CRISTIANE PIMENTEL NEDER
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Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo no Departamento CTR – Cinema, Televisão e Rádio, sob a orientação do Prof. Dr. Marcello Giovanni Tassara. Aprovada na data de 05 de junho de 2001, no curso ciências da comunicação, da área de concentração em comunicação e estética do audiovisual.
SÃO PAULO, JUNHO DE 2001
RESUMO:
Esta dissertação de mestrado tem como objetivo discutir as influências que as novas tecnologias de comunicação exercem sobre a formação política da sociedade.
Contém temas atuais que abordam a dicotomia do desenvolvimento tecnológico à frente do desenvolvimento social.
Mostra como a história dos meios de comunicação sempre esteve interligada aos acontecimentos políticos nacionais ou internacionais; como a política usou os meios de comunicação para abranger a sociedade; como os políticos se servem dos meios de comunicação para beneficiarem a si próprios e como os meios de comunicação manipulam a sociedade em favor de sistemas políticos que lhe interessem.
O uso público dos meios de comunicação pode ser meio de libertação ou de dominação na sociedade, dependendo de quem tem o poder de informar e de conduzir a informação para a formação de uma sociedade democrática ou autoritária, e de como a partir do surgimento das novas tecnologias de comunicação a sociedade se organiza e de como ela é influenciada pelos meios em menor ou maior escala.
A relação tempo presencial e tempo virtual, o estar presente estando ausente, como as novas tecnologias diminuem as distâncias no mundo, como as culturas se difundem umas com as outras em tempos de globalização, pasteurizando-as a favor de um mercado econômico mundial, e como tudo isto ocorre em um tempo curto e vivencialmente falso e sintético, em detrimento real de tempo cronológico histórico.
As várias mega-fusões das empresas de comunicação formando conglomerados enormes nas mãos de poucos homens com poderes políticos inéditos mais fortes do que os poderes dos próprios políticos e da própria sociedade, usando dos meios de comunicação para manipular a sociedade mundialmente em beneficio próprio e do capital internacional. O perigo de uma ditadura tecnológica e do poder da imprensa substituir o próprio poder democrático, levando ao absolutismo e ao totalitarismo desenvolvido pelos meios de comunicação, atuando como chefes de Estado assessorados pelo desenvolvimento tecnológico.
A sociabilidade na multimídia, como as pessoas estão se relacionando em comunidades virtuais a partir do surgimento das novas tecnologias de comunicação e de como o ser humano está perdendo ou ganhando novas sociabilidades através da utilização das técnicas. A sociedade sintética, o pensamento, o amor sentidos através dos meios e a política exercida através da cibernética. Como os relacionamentos humanos estão mudando desde quando as novas tecnologias fazem parte do quotidiano “humano”.
Os políticos robôs e os homens públicos sintéticos que as novas tecnologias de comunicação formam aliados aos efeitos do “marketing media”. Os discursos políticos frios formados dentro dos estúdios de tevê e do computador, os homens públicos de carne e osso transformados em fantoches através dos recursos técnicos. Os políticos que não têm mais ideologia e nem programa de governo, são movidos pelos efeitos das pesquisas de opinião pública de dos comentários de imprensa. Os políticos inconstantes que fazem política, cercados pelo palanque eletrônico e não pela vontade popular.
A favela eletrônica: A modernidade convivendo com as desigualdades sociais. Como as novas tecnologias de comunicação estão sendo inseridas nos países de terceiro mundo, e como as inovações técnicas e informacionais estão a frente do desenvolvimento político e social. As disparidades de miséria, do analfabetismo, da falta de moradia e de alto índice de doenças convivendo ao lado da revolução das novas tecnologias de comunicação.
As pessoas que se relacionam, trabalham e se divertem usando as novas tecnologias como suportes de novos ambientes sociais de convívio e de relacionamento humano. Os garotos e garotas de “programa”, a nova geração de jovens que formam um nicho de pessoas basicamente virtuais.
A questão da democracia, as discussões políticas dentro da rede, as novas formas de fazer manifestação política usando das novas tecnologias de comunicação. Análise de se a democracia vivencial sempre foi virtual e se a democracia virtual só não oficializou a forma de democracia real no ambiente virtual.
O trabalhador virtual e as novas formas de escravidão na rede, denominadas com tema de ciber-escravos que formam no seu conjunto uma espécie de senzala eletrônica. Como as novas tecnologias escravizam o ser humano em nome do mercado mundial?
O trabalho foi concluído dando perspectivas futuras de como as novas tecnologias de comunicação vão influenciar no desenvolvimento e na formação política, e de como o próprio tempo futuro se torna fictício no universo cibernético, e no tempo real presente, e de que a promessa de modernização acaba desempenhando uma função política de vender o futuro somente pela finalidade de avanço tecnológico e não social.
The objective of this master's dissertation is to discuss the influences that the new communication technologies have on the political formation of society.
It is divided into up-to-date themes that are influenced by the dichotomy of technological development confronting that of social development.
Since the history of communications has always been interlinked with national or international political events, and vice versa, politics has used communications to embrace society. So too the politicians have used communications for their own benefit and they have used communications to manipulate society in favor of a political system, which benefits them.
The public's use of communications as a way of freeing or of dominating society depends on who has the power to inform and direct information for the formation of a more democratic or more authoritarian society. And since the appearance of the new communication technologies society is now being organized and is being influenced by these to a greater or lesser degree.
The relationship between real time and virtual time, which is absent right now, how the new technologies decreases distances throughout the world and how cultures are influencing one another with globalization. They are being ’pasteurized’ in favor of a world economic market, and how all of this is happening in such a short time. This process is essentially false and synthetic - in detriment to real historical chronological time.
The various mega - fusions of the communication companies have concentrated enormous conglomerates in the hands of a few individuals who have incredible political powers - powers stronger than those of the elected politicians and of society itself. They are using all the means of communication to globally manipulate society for their own benefit and that of international capital. There is a danger of a technological and press dictatorship substituting democratically elected governments - turning media bosses into heads of state through the absolutism and totalitarianism made possible by technological development.
The social interaction of the multimedia, linking people together in virtual communities - started from these new communication technologies human beings are losing or winning new sociabilities through the use of these techniques. The synthetic society, thinking and loving in now being done and felt through these means. Even politics is coming through the cybernet. How human relationships are moving too since these new technologies make part of our daily life.
The political robots and the synthetic public men from the new communication technologies have formed allies with those of ‘the marketing media’. The impersonal political speeches being made inside television and computer studios are transforming the real men of flesh and blood into puppets through technical resources. The politicians no longer have an ideology or program for governing - they are governed by the effects of public opinion polls and press comments. Fickle politicians are making decisions surrounded by electronic gadgets and not by the will of the people.
The electronic slum: How the modern world is living with social inequalities. How the new communication technologies are being installed in third world countries, together with the technical and it innovations, which are at the forefront of political and social development. Disparities of misery and illiteracy; the lack of housing and the high index of diseases exist together with the revolution in the new communication technologies.
The way people relate to each other, and how their relationships at work and socially using the new technologies makes for new social atmospheres of conviviality and human relationships. The boys and girls of ‘these programs’ are the new generation that forms a niche of virtual people.
Then there is the question of democracy; the political discussions inside the netiand the new forms of making political protests using the new communication technologies. Also analyzing if the democratic experience is always virtual and if virtual democracy only makes official a form of real democracy in the virtual environment.
The virtual worker and the new forms of slavery on the net, known as cyber - slaves who form a type of electronic slave quarter. How do the new technologies enslave the human being on behalf of the world market?
The work concludes by giving future perspectives on how the new communication technologies will influence the development of political opinion, and how future time becomes fictitious in the cybernetic universe of present real time. And how the promise of modernization ends up fulfilling a political function of selling the future only for the purpose of technological and not social progress.
SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO: As Influências das Novas Tecnologias dos Meios de Comunicação na Formação Política |
CAPÍTULO 1: Os Meios de Comunicação e o Poder: as influências das novas tecnologias de comunicação como meios de dominação e libertação |
CAPÍTULO 2: Tempo Presente e Tempo Virtual: o estar ausente estando presente, e as diferenças culturais das nações nos processos das difusões |
CAPÍTULO 3: A Ditadura Tecnológica: o absolutismo e o totalitarismo das mega-corporações |
CAPÍTULO 4: A Sociabilidade na Multimídia: a cibersociedade e os relacionamentos “humanos” |
CAPÍTULO 5: Os Políticos Robôs e os Homens Públicos Sintéticos |
CAPÍTULO 6: A Favela Eletrônica: a modernidade convivendo com as desigualdades sociais |
CAPÍTULO 7: Os Novos Garotos e Garotas de “Programa” |
CAPÍTULO 8: Democracia Virtual |
CAPÍTULO 9: O Trabalhador Virtual e os Ciber-Escravos da Senzala Tecnológica |
CAPÍTULO 10: De Volta Para o Futuro |
CONSIDERAÇÕES FINAIS/CONCLUSÃO |
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS |
“A pergunta sobre o sentido da política exige uma resposta tão simples e tão conclusiva em si que se poderia dizer que outras respostas estariam dispensadas por completo. A resposta é: O sentido da política é a liberdade”.[1]
As novas tecnologias dos meios de comunicação social estão começando a revelar os seus primeiros efeitos e como eles se apresentarão nos próximos anos. Isto não significa que os países mais desenvolvidos economicamente irão ter maior sucesso no acesso as informações do que os demais.
Esta pesquisa, sobre as influências das novas tecnologias de comunicação na formação política, foi desenvolvida a partir dos próprios meios impressos, televisivos e da Internet. Foram coletadas diversas matérias entre os principais jornais do Brasil e do mundo, reproduzidas na mídia nacional.
O trabalho se estruturou da mídia a partir da mídia, da fonte da pesquisa para o próprio objeto de pesquisa. Se vamos falar sobre meios de comunicação, penso que não há melhor fonte para se retirar informações e coletar dados do que os próprios meios. A pesquisa constituiu em buscar seu observador no seu próprio espelho de projeção, e nisto reside a característica essencial desta pesquisa.
Questões como: “Quem são as pessoas que controlarão estas informações?” “Qual valor estará disponível ao consumidor?” Refletem o surgimento de novas classes sociais tiradas do ‘web style of life’, do web estilo de vida, ou pela própria discriminação produzida pelo acesso fácil, dado que somente poucas pessoas têm recursos financeiros para ter ou usufruir deste estilo de vida.
Esta proposta consiste em analisar como a sociedade irá se dividir, entre aqueles que podem possuir meios eletrônicos para ingressar no novo contexto social informatizado e aqueles que nem sequer sabem lidar com os meios e as novas tecnologias.
As pessoas estão procurando suas “tribos” e encontram-se fragmentadas em gostos e estilos pessoais e individuais. As tendências das novas televisões a cabo por sistemas participativos e interativos mexendo com a velha tendência do telespectador passivo que só recebe informações e não emite, o ‘pay-per-view’, o pagar pelo que se assiste. Os canais segmentados por gostos e opiniões abrindo um leque de debates públicos nos meios virtuais que criam uma espécie de arena democrática eletrônica, que nos próprios ‘chats’ e salas de discussão da Internet costuma-se chamar de democracia virtual.
Como o virtual pode ser atualizado na democracia dita convencional, e se ela realmente é participativa, ou somente manipulativa, ou seja, votada pela maioria tendenciosa das opiniões fraudadas pelas redes de informação, ou dadas realmente pelo público usuário. Questiona-se, no próprio conjunto do texto, se a democracia dita convencional é vivencial, se não é tão manipulativa quanto participativa, e se os meios eletrônicos e a realidade virtual imitam a democracia fora da cibersociedade, como se a nossa sociedade também não fosse real, mas imaginada e criada pelos meios eletrônicos.
O passado da televisão convencional e do rádio, assim como os meios de comunicação modernos, já haviam causado mudanças sociais e modificações políticas antes da aquisição pela humanidade da Rede Internet e dos meios eletrônicos de informação. Como os líderes políticos fizeram uso do rádio e da televisão para fazer seus palanques políticos, e como os atuais políticos são motivados pelo “marketing-mídia” e não mais por programas partidários e pelas idéias políticas.
As legislações e as constituições dos países vêm sendo mudadas e conturbadas por causa das novas mídias e das novas tecnologias; as grandes fusões dos mercados dos meios de comunicação, as mega empresas engolindo outras mega empresas ainda maiores ou iguais em tamanho, e as empresas pequenas e médias de comunicação nacionais sendo devoradas pelas empresas internacionais, no surgimento dos monopólios sem concorrência, e dos novos “deuses” do mercado do entretenimento e da informação comandando o mundo através de satélites.
As matrizes européias e norte-americanas sem bloqueios econômicos. A falta de políticas de regulamentação destes acordos comerciais, criando a imposição de uma minoria que tem o poder de aquisição dos meios de comunicação ao restante do mundo. O mundo miniaturado, parecendo televisão em polegadas, o mundo que cabe na palma da mão, o universo local de cada nação sendo desmembrado em função de uma política imposta pelos meios de comunicação, conveniente e multinacional da atual globalização, onde novas tecnologias e meios eletrônicos fazem parte deste novo cenário político internacional.
As características dos novos políticos que são meio robôs-máquinas e meio cidadãos de carne e osso. Os políticos que não têm mais sensibilidade popular e verdade no olhar. O olhar de vidro eletrônico na tela do computador ou do vídeo que faz da propaganda política um show de efeitos especiais e de promessas sociais futuristas, mas quase sempre sem futuro algum.
Os estereótipos dos novos políticos que parecem garotos propaganda de bens de consumo e não de ideais, as imagens idealizadas e criadas pelos meios não são a de homens de ideologias formadas por partidos, mas a da pesquisa e a do Ibope realizada pelas mídias. O voto que a sociedade deposita nas pessoas idealizadas e não nos programas partidários, a queda das ideologias e o enfraquecimento das utopias como um todo não só no novo universo midiático, mas também na realidade mundial presente, reflexo da terceira onda informatizada.
A maior interatividade das pessoas com as novas mídias, os recursos acoplados (texto, vídeo, áudio) num único lugar, gerando ao mesmo tempo pluralidade de pensamento e esgotamento cultural. A vida em rede compactuada e ampliada, ao mesmo tempo os séculos se passando em segundos com o arquivamento da historia em enciclopédias virtuais, acumulando os ensinamentos milenares em dias, os segredos místicos em redes, as filosofias e ciências em chats, tudo sendo duplicado também a cada segundo em Cd-roms ou em home-pages.
As necessidades políticas e sociais dos seres humanos sendo repensadas, não segundo um padrão de conduta social quotidiano, mas segundo um padrão de conduta estereotipada pelos personagens e pelas estórias realizadas dentro da artificialidade dos meios.
O desejo de o povo buscar uma exteriorização de sua própria imagem num meio de comunicação, ligado mais à imagem, principalmente da televisão, é um fenômeno criado a partir de um vácuo das sociedades pós-industriais que, desde a revolução industrial na Inglaterra despertou no ser humano a necessidade de se exteriorizar para se autoprojetar. Hoje, buscando no infinito do mundo das novas tecnologias, essa necessidade se intensifica como forma de recuperar a capacidade lúdica enlatada pela fabricação em massa e em série dos comportamentos herdados por essa nova fase robótica e capitalista retórica.
“Na modernidade industrial, o dinamismo das ciências e das novas tecnologias participa da reconstrução permanente do cosmos, o que revela a face divina do homem como Criador, ao qual se associa, no entanto, a alienação. Pode-se reconhecer na transformação do olhar a longa distância, pelo telescópio de Galileu, um choque a partir do qual se separam o mundo e o universo”.[2]
CAPÍTULO 1:
“Há um século, o conflito entre a imprensa e o poder é uma questão da atualidade, mas toma uma dimensão inédita hoje, porque o poder não é mais identificado só ao poder político (o qual, além disso, vê suas prerrogativas roídas pela ascensão do poder econômico e financeiro) e porque a imprensa, os meios de comunicação de massa não se encontram mais, automaticamente, em relação de dependência com o poder político; o inverso é quase sempre o caso. Pode-se até mesmo dizer que o poder está menos na ação do que na comunicação”.[3]
Há uma visão estereotipada na sociedade do que seja política. Sempre se pensa em política como algo vinculado aos gabinetes públicos, partidos, agremiações políticas ou sindicatos e, pior ainda, existe a convicção de que as pessoas que fazem política são somente aquelas ligadas a esses órgãos de representação popular, jurídica ou pública.
“De todas os ramos da filosofia, Aristóteles acreditava ser a política o mais importante, por ser ela a única capaz de assegurar uma vida boa às pessoas. É impossível garantir o bem individual já é por si só desejável, fazê-lo no caso de um Estado ou de um povo é algo muito mais nobre e sublime”. [4]
Segundo alguns estudiosos de comunicação, a política não se faz na arte, a não ser quando a arte tem caráter ideológico; há preconceitos, às vezes por parte dos mesmos, em contextualizar novelas, filmes, livros ou desenhos animados como obras políticas. Veremos que elas, mesmo os desenhos animados e as histórias em quadrinhos (que parecem serem obras ideologicamente inocentes) nada têm de inócuo, pois são muitas vezes impregnadas de características de cunho político. Obras artísticas em geral, mediadas ou não pelos meios de comunicação e pelas novas tecnologias, são elementos de formação política, de maneira direta ou indireta.