade, propriedades inimagináveis a Deep Blue, coroam e colorem nossa espécie”. [151]

O pensamento cartesiano, ao qual estamos arraigados e que diz respeito ao mundo das predicações, isto é, ao mundo dominado pelo poderio verbal, pelo pensamento linear subordinado e irremediavelmente estático e ao qual interessa uma história contada com princípio, meio e fim, é provavelmente o principal entrave para a compreensão do pensar analógico, porque esse diz respeito a um mundo em ação, a um mundo em que se conjuga no gerúndio, e ao qual dizem respeito as estruturas que acabam por gerar significados.

“O pensar de hoje como prenunciado pela fotografia no início deste século nos apresenta uma visão de mundo pautada por esquemas de associações. Montagens de linguagens nas quais a predominância do visual é evidente. Mas ela não subsiste só, independente. É necessário que esteja inter-relacionada com outras formas de linguagem. Cada uma dessas formas, como um processo de retroalimentação, interpreta um tema à sua maneira, lhe confere feições próprias de seus estatutos”. [152]

Esse ser humano virtual que se esconde no discurso da sociedade planetária é um lúdico narcisista, apoiado não só na imagem da beleza particular de cada ser vivo, mas no conjunto coletivo de uma estética feita pela globalização, construída por um processo de indústria de massa, idealizada em quase todo o planeta ou em partes dele, onde o Narciso acha feio tudo que não é roboticamente espelho.

“A mente e a humanidade estão em xeque se não entendermos que o cérebro cria a consciência individual e a coletiva (o computador joga xadrez, mas não há ninguém que lhe ouse imputar nesga de consciência). Da interação entre as consciências pode surgir uma comunidade de deveres e direitos plenos, com alguma justiça que preserve a todos. Do contrário, serão a barbárie e a aniquilação”.[153]

O narcismo nasce dentro do próprio pensamento humano, e a mídia causa a sensação da sedução no olhar humano com seus atrativos femininos e masculinos na tela, pois ela é o modelo que o ser humano pode encontrar para compartilhar sua vontade de ser belo, como um objeto moldado, sem raspas nem restos para cortar.

Qual olhar devemos lançar ao espelho quando nos projetamos dentro dele na mídia, se é que ela nos projeta ou nos amplia, aumentando vaidades que podem evoluir e até podem tomar o formato de subprodutos das novas mídias e das novas tecnologias, tornando o verbo narcisar-se um vocábulo de colocação e utilização virtual?

Narcisar-se.V. p. 1. Rever- se como Narciso da fábula; mostrar-se encantado de si; envaidecer-se; amar-se; 2. Enfeitar-se com extremos de vaidade, compor vaidosamente o próprio semblante”. [154]

No vazio da imagem, o olhar contemporâneo encontra um refúgio para sua acomodação, um olhar repousa procurando exílio político, e na cor e na sombra da imagem o ser humano se personifica como parte de um todo planetário ao qual, na sua totalidade, ele não pertence somente em partes. As novas tecnologias podem estar servindo mais como uma necessidade de vaidade, mais como um acessório na vida cotidiana do ser humano do que como parte essencial.

“Narciso. S. m. 1. Homem muito vaidoso, enamorado de si mesmo. 2. Erva bolbosa, amarilidácea (Narcisus poeticus), nativa do Mediterrâneo, de folhas longas e estreitas, flores grandes, alvas, perfumadas e solitárias, e que é cultivada por seu valor ornamental”. [155]

O grande desafio não é analisar o rosto de Narciso redesenhado nas novas tecnologias de comunicação. Devemos ir mais longe e buscar a análise de porque precisamos sempre da imagem de Narciso no espaço comunicacional e na vida, porque o ser humano busca sempre atingir o inatingível, até para que possamos, dessa maneira, analisar os reflexos políticos vistos neste estudo.

“Não farás nem escultura, nem figura do que se encontra no Alto, nos céus, embaixo da terra’. Com estas palavras, Deus proíbe aos homens, no Antigo Testamento, de representar em imagens o divino a partir do ‘original’”. [156]

Portanto, como não conhecemos o que é o original de Deus, tentamos buscar esse original num homem inventado, num homem de ficção, e a busca da perfeição se faz a partir da realização dos ritos nos campos da política, religião, arte e cultura e, mais tarde, nos meios de comunicação. O que são esses ritos, afinal? São processos de conjugação do imperfeito que o homem se vê na sociedade com o idealizado no qual ele se espelha esperando ser divinizado.

“Fala aos profetas jamais revelando sua imagem visível e seu rosto. O homem permanecia no domínio da voz e dos enigmas (....) a Biblía acrescenta que Ele o fez ‘à sua imagem e semelhança’. (....) O verbo faz-se Carne, o sagrado torna-se imagem que se expõe: ‘O Cristo é a imagem do Pai’, inteiramente homem, completamente Deus”.[157]

Na busca da imagem perfeita e bela da figura Narciso, o ser humano passa a se reconhecer no mundo redesenhado e virtualmente tatuado, mas esse argumento político de buscar a perfeição no ídolo da globalização pode levá-lo, por meio dos meios eletrônicos da comunicação, a se tornar politicamente abstrato e ingressar num processo de coisificação, transformando-o em um objeto do próprio prazer de se ver.

“Assim como a palavra ‘política’, a palavra ‘espetacular’ não pode parar de se compor, dia e noite. Longe de ser uma atitude indigna e supérflua, a realização do espetáculo reengendra o corpo social. Somos todos ‘filhos de nossas obras’ e, sem elas, não teríamos rosto”. [158]

Não acredito que haja gente binária porque a raça humana é feita de possibilidades, e não de exatidão, entre certo ou errado, entre positivo ou negativo, entre falso ou verdadeiro. O computador tem arquivos, não tem consciência. O computador é preparado para dar respostas prontas, não para criticar ou pensar. O computador não é um ser político como o homem, é somente um objeto de poder para o homem.

“Um computador, que precisa percorrer o planeta inteiro inspecionando cada gato, cortando-o em fatias e decompondo-o ao limite, nem por isso será capaz de entender a graça e o humor do desenho simples do gato Garfield, comedor de lasanhas. Deep Blue dificilmente entende metáforas, e nós rapidamente as entendemos. Afinal, a mente que surge da comunhão de neurônios não é substância imaterial, espírito ou alma. É antes de tudo uma propriedade da matéria física cérebro em contato com a linguagem e a cultura”. [159]

O pior é que, depois do aparecimento das novas tecnologias de comunicação, corremos o risco de que não haja também seres humanos de verdade, não no sentido físico - biológico - não me refiro a criações de “ciborgs” pela técnica-, mas num sentido psicológico de existir e pensar, porque as pessoas estão sendo virtualmente idealizadas por imagens criadas e não reais.

“Disneylândia ainda era espetáculo, folclore, com um afeito de distração e de distância, enquanto com a Disney World e sua extensão tentacular trata-se de uma metátese generalizada, de uma clonagem do mundo e de nosso universo mental, não no imaginário, mas no virtual. Nós nos tornamos não mais espectadores alienados e passivo, mas figurantes interativos, gentis figurantes liofilizados desse imenso ‘reality show’”.[160]

A televisão, por exemplo, personificou o cidadão, plastificou-o dentro da sua tela, e dentro de uma modernidade imagética desintegrou sua cidadania verdadeira, porque o cidadão hoje não é o que ele pensa, mas o que ele vê.

Nesse universo geograficamente redesenhado, as tecnologias satisfazem o atual desejo por interações diferentes em escala e intensidade. Os seres humanos se conhecem por uma conexão da máquina.

“Mais do que um simples sinônimo de máquina, tecnologia deve ser entendida como conceito ou sistema (Jaques Ellul, Tecnology as Concept, 1973). Assim o mais importante não é propriamente a incorporação no fazer artístico dessas tecnologias que reproduzem e distribuem com velocidade texto, imagem e som. Importa a aceitação (por instituições e público) de que esse conceito está forçando uma revisão de práticas estéticas, artísticas e discursivas. A existência de uma escritura não seqüencial já não pode ser negada e a obra de arte incorpora conhecimento e informação, oferece experiências sensoriais e busca por conexões, além das fronteiras do mundo da arte. Ao contrário do que se acreditava na modernidade baudelariana ou no pós - modernismo das esferas de Habermas, o científico e o artístico não se encontram atualmente em oposição. A cultura visual hoje está distante da idéia industrial da arte e tecnologia. A visualidade contemporânea expande a obra de arte não apenas no sentido físico -a máquina transformada em objeto de arte -, mas coloca esse objeto além do mundo da arte na esfera da informação”. [161]

Pode-se dizer que hoje a tecnologia e a ciência influenciam a criação, a produção e a difusão de uma obra de arte. Elas criam novas mídias (desde a fotografia e cinema até invenções mais recentes, como vídeo, fotocopiadoras e computadores). Inspiram artistas por meios de novas possibilidades de manipulação e alteração de imagens originais ou apropriadas da mídia e da cultura popular, aumentando assim o vocabulário visual artístico. Possibilitam o uso sinérgico do som, texto e imagem e a difusão e reprodução da obra em tempo real, permitindo assim ao artista o entendimento e a incorporação de outras disciplinas e métodos no seu trabalho.

“Quando hierarquias de status e poder se tornam irrelevantes na criação de ‘textos’ artísticos, passa a ser uma questão de sobrevivência compreender como funciona esse conjunto inovador de princípios introduzidos na tecnocultura da tecno – sociedade em que vivemos -não apenas seu impacto no comércio e nos negócios, mas também as mudanças fundamentais que provocam nas relações existentes entre arte, entretenimento e sociedade”. [162]

“Quando Molière defendeu, em 1622, os valores burgueses da ‘comédia leve’ contra os sacerdotes da ‘arte elevada’ -a Igreja, os salões e os críticos-, ele simplesmente acreditava que o público merecia a escolha do ‘leve’ em vez do ‘pesado’. Hoje, em termos de arte tecnológica pós - moderna que concilia, ao contrário de Molière, as aspirações conflitivas da alta, média e baixa cultura, os Estados Unidos produzem o que a Europa quer ver. Pois, nessa dissolução atual dos sistemas de crença e das últimas noções e idealismo estético, os europeus provavelmente querem recobrar a sua eterna dimensão histórica que foi escondida pela moderna ideologia do ‘progresso’, restaurando as formas arquetípicas e essenciais do homem e da memória coletiva, que fundamentalmente são reveladas por meio de linguagem americana”. [163]

CAPÍTULO 8:

Democracia Virtual

“Se as novas tecnologias e redes informáticas fazem emergir novos direitos, condicionam também o aparecimento de formas infoeletrônicas de ação política. Trata-se das ações do ciberespaço. Embora os contornos dessa modalidade de política não esteja ainda de todo evidenciados, seus traços marcantes já podem ser apreendidos pelos atores em evidência há pelo menos uma década. Eles assumem a forma de hackers, cyberpunks, infoespiões industriais, fabricadores de vírus, usuários comuns, etc. Mais que isso, evidenciam-se claramente pelos novos jogos de linguagem emergentes, vinculados às infovias: participação emlistas de discussão teórica e em debates on-line em grupo, ‘quebra’ de senhas e segredos para devassar e sabotar sistemas, violação de correspondência eletrônica, intercepção de fluxo de informações, transferência de arquivos com vírus ou distribuição on-line destes para contaminar computadores ‘plugados’ [Trivinho, 1995, p. 119], investimento em práticas de preservação da cibercidadania, que envolve a elaboração de códigos de boa convivência e a solidariedade entre usuários e assim por diante’’. [164]

A comunicação nasce da vontade de registrar, comunicar, arquivar. Mas nem sempre essa vontade de registrar nasce da autenticidade, do poder contar as coisas da forma como elas realmente são, mas da forma que se escolhe. Nessa alteridade de vontades, a política aparece. O princípio básico da democracia é o de que todos podem ter escolhas: de voto, de opinião, de representantes públicos, e de fala e de escuta, o que vai nortear as comunicações e as relações mediáticas até hoje.

“Na tentativa de descobrir no que consistiria esse bem sublime, Aristóteles realizou uma pequena pesquisa. Avaliou as Constituições de 158 diferentes Estados situados às margens do Mediterrâneo, incluindo tanto ilhotas escarpadas com alguns poucos habitantes quanto superpotências econômicas como o Egito. Na seqüência dividiu diversos Estados em dois grupos: os bons e os maus. Estados maus eram aqueles nos quais o poder estava nas mãos de uma única classe, preocupada apenas com seus interesses privados. Tratava-se de tiranias (governadas por um homem), oligarquias (governadas por poucos) ou democracias (governada por muitos, no sentido pejorativo de ‘domínio da multidão’). Estados bons, por sua vez, governavam para o bem de todos os cidadãos e englobavam monarquias, aristocracias e ‘politéias’ (a forma mais próxima à nossa concepção moderna de democracia libera)”. [165]

As novas tecnologias de comunicação reforçam o crescimento das práticas do neoliberalismo; ajudam as estratégias neoliberais a avançar na sociedade, pois a conjugação de seus recursos técnicos em nível mundial mexe também com as sociedades locais, e os medias fazem isso não circunstancialmente, mas decisivamente na esfera pública: as novas tecnologias de comunicação integram o plano de atuação política internacional para a desintegração de um plano de projetos nacionais.

“Enquanto o tema do poder, como se está reformulado, como se constitui a governabilidade, se há uma nova forma de governabilidade. Efetivamente existe uma dinâmica nova que põe em tensão distintas regras e distintas lógicas de governabilidade. Encontramos diferenças com a concepção piramidal e concentrada do poder que existia no passado. (....) Essa concepção antiga segue expressando-se em a constituição de uma esfera nacional baseada em poderes locais, os municípios, logo as províncias, logo o Estado nacional. Em esse Estado há três poderes, que se reproduzem a sua vez localmente e através de partidos nacionais. Esta organização concentrada, coerente, de todas as instâncias de poder, teve certa eficácia quando havia projetos nacionais, quando havia também a aspiração a constituir uma nacionalidade muito mais integrada. Em a atualidade há tendências de a descentralização, que tem muitos sentidos: por uma parte, como a democratização, para devolver a instâncias locais ou regionais a administração de os próprios recursos. Ao mesmo tempo, isto és cômodo para os neoliberais ao debilitar o Estado nacional e deixar que cada lugar se encarregue de si próprio, cada indivíduo, cada província, cada família. Portanto, se esvazia a esfera pública nacional de onde devia exercer a representação coletiva e se devolve uma série de serviços que são de interesse público. Então, é um fenômeno ambivalente: um não pode opor-se a descentralização em o que tem de democrático, porém deve ter em conta que as vezes colabora ao esvaziamento de a esfera pública”. [166]

A linguagem imperialista dos meios para se exercer esta cidadania virtual pode esfumaçar a própria questão da democracia, como já vimos em capitulo anterior sobre o sindicato virtual, que por exemplo, não mobilizaria massa nenhuma.

“Para a ‘teoria democrática’ moderna, o papel do público - a ‘horda perplexa’, nas palavras de Lippmann - é o de espectador, não de participante. Espera - se que ele se manifeste cada dois anos para ratificar as decisões tomadas por outras pessoas, ou que selecionem seus representantes, no que conhecemos como ‘eleição’, dentre os membros dos setores dominantes da sociedade. Isso ajuda , porque legitimiza”. [167]

(Noan Chomsky responde a pergunta de David Barsamian sobre a opinião dele sobre a Internet):

Isso reforça a idéia de que o poder não é para o povo, e de que as novas tecnologias de comunicação não conseguem abrir o cerco entre poder e governo para toda a sociedade.

“....Thomas Ferguson chama de ‘teoria da política como investimento’. Ele acha que o Estado é controlado por coalizões de investidores. Para participar da arena política é preciso ter recursos e poder suficientes para integrar uma dessas coalizões”. [168]

Pensar e sentir fazem parte de uma suposta democracia que podemos chamar de verdadeira. Toda manipulação do que seja pensar falsifica a democracia.

Os meios de comunicação, por tornarem o pensamento do ser humano passivo, estão transformando a democracia, há muito tempo, em mais do que representativa somente, estão tornando-a manipulativa. Excesso de informações não quer dizer que todas as pessoas têm condições individuais e sociais de adquirir conhecimento com essas informações. E mais: é uma grande mentira sedentária que informação gera riquezas e que através dessas riquezas as classes sociais subalternas vão se tornar emergentes.

“Deve, em suma, estar em comunicação constante com o resto da sociedade. É a esse necessário processo de comunicação entre o complexo de órgãos estatais e conjunto dos cidadãos que Durkheim reserva o termo ‘democracia’”. [169]

Votar em um computador não melhorou nossa forma de escolha em relação aos nossos representantes políticos, somente tornou mais veloz a apuração do processo eleitoral. Não há cérebro eletrônico, a não ser no nome que se dá à forma usada metaforicamente, na linguagem das literaturas atuais, que estudam novas tecnologias e temas relacionados ao assunto. Todo cérebro é humano ou animal, porque não há cérebro robótico, não há neurônios de metal. Mesmo que apliquemos morfina na memória do computador, a dor do homem e da humanidade que o utiliza não vai passar, a tecnologia não provou que melhora a vida das pessoas e faz as decisões publicas serem conjugadas de forma democrática.

“Segundo Ferguson, desde o princípio do século XIX esses grupos de investidores disputam o poder. Os longos períodos em que nada de importância parece acontecer são simplesmente aqueles em que os principais grupos de investidores estão mais ou menos de acordo com as políticas públicas que devem ser seguidas. Os conflitos desapontam quando esses grupos tem pontos de vista discordantes”. [170]

Há um parlamento on line e um site de democracia eletrônica na Internet http://www.democraciaweb.org-, em que não há uma participação efetiva popular na tomada de decisões políticas do país, como no caso da Espanha, que os criou. A única participação popular possível é indireta, via e-mail, com os comentários dos internautas. Não há um fórum de discussão para projetos de nível nacional ou mundial, em que as pessoas possam efetivamente participar da discussão ou ter uma integração direta. Não há um espaço aberto para que a comunidade discuta seus problemas sociais, locais ou internacionais com os políticos, ou meios de representação política.

“A democracia representativa, que é a única forma de democracia existente e em funcionamento, é já por si mesma uma renúncia ao princípio da liberdade como autonomia. A hipótese de que a futura computadorcracia, como tem sido chamada, permita o exercício da democracia direta, isto é, dê a cada cidadão a possibilidade de transmitir o próprio voto a um cérebro eletrônico, é uma hipótese absolutamente pueril. A julgar pelas idéias promulgadas a cada ano na Itália, o bom cidadão deveria ser comunicado para exprimir seu voto ao menos uma vez por dia. O excesso de participação, produto do fenômeno que Dahrendorf chamou depreciativamente de cidadão total, pode ter como efeito a saciedade de política e o aumento da apatia eleitoral. O preço que se deve pagar pelo empenho de poucos é freqüentemente a indiferença de muitos. Nada ameaça mais matar a democracia que o excesso de democracia”.[171]

A democracia digital foi um dos assuntos que mais me instigaram, na busca pela Internet, a imaginar que há possibilidades de termos democracia virtual antes de termos uma democracia em vida e em tempo real.

“A Democracia Digital -A questão de se as redes estimulam a participação da cidadania e ao passo que haja um maior controle democrático das autoridades. Chegou a semana passada a Barcelona Steven Cliff. Este jovem, ativo internauta é o promotor de O Minnesota-E-Democracy Project (Minnesota-E-Projeto Democracia), o primeiro de seu estilo na era www, que começou em 1994, com uma clara orientação de informação eleitoral. Ao passar do tempo, sem restrição, tem se modificado este ponto de vista.(http://www.e-democracy.org). O projeto há de evoluir, basta se converter em um lugar de onde se entrecruzem os interesses públicos com os do público: ‘Toda organização usará dos novos meios para representar e defender seus interesses se quiser sobreviver’- disse Cliff em uma conferência pronunciada na UPC”. [172]

A nova democracia é virtual ou será que a democracia efetiva e real da qual pensamos participar nunca foi verdadeira?

“Sempre. Naturalmente, as descrições dos fatos são um pouco mais delicadas, porque a moderna ‘teoria democrática’ é mais articulada e sofisticada do que no passado, quando a população em geral era considerada ‘a ralé’. Mais recentemente, Walter Lippmann a chamou de ‘leigos ignorantes e intrometidos’ afirmando que as decisões devem ser tomadas por ‘pessoas responsáveis’ - mantendo-se sob controle a ‘horda perplexa’”. [173]

Será que a democracia sempre foi virtual, e que agora os novos meios eletrônicos de comunicação estão oficializando a sua “virtualidade”?

“Em decorrência das especificidades do ser humano, da necessidade de se considerar suas características particulares, de respeitar as singularidades que os definem como tal, quando se pensa em vida social democrática é preciso pensar na impossibilidade da igualdade como é vulgar e falsamente concebida. A ‘igualdade democrática’ (que na prática se traduz pela homogeneização dos indivíduos pela homogeneização dos desejos), levada às últimas conseqüências, conduziria à eliminação do singular, do diferente, do distintamente humano, da alteridade e da verdadeira liberdade, que é a autonomia de cada um na produção de suas necessidades e desejos”. [174]

Penso vivermos na era da mídia de Narciso, da mídia na serventia de ser um objeto de espelho. Como prova disso, grifo alguns trechos do texto. Com as novas tecnologias de comunicação, temos com convicção um espetáculo integrado, feito por grupos (conglomerados comunicacionais).

“Teve, porém que admitir, em ‘Comentários Sobre a Sociedade do Espetáculo’ (1988), que o domínio espetacular conseguiu se aperfeiçoar e vencer todos os seus adversários; de modo que agora é a sua própria dinâmica, a sua desenfreada loucura econômica a arrastá- la em direção à irracionalidade total e a ruína. (....) Os dois tipos anteriores de espetáculo deram lugar, no mundo todo, a um único tipo: o ‘integrado’.Sob a máscara da democracia [175], este remodeloutotalmente a sociedade segundo a própria imagem, pretendendo nenhuma outra alternativa sequer concebível.Nunca o poder foi mais perfeito, pois consegue falsificar tudo, desde a cerveja, o pensamento e até os próprios revolucionários. Ninguém pode verificarnada pessoalmente, ao contrário, temos de confiar em imagens e, como se confiar em imagens que outros escolheram. Para os donos da sociedade, o espetáculo integrado é muito mais convincente do que os velhos totalitarismos”.[176]

A democracia se torna também um espetáculo ampliado na lente da mídia; e a lente da mídia é como o olhar de Narciso: remodela, cria imagens segundo as transformações que dita como perfeição, fazendo a própria imagem ter uma visão perfeita filtrada por meio do simulacro da perfeição do próprio poder, poder que faz tudo ser amplamente falsificado. O que mais me chama a atenção é o fato de verificar que até os revolucionários a mídia falsifica; no entanto, se ela consegue falsificar o próprio núcleo de esquerda que é a revolução, consegue falsificar as reivindicações populares e os objetivos sociais, e as imagens serão sempre o único testamento de realidade final.

Com a descentralização do poder dentro do próprio poder político, sobra só o totalitarismo das imagens, que convencem com maior facilidade do que o próprio poder relacionado ao governo.

Penso que não existe democracia verdadeira a partir da invenção dos meios de comunicação. A democracia existiu, em minha opinião, há muito tempo, quando era possível, em praça pública, debater temas relativos à vida da polis e da comunidade, quando havia espaços públicos para se debater de forma igualitária as questões políticas, quando todo cidadão tinha poder de voz para dar sua própria opinião, e não uma opinião imposta, uma opinião que se tira de um leque de opções muito restrito.

“Deve, em suma, estar em comunicação constante com o resto da sociedade. É a esse necessário processo de comunicação entre o complexo de órgãos estatais e conjunto dos cidadãos que Durkheim reserva o termo ‘democracia’”. [177]

Em artigo publicado na revista Veja, Hebert Schiller, professor de comunicação na Universidade da Califórnia, doutor pelas universidades de Colúmbia e Nova York, numa entrevista, dá sua opinião sobre as novas tecnologias de comunicação, com o título: “Ameaça à democracia”. Segundo ele, a privatização da informação conduz a uma sociedade autoritária e exclui do progresso largas parcelas da sociedade.

“A longa marcha rumo à humanização da sociedade sempre se fez incorporando novas vozes ao diálogo. Grupos historicamente excluídos dos processos decisórios querem ser ouvidos. Apesar da gigantesca acumulação de capital, poder político e controle informacional, o sistema tem pontos vulneráveis que abrem possibilidades à expressão popular. (...) Nas lutas que temos pela frente, informação e comunicação serão decisivos campos de batalha”. [178]

Existe um lado operacional mais simples tecnológico, mas o lado faz parte de um denominador comum do uso da postura política.

“Trata-se da postura política, segundo a qual a linguagem das novas tecnologias é fonte de poder e, como tal, elitista, discriminatória, deixando na sombra quem não tem acesso a estas tecnologias e linguagens”. [179]

A democracia, se pensarmos em sua funcionalidade, sempre foi uma utopia, na qual excluídos têm a ingênua visão de que também podem participar, mas não têm poder financeiro para participar do mundo da técnica e da informação. Só oficializam o que já está propriamente decidido, como sua própria opinião.

Mesmo na democracia configurativa, a imagem atrapalha e contamina o raciocínio político do ser humano.

“Ora, observa-se hoje, por exemplo, que as sanções internas tendem a perder sua força simbólica e que os jornalistas e os jornais ‘sérios’ perdem sua aura e são, eles próprios, obrigados a fazer concessões à lógica do mercado e do marketing, introduzida pela televisão comercial, e a este novo princípio de legitimidade, que é a consagração pelo número e pela ‘visibilidade da mídia’, capazes de conferir a certos produtos (culturais ou mesmo políticos) ou a certos ‘produtores’ o substituto aparentemente democrático das sanções específicas impostas pelos campos especializados. Certas ‘análises’ da TV deveram o seu sucesso junto aos jornalistas, sobretudo os mais sensíveis, ao efeito do índice de audiência, ao fato de conferirem uma legitimidade democrática à lógica comercial, contentando-se com formular em termos de política, e portanto de plebiscito, um problema de produção e difusão culturais”. [180]

Temos que ver a zona de contato nos quais os interesses públicos se chocam com os interesses do público no caso de uma democracia dessa natureza, medindo os graus de interferência em que a acumulação do poder implica.

A decisão democrática emerge como resultado equilibrado do embate de idéias que constituem a comunidade, ou seja, requer que os vários interesses disputem o espaço público. O papel das novas tecnologias da comunicação e desses novos veículos de comunicação é o de evitar que o vício do conflito de interesse aconteça.

“O essencial, aqui, é perceber que essa clareza sobre o que são os conflitos de interesse deve ser pública, isto é, deve se dar dentro do meio público (que não se confunde com o espaço estatal, mas pode envolver setores do Estado). Trata-se de uma clareza a ser dominada pelo cidadão (não pelo consumidor), pela sociedade (não pelo mercado) -uma vez que proteger-se dos conflitos de interesse, nesses moldes, é um bem ético ao qual a sociedade inteira deve aspirar. É um assunto da conta dela, sociedade, e não da conta dessa ou aquela instituição, empresa ou corporação”.[181]

Analisando os meios eletrônicos de comunicação, particularmente a televisão, e atualmente os computadores, a perspectiva que temos do futuro da democracia no mundo não é só de que o assunto folclórico ou pitorescamente se transforme em vários CD-ROMs empilhados na estante, mas de que os meios de comunicação, não são só meios, são estruturantes políticos também.Particularmente, veremos como no Brasil eles influenciaram a transição política pré - ditadura e pós - democracia.

CAPÍTULO 9:

O Trabalhador Virtual e os Ciber-Escravos da Senzala Tecnológica

“Três mudanças importantes estão envolvidas redistribuição dos desnivelamentos do espaço mundial: a irrupção dos novos países industrializados, em particular dos ‘tigres asiáticos’ (Coréia, Hong-Kong, Singapura, Taiwan), e seus êmulos no Sudeste asiático; a formação de grandes blocos de livre comércioem torno dos pólos do ‘poder triádico’’ (América do Norte, Ásia Oriental e União Européia); e a recuperação do ‘Terceiro Mundo’ como sujeito da história. Mas se a linha divisória Norte/Sul já não basta para definir o atual estado do planeta, as desigualdades estruturais das décadas anteriores não sumiram assim. O que pertubou a representação maniqueísta do mundo foi que o Norte descobriu seu próprio território dos Suis e que, no coração mesmo do Sul, emergiram Nortes que trazem consigo Suis”. [182]

“A reprodução das fortes tendências de segregação entre os grupos data rich e os demais, data poor, é um risco apontado até nos documentos mais oficiais e refere – se tanto à conexão com a infra – estrutura mundial da informação quanto a elaboração de banco de dados próprios. Assim o relatório do Banco Mundial, publicado em 1996 e intitulado Increasing Internet Connectivity in Sub Sabarian África, preocupa –se com o fato de que a maior parte dos países desta região não estão ligados à Internet (em comparação com o crescimento explosivo observado desde 1988 não apenas nos grandes países industriais, mas também no Leste europeu, América Latina e Sudeste Asiático). O discurso dos autores do documento oscila entre espectativas radiosas da ‘revolução da informação’ que oferece uma ‘ocasião ímpar de dar um salto para o futuro, rompendo desta maneira com as décadas de estagnação ou de declínio’, e as mornas perspectivas para os países que não tirarão proveito e não surfarão sobre esta grande onde de mudanças ‘tecnológicas’, e estão arriscados a serem varridos por ela”. [183]

Por lógica: sempre que houvesse mais descobertas técnicas na história, o homem deveria ter mais tempo para o ócio, ou seja, para o lazer, para estar com a família e com os amigos e até para ter uma vida sexual mais compensadora e freqüente. Vejamos se isto é realidade:

“Conseguir um número suficiente de trabalhadores era uma coisa, outra coisa era conseguir um número suficiente de trabalhadores com as necessárias qualificações e habilidades. A experiência do século XX tem demonstrado que este problema é tão crucial e mais difícil de resolver do que o outro”. [184]

Se fôssemos pensar assim, a máquina deveria trazer melhor qualidade de vida ao homem, porque ele, cada vez mais, assumiria no trabalho funções mais intelectuais ou de maior reflexão e menos braçais e alienatórias.

“Quando da revolução industrial, houve um grande deslocamento da população rural, que ficou sem função, é que não há dúvida de que, com a Terceira Onda, vai haver deslocamento da população da Segunda Onda: do contigente de trabalhadores na produção baseada na industria massificada. Seria ingenuidade imaginar que isso vá se dar sem traumas, e nem há por enquanto solução para o desemprego provocado por esse fenômeno”.[185]

O grande problema, porém, é que o progresso chega sempre na frente do homem. Quando o computador foi inventado, por exemplo, o homem teve que aprender informática e inglês, porque a linguagem da máquina e as instruções estão sempre na língua do país que domina a técnica ou o sistema político mundial da época da invenção: no caso da Segunda Onda (industrial), a Inglaterra; e no caso da Terceira Onda (informática – comunicacional), os EUA, sendo a língua predominante o inglês.

Numa visão metafórica, o homem parece uma carroça querendo correr como uma Ferrari. É tudo junto e ao mesmo tempo na era tecnológica: são 140 canais ou mais na tevê a cabo, em vários idiomas; é o celular; a secretária eletrônica para guardar recados; a Internet com milhões de sites.

Portanto, o homem não terá mais tempo. Pelo contrário, terá que correr atrás de um tempo que já está à frente dele; terá que se equipar mental, psicológica e culturalmente.

Devido ao crescimento acumulativo das novas técnicas de comunicação, as empresas e o ensino terão que se ajustarem as exigências do mercado e as exigências sócio-culturais da sociedade. Será quase impossível alguém sobreviver sem se ajustar ao poder de influência que estas novas tecnologias repercutem na vida social das pessoas, principalmente no campo profissional, onde os que não se reciclarem correm o risco de caírem no ostracismo pela pressão feita pelos conglomerados de empresas e pela livre concorrências dos novos profissionais e do mercado em si.

“Os conhecimentos duplicam a cada sete anos. As empresas estão diante de uma revolução, que enfrentam de sete maneiras (reparem o grande envolvimento da educação): 1) a empresa terá a principal responsabilidade pelo tipo de educação necessário para qualquer país continuar a ser competitivo na nova economia; 2) o mercado está sendo impressionantemente redefinido para uma aprendizagem permanente, cujos segmentos principais são clientes, empregados e estudantes, nessa ordem; 3) qualquer empresa pode se tornar produtora de conhecimentos; 4) uma nova geração de tecnologias inteligentes e humanizadas revolucionará a aprendizagem na empresa, antes de afetar alunos e professores nas escolas; 5) a aprendizagem orientada pela empresa será organizada de acordo com os valores da atual era da informação; 6) as escolas adotarão práticas empresariais para aperfeiçoar seu desempenho, ficando claro que o ensino ministrado nas escolas públicas não irá desaparecer; 7) a revolução na maneira de aprender vai piorar a já grave divisão entre as classes, exigindo que corrijamos desigualdades humanas e sociais”. [186]

Enquanto isto, os países como EUA e demais países desenvolvidos tem maior facilidade de se ajustarem as novas exigências do mercado internacional e de prepararem pesquisadores e profissionais para o novo campo de trabalho, porque foram justamente eles que implantaram estas tecnologias, enquanto os países do terceiro mundo não podem tão cedo participar do conceito de consumidores do futuro, porque o futuro do terceiro mundo é sempre tardio em relação as novas técnicas que trazem maior poder de compra e de aquisição aos detentores das invenções destas técnicas e dos meios delas.

As faixas das classes sociais ficam cada vez mais distantes por conseqüência dos desníveis culturais e econômicos entre elas, e a tecnologia que poderia beneficiar aos pobres com o desenvolvimento de melhores recursos para o trabalho e estudo, não é suficiente para a melhoria social, porque a função e a finalidade das técnicas é a de manter o poder da classe dominante, porque os pobres usufruem destas técnicas somente como intermediários. São os ricos que tem o poder de compra e capital para investir na descoberta e pesquisa delas.

“As chances de o Brasil gerar emprego na era da informação, marcada por competição selvagem, dependem em boa parte não só do que se faz nas empresas, aumentando a produtividade, mas do que se produz hoje em sala de aula”.[187]

As novas tecnologias, na maioria das vezes, atendem a números cada vez menores de pessoas e, ao invés de serem coletivas acabam sendo usadas de forma particular, mesmo para fins públicos como saúde, educação e cultura. Isto gera uma ambivalência social, pois a sociedade progride de forma isolada para fins coletivos.

Para que as pessoas estejam no mercado é preciso investir em educação e não somente criar máquinas para serem operadas pelas mãos humanas. Hoje, com os computadores, esse mecanismo da ação para a educação é muito mais complexo porque, cada vez mais as novas tecnologias de comunicação nos dão a oportunidade de realizar um trabalho muito mais lúdico do que de mão-de-obra pesada, porque não envolvem somente a capacidade de manusear e operar máquinas, mas requerem habilidade de pensar e agir além da finalidade de serviço da máquina, com um tratamento mais humano, menos serviçal e mais intelectual.

“Como todas as estruturas de Segunda Onda, a educação também precisa mudar, pois as escolas não podem ser mais como fábricas, de onde saem adultos padronizados. O mercado não terá lugar para esse tipo de educação”. [188]

“Os EUA têm 60 milhões de micros, metade em residências particulares. Já imaginaram o potencial de aprendizado que isso encerra? O emprego dos satélites é um decisivo elemento agregado , como se faz no Canadá, pelo bem sucedido sistema Schoolnet. A fusão destes elementos tem a força de uma autêntica revolução, que prevê produtos inteligentes à disposição dos exigentes consumidores do futuro”. [189]

“Escola que não ensina a manejar as informações, não mantendo-o aluno em permanente reciclagem, cria novos analfabetos. (...) O sem-computador de hoje é o sem-terra do futuro. Vai ficar vagando à procura de auxílio oficial, com poucas chances de encontrar um bom emprego”. [190]

“Os Estados Unidos dão dicas diárias sobre os impactos da tecnologia. Milhares de empregos são dizimados todos os dias; outros milhares, criados. O problema é que muitos trabalhadores ficam no meio do caminho, sem condições de se reciclar.(...) Por causa desse massacre, uma das principais tendências americanas é o poder público simplesmente contratar quem não consegue vagas no mercado de trabalho, os desempregados crônicos. É mais barato do que mantê-los na assistência social ou na prisão”.[191]

“Televisores são dispositivos de aprendizagem (como na Rede Futura, no Brasil). Bibliotecas eletrônicas e vídeos combinando telefone, televisão e computador promoverão a aprendizagem de forma efetiva e ampla, definindo - a mais por quem a prática do que pelo lugar de oferta. Como afirma Davis e Botkin, ‘o valor da educação do indivíduo será medido pela mistura proporcional dos dados, informações e conhecimentos contidos nessa educação’”. [192]

O modelo de TVs educativas norte-americanas e européias não serve para nós, pois eles não têm tantos problemas como São José da Tapera e outras cidades e lugares de extrema pobreza do país.

Por exemplo, na cidade de São José da Tapera, em Alagoas, antes das pessoas terem necessidade de aulas de inglês, geografia, português, gramática, matemática e outras disciplinas, ou profissões como artesãos, músicos, bailarinos, elas precisam aprender a escrever e a ler na sua própria língua, a serem alfabetizadas, e terem desenvolvimento de raciocínio, crítica e argumento, de aprenderem normas de limpeza, higiene pessoal e educação pessoal.

Tínhamos que construir nossa própria televisão educativa com a finalidade de primeiro alfabetizar em massa e depois ensinar, desde a tomar banho, escovar os dentes, cortar as unhas, jogar papéis no lixo, depois a reciclar, a comer com garfo e faca, e antes de tudo a comer, em um pais onde há milhares desubnutridos e miseráveis, onde a campanha contra a fome do sociólogo Betinho foi um simples paleativo.

Há lugares do Brasil onde não há nem luz elétrica para se ligar o televisor. Precisamos, portanto, primeiro construir um programa de governo voltado à educação, no qual a televisão educativa contribua para chegar ao resultado de um trabalho desenvolvido com sucesso e não o inverso.

“Num raio de 250 km em torno de São José da Tapera (Alagoas), concentram-se 29 dos 50 municípios brasileiros que tem, proporcionalmente, mais jovens analfabetos. Juntos, formam o ‘polígono do analfabetismo’, uma analogia com o ‘Polígono da Seca’. Cerca de 3.500 km ao sul, reúnem-se, coincidentemente, 29 das 50 cidades que merecem o ‘Oscar da Alfabetização’ no Brasil. Lá a taxa de adolescentes alfabetizados oscila entre 100 % e 98, 2%. A região é a mesma da história de ‘O Quatrilho’ - indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro”.[193]

O que é importante ressaltar é que todas as evoluções precisam de mão-de-obra qualificada, especializada, não sendo possível que se tenha desenvolvimento tecnológico por livre ação da invenção tecnológica, só através da técnica. Mas, é preciso preparação cultural para atender à demanda mercadológica.

“O crescimento econômico está baseado no uso de novas tecnologias. Não se produz um trabalhador apto a lidar com as novas tecnologias cada vez mais sofisticadas, sem uma base educacional também mais sofisticada. É impossível para o Brasil dar um salto para o desenvolvimento se não investir mais em educação . Há mais coisas necessárias, mas esta é indispensável”.[194]

Por mais que seja robótico, também não deixa de ser mais humano: as novas tecnologias podem ser utilizadas como robôs, mas é o robô que executa tarefas mais complexas e de maior densidade, para que o ser humano possa se ocupar de trabalhos mais prazerosos e menos alienantes. Por exemplo: um estudante de mestrado ou doutorado não precisa ficar cortando partes da dissertação ou tese, usando cola e tesoura, porque o computador faz correções, traduções etc. Faz, eu diria, o grosso do trabalho, para que o homem tenha tempo de refinar suas atividades.

“O estilo excêntrico dos diretores e programadores da Data General foi vividamente descrito por Tracy Kidder em seu livro The soul of a new machine [A alma de uma máquina nova] (1982). Eles tinham descoberto a linguagem secreta dos computadores quando crianças de escola e ainda viviam num mundo de fantasia e ficção científica de infância solitária: os dois protótipos que construíram denominaram de ‘Coca-Cola’ e ‘Gollum’, nome de uma criatura de O senhor dos anéis, de Tolkien. Chamavam o patrão de Darth Vader, o vilão de Guerra nas estrelas. Sentiam-se mais desafiados por máquinas do que por pessoas: um deles comparou sua emoção no trabalho com o filme Encurralado, de Steven Spielberg, em que o motorista de um automóvel sofre a perseguição implacável de um enorme caminhão cujo o motorista ele jamais vê. A concepção de vida deles sofria claramente a influência do sistema binário dos computadores, que aceita apenas duas escolhas -certo e errado. ‘É um mundo binário; o computador pode ser um paradigma’, escreveu Kidder. ‘E muitos engenheiros parecem aspirar a ser gente binária dentro dele’”.[195]

É como se as novas tecnologias de comunicação criassem o pecado de ter menos sacrifício quando se trabalha. Como se as novas tecnologias entendessem de alma humana, despertando no homem o sentimento de que o trabalho, cada vez menos, se identifica com o ofício de “bater ponto” e, cada vez mais adquire o aspecto dionisíaco dos personagens de livros, do cinema e da tevê.

CAPÍTULO 10:

De Volta Para o Futuro

“Então, entrei escura em Park Road e vi os corpos ao meu redor, em todos os altares- as horríveis estatuas de gesso com seus rostos complacentes, e lembrei - me de que eles acreditavam na ressurreição do corpo, o corpo que eu queria destruir para sempre. Eu tinha cometido tantos pecados com esse corpo. Como poderia querer preserva-lo para a eternidade? E, de repente, lembrei-me de uma frase de Richard - sobre os seres humanos inventarem doutrinas para satisfazer seus desejos, e achei que ele estava totalmente errado. Se eu fosse inventar uma doutrina, seria a de que o corpo não renasceria nunca, apodreceria com os vermes’’. [196]

O homem, com o advento das novas tecnologias, passou a ser uma espécie de agente dependente de sua própria evolução, e as novas tecnologias dos meios de comunicação fazem o papel de verbalizar o contexto de poder, enquanto exercem o poder sobre a própria criação do poder materializado pelo ser humano.

Não se trata mais da lógica espetacular da alienação, mas de uma lógica espectral de desencarnação - não mais de uma lógica fantasmagórica de diversão, mas de uma lógica corpuscular de transfusão, de transustanciação de cada uma de nossas células-, portanto, um empreendimento de dissuação radical do mundo desde o interior, não mais desde o exterior, como no universo hoje quase saudoso da realidade capitalista. O figurante da realidade virtual não é mais ator nem espectador - está fora de cena, é obsceno”. [197]

A avaliação é de que o poder político está mudando de polaridade com a influência das novas tecnologias de comunicação, e os espaços públicos reais estão cada vez mais transformando-se em lugares - sites virtuais. A dúvida, agora, é: como será possível que este mesmo poder político seja materializado nos meios eletrônicos com a mesma intensidade e com a força da representação política popular do modo tradicional?

“A Nova Ordem mundial é disneica. Mas Disney não é o único a praticar essa espécie de canibalismo atraente. Pudemos ver a Bennetton, em suas campanhas publicitárias, recuperar toda a atualidade do drama humanitário da Aids, da Bósnia, da miséria, do apartheid, pela transfusão da realidade na Nova Figuração midiática, em que a miséria e a comiseração entram em ressonância interativa. O virtual compra o real a preço baixo e o expele tal qual, em forma de prêt-à-porter”. [198]

O espaço público se minimiza com as novas tecnologias, mas o poder político se amplia pela necessidade da globalização. A exposição do olhar na tela do computador ou da tevê é um reflexo político, em que se reservam valores intrínsecos da forma de enxergar a realidade ao redor de cada um, e interpretá-la de forma coletiva. A imagem política é cosmopolita, o que muda é a forma de se dirigir o olhar como um ato político, que se torna local.

“Exposição ao olhar tem, simultaneamente, sentido hipnótico e político, tal como se revelam no panóptico projetado por Benthan, figura da gestão moderna das grandes massas, tal como ocorre a partir da Revolução Francesa. Nela, ‘o esforço de todos os poderes estabelecidos para ampliar os meios e manter a ordem nas ruas culmina na supressão da rua. (Debord, op. cit)’”.[199]

O desnudar e o transparecer do espaço público por meio da mídia moderna se condensa na atitude de “voyeurizar” um futuro e torná-lo pressuposto da realidade. É através desse desnudar-se que as novas tecnologias causam nas mídias de todo planeta ocorre a perda da autodefesa do receptor em relação ao conteúdo nato da mensagem, e o torna um consumidor de idéias adotadas e não das progênitas.

“Segundo Foucault, sua fantasmagoria máxima encontra-se nessa visão globalizante que é a realização última do puro valor de exposição de indivíduos sem defesa. A visibilidade total é uma armadilha! (Foucault, em Vigiar e Punir.)”. [200]

Podemos, por meio das novas tecnologias de comunicação, estar muito mais perto do real do que do virtual, talvez porque o real nunca tenha sido real, e pode ser que o papel do virtual seja mostrar aquilo que é o contrário do virtual: mostrar a utopia do que supomos ou acreditamos, por fé, sonho ou ideologia, ser verdadeiro.

“Se essa operação pode dar certo em âmbito tão amplo sem suscitar outra reprovação que a moral e, ao mesmo tempo, suscitar um fascínio universal é porque a própria realidade, o próprio mundo, com toda a sua atividade frenética de clones, já se transformou em performance interativa, em uma espécie de Luma Park das ideologias, das técnicas, das obras, do saber, da morte e até mesmo da destruição - tudo isso próprio para ser clonado e ressuscitado num museu infantil da Imaginação, num museu virtual da Informação”. [201]

A idéia que as novas tecnologias de comunicação nos passam é de que sempre estão sendo preparadas para a realidade de um futuro próximo.

“Assim, inaugura o tempo real, pontual, unidimensional, ele próprio destituído de profundidade; nem presente, nem passado, sem futuro, mas sincronia, imediata de todos os tempos, na mesma virtualidade intemporal. Lapso ou colapso do tempo: eis a quarta dimensão. Aquela do virtual, do tempo real, aquela que, longe de juntar-se às outras três dimensões no espaço real, apaga todas”. [202]

Isso não é realidade, porque o futuro é sempre próximo, porque tentamos imaginá-lo da maneira como projetamos por longo período, e que está sempre distante, porque não podemos estar nele nunca. Afinal, quando estamos no futuro?

“Disney realiza ‘de fato’ essa utopia intemporal, produzindo todos os acontecimentos, passados ou futuros, sobre telas simultâneas, misturando inexoravelmente todas as seqüências - tais como iriam, ou irão, aparecer para outra civilização que não a nossa. Mas já é a nossa. Pois já nos é cada vez mais difícil imaginar o real, imaginar a História, a profundidade do tempo, o espaço tridimensional tão difícil quanto era, antigamente, a partir do mundo real, imaginar o universo virtual ou a quarta dimensão”. [203]

Só um filme como “De volta para o futuro” é que pode levar alguém ao futuro, no caso os personagens do filme. Mas quando se chega ao futuro não existe mais futuro. O passado se recicla no presente, pois o futuro é utópico: é o presente reeditado ou o passado meditado para frente.

A grande armadilha do discurso político que envolve a propaganda de adesão às novas tecnologias de comunicação é a de que elas nos levam ao futuro, como se isso fosse o único e grande motivo para usá-las.

As novas tecnologias de comunicação prometem um futuro somente de mídia: efeitos especiais, correio eletrônico, tevê à cabo, celular, ou internet cada vez mais elaborados. Um futuro com distâncias cada vez menores pelo menos na questão de envio e recebimento de mensagens do destinatário ao receptor.

A propaganda sobre as novas tecnologias de comunicação não promete, e nem tem como prometer que amanhã o ser humano terá sua casa própria ou seu emprego, ou qualquer outra prioridade social básica. O que a propaganda promete, e leva a sociedade a acreditar nisso, é que por meio das

novas tecnologias de comunicação a sociedade vai evoluir.

“O tempo deixa de ser um suporte de uma promessa chamada história, progresso ou libertação. Agora é ele que faz as vezes da promessa chamada história, progresso ou libertação. Agora é ele que faz as vezes de promessa; agora ele é a verdade e vida que deve penetrar nos corpos e as almas. Tal é, em suma, a quintessência da ciência futurológica. (...) Na verdade uma tal ciência não nos ensina grande coisa sobre o futuro. Quem lê sua doutrina para aprender de que será feito o tempo futuro geralmente se decepciona. (...) Ora, seu propósito é outro: nada de nos lecionar o futuro, mas nos fazer seres do futuro. Eis por que a reforma da escola está sempre no coração da promessa futurológica. A escola é o ‘locus’ mítico onde se pode fantasiar a congruência entre o processo de maturação de um indivíduo, o futuro coletivo de uma sociedade e o curso harmonioso e ininterrupto do tempo”. [204]

A questão de futuro está estritamente ligada àquilo que o ser humano tem como perspectiva ou meta de realizar adiante em sua vida. Só que vivemos, hoje, o futuro atrasado da revolução industrial, como se conjugássemos o verbo no

pretérito imperfeito no futuro. As descobertas técnicas de hoje serão relíquias amanhã. Por isso o futuro é um tempo imaginário.

O importante, portanto, é pensarmos no presente. Não só como plano de desenvolvimento político mas, também como avaliação das novas tecnologias de comunicação. Não quero com isso dizer que a perspectiva desse tempo futuro imaginário deva ser apagada, porque ele é essencial, não só para curar nossas angústias de vida, mas para vermos que o presente pode ser contínuo, e que os projetos sociais ou particulares têm caminhos a serem traçados, em menor e maior tempo. Esse maior tempo seria o futuro.

Essa idéia de evolução passada é muito vaga e vazia. Bill Gates fala que seu sonho é que, no “futuro”, haja um computador em cada mesa e em cada casa. Podemos imaginar alguém debaixo de um viaduto com um computador? Os moradores de rua não fazem, portanto, parte deste futuro? Há futuro nas favelas e nos barracos debaixo das pontes?

“Entretanto não estou usando todas essas lições simplesmente para teorizar a respeito do futuro -estou apostando nele. Já que quando era adolescente, imaginei o impacto que os computadores de baixo custo poderiam ter. ‘Um computador em cada mesa e em cada casa’ tornou-se a missão corporativa da Microsoft, e vimos trabalhando para tornar isso possível”. [205]

O que precisamos enxergar é que os estudiosos das novas tecnologias de comunicação têm ângulos diferentes de ver a mesma coisa: uns têm a visão de um computador em cada mesa e basta, outros verão que não há tomada para ligar os aparelhos das novas tecnologias de comunicação sob pontes e viadutos e nem dinheiro para ter acesso a elas, e que a visão de um futuro melhor para todos não pode ser só essa propaganda folclórica da Microsoft ou do marketing-mídia.

“A globalização é um projeto comportamentalista. Aposta-se que, modificando o comportamento político e econômico das pessoas, elas acabem se transformando também culturalmente, Harrison afirma que a especificidade da cultura latino-americana produziu nosso precário desenvolvimento. Portanto, ele conclui, para que seja possível um futuro de prosperidade pan-americana, é necessário que haja, na América Latina, uma mudança cultural (e não só política e econômica). Sem isto a América Latina está impedida por sua cultura. E os imigrantes latino-americanos seguem trazendo consigo um capital cultural negativo que dificulta e atrasa sua inserção na sociedade americana”. [206]

É importante, para encontrar o futuro, buscar o passado. Homem sem memória é homem sem contexto de vida. Para entendermos o que representam as novas tecnologias de comunicação no nosso tempo histórico, temos que, primeiro, traçar perspectivas por meio de fatos e de acontecimentos do passado e do presente.

“Dado que as crianças estão aprendendo mais e com maior rapidez, em que medida essas novas tecnologias influenciam os estágios de desenvolvimento da criança descritos por Piaget? (....) Comecemos por analisar a idéia de estágios de desenvolvimento, pois esse ponto, ainda que central na obra desse autor, é muito crítico e combatido. Piaget, em ‘Introdução à Epistemologia Genética’, defende que essa epistemologia deveria considerar sempre duas referências: a do sujeito que aprende e a do objeto que é conhecido. Para a primeira, propunha o método histórico-crítico.(...)O método psicogenético é uma forma de analisar a construção do conhecimento pelos níveis sucessivos das estruturas utilizadas pela criança nesse processo. Supõe uma visão de que conhecer não é uma questão de ‘tudo ou nada’, ou seja, de certo ou errado, de saber ou não saber. Ao contrário, conhecer supõe o ‘colorido’ de suas nuances, de ‘erros construtivos’, pois cometido por todas as crianças em um certo nível de aquisição de uma certa noção ou operação. Por isso, o problema na teoria de Piaget não é de uma criança (estimulada, por exemplo, por suas interações com programas de computador) desenvolver-se mais, ou menos rapidamente. O problema seria o de provar que um certo nível de desenvolvimento não é necessário ou que, em certa cultura, por exemplo, apresenta-se de forma inversa ao proposto por Piaget”. [207]

Acontecimentos importantes como a Revolução Industrial, que não só modificou a conjuntura social e política de uma época mas que modificou o mundo inteiro para sempre. Se pensarmos o que representa a inovação técnica de uma máquina, o fato em si não é tão importante, mas os resultados e as influências que se sucedem e que servem para alimentar a história e os casos a serem estudados abordados dentro dela.

“O primeiro e talvez mais crucial fator que tinha que ser mobilizado e transferido era o de mão-de-obra, pois uma economia industrial significa um brusco declínio proporcional da produção agrícola (isto é, rural), e um brusco aumento da população não agrícola (isto é, crescentemente urbana), quase certamente (como no período em apreço) um rápido aumento geral da população, o que portanto implica, em primeira instância, um brusco aumento no fornecimento de alimentos, principalmente da agricultura doméstica -ou seja uma ‘revolução agrícola’”.[208]

A máquina de tecer, por exemplo, não é problema, mas solução, porque produz mais peças do que as mãos humanas e por menor preço, porque o custo de horas de trabalho em relação ao tempo de produção é menor, mas a produção e os lucros são maiores. O grande problema é que a máquina, seja ela qual for, é sempre vista como uma ameaça ao homem, porque ameaça sua rotina, a estabilidade e o conformismo. Enfim, ameaça furar a placenta na qual o homem está inserido no seu tempo histórico.

“Não é um mero acidente que a palavra inglesa engineer descreva tanto o trabalhador qualificado em metal quanto o desenhista ou planejador; pois o grosso do papel técnico de um nível mais alto pode ser, e era, recrutado entre estes homens com qualificações mecânicas e autoconfiantes. De fato a industrialização britânica apoiava-se neste fornecimento não planejado das qualificações mais altas, enquanto a indústria continental não podia fazê-lo. Isto explica a chocante negligência com a educação técnica e geral neste país, cujo preço seria pago mais tarde”. [209]

As qualificações técnicas que envolveram o destino da Revolução Industrial hoje envolvem de forma análoga o destino das novas tecnologias de comunicação. Não na questão do mecanismo usado nem tampouco das máquinas agora usadas, muito diferentes as máquinas da Era da Industrialização.

Toda transformação histórica, toda ruptura de um processo de desenvolvimento para o outro tem como poder de influência formar uma nova conjuntura social e política no mundo. Isso é evidente. O que ainda não sabemos é como os homens vão se organizar a partir de uma fase de ruptura para a outra.

As novas tecnologias de comunicação dos medias estão a serviço da arquitetura da mentalidade capitalista.

“Quanto mais atomizada é a divisão social do trabalho, mais a arquitetura se torna um tipo de linguagem que já se oferece ao receptor ou usuário como mensagem previamente articulada. Poderíamos dizer que se trata de uma língua elaborada por um grupo de decisão, impondo as determinações sociais, faz com que o próprio arquiteto (quando não pertence ao grupo de decisão), e não apenas o usuário, sofra os efeitos destas determinações”. [210]

Não obstante, o projeto político que circula na Internet não é diferente da arquitetura ideológica dos meios em geral, pois só há um novo formato e dimensão dentro da rede, mas a capacidade de reprodução da ideologia é tirada de um modelo absorvido dos meios de comunicação, que são costumeiros da sociedade.

Assim sendo, uma das funções do repertório dos novos meios é abastecer a descrença política com a credibilidade do poder da comunicação, gerada por meio de uma descrença pessoal e não coletiva da sociedade.

Penetrando em todas as escalas sociais, impulsionando as pessoas a quererem estar na moda e na modernidade “pós” algo que nem sabem muito bem do que se trata, o desejo das pessoas passa assim a ser objeto político, disfarçando-se em preocupação com o desenvolvimento social.

A relação da sociedade dentro e fora da rede, e dentro e fora da tela. As cidades virtuais e os caminhos políticos e sociais que se abrem antes e depois das novas tecnologias de comunicação foram pavimentados dentro do percurso desta dissertação, usando os próprios meios de comunicação como ícones de direção da pesquisa, e as influências que elas podem nos trazer de uma sociedade que se divida entre o real e o irreal tanto no plano social e político quanto no virtual.

Foram abordados desde a escala da Revolução Industrial para a Revolução Informacional gerada pós - Guerra Fria, demostrando para qual arquitetura política as novas tecnologias de comunicação estão à serviço, e como a Guerra Fria é feita hoje da mesma maneira espacial, mas de outra forma dirigida através das novas tecnologias de comunicação, não mais pelos mísseis aéreos, mas pelos satélites e seus retransmissores. E de que a necessidade de supervisionar hoje é maior do que a de atacar.

A ONU – Organização das Nações Unidas cumpre muitos bem este papel burocrático de realizar também esta supervisão de forma diplomática. E as novas tecnologias de comunicação, da mesma forma que a ONU, só vão intervir politicamente à nível global na sociedade quando interesses políticos dos grupos políticos dos dominadores estiverem sendo desfavorecidos, como foi a intervenção da ONU no caso do Timor Leste, porque a Indonésia sempre favoreceu comercialmente os EUA.

A influência das novas tecnologias de comunicação é de implantar e implementar um novo tipo de capitalismo mais avançado e globalizante no mundo, em grau e fase aperfeiçoada chegando mais próximo talvez do mesmo sonho que o nazismo tinha de ganhar o mundo amputando as diferenças, é uma escala avançada da idéia ariana através da técnica e não da genética. A exclusão não pelo nascimento, mas pelo desenvolvimento.

O futuro das novas tecnologias é o futuro sem presente, um futuro somente de técnicas e não de desenvolvimento social, porque os robôs, não tendo memória, jamais poderão também contar e fazer história. As influências das novas tecnologias de comunicação deixam o próprio tempo futuro ser sintético e virtual, gerando seu espaço de tempo presencial pela máquina e não pela vida verdadeira das pessoas, e o mesmo pode acontecer com os líderes políticos deste tempo futuro imaginário, que poderão estar a responder aos interesses das mega - corporações de comunicação, do marketing - mídia, das máquinas e dos computadores e não da sociedade viva como um todo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS/CONCLUSÃO

Pode-se concluir que as influências das novas tecnologias de comunicação na formação política são de naturezas diversas, como o próprio tema sugere e este trabalho limitou-se a analisar alguma delas; não as conseqüências em si. Embora a abordagem do tema possa parecer pretensiosa, foi tão somente na fonte da própria imprensa, em artigos de jornais e revistas, além dos livros e de vídeos televisivos e discursos radiofônicos que se procurou mostrar a cara política dos meios de comunicação, dentro da sua origem, além da pesquisa realizada em modernos sites de busca pela Internet como a democracia eletrônica na Espanha.

O trabalho se espelhou na análise da mídia a partir da própria mídia, ou seja, do objeto analisado para o seu estudo, da influência do material midiático (TV a cabo, sites na Internet, revistas e jornais) para enfocar reflexos que repercutem no plano político internacional.

As influências políticas das novas tecnologias de comunicação não são somente influências paralelas. Com o advento das atuais redes de informação, tornam-se, também, um fator de influência direta na economia, na sociedade, na cultura e nas identidades nacionais e internacionais das nações.

Os efeitos da globalização e suas conseqüências vão desde a comunicação planetária transmitida por satélites, pela Internet e pela TV a cabo, ou por qualquer meio de comunicação que interligue continentes, até as mega-corporações empresariais que se interligam a um um sistema político global.

A relação homem-máquina produz novas sociabilidades e cria novos meios de repercussão e transmutação política que, mesmo em um universo sintético, acabam gerando uma realidade política, embora vinculada ao estado virtual. Isto, porque as relações humanas intermediadas pela técnica acontecem na prática e não são imaginárias, surgindo assim novos ambientes de convivência social, chamados por alguns pensadores de cybersociedade.

Da cybersociedade surge uma outra forma de se fazer política, intermediada por um processo tecnológico que interconecta seres humanos uns com os outros, ao redor de afinidades comuns, pelo convívio em rede, e que apresenta, como conseqüência, uma nova espécie de coletividade formada a partir do virtual. Cria-se assim um novo espaço público virtual, fora do espaço público físico como das praças e ruas.

A democracia se enferruja dentro das novas tecnologias fazendo com que o debate político se transforme em um ato midiático, não democrático, porque torna mais difícil a organização de sindicatos dentro da rede e não tem como mobilizar massas através da rede. Pode-se até mobilizar pessoas pelo correio eletrônico, mas isso atinge um pequeno grupo de pessoas, tornando impossível visualizar este grupo para a opinião pública em geral. Portanto, as novas tecnologias de comunicação fragmentam a unidade política com um todo, fortalecendo a individualidade das pessoas na sociedade.

O ato de trabalhar em casa, à frente de um computador ligado na Internet gera uma nova classe de trabalhadores virtuais que são diferentes dos presenciais, e a respeito dos quais não se sabe se obedecem leis locais do seu país ou leis internacionais que ainda não foram regulamentadas, acompanhando o desenvolvimento da globalização e das novas tecnologias de comunicação.

Além disto, muitas empresas que existem virtualmente mas não presencialmente, criando crises a nível nacional como internacional, não só dos direitos dos trabalhadores como também de obrigações fiscais e comerciais. Estes direitos e obrigações comerciais relacionados às empresas transnacionais, não têm sede própria a não ser num site na rede, o que corresponde a uma situação jurídica complicada para regulamentar e legalizar a situação delas.

Um exemplo clamoroso desta situação é que existem cassinos virtuais na Rede Internet em que qualquer pessoa de qualquer país pode jogar, mesmo no Brasil onde, pela constituição, os cassinos são proibidos. Portanto, a partir da invenção da Internet, existem dois tipos de países também: o legalizado e o ilegal, aquele com fronteiras e aquele sem fronteiras.

O primeiro é para quem não possui as novas tecnologias de comunicação e, o segundo para quem possui. O segundo não é um país, mas é a totalidade dos países num lugar hipotético, um único país virtual que, na realidade, não é nenhum país real e não possui sequer um solo, a não ser seu próprio território sintético. Temos uma crise política real, da realidade política local que não há como ser transportada para o universo virtual.

Chamamos de política real aquela que é praticada no mundo real; que não é virtual. Mas, a democracia real nem sempre é real, embora aconteça no mundo físico presencial; não é real por circunstâncias e influências da manipulação do poder financeiro; do marketing, da publicidade e, principalmente, dos efeitos da mídia sobre a sociedade, que falsifica o real tornando-o virtual, mesmo dentro da realidade.

Toda a democracia, no sentido político mais abrangente, acaba sendo virtual porque, na realidade, as escolhas e as vontades populares atualmente são manipuladas pelos novos elementos tecnológicos de comunicação, que acabam exercendo uma ação ideológica que transcende a tecnológica.

A realidade passa a ser, portanto o que os meios de comunicação querem, aquela que o capital compra e os efeitos especiais da computação e da publicidade desejam. Nada do que seja a vontade da plena maioria da sociedade, como deveria ser numa democracia verdadeira e não idealizada.

A homogeneização da humanidade causa uma perda de identidades culturais nunca vista antes, através da influência das novas tecnologias de comunicação, trazendo como conseqüência, a pasteurização da cultura internacional e o enfraquecimento das identidades nacionais. Os poderes locais perdem sua força, dando espaço para que o poder do mercado internacional, revestido pelo projeto político da globalização, tome conta do novo cenário geopolítico.

A atuação das novas tecnologias de comunicação cria novos exércitos de excluídos, aumentando os focos de riqueza em algumas nações e generalizando miséria em outras. Os países periféricos não possuem pesquisa de ponta para acompanhar o avanço tecnológico dos países centrais, criando focos de desnivelamento social em várias partes do mundo, onde o progresso sócio-político não caminha junto com o progresso técnico-cientifíco.

Os incluídos no mundo das novas tecnologias de comunicação são somente aqueles que têm meios e poder financeiro para conquistar sua posse e uso. Os demais são usados como personagens secundários nos bastidores da história da infovia e da Internet, para dar sustentação à imagem de um futuro ilusório, onde ‘’cada um tenha um computador em cada mesa em cada casa‘’ – como sonha Bill Gates, o magnata da informática e da multimídia. Não nos esquecendo que a grande maioria das pessoas não tem sequer casa para morar e, muito menos, computador para usar.

A revolução das novas tecnologias de comunicação causaram no mundo inteiro uma revolução de maior impacto do que a própria invenção da imprensa por Gutemberg, porque conseguiram congregar som, imagem e texto num único universo; apresentando como conseqüência, uma ‘’compactualização’’ dos meios de comunicação, unindo todos os elementos da comunicação em uma única máquina e em um único filtro de recepção, fazendo com que as indústrias de comunicação também se unissem criando monopólios na área, com poderes políticos inéditos nunca vistos antes.

O poder político dos outros meios de comunicação, como rádio, televisão, jornais e revistas, foi transferidos para a Internet, por ela ser o único meio de comunicação capaz de concentrar a todos em um único lugar e, consequentemente, de concentrar todos os poderes que cada meio tinha, dentro dela.

As novas tecnologias de comunicação levam a sociedade a modificar sua sociabilidade, estando o ser humano cada vez mais em contato com a máquina e cada vez menos com as pessoas, a nível presencial. Hoje em dia, o ser humano abastece o seu tempo de lazer com jogos interativos da rede, em bate-papos, em salas de chats e em vídeo-conferências, relacionando-se cada vez mais com outras pessoas por ‘’via técnica’’ em detrimento da ‘’via contato direto’’, mudando assim sua própria maneira de ser também como ser humano.

A máquina está tornando-se companheira do ser humano, mesmo não lhe expressando qualquer sentimento; fazendo com que ele perca boa parte da sua vida quotidiana não ao lado de plantas, bichos e pessoas, mas ao lado do computador que lhe fornece desde correio e comércio eletrônico, até sexo virtual. Sendo assim, o ser humano de pele e osso está adquirindo comportamentos que poderíamos chamar de robotizados.

Os seres humanos transformam-se em andróides, não porque são construídos e desenvolvidos em laboratório como uma espécie de Frankstein, ou por nascimento, mas por conveniência a uma sociedade movida pela técnica, artificial e cibernética.

Os novos políticos, a fim de desenvolverem projetos políticos voltados para esta sociedade sintética, acabam se espelhando nela mesma e se tornam sintéticos também; as ideologias já não têm mais valor e nem os programas políticos, pois os políticos e suas metas são agora construídos em estúdios, em sites e por marketeiros, e não junto à sociedade e aos partidos que eles deveriam representar.

Com as novas tecnologias de comunicação os políticos estão se tornando cada vez mais personalistas e cada vez menos estadistas, cada vez mais personagens de ficção e cada vez menos pessoas públicas.

Cabe lembrar o exemplo dos EUA, onde a televisão havia preparado o cenário, chegando ao extremo de colocar na própria presidência dos EUA, Ronald Reagan um personagem de cinema de Hollywood, transformando-o em um poderoso personagem da política americana.

Hoje, todos os políticos assediados pelas técnicas de comunicação acabam se tornando atores como Reagan a fim de também ganharem as eleições. Hoje, o povo já não conhece mais a face verdadeira dos políticos, mas conhece somente a sua máscara política.

Os programas políticos sofrem as influências das novas tecnologias de comunicação, dando vitória eleitoral a quem produz mais efeitos especiais e não a quem propõe obras de interesse social. Diga-se de passagem, algumas obras sociais acabam incidentemente transformando-se em meros efeitos especiais. Ao extremo do projeto Fura-Fila (uma espécie de veículo leve sobre rodas) feito em computação gráfica, ser o carro chefe de campanha de Celso Pitta do PPB (Partido Progressista Brasileiro) à prefeitura da cidade de São Paulo.

Como resultado disto, as promessas políticas, depois da invenção das novas tecnologias de comunicação tornaram-se mais ilusórias, porque antes eles prometiam somente com a palavra sem o uso da imagem. Hoje eles prometem com a imagem o que povo, pela ilusão ótica, tem muito mais facilidade em acreditar, mesmo não sendo realidade.

Vivemos a época da política sediada em uma matriz tecnológica e não na matriz sociológica, sendo que qualquer político pode prometer qualquer coisa, pois os recursos financeiros e o computador podem realizá-la mesmo se, na prática isso seja impossível.

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BREVE HISTÓRICO DA AUTORA:

Cristiane Neder nasceu no Brasil em 18 de agosto de 1969, na cidade de Santo André no Estado de São Paulo. Formou-se em colegial técnico em publicidade e propaganda pelo Colégio São Judas Tadeu. Formou – se na universidade em Comunicação Social, com habilitação na área de Rádio e TV pela Universidade São Judas Tadeu. Mestre pela ECA – Escola de Comunicações e Artes da USP – Universidade de São Paulo, apresentando como dissertação a obra sobre: As Influências das Novas Tecnologias de Comunicação Social na Formação Política. É atualmente professora no curso de comunicação social nas universidades São Marcos:www.smarcos.br e no Centro Universitário UNIFIEO: www.unifieo.br e se prepara no momento para ingressar no programa de doutorado da ECA – USP . Além de professora é também escritora e poeta com diversos trabalhos publicados no estrangeiro, como pode ser visto no site internacional de poesias: www.poetry.com

Contatos com a autora para palestras, aulas e demais interesses acadêmicos e de pesquisa pelo e – mail: neder_2002br@yahoo.com.br



[1] ARENDT, Hannah. O que é política? 1999, p.64.

[2] MATOS, C. F. Olgária. A vigilância da visão. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 5-6.

[3] RAMONET, Ignácio. A tirania da comunicação. 1999, p. 39.

[4] BOTTON, Alan. Em busca da forma ideal de Governo. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 18 de Março de 1998. p. 5.

[5] TOURAINE, Alain. Pessimismo escandaloso. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Março de 1997. p. 5.

[6] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 34.

[7] LÉVY, Pierre. A ‘netiqueta do ciberespaço’: a reciprocidade é a moral implícita das comunidades virtuais. Folha de São Paulo. 09 de Novembro de 1997. p. 3.

[8] SOUZA, Cláudio & AMARAL, Maria Adelaide. 100 anos de República. 1989, p. 28.

[9] SARTORI, Giovanni. Homo videns-la sociedad teledirigida. 1998, p. 65.

[10] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 23.

[11] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 30.

[12] IDEM, p. 24.

[13] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 32.

[14] VERÍSSIMO, Érico. Um certo Capitão Rodrigo. 1949, p. 46.

[15] LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. 1989, pp. 110-111.

[16] GONÇALVES, Marco Augusto. Intercâmbio aproxima países e anuncia “cultura global”. Folha de São Paulo, Caderno Especial 2. 02 de Novembro de 1997. p. 10.

[17] GONÇALVES, Marco Augusto. Intercâmbio aproxima países e anuncia “cultura global”. Folha de São Paulo, Caderno Especial 2. 02 de Novembro de 1997. p. 10.

[18] GONÇALVES, Marco Augusto. Intercâmbio aproxima países e anuncia “cultura global”. Folha de São Paulo, Caderno Especial 2. 02 de Novembro de 1997. p. 10.

[19] LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. 1989, p. 75.

[20] LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. 1989, p. 75.

[21] TASSARA, Eda T. de Oliveira. Para um novo humanismo: contribuições da psicologia social. 1997, p. 23.

[22] BUCCI, Eugênio. Globalização e comunicação. O Estado de São Paulo, Especial de Domingo. 11 de Março de 1996. p. D-2.

[23] IDEM.

[24] TASSARA, Eda T. de Oliveira. Para um novo humanismo: contribuições da psicologia social. 1997, p. 32.

[25] BUCCI, Eugênio. Globalização e comunicação. O Estado de São Paulo, Especial de Domingo. 11 de Março de 1996. p. D-2.

[26] GONÇALVES, Marco Augusto. Intercâmbio aproxima países e anuncia “cultura global”. Folha de São Paulo, Caderno Especial 2. 02 de Novembro de 1997. p. 10.

[27] MARX, Karl. Manuscritos de 1857-1858 (Grundisse). In: Globalização diminui as distâncias e lança o mundo na era da incerteza. Folha de São Paulo, Caderno Especial 2. 02 de Novembro de 1997. p. 2.

[28] ROSSI, Clóvis. Globalização diminui distâncias e lança o mundo na era da incerteza. Folha de São Paulo, Caderno Especial 2. 02 de Novembro de 1997. p. 2.

[29] MATTELART, Armand. La mundialización de la comunicación. 1996, p. 43.

[30] JOYCE, James. Retrato do artista quando jovem. 1970, p. 58.

[31] SARTORI, Giovanni. Homo videns-la sociedad teledirigida. 1998, p. 11.

[32] MATTELART, Armand. La mundialización de la comunicación. 1996, p. 41.

[33] FERNANDES, Wagner Carmo. Imprensa x Ciência: relações perigosas. Jornal da Tarde, Caderno de Sábado. 11 de Janeiro de 1992. p. 3.

[34] LINTAS/BRASIL. Cartaz publicitário: campanha do Dia da Imprensa. Setembro de 1991.

[35] LÉVY, Pierre. A ‘netiqueta do ciberespaço’: a reciprocidade é a moral implícita das comunidades virtuais. Folha de São Paulo. 09 de Novembro de 1997. p. 5.

[36] IDEM.

[37] CHOMSKY, Noan. A privatização da democracia: Noan Chomsky examina os usos políticos da informação. Entrevista concedida ao articulista da Folha de São Paulo Nelson Ascher. Caderno Mais. 09 de Março de 1997. pp. 5-10.

[38] DUARTE, Adriano Rodrigues. As novas fronteiras culturais das tecnologias da informação. Revista Comunicação e Política, nº 25. 08 de Março de 1993, p. 13.

[39] STYCER, Maurício. Novos rebeldes. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Fevereiro de 1997. pp. 5-6.

[40] CHOMSKY, Noan. A privatização da democracia: Noan Chomsky examina os usos políticos da informação. Entrevista concedida ao articulista da Folha de São Paulo Nelson Ascher. Caderno Mais. 09 de Março de 1997. pp. 5-10.

[41] BUTSON, Thomas. Mikhail Gorbachev. In: Os grandes líderes. 1990, p. 111.

[42] MENDES, Lucas. Furor das fusões põe a televisão em transe. O Estado de São Paulo, Caderno Especial de Domingo. 11 de Fevereiro de 1998. p. D-6.

[43] BUCCI, Eugênio. Processo é estrada traiçoeira da unanimidade. O Estado de São Paulo, Caderno Especial de Domingo. 11 de Fevereiro de 1998. p. D-2.

[44] ROSA, Dudi Maia & FAJARDO, Carlos. Caos da informação exige jornalismo mais seletivo, qualificado e didático. Folha de São Paulo, Caderno Brasil. 17 de Agosto de 1997. p.p 1-8.

[45] CHOMSKY, Noan. A privatização da democracia: Noan Chomsky examina os usos políticos da informação. Entrevista concedida ao articulista da Folha de São Paulo Nelson Ascher. Caderno Mais. 09 de Março de 1997. pp. 5-10.

[46] BARBOSA, Fernando Lima. 40 anos da televisão brasileira. Revista Comunicação e Política. Ano X. Janeiro-Junho de 1991. p. 105.

[47] MARTÍNEZ, Tomás Eloy. O romance de Perón. 1998, p. 184.

[48] CHOMSKY, Noan. A privatização da democracia: Noan Chomsky examina os usos políticos da informação. Entrevista concedida ao articulista da Folha de São Paulo Nelson Ascher. Caderno Mais. 09 de Março de 1997. pp. 5-10.

[49] WOLTON, Dominique. O governo paralelo da imagem. Entrevista concedida a Napoleão Sabóia. Jornal de Tarde, Caderno de Sábado. 16 de Novembro de 1991. p. 4.

[50] FERNANDES, Wagner Carmo. Imprensa x Ciência: relações perigosas. Jornal da Tarde, Caderno de Sábado. 11 de Janeiro de 1992. p. 3.

[51] CHESNAIS, François. Novo capitalismo intensifica velhas formas de exploração. Folha de São Paulo, Caderno Especial 2. 02 de Novembro de 1997. p. 4.

[52] PEREIRA, Pablo. Brasil discutirá pornografia na Internet. O Estado de São Paulo, Caderno Geral. 07 de Janeiro de 1996. p. A-15.

[53] GATES, Bill. A estrada do futuro. 1995, p. 54.

[54] IDEM, pp. 229-230.

[55] BARBOSA, Fernando Lima. 40 anos da televisão brasileira. Revista Comunicação e Política. Ano X. Janeiro-Junho de 1991. p. 107.

[56] LOBATO, Elvira. Faroeste marcou o início da TV a cabo no Brasil. Folha de São Paulo. 10 de Setembro de 1995. pp. 1-10.

[57] LOBATO, Elvira. Faroeste marcou o início da TV a cabo no Brasil. Folha de São Paulo. 10 de Setembro de 1995. pp. 1-10.

[58] ELIAS, Eduardo. Aliança de Globo e Fox esquentam disputa. O Estado de São Paulo, Caderno Telejornal. 24 de Setembro de 1995. p. T-7.

[59] SANTAELLA, Lúcia. Produção de linguagem e ideologia. 1996, p. 177.

[60] GOPNIK, Adam. O ciclo inflacionário da agressão: por que a mídia sempre parte para o ataque? Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Março de 1997. pp. 5-6.

[61] ROCCO, Maria Thereza Fraga. TV leva culpa para livrar pais e mestres. O Estado de São Paulo, Caderno Especial de Domingo. 04 de Junho de 1995. p. D-2.

[62] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 24.

[63] JAPPE, Anselm. A arte de desmarcarar. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 4-5.

[64] JAPPE, Anselm. A arte de desmarcarar. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 4-5.

[65] BOGUCH, Larissa. História de um amor de história. 1991, p. 66.

[66] KLIMOV, Gregory. A máquina do terror. 1954, p. 149.

[67] LÉVY, Pierre. Cibercultura. 1999, p. 25.

[68] LÉVY, Pierre. Cibercultura. 1999, p. 24.

[69] CHOMSKY, Noan. Segredos, mentiras e democracia. 1996, p. 17.

[70] COHN, Gabriel. A busca da unidade num mundo dividido. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 16 de Novembro de 1997. pp. 5-10.

[71] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 21.

[72] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 21.

[73] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 21.

[74] GATES, Bill. Apostando em um estilo web de vida. Folha de São Paulo, Caderno Informática. 30 de Julho de 1997. p. 5.

[75] LÉVY, Pierre. A ‘netiqueta do ciberespaço’: a reciprocidade é a moral implícita das comunidades virtuais. Folha de São Paulo. 09 de Novembro de 1997. p. 3.

[76] LÉVY, Pierre. A ‘netiqueta do ciberespaço’: a reciprocidade é a moral implícita das comunidades virtuais. Folha de São Paulo. 09 de Novembro de 1997. p. 3.

[77] IDEM.

[78] ERCILIA, Maria. Entenda como se “transa” pelo computador. Folha de São Paulo, Caderno São Paulo. 23 de Julho de 1995. p. 3.

[79] . ERCILIA, Maria. Entenda como se “transa” pelo computador. Folha de São Paulo, Caderno São Paulo. 23 de Julho de 1995. p. 3.

[80] FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 1996, p. 676.

[81] COHN, Gabriel. A busca da unidade num mundo dividido. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 16 de Novembro de 1997. pp. 5-10.

[82] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, p. 24.

[83] SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. 1990, pp. 26-27.

[84] BAUDRILLARD, Jean. A Disney World ilimitada.Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Fevereiro de 1997. p. 5.

[85] IDEM.

[86] MENDES, Cândido. Entrevista concedida à Folha de São Paulo ao jornalista Nelson de Sá, Caderno Ilustrada. 18 de Maio de 1998. pp. 3-5.

[87] LÉVY, Pierre. A ‘netiqueta do ciberespaço’: a reciprocidade é a moral implícita das comunidades virtuais. Folha de São Paulo. 09 de Novembro de 1997. p. 3.

[88] MENDES, Cândido. Entrevista concedida à Folha de São Paulo ao jornalista Nelson de Sá, Caderno Ilustrada. 18 de Maio de 1998. pp. 3-5.

[89] SOUKI, Omar de Oliveira. Telenovelas brasileiras ofuscam Hollywood. Revista Comunicação e Política, Ano X. Janeiro de 1991. p. 130.

[90] SODRÉ, Muniz. O monopólio da fala. 1984, p. 61.

[91] GABEIRA, Fernando. Flamengo mostra como comprar infelicidade. Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada. 20 de Novembro de 1995. pp. 5-10.

[92] COHN, Gabriel. A busca da unidade num mundo dividido. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 16 de Novembro de 1997. pp. 5-10.

[93] COHN, Gabriel. A busca da unidade num mundo dividido. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 16 de Novembro de 1997. pp. 5-10.

[94] MARX, Karl. O capital. Livro I, Processo de Produção do Capital. 1965, p. 732.

[95] BAUDRILLARD, Jean. A Disney World ilimitada.Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Fevereiro de 1997. p. 5.

[96] MARCONDES FILHO, Ciro. Pensar-pulsar: cultura comunicacional, tecnologias, velocidade. Coletivo NTC. 1996.

[97] WOLTON, Dominique. O governo paralelo da imagem. Entrevista concedida a Napoleão Sabóia. Jornal de Tarde, Caderno de Sábado. 16 de Novembro de 1991. p. 4.

[98] TOURAINE, Alain. Pessimismo escandaloso. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Março de 1997. p. 5.

[99] WOLTON, Dominique. O governo paralelo da imagem. Entrevista concedida a Napoleão Sabóia. Jornal de Tarde, Caderno de Sábado. 16 de Novembro de 1991. p. 4.

[100] ZELDIN, Theodore. Como o respeito veio ser mais desejável que o poder. In: Uma história íntima da humanidade. 1994, p. 126.

[101] WOLTON, Dominique. O governo paralelo da imagem. Entrevista concedida a Napoleão Sabóia. Jornal de Tarde, Caderno de Sábado. 16 de Novembro de 1991. p. 4.

[102] GOPNIK, Adam. O ciclo inflacionário da agressão: por que a mídia sempre parte para o ataque? Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Março de 1997. pp. 5-6.

[103] Grifo da autora Cristiane Pimentel Neder.

[104] JAPPE, Anselm. A arte de desmarcarar. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 4-5.

[105] JAPPE, Anselm. A arte de desmarcarar. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 4-5.

[106] IDEM.

[107] DARNTON, Robert. Armadilha da mídia: redes difamatórias de comunicação existem há quatro séculos. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 15 de Janeiro de 1996. pp. 5-10.

[108] SWETLANA, Gisela. Televisão e abertura: ensaio geral. Revista Comunicação e Política. 08 de Março de 1991. p. 21.

[109] WOLTON, Dominique. O governo paralelo da imagem. Entrevista concedida a Napoleão Sabóia. Jornal da Tarde, Caderno de Sábado. 16 de Novembro de 1991. p. 4.

[110] PEREIRA, Pablo. Brasil discutirá pornografia na Internet. O Estado de São Paulo, Caderno Geral. 07 de Janeiro de 1996. p. A-15.

[111] ERCILIA, Maria. Entenda como se “transa” pelo computador. Folha de São Paulo, Caderno São Paulo. 23 de Julho de 1995. p. 3.

[112] JAPPE, Anselm. A arte de desmarcarar. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 4-5.

[113] PRETO, Dino Ouro & ALVIN, L. Terceiro mundo digital. Letra do disco Atrás dos Olhos, da Banda Capital Inicial. Gravado nos Estúdios em Nashville, Tennesse, EUA em Setembro de 1998.

[114] LÉVY, Pierre. Cibercultura. 1999, p. 34.

[115] MACEDO, Lino. O computador e a inteligência. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 04 de Agosto de 1996. pp. 5-7.

[116] SARTORI, Giovanni. Homo videns-la sociedad teledirigida. 1998, p. 41.

[117] GABEIRA, Fernando. Telefone celular marca década do cérebro. Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada. 15 de Janeiro de 1996. pp. 5-7.

[118] GABEIRA, Fernando. Telefone celular marca década do cérebro. Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada. 15 de Janeiro de 1996. pp. 5-7.

[119] GABEIRA, Fernando. Telefone celular marca década do cérebro. Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada. 15 de Janeiro de 1996. pp. 5-7.

[120] MACEDO, Lino. O computador e a inteligência. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 04 de Agosto de 1996. pp. 5-7.

[121] SKIDMORE, Thomas. Entrevista concedida à Fernando Conceição Walter D’Avilla. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Maio de 1998. pp. 5-9.

[122]LAGE, Nilson. A tecnologia e a ética da modernidade. Revista Atrator Estranho, nº 2, 1991, p. 14.

[123] PAULINO NETO, Fernando. TV a cabo chega à favela da Rocinha. Folha de São Paulo, Caderno Dinheiro. 29 de Março de 1997. pp. 2-9.

[124] ROSA, Dudi Maia & FAJARDO, Carlos. Caos da informação exige jornalismo mais seletivo, qualificado e didático. Folha de São Paulo, Caderno Brasil. 17 de Agosto de 1997. pp. 1-8.

[125] PAULINO NETO, Fernando. TV a cabo chega à favela da Rocinha. Folha de São Paulo, Caderno Dinheiro. 29 de Março de 1997. pp. 2-9.

[126] PAULINO NETO, Fernando. TV a cabo chega à favela da Rocinha. Folha de São Paulo, Caderno Dinheiro. 29 de Março de 1997. pp. 2-9.

[127] CITELI, Adilson. Dramas, mazelas e a reversão da crise. O Estado de São Paulo, Caderno Especial Domingo. 11 de Junho de 1995. p. D-6.

[128] TOFLER, Alvin. Ensinar o século 21. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 08 de Março de 1998. pp. 5-8.

[129] MACEDO, Lino. O computador e a inteligência. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 04 de Agosto de 1996. pp. 5-7.

[130] TOLEDO, José Roberto de. Nordeste tem polígono do analfabetismo. Folha de São Paulo, Caderno Brasil. 24 de Março de 1996. pp. 1-8.

[131] TOFLER, Alvin. Ensinar o século 21. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 08 de Março de 1998. pp. 5-8.

[132] TOFLER, Alvin. Ensinar o século 21. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 08 de Março de 1998. pp. 5-8.

[133] DIMENSTEIN, Gilberto. Sem-computador é o sem-terra do futuro. Folha de São Paulo, Caderno Mundo. 20 de Abril de 1997. pp. 1-10.

[134] IDEM.

[135] DIMENSTEIN, Gilberto. Sem-computador é o sem-terra do futuro. Folha de São Paulo, Caderno Mundo. 20 de Abril de 1997. pp. 1-10.

[136] CITELI, Adilson. Dramas, mazelas e a reversão da crise. O Estado de São Paulo, Caderno Especial Domingo. 11 de Junho de 1995. p. D-6.

[137] CHOMSKY, Noan. Segredos, mentiras e democracia. 1996, p. 66.

[138] PAULINO NETO, Fernando. TV a cabo chega à favela da Rocinha. Folha de São Paulo, Caderno Dinheiro. 29 de Março de 1997. pp. 2-9.

[139] COELHO, Marcelo. Há exceções no deserto da televisão. Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada. 16 de Agosto de 1995. pp. 5-8.

[140] INFANTE, Reinaldo Uribalzo. La televisión en Cuba. Revista Comunicação e Política, Ano X. Janeiro de 1991. p. 114.

[141] GABEIRA, Fernando. Flamengo mostra como comprar infelicidade. Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada. 20 de Novembro de 1995. pp. 5-10.

[142] ROSSI, Clóvis. Saiba como os teóricos interpretam o processo. Folha de São Paulo, Caderno Especial. 02 de Novembro de 1997. p. 2.

[143] GRIGORIEV, I. Problemas da paz e do socialismo. 1989, p. 36.

[144] CALLIGARIS, Contardo. Luxo à brasileira: diferença crucial com os EUA não é religiosa, mas de modos de individualismo. Folha de São Paulo. 10 de Agosto de 1997. pp. 5-7.

[145] CAZUZA. Andróide sem par. Disco Por Aí. Gravadora PHILIPS, 1991.

[146] LÉVY, Pierre. A ‘netiqueta do ciberespaço’: a reciprocidade é a moral implícita das comunidades virtuais. Folha de São Paulo. 09 de Novembro de 1997. p. 3.

[147] GATES, Bill. Apostando em um estilo web de vida. Folha de São Paulo, Caderno Informática. 30 de Julho de 1997. p. 5.

[148] GATES, Bill. Apostando em um estilo web de vida. Folha de São Paulo, Caderno Informática. 30 de Julho de 1997. p. 5.

[149] DEL NERO, Henrique Schützer. A humanidade em cheque. Folha de São Paulo, Caderno Mais-Ciência. 18 de Maio de 1998. pp. 5-16.

[150] SHANNON. Comunicação e indústria cultural. 1982, p. 82.

[151] DEL NERO, Henrique Schützer. A humanidade em cheque. Folha de São Paulo, Caderno Mais-Ciência. 18 de Maio de 1998. pp. 5-16.

[152]MONFORTE, Luiz Guimarães. Vivemos a era do pensamento analógico. O Estado de São Paulo, Especial de Domingo. 05 de Novembro de 1995. p. D-2.

[153] DEL NERO, Henrique Schützer. A humanidade em cheque. Folha de São Paulo, Caderno Mais-Ciência. 18 de Maio de 1998. pp. 5-16.

[154] FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 1996, p. 450.

[155] IDEM.

[156] MATOS, C. F. Olgária. A vigilância da visão. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 5-6.

[157] IDEM.

[158] LATOUR, Bruno. O sociólogo francês Bruno Latour desafia os partidários da tese da Sociedade de Espetáculo. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 5-7.

[159] DEL NERO, Henrique Schützer. A humanidade em cheque. Folha de São Paulo, Caderno Mais-Ciência. 18 de Maio de 1998. pp. 5-16.

[160] BAUDRILLARD, Jean. A Disney World ilimitada. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Fevereiro de 1997. p. 5.

[161] SICHEL, Berta. Decifra-me ou devoro-te. O Estado de São Paulo, Caderno Especial de Domingo. 05 de Novembro de 1995. p. D-2.

[162] SICHEL, Berta. Decifra-me ou devoro-te. O Estado de São Paulo, Caderno Especial de Domingo. 05 de Novembro de 1995. p. D-2.

[163] IDEM.

[164] MARCONDES FILHO, Ciro. Pensar-pulsar: cultura comunicacional, tecnologias, velocidade. Coletivo NTC. 1996.

[165] BOTTON, Alan. Em busca da forma ideal de Governo. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 18 de Março de 1998. p. 5.

[166] CANCLINI, Néstor Garcia. Cultura y comunicación: entre el global y el local. 1997, p. 99.

[167] CHOMSKY, Noan. Segredos, mentiras e democracia. 1996, p. 17.

[168] IDEM, p. 11.

[169] COHN, Gabriel. A busca da unidade num mundo dividido. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 16 de Novembro de 1997. pp. 5-10.

[170] CHOMSKY, Noan. Segredos, mentiras e democracia. 1996, p. 11.

[171] BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia – uma defesa das regras do jogo. 1997, p. 26.

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[173] CHOMSKY, Noan. Segredos, mentiras e democracia. 1996, p. 17.

[174] TASSARA, Eda T. de Oliveira. Para um novo humanismo: contribuições da psicologia social. 1997, p. 23.

[175] Grifos da autora Cristiane Pimentel Neder.

[176] JAPPE, Anselm. A arte de desmarcarar. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 17 de Agosto de 1997. pp. 4-5.

[177] COHN, Gabriel. A busca da unidade num mundo dividido. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 16 de Novembro de 1997. pp. 5-10.

[178] SCHILLER, Herbert. O futuro da democracia. Revista Veja. Outubro de 1992. pp. 3-6.

[179] BLIKSTEIN, Izidoro. Linguagens e tecnologia. Revista Atrator Estranho. nº 23. Julho de 1996. p. 34.

[180] BOURDIE, Pierre. O império do jornalismo: TV e sondagens levam a lógica comercial a dominar a mídia. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 09 de Março de 1997. pp. 5-12.

[181] BUCCI, Eugênio. Globalização e comunicação. O Estado de São Paulo, Especial de Domingo. 11 de Março de 1996. p. D-2.

[182] MATTELART, Armand. La mundialización de la comunicación. 1996, p. 150.

[183] MATTELART, Armand. La mundialización de la comunicación. 1996, p. 153.

[184] HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções (1789-1848). 1989, p. 64.

[185] TOFLER, Alvin. Um país não precisa ser rico para ingressar na Terceira Onda. O Estado de São Paulo, Caderno Economia. 29 de Outubro de 1995. p. B-10.

[186] NISKIER, Arnaldo. A máquina vai acabar com o professor? Folha de São Paulo, Tendências/Debates. 19 de Maio de 1998. pp. 1-3.

[187] DIMENSTEIN, Gilberto. Sem-computador é o sem-terra do futuro. Folha de São Paulo, Caderno Mundo. 20 de Abril de 1997. pp. 1-10.

[188] TOFLER, Alvin. Um país não precisa ser rico para ingressar na Terceira Onda. O Estado de São Paulo, Caderno Economia. 29 de Outubro de 1995. p. B-10.

[189] NISKIER, Arnaldo. A máquina vai acabar com o professor? Folha de São Paulo, Tendências/Debates. 19 de Maio de 1998. pp. 1-3.

[190] DIMENSTEIN, Gilberto. Sem-computador é o sem-terra do futuro. Folha de São Paulo, Caderno Mundo. 20 de Abril de 1997. pp. 1-10.

[191] DIMENSTEIN, Gilberto. Sem-computador é o sem-terra do futuro. Folha de São Paulo, Caderno Mundo. 20 de Abril de 1997. pp. 1-10.

[192] NISKIER, Arnaldo. A máquina vai acabar com o professor? Folha de São Paulo, Tendências/Debates. 19 de Maio de 1998. pp. 1-3.

[193] TOLEDO, José Roberto de. Nordeste tem polígono do analfabetismo. Folha de São Paulo, Caderno Brasil. 24 de Março de 1996. pp. 1-8.

[194] BECKER, Gary. Recurso natural não faz um país rico. Folha de São Paulo, Caderno Brasil. 29 de Outubro de 1995. pp. 1-17.

[195] SAMPSON, Anthony. O homem da companhia. 199