LUIZ BELTRÃO: PIONEIRO DOS ESTUDOS DE
FOLK-COMUNICAÇÃO NO BRASIL
 

José Marques de Melo, UMESP
(Titular da Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Regional)




Se vivo estivesse, o comunicólogo latino-americano Luiz BELTRÃO de Andrade de Lima teria completado 81 anos no dia 8 de agosto de 1999. Antes disso, teria celebrado, no mês de março, os 36 anos de fundação do primeiro periódico científico brasileiro do campo das ciências da comunicação, a revista Comunicações & Problemas. Foi uma das iniciativas ousadas do Instituto de Ciências da Informação (ICINFORM), que ele criou e dirigiu como entidade inicialmente associada à Universidade Católica de Pernambuco e depois à Universidade de Brasília.

Justamente no primeiro número da revista Comunicações & Problemas Beltrão lançou a plataforma de uma nova disciplina no âmbito das ciências da comunicação e da informação, a Folkcomunicação. Seu artigo sobre o "ex-voto" suscitava o olhar dos pesquisadores da comunicação para um tipo de objeto que já vinha sendo competentemente estudado pelos antropólogos, sociólogos e folcloristas, mas negligenciado pelo comunicólogos.

Seu argumento implícito era o de que as manifestações populares, acionadas por agentes de " informação de fatos e expressão de idéias", tinham tanta importância comunicacional quanto aquelas difundidas pelos mass media . Por isso mesmo ele recorria ao arsenal metodológico já testado e aperfeiçoado no estudo das manifestações convencionais do mass-journalism (formatadas de acordo com os canais pós-gutenbergianos) e as transportava para analisar as ricas expressões daquilo que ele sugeria como integrantes do folk-journalism (veiculadas em canais pré-gutenbergianos ou usando tecnologias tão rudimentares quanto a prensa de Mogúncia).

Na verdade, Beltrão descobrira que os processos modernos de comunicação massiva coexistiam, no espaço brasileiro-nordestino, com fenômenos de comunicação pré-moderna. Eram reminiscências do período medieval-europeu, transportadas pelos colonizadores lusitanos e historicamente aculturadas, aparentando uma espécie de continuum simbólico. Tais veículos de comunicação popular ou de folkcomunicação, como ele preferiu denominar, mesmo primitivos ou artesanais, atuavam como meros retransmissores ou decodificadores de mensagens desencadeadas pela indústria da comunicação de massa (jornais, revistas, rádio, televisão).

Mais do que isso: ele identificou teoricamente uma semelhança entre tais processos e aqueles que Lazarsfed e seus discípulos haviam observado na sociedade norte-americana, mais conhecido como o paradigma do "two-step-flow-of-communication" . No entanto, as hipóteses de Luiz Beltrão davam um passo adiante em relação aos postulados de Paul Lazarsfeld e Elihu Katz. Enquanto aqueles cientistas atribuíam um caráter linear e individualista ao fluxo comunicacional em duas etapas, porque dependente da ação persuasiva dos "líderes de opinião", o pesquisador pernambucano tinha a premonição de que o fenômeno era mais complexo, comportando uma interação bi-polar (pois incluía o " feed-back" protagonizado pelos "agentes populares" no contato com os " meios massivos") e revelando natureza coletiva. A re-intrepretação das mensagens não se fazia apenas em função da "leitura" individual e diferenciada das lideranças comunitárias. Mesmo sintonizadas com as "normas de conduta" do grupo social, ela continha fortemente o sentido da "coesão" grupal, captando os signos da "mudança social", típico de sociedades que sofrem as agruras do meio ambiente e necessitam transformar-se para sobreviver.

Em certo sentido, Luiz Beltrão antecipava observações empíricas que embalsariam a teoria das "mediações culturais", o cerne da contribuição de Jesus Martin Barbero e dos culturalistas ao pensamento comunicacional latino-americano. Dessa corrente, o mexicano Jorge González já fizera referência explícita aos estudos seminais do cientista pernambucano sobre as classes subalternas brasileiras, pioneirismo que seria enfatizado pelo próprio Martin Barbero em sua análise sobre os "aportes" brasileiros para as ciências sociais da América Latina durante o congresso INTERCOM’97. Beltrão reconhecia nos agentes de folk-comunicação, nas sociedades rurais ou periféricas, um caráter nitidamente institucional, semelhante àquele que Martin Barbero atribuiria mais tarde aos agentes educativos, religiosos ou políticos nas sociedades urbanas metropolitanas.

Mas, antes disso, a originalidade dos estudos de Luiz Beltrão havia merecido aplausos do maior folclorista brasileiro, que foi Luís da Câmara Cascudo. Depois de ler o artigo sobre o " ex-voto" publicado na revista do ICINFORM, Mestre Cascudo endereçou uma carta estimuladora, destinada a elevar o astral do seu autor. Beltrão a transcreveria na edição seguinte do periódico.

"O seu artigo-de-abertura (...) é um magnífico master-plan. Valorizará o cotidiano, o vulgar, o realmente popular de feição, origem e função. Não espere que venha um nome de fora, um livro de longe, ensinando a amar o que temos ao alcance dos olhos. Teime, como está fazendo, em valorizar o Homem do Brasil em sua normalidade. E não apenas os produtos do esforço desse Homem. Acredite na força pessoal do seu afeto no plano da penetração analítica. Acima de tudo, veja com seus olhos. Ande com seus pés. Depois compare com as conclusões de outros olhos e com as pegadas de outros pés. (...) Desconfie dos mentores integrais, nada permitindo às alegrias do seu livre trânsito. O papagaio, que tanto fala, não sabe fazer um ninho. E os Pássaros cantadores aprenderam na gaiola essa habilidade de prisioneiros profissionais."

O incentivo de Câmara Cascudo foi decisivo. Tanto assim que Luiz Beltrão sistematizou e ordenou suas observações sobre as manifestações da comunicação popular nordestina, ancorando-as nas teorias do folk-lore e confrontando-as com os paradigmas da mass-communication. Dois anos depois resgatou as evidências empíricas e interpretou-as segundo as teorias da comunicação de massa e da cultura popular, enfeixando-as na tese de doutoramento que inscreveu na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. O julgamento foi feito por uma banca de alto nível, composta do comunicólogo espanhol Juan Beneyto, do midiólogo norte-americano Hod Horton e do sociólogo brasileiro Roberto Lyra Filho.

Ao aprovar a tese sob o título " Folkcomunicação, um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de idéias" (1967), a comissão julgadora outorgou também a Luiz Beltrão o primeiro grau de Doutor em Comunicação conquistado em universidade brasileira. Nesse sentido, vale registrar a ousadia de Darcy Ribeiro que, ao criar a UnB, institucionalizou a titulação doutoral em todas as áreas do conhecimento e não apenas naquelas disciplinas já legitimadas academicamente. Foi através dessa inovação que Luiz Beltrão, não obstante tivesse o status de Professor-Titular, deu um exemplo de humildade intelectual aos seus discípulos e colaboradores, submetendo-se a um exame de mérito para ostentar legalmente uma condição acadêmica que já desfrutava por competência.

Naquele mesmo ano, a Universidade de São Paulo abriria inscrições na recém criada Escola de Comunicações Culturais para o Doutorado por Defesa de Tese (de acordo com o sistema europeu então vigente nas universidades brasileiras). Essa leva de doutores paulistas somente completaria o doutorado em 1973, tendo os títulos outorgados nas disciplinas que integravam o elenco curricular dos cursos ali ministrados (Jornalismo, Relações Públicas, Rádio e Televisão, Cinema, Teoria da Comunicação). Coube-lhes naturalmente robustecer o curso de Mestrado em Ciências da Comunicação que fora criado no ano anterior, naquela instituição, contando exclusivamente com doutores oriundos de outras áreas do conhecimento.

Mas os primeiros doutores e os mestrandos em comunicação da USP tiveram o privilégio de contar com o estoque de conhecimentos já sedimentado por Luiz Beltrão e por outros estudiosos da área. Minha tese de doutorado em Jornalismo (defendida em 1973) fundamentou-se em muitas idéias desenvolvidas por Luiz Beltrão. Ele atuou na verdade como meu co-orientador acadêmico, situação idêntica àquela compartilhada com o antropólogo Egon Schaden e com o meu orientador de fato, Prof. Dr. Rolando Morel Pinto. Minha experiência foi semelhante à de vários outros colegas que se doutoraram na mesma conjuntura histórica. Virgílio Noya Pinto, Freitas Nobre, Thomas Farkas, Gaudencio Torquato, Cândido Teobaldo, Sara Chucid da Viá, Anamaria Fadul também dialogaram com Luiz Beltrão durante os colóquios para os quais foi convidado na USP, no início dos anos 70.

Sua tese de doutorado virou livro em 1971, intitulado "Comunicação e Folclore", ampliando a difusão das idéias que construíra sobre a Folkcomunicação. No entanto, os seus fundamentos teóricos ficaram opacos, uma vez que a Editora Melhoramentos, que acolheu a tese, optou por amputar-lhe o capítulo introdutório, substituindo-o por uma breve introdução ao tema. Em parte, isso se explica por razões mercadológicas (poupar o leitor comum dos prolegômenos típicos das teses universitárias). Mas a explicação verdadeira está no parecer feito pelo consultor editorial, Prof. Lourenço Filho, fascinado pela originalidade do autor, mas perplexo ante a sua ousadia teórica.

Além de fundamentar-se em teorias norte-americanas da mass communication , Beltrão buscou amparo nas teses da "dinâmica do folclore" defendidas pelo folclorista (de esquerda) Edison Carneiro. Aqueles eram tempos de obscurantismo cultural, mantidos pela legislação extra-constitucional decretada pelo AI-5. Assim sendo, a teoria da folkcomunicação de Luiz Beltrão circulou incompleta até 1980, quando sopraram os ventos da abertura "lenta, gradual e segura" do General Geisel.

Ao publicar seu segundo livro sobre essa temática - "Folkcomunicação, a comunicação dos marginalizados" (São Paulo, Cortez, 1980), Beltrão corrige de algum modo essa lacuna, sintetizando e sem dúvida atualizando sua teoria da folkcomunicação. Ela já se apresentava, nesse momento, bem mais rica e estruturada, fruto das pesquisas empíricas que ele realizou em outras regiões brasileiras, especialmente em Brasília (síntese cultural do país), e dos confrontos feitos com pesquisas semelhantes desenvolvidas em outros países. Nesse sentido, ele tomou ao pé da letra a proposta de Câmara Cascudo: ande primeiro com os próprios pés e veja com os próprios olhos para depois comparar com as pegadas e os olhares dos outros.

De qualquer maneira, o pensamento de Luiz Beltrão disseminou-se em todo o território nacional, conquistando seguidores que deram andamento a algumas de suas idéias ou discípulos que avançaram nas trilhas empíricas por ele abertas. Considero-me um deles, ainda que não o mais conseqüente, nessa área, como sem dúvida tem sido Roberto Benjamin, Oswaldo Trigueiro ou Joseph Luyten. Dos escritos desse grupo resultou um corpo conceitual que trata de explicitar (ou reinterpretar) a teoria da folkcomunicação.

Apesar disso, a Folkcomunicação de Luiz Beltrão encontrou dupla resistência: a dos folcloristas conservadores (que pretendiam defender a cultura popular das investidas midiáticas modernizantes) e a dos comunicólogos libertadores (que pretendiam fazer da cultura popular o cavalo de tróia das suas batalhas políticas em lugar de apreender nessas manifestações genuínas o limite da resistência possível de comunidades empobrecidas cuja meta é a superação da marginalidade social).
 
 

Explica-se, desta maneira, o desconhecimento das novas gerações de comunicadores em relação às idéias de Luiz Beltrão. Elas permanecem estocadas nas prateleiras das bibliotecas, sendo indispensável propiciar aos midiólogos que vão atuar no próximo século o acesso a idéias, conceitos, teorias e metodologias construídos por um dos mais profícuos cientistas brasileiros da comunicação. Trata-se de um arsenal acadêmico que ficou de certo modo encoberto, para não dizer marginalizado, numa conjuntura marcada pela crença quase cega na obsolescência e morte das tradições populares, que se acreditava seriam sepultadas pelas correntes culturais pós-modernas e semi-eruditas.

Mas a História tem suas armadilhas imprevisíveis. Ao contrário das suposições modernosas, na verdade estribadas em sentimentos profundamente elitistas, o que observamos hoje é justamente um movimento em sentido contrário. A globalização permite vislumbrar o cenário de um mundo polifacético e multicultural. Ele sugere que qualquer inserção pro-ativa no seu universo depende basicamente do capital simbólico acumulado nas mega, macro ou micro-regiões, potencialmente convertíveis em imagens e sons capazes de sensibilizar a aldeia global. Vale dizer, ancorados em dimensão universalizante. Ou, em outras palavras, enraizados na cultura popular, mas traduzidos para a linguagem da cultura de massa.

Daí a atualidade do pensamento comunicacional de Luiz Beltrão, que pensou na era de McLuhan sobre as interações entre a aldeia local e a aldeia global. Ao construir um referencial teórico consistente lançou pontes entre a folk-mídia e a mass-mídia. Ele reconheceu o universal que subsiste na produção simbólica dos grupos populares, percebendo ao mesmo tempo que os dois sistemas comunicacionais continuarão a se articular numa espécie de feed-back dialético, contínuo, criativo.

Suas idéias estão sendo resgatadas, atualizadas e aprofundadas no Brasil pela Rede FOLKCOM, constituída com o apoio da Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Regional. Trata-se de um coletivo de pesquisadores das interfaces entre comunicação massiva e cultura popular que vem se reunindo anualmente nas Conferências Brasileiras de Folkcomunicação. A primeira foi realizada em 1998 no campus da Universidade Metodista de São Paulo, na cidade industrial de São Bernardo do Campo. A segunda ocorreu em 1999 no campus da FUNREI - Fundação Universidade de São João del Rei, localizada na cidade mineira de São João del Rei. As próximas conferências estão agendas pela Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa/PB (ano 2001) e Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul (2001).

Em plano latino-americano, o pensamento de Luiz Beltrão tem inspirado as produções científicas do Grupo de Estudios de Folk-Comunicación, criado pela ALAIC (Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación) e confiado à coordenação de um dos seus discípulos mais atuantes, o Prof. Dr. Roberto Emerson da Câmara Benjamin. O primeiro encontro dos estudiosos latino-americanos da FolkComunicação ocorreu no 4o. Congresso da ALAIC, promvido na cidade do Recife, ocasião em que foi lançada uma obra coletiva sobre a vida e a obra do mestre pernambucano - "Itinerário de Luiz Beltrão" (Recife, AIP/UNICAP, 1998). O segundo encontro está previsto para a cidade de Santiago do Chile, no campus da Universidade Diego Portales, onde se realizará o V Congresso da ALAIC, em abril do ano 2000.

A memória desses eventos e o conjunto da obra de Luiz Beltrão - um pensador polifacético que também produziu estudos e reflexões sobre Teoria da Comunicação e Teoria do Jornalismo, além de textos literários e jornalísticos - estão sendo reunidos e futuramente disponibilizados para consulta pública no Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano (APCL), uma iniciativa em processo, lançada pela Cátedra UNESCO de Comunicação do Brasil, sediada no campus Rudge Ramos da Universidade Metodista de São Paulo (email: unesco@umesp.com.br).

As fontes de referência para esse trabalho de registro documental são os ensaios de autoria do Prof. Dr. Paulo Rogério Tarsitano - "Luiz Beltrão: vida e obra" (originalmente apresentado à 48a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - PUC, São Paulo, 1996, depois publicado na revista Comunicação & Sociedade, n. 25, POSCOM/UMESP, 1996, p. 165-182) e do Prof. Dr. Roberto Benjamin - "Folkcomunicação: contribuição brasileira à escola latino-americana de comunicação" (originalmetne apresentado à 21. Conferência Científica da International Association for Mass Communication Research - University of Starthclyde, Glasgow, Escócia, 1998, depois publicado no Anuário Unesco/Umesp de Comunicação Regional, São Bernardo do Campo, 1998, p. 133-138).

Para os que se interessarem pelo trabalho pioneiro de Luiz Beltrão os referidos estudos constituem um convite à leitura e à reflexão crítica.



Apêndice

PERFIL DE LUIZ BELTRÀO

Nascido em Olinda (Pernambuco), Brasil, no dia 8 de agosto de 1918, Luiz Beltrão realizou seus estudos humanísticos no Seminário de Olinda e no Ginásio Pernambucano, em Recife, graduando-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da antiga Universidade do Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco.

Mas sua vida profissional foi inteiramente dedicada ao Jornalismo, atividade que iniciou em 1936, na reportagem do Diário de Pernambuco. Como jornalista, atuou em vários órgãos da imprensa pernambucana e tornou-se líder sindical da categoria, alcançando projeção nacional. Ao participar de congressos jornalísticos no país e no exterior, escreveu ensaios e monografias em que refletiu criticamente sua profissão e seu impacto na sociedade.

Essas reflexões geraram o livro ‘Iniciação à Filosofia do Jornalismo", que lhe garantiu o Prêmio Orlando Dantas - 1959, patrocinado pela Editora Agir (Rio de Janeiro), que o lançou nacionalmente no ano seguinte. Tal lançamento representou uma virada na sua carreira. A atividade profissional colocou-se em segundo plano, na medida em que avançava seu engajamento acadêmico.

Preocupado com a formação universitária dos jovens jornalistas, Beltrão aceita convite para ensinar Ética e Técnica do Jornalismo na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora de Lourdes, em João Pessoa - Paraíba. Ao mesmo tempo, havia apresentado projeto para a criação de um Curso Superior de Jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco, iniciativa acolhida pela congregação dos jesuítas e implementada a partir de 1961.

Suas aulas de Jornalismo são previamente escritas, antes de expostas em sala de aula, acumulando conhecimento que lhe permitiria publicar quatro livros sobre o processo de produção jornalística e seus gêneros fundamentais. Da mesma forma, ele anotaria as experiências pedagógicas que vivenciou na preparação de jornalistas profissionais, convertendo-as em livro publicado pelo CIESPAL - Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para América Latina - sob o título "Métodos de Enseñanza de la Técnica del Periodismo" (Quito, 1963).

Sua aproximação ao CIESPAL e às idéias comunicacionais ali difundidas por cientistas europeus e norte-americanos o influenciam a criar, em 1963, o primeiro centro brasileiro de estudos acadêmicos sobre os fenômenos midiáticos. Trata-se do Instituto de Ciências da Informação (ICINFORM), mantido mediante convênio com a Universidade Católica de Pernambuco. Esse núcleo foi responsável pela formação da primeira equipe de pesquisadores dedicados sistematicamente aos fenômenos comunicacionais no Brasil e pelo lançamento da primeira revista científica da área - Comunicações & Problemas -, publicada a partir de 1965, tomando como modelo sua congênere norte-americana Journalism Quartely.

A repercussão nacional e internacional do trabalho inovador realizado por Luiz Beltrão no Nordeste Brasileiro, formando jornalistas e pesquisando os fenômenos da comunicação pública, foi o fator decisivo para que o Governo Castelo Branco o convidasse a assumir a direção da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, onde atua durante o período 1965-1969. É ali que defende sua tese de doutoramento sobre Folkcomunicação, convertendo-se no primeiro Doutor em Ciências da Comunicação do Brasil. Esse trabalho, parcialmente publicado em livro - "Comunicação e Folclore"(São Paulo, Melhoramentos, 1971), tem caráter seminal, gerando inúmeros estudos e pesquisas que produziu nos anos seguintes, alguns sob a forma de livros, outros sob a forma de artigos para revista especializadas e comunicações apresentadas em reuniões científicas no país e no exterior.

Convidado a trabalhar na Fundação Nacional do Índio - FUNAI - ele se dedica a avaliar o comportamento da imprensa brasileira diante da questão indígena, cujas principais evidências foram reunidas no livro "O índio, um mito brasileiro"(Petrópolis, Vozes, 1977).

Após sua passagem pela Universidade de Brasília, Beltrão atua como docente e pesquisador no CEUB - Centro de Estudos Universitários de Brasília -, trabalho compartilhado com intensa atividade internacional, convidado para cursos, seminários, palestras e conferências, principalmente na América Latina. O resultado dessa profícua vida intelectual é a publicação de uma trilogia sobre Teoria da Comunicação: Fundamentos Científicos da Comunicação (1973), Teoria Geral da Comunicação (1977) e Teoria da Comunicação de Massa (1986).

Paralelamente à produção científica sobre os fenômenos sociais da comunicação e do jornalismo, ele se dedicou à literatura, escrevendo contos, novelas e romances. Seu primeiro livro literário foi o romance "Os senhores do mundo"(Recife, 1950). Depois, surgiram: "Quilometro Zero" (Recife, 1958), "A serpente no atalho"(Brasília, 1974), "A greve dos desempregados"(São Paulo, 1984). A consagração dessa atividade como ficcionista ocorre com a sua eleição para a Academia Brasiliense de Letras, onde atuou destacamente até sua morte, no dia 24 de outubro de 1986. Sua última fase intelectual foi marcada pelo memorialismo, dela resultando dois livros póstumos: "Contos de Olanda" (Recife, 1989) e "Memórias de Olinda"(Recife, 1996).

Reconhecido pela comunidade acadêmica como o pioneiro dos estudos científicos sobre comunicação no Brasil, Luiz Beltrão foi escolhido pela XX Assembléia Geral da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM) para ter o seu nome perpetuado no prêmio nacional que distingue os principais produtores científicos da área. Anualmente a INTERCOM confere o Prêmio LUZ BELTRÃO de Ciências da Comunicação a personalidades e instituições que se destacaram por relevantes contribuições ao nosso campo do conhecimento.