DESASSOSSEGO E COBARDIA NO “LIVRO” DE BERNARDO SOARES


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Arnaldo Lopes Marques, Universidade Nova de Lisboa

INTRODUÇÃO

           Primeira questão, talvez única: Livro do Desassossego (1). O que é que um título, digamos, tão bem encontrado nos promete e concretiza? Que livro é este? Que desassossego? Como é que a obra vai deixando cristalizar um título decantado fragmento a fragmento, sem soçobrar aquém? Porquê “Livro”, logo assim, como se fosse um breviário, um compêndio, coisa acabada, selecta de instruções? Porquê livro antes do livro, livro sem livro, livro em tautologia de si mesmo, livro em fuga de si mesmo? E porquê desassossego, os cinco esses, o prefixo “des” (2), marca semântica unificadora dos tão diversos fragmentos? Desassossego, o que significa? Qual é o desassossego de um ajudante de guarda-livros com horror confesso àquilo que desassossego à primeira vista significa? Qual é o desassossego que enuncia reiteradamente uma espécie de defesa e justificação de um sossego do avesso contra o sossego repousante do agir? Há ou não ironia neste título,  suprema ironia, calculada, refinada, e por fim amarga e em insuportável desconsolação? Por que é que o “Livro” não é capaz de ser obra, de ser livro, e no entanto…?

            What’s this? Don’t know yet(3).

1.         O “LIVRO” COMO COBARDIA OU O DESEJO DE DES-VIDA INSCRITO NO DESEJO DE DES-OBRA (O “LIVRO” COMO DES-LIVRO?) 

Como invejo os que escrevem romances,

que os começam e os fazem, e os acabam!

(f. 359, II, p. 96)

           

            Comecemos pelo fragmento 450, que é curto, assertivo, e levanta dois problemas fundamentais:

            A mais vil de todas as necessidades – a da confidência, a da confissão. É a necessidade da alma ser exterior.

            Confessa, sim; mas confessa o que não sentes. Livra a tua alma, sim, do peso dos teus segredos, dizendo-os; mas ainda bem que o segredo que dizes, nunca o tinhas dito. Mente a ti próprio antes de dizeres essa verdade. Exprimir(-se) é sempre errar. Sê consciente: exprimir seja, para ti, mentir (II, p. 193).

           Os dois problemas são, aliás, um só: o horror à (necessidade de) confidência, cuja falácia o “Livro” não se exime de “demonstrar”; e a constatação de que a linguagem não exprime nenhuma “verdade” de uma qualquer alma secreta e sedenta de redimir-se pela palavra confessada. Como afirma E. M. Cioran(4), os sentimentos expressos são uma dor para a ironia, uma bofetada no humor.[…] Mesmo quando se dirige a Deus, a confissão é um atentado contra nós próprios, contra as energias do nosso ser. Daí a apologia do fingimento, impelida pela consciência de que exprimir(-se) é errar, na dupla acepção de não apresentar a verdade e de vaguear sem destino (sem sentido). É inocente em demasia alguém supor que pode exprimir a sua “verdade”, que seja prévia à própria construção linguística dessa verdade, numa busca que saia vitoriosa das insidiosas veredas do fingimento, da ambiguidade, da incerteza (sucumbir, então, à citação do famoso “je est un autre” rimbaldiano): Exteriorizar as impressões é mais persuadirmo-nos de que as temos do que termo-las (f. 459, II, p. 199).

            Chegamos à questão genológica, a questão por excelência. O Livro é inclassificável. Um “puzzle” a que sobrassem peças, que, no entanto, também servissem, sobrando sempre outras. Bernardo Soares chama-lhe, num fragmento metatextual agudamente impiedoso, livro de impressões sem nexosérie confusa de intervalos entre coisas que não existemmeu livro estúpido (f. 294, II, pp. 21-22). Noutro fragmento, refere-se a este meu diário … estes apontamentos espirituais (f. 509, II, p. 253), o que faz crer, como está sobejamente provado, que o Livro foi um projecto ele próprio fragmentado (Jorge de Sena aponta três fases(5)), de que Pessoa entreteceu “ideias” diferentes e planos cronologicamente sobrepostos, sem que tivesse chegado a uma versão depuradora e conclusiva, como pretendeu nos últimos anos. Esta heterogeneidade enunciativa reflectiu-se também na diversidade “autoral” dos fragmentos (Fernando Pessoa, Vicente Guedes, Bernardo Soares – personalidade  literária,  Bernardo Soares – semi-

-heterónimo), na linguagem simbolista/decadentista dos textos anteriores a 1917, em oposição à prosa menos “literária” dos posteriores, e também, evidentemente, no carácter algo espúrio de primeiro rascunho que certos fragmentos apresentam, para além das dificuldades de decifração de muitos manuscritos. Haverá, portanto, uma relação directa entre a estranheza genológica e a descontinuidade genética que primeiramente a motivou.

Tudo isto deu origem, até hoje, e após a que estou a seguir, a três edições muito diferentes (digamos três e meia), tanto no número de fragmentos coligidos, como, fundamentalmente, na sua dispositio(6), com polémicas de permeio entre editores literários.  Parece, assim, ter-se cumprido, sem ironia, um destino de desassossego para o “Livro”, objecto confinado à sua dimensão física de ser papel e tinta, continente de um conteúdo, no entanto, instável, infixável, sem princípio ou fim, sem progressão programada nem esteios de qualquer espécie. Aliás, alguém sugeriu já uma edição em folhas soltas e não numeradas, que seria a mais conforme ao estado em que os originais foram deixados: uma amálgama compósita de fragmentos meio órfãos, sem testamento a defendê-los e sem tutor à guarda de quem ficassem. À orfandade de Bernardo Soares corresponderá, assim, a orfandade do próprio “Livro”.

            Por isso, as tentativas de o classificar se ancoram em aproximações pela negativa (o que este livro não é, ou o que este livro é, sem ser), seguindo uma linha de raciocínio muito típica de Bernardo Soares – a lógica da coincidentia oppositorum –, em que uma negação enunciada é como que anulada pela negação logo seguinte, ou em que uma afirmação perde assertividade pela demonstração imediata da inanidade dos seus pressupostos.

A estranheza genológica do “Livro” é, evidentemente, um dos seus grandes atributos e remete para uma das maiores idiossincrasias da poiesis pessoana, que é a falta de capacidade para unificar, para concluir, dando a obra por una e conclusa. De resto, o que acontece com o Livro, também sucede com o projecto Fausto, que igualmente sobraria de toda uma vida, e está por toda a parte na obra ortónima e heterónima (há sempre restos, hesitações, coisas que aparecem, inconclusões). Do “Livro” se pode dizer o que, a propósito de Fausto, afirmou Manuel Gusmão: mais do que inacabada, é uma obra inacabável, por impossibilidade de género(7). Mas o “livro”, a que Jacinto do Prado Coelho chamou “O laboratório secreto do escritor(8), adianta que essa dificuldade em “con-formar”, em estruturar uma obra “per-feita” (lembre-se Mallarmé, cuja promessa do “Livro total” se saldou, fragmentariamente, por textos em depurações sucessivas e, enfim, sempre “im-perfeitos”), se deverá essencialmente à gradual desconfiança que a modernidade instaurou entre o eu e as suas possibilidades de expressão para dizer o mundo, entre o eu e o seu desejo de salvação. A literatura passou a ser suspeita, por vezes coroa-se de aspas. E já quase só pode ser negação se si própria. Assim, a escrita em Bernardo Soares tornou-se na expressão de um permanente desejo de não-obra, de que apenas resta, como uma cobardia de quem não é capaz de abandonar um qualquer vício desprezível, o escrever indefinidamente, como se essa fosse a hipótese última e única do (não)viver:

Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho a dizer (frag. 12, I, p. 12).

Ao nada viver corresponde, pois, o nada ter para dizer. A escrita surge então como uma espécie de trabalho de luto pela vida morta (f. 301, II, p. 32), “desvivida”: escrever é esquecer (f. 505, II, p. 251). Ao contrário da renúncia de Lord Chandos(9) a toda a actividade literária, Bernardo Soares afirma: “não ouso o silêncio como quem receia um quarto escuro” (f. 190, I, p. 215). E expende ainda o seguinte:

Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação da vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.

(…)

Para mim, escrever é desprezar-me; mas não posso deixar de escrever. Escrever é como a droga que repugno e tomo, o vício que desprezo e em que vivo (f. 190, I, pp. 214-215).

           O Livro como cobardia, o Livro como des-livro, portanto. O desejo de não-obra não é ainda silêncio absoluto, mas também já não é fala, está entre. Um livro da insónia, como afirma Eduardo Prado Coelho(10). Um intervalo entre a fala e a mudez, entre a ficção da memória e a inscrição do esquecimento(11). Todo o Livro é, aliás, intervalar, como a luz crepuscular de tantos fragmentos – a luz humana por excelência.

            Cedo a citar, a propósito, uma passagem de E. M. Cioran, afinal uma alma tão afim da de Bernardo Soares, em que se exprime igualmente, em termos aliás muito soarianos, este exasperante dilema entre a publicitação e o silêncio: que é um livro senão uma perda da inocência, um acto de agressão, uma repetição da nossa queda? Publicar as próprias taras para causar divertimento ou exasperação! Um vandalismo contra a nossa intimidade, uma profanação, uma infâmia. E uma tentação (12).

2. O PAVOR DO RISÍVEL, O PUDOR DE EXISTIR

O horror metafísico de Outrem!

O pavor de uma consciência alheia

Como um deus a espreitar-me

Fernando Pessoa, Poemas Dramáticos, Ática, p. 118.

Toda a vida não faz mais do que repetir-se. Como a natureza. Os gestos quotidianos, as ambições, os desejos, as frustrações, etc., são uma sucessão de repetições, uma espécie de “mais do mesmo” (de si e/ou dos outros) em que cada um se envolve com maior ou menor dedicação e afinco. O que mais se desprende da repetição é o risível em que ela consiste. Quem age, repete-se, torna-se risível, embora a acção não permita o distanciamento que confere a consciência desse risível. Quem se “condena” a ir (suponhamos) diariamente para o trabalho, semanalmente ao cabeleireiro, de vez em quando a comprar roupa, a ir ao cinema, a fazer dieta, a ir ao ginásio, a pensar que deve ler mais, etc., etc., tem de estar cientemente “inconsciente” de que esses gestos, essas tarefas, esses desejos estão efectivamente excluídos do risível (em extremo, o esforço de estar fazendo este trabalho académico tem de esquecer-se do risível).  Somos tanto mais risíveis quanto agimos para lhe escapar. O risível absoluto é a absoluta inconsciência do risível, é o afogamento no “kitsh”, que ainda não era termo para Bernardo Soares. E, no entanto, a consciência do risível é bastante inconveniente de ter, estorva bastante, já se vê.

            Essa aguda consciência do risível faz com que Bernardo Soares e o seu “Livro” se situem nos antípodas do cómico, não só porque o cómico é inconsciente, mas também porque o sujeito isolado não ri, o riso é sempre de um grupo(13). O maior pudor exige a mais artificiosa das encenações de “naturalidade”, que, se preserva o sujeito de ser vítima do ridículo, também o priva, por outro lado, de usufruir do ridículo dos outros. Ninguém se ri de Bernardo Soares. Bernardo Soares não ri de ninguém. O ajudante de guarda-livros vive num instável equilíbrio intervalar entre dois pólos a que não tem acesso: a insensibilidade do cómico e a emoção “sensível” que o impede.

No fragmento 52 doLivro” lê-se assim:

“Passo por uma rua e  estou vendo na face dos transeuntes, não a expressão que eles realmente têm, mas a expressão que teriam para comigo se soubessem da minha vida, e como eu sou, se eu trouxesse transparente nos meus gestos e no meu rosto a ridícula e tímida anormalidade da minha alma. Em olhos que não me olham, suspeito troças que acho naturais, dirigidas contra a excepção deselegante que sou entre um mundo de gente que age e goza;

E mais adiante:

E às vezes, em pleno meio da rua – inobservado, afinal – paro, hesito, procuro como que uma súbita nova dimensão, uma porta para o interior do espaço, para o outro lado do espaço, onde sem demora fuja da minha consciência dos outros, da minha intuição demasiado objectivada da realidade das vidas alheias (I, pp. 55-56).

Há alguma coisa de timidez adolescente em pânico no primeiro trecho citado, que nos levaria ao homem-menos-a-capacidade-de-amar(14) que Fernando Pessoa / Bernardo Soares acabou por ser. O pavor de ser uma descoberta excepção deselegante como que se hipertrofia diante da suspeição de troças dos outros, consideradas “naturais”. Daqui nascerá, célere, por reacção negativa, o orgulho – estranho orgulho, contudo: o meu orgulho lapidado por cegos e a minha desilusão pisada por mendigos (f. 85, I, p. 90) –, o sentimento de uma superioridade difusa e sonâmbula vagueando por um mundo que a não podia reconhecer, e a que, aliás, esse orgulho nem permitia o reconhecimento. Uma espécie de “fuga para trás” – Eduardo Prado Coelho chamou- -lhe “um passo atrás”(15) -- ou “fuga para dentro”, que, se o faz perder o passo da quotidianidade emxovalhente da vida (f. 177, I, p. 200), lhe vai conferir a espantosa consciência do inane bulício do mundo e da sua real irrealidade, o que Soares designa por tudo a entender-se e a seguir e a abrir caminhos (f. 475, II, p. 210).

O segundo trecho abre-nos para essa “nova dimensão” que o “Livro” instaura, e que são duas portas: uma que abre para o interior do espaço e outra que abre para o outro lado do espaço. Digamos que a primeira se refere à visão radicalmente anti-psicológica do real (o real é só o que é, simultaneamente tudo o que existe e o que ocupa espaço, só o que se vê), de que se rasurou qualquer ficção da subjectividade, qualquer apetite hermenêutico. Estamos no domínio hiper-realista, quase fantástico a seu modo, de certas incursões na realidade mínima e infinitesimal. Como se o conceito de aura, de Walter Benjamin, sofresse aqui uma translação, e o mínimo, o banal e o quotidiano se tornassem grandes, extraordinários e raros: “Quem nunca saiu de Lisboa viaja ao infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte” (f. 56, I, pp. 62-63). Por sua vez, a porta que abre para o outro lado do espaço é a que permite a Bernardo Soares situar-se no meu  privilégio de penumbra (f. 96, I, 101), que, embora o defenda de ser visto, não o impede de ver objectivamente o exterior, porque se desloca para fora dele:

Para mim a humanidade é um vasto motivo de decoração, que vive pelos olhos e pelos ouvidos, e, ainda, pela emoção psicológica. Nada mais quero da vida senão o assistir a ela. Nada mais quero de mim senão o assistir à vida.

            Sou como um ser de outra existência que passa indefinidamente interessado através desta. Em tudo sou alheio a ela. Há entre mim e ela como um vidro. Quero esse vidro sempre muito claro, para a poder examinar sem falha de meio intermédio; mas quero sempre o vidro.

Sempre o vidro. O mesmo vidro da janela do escritório ou da janela do seu quarto, na mesma Rua dos Douradores, à luz crepuscular, que dá para “um infinito com armazéns em baixo, é certo, mas com estrelas ao fim…” (f. 377, II, p. 124). Um vidro que não se quebra nunca e que o defende quanto se pode defender alguém cuja diferença é tão grande e presente que qualquer sinal dela seria apoucar essa diferença, pois que só ao muito idêntico a si mesmo é fácil exteriorizá-la. Um vidro sempre muito claro para que os outros não dêem por ele. É a impossibilidade de semelhança que motiva em Bernardo Soares o horror da diferença. Como se a consciência da alteridade persistentemente, fantasmaticamente, convocasse o de antemão derrotado desejo de semelhança:

Sou igual. E por trás disso, céu meu, constelo-me às escondidas e tenho o meu infinito (f. 55, I, pp. 60-61).

Passei entre eles estrangeiro, porém nenhum viu que o era. Vivi entre eles espião e ninguém, nem eu, suspeitou que eu o fosse. Todos me tinham por parente: nenhum sabia que me haviam trocado à nascença. Assim fui igual aos outros sem semelhança, irmão de todos sem ser da família (f. 198, I, p. 225)

 Pode também dizer-se pudor de existir (f. 303, II, p. 35), só apaziguado junto da insensibilidade da natureza: “Paz imensa da Natureza, materna pela sua ignorância de mim” (f. 52, I, p. 57), já que “todo o interesse alheio por nós é uma indelicadeza ímpar (f. 453, II, p. 194). Repare- -se: a natureza é materna porque, paradoxalmente, se alheia do sujeito, deixando-o, portanto, livre e em sossego, ou seja, livre do desassossego. Neste sentido, a insistência com que no “Livro” se refere o tempo meteorológico – sobretudo (estranhamente, numa cidade como Lisboa) as nuvens, a chuva, a atmosfera do crepúsculo – funciona como um operador de alheamento libertador do sujeito no enquadramento humano opressivo.

Diz-se no fragmento 327: “Lentamente me couracei contra o sentimento do ridículo” (II, p. 62). E são vários os passos em que se programa friamente a insensibilidade ao outro, numa insistência cuja reiteração prova, afinal, a sua pouca eficácia:

Quem tem de viver entre os homens, activamente e encontrando-os – e é realmente possível reduzir ao mínimo a intimidade que se tem de ter com eles (a intimidade, e não o mero contacto, com gente, é que é o prejudicador) –,  terá de fazer gelar toda a sua superfície de convivência para que todo o gesto fraternal e social feito a ele escorregue e não entre ou não se imprima. Parece muito isto, mas é pouco. Os homens são fáceis de afastar: basta não nos aproximarmos (f. 308, II, p.40).

 No entanto, há raros momentos de surpreendente e desarmante cedência à “literatura” – no sentido em que, quando um homem se queixa, é a sua literatura (f. 407, II, p. 152) –, em que aflora um quase melancólico ressentimento de injustiçado, muito à revelia do tom dominante do Livro:

Em toda a alma que sente chega o dia em que o Destino nela representa um apocalipse de angústia – um entornar dos céus e dos mundos todos sobre a sua desconsolação.

Sentir-se superior e ver-se tratado pelo Destino como inferior aos ínfimos – quem pode vangloriar-se de estar homem em tal situação (f. 338, II, p. 77).

            Um assomo de magoado despeito ontológico, como vemos em tantos poemas de Álvaro de Campos? Sim. Afinal, a outra face (a outra máscara?) do mesmo (do outro?) ser que é capaz de inverter, um tanto cinicamente, o pavor do risível, o pudor de existir entre os mais:

            Quero gozar comigo a ironia de me não estranharem (f. 121, I, p. 126).

3. A CONSCIÊNCIA DA CONSCIÊNCIA VS “A FORTUNA AUTÊNTICA DE ESTAR VIVENDO SEM DAR POR ISSO(f. 82, I, p. 86) OU TALVEZ NÃO

           

Mas na verdade eu preferiria outra coisa.

(f. 244, I, p. 272)

           Nas três ocorrências (salvo erro) em que refere Amiel, Bernardo Soares manifesta um notório distanciamento em relação ao empreendimento diarístico do escritor francês, denunciando a sua “insuportável interiorice (f. 37, I, p. 37), que será a ilusão de coincidência de si consigo mesmo, que, no plano da linguagem (mas não há outro), corresponde à ilusão de coincidência entre uma individualidade empírica, uma pessoa, e o discurso em que essa pessoa diz “eu”. Mas na última referência encontra-se um parágrafo em que um discreto preito lhe é rendido:

                       

                        O diário de Amiel doeu-me sempre por minha causa.

                        Quando cheguei àquele ponto em que ele diz que sobre ele desceu o fruto do espírito como sendo “a consciência da consciência”, senti uma referência directa à minha alma (f. 508, II, p. 252).

            Feliz e rara identificação, esta que abre para um dos esteios fundamentais do universo pessoano – outro será a heteronímia, embora aquela lhe seja presciente – e veio a ser fértil fonte de exaustiva exploração. Em primeiro lugar, quase um mero jogo de palavras: ter consciência da consciência é verificar a inconsciência dos que apenas têm uma consciência una e indesdobrável; verificar depois como essa inconsciência, sendo uma menoridade, digamos, intelectual, é também condição  “sine qua non” para viver, pelo menos, à superfície socializada da vida; finalmente, sofrer (é a palavra?) com o irredutível dessa dupla consciência, qual demónio (sempre) de guarda, que vê a ver-se, pensa a pensar-se, sente a sentir-se, pensa depois a sentir, sente a pensar, e impõe, como uma condenação inapelável, a radical estranheza que é o intervalo entre o eu e os outros, entre o eu e o mundo, e fundamentalmente o intervalo que vai de si a si próprio – e que é o desassossego, enfim. A inconformidade mais profunda e sem remédio.

            Releve-se também que a inconsciência se associa às possibilidades de agir, que é o que há de mais apaziguador e sossegado: “agir é repousar”, enquanto “pensar é não saber existir (f. 318, II, p. 50). Ou seja: a consciência una, ou inconsciência, distrai, dinamiza; pelo contrário, a consciência da consciência trai, paralisa. Por isso, “a consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência” (f. 65, I, p. 71). Pessoa ortónimo e o seu antídoto, Caeiro, são evidentemente para aqui chamados: “o que em mim sente está pensando” contra “o que em mim sente, apenas sente”. Diz Bernardo Soares:

            Uma das grandes tragédias da minha vida – porém daquelas que se passam na sombra e no subterfúgio – é a de não poder sentir qualquer coisa naturalmente (f. 299, II, pp. 29-30).

            E noutro fragmento:

            Feliz, pois, o que não pensa, porque realiza por instinto e destino orgânico o que todos nós temos que realizar por desvio e destino inorgânico ou social. Feliz o que se assemelha aos brutos, porque é sem esforço o que todos nós somos com trabalho imposto (f. 402, II, p. 149).

            Desta incapacidade para ser apenas “como o comum dos animais homens” (f. 19, I, p.22) advém, “culturalmente”, a radical e irredutível diferença relativamente aos outros, “pobres diabos sempre com fome” (f. 71, I, p. 78). Que essa diferença seja uma tragédia, e vivida na sombra da dissimulação, é o alto preço a pagar por alguém que, perdulário de renúncias, se fez “o poço sem muros, mas com a viscosidade dos muros, o centro de tudo com o nada à roda” (f. 28, I, p. 31) (repare-se como a inversão dos termos não oferecia contradição: o centro de nada com tudo à roda).

            Nalguns passos do Livro em que Bernardo Soares disserta sobre a tríade eu/homens vulgares/animais, pode talvez chocar a frieza e o pessimismo antropológico, de cariz obviamente conservador, com que se distancia da “humanidade vulgar”, chegando à mais cínica das ironias:

            Entre mim, que pouco sou na ordem dos que pensam, e um camponês de Loures vai, sem dúvida, maior distância que entre esse camponês e, já não digo um macaco, mas um gato ou um cão (f. 479, II, p. 218).

            E, no entanto, ai dele, comparando-se com o merceeiro da esquina: “Eu superior a ele? Em quê se o nada não comporta superioridade, nem inferioridade, nem comparação?” (f. 96, I, p. 100). Nada, portanto. Por ser tudo. Qual super-homem nietzscheano desprovido, por paradoxo, da vontade de poder, que resta a Bernardo Soares, órfão da vida, de Deus e da humanidade, senão “a renúncia por modo e a contemplação por destino?” (f. 192, I, p. 218)

            Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia (f. 192, I, p. 218).


NOTAS

1. Este trabalho segue a edição “princeps” do Livro do Desassossego (recolha e transcrição dos textos: Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha; prefácio e organização: Jacinto do Prado Coelho), volumes I e II, Ática, Lisboa, 1982, para o qual remetem todas as passagens citadas. No total, são compilados 520 fragmentos, a que juntam seis poemas de Bernardo Soares, e a ordenação dos textos obedece a “manchas temáticas, sem vedações a separá-las” (id., ibid., vol. I, p. XXXII). Jacinto do Prado Coelho adverte muito democraticamente: “Trata-se, claro, duma proposta de leitura apresentada a título pessoal, que de nenhum modo ambiciona ser exclusiva ou se pretende ‘a melhor’. (…) Prevejo que novas edições, diferentemente planeadas, tragam outras propostas não menos aceitáveis” (id., ibid., vol. I, p. XXXII). Como o professor previra, as edições posteriores apresentam entre si diferenças de monta. Está por fazer o necessário cotejo entre objectos longe de serem idênticos.  

2. Foi Eduardo Prado Coelho quem chamou a atenção para a “multiplicação das palavras com o prefixo des”, que funcionaria como “um íman ao contrário” e como “operador de neutralização”, ao serviço da “lógica do neutro” que seria a “lógica do desassossego” (cf. Eduardo Prado Coelho – “Pessoa: lógica do desassossego”, in A Mecânica dos Fluidos, IN-CM, Lisboa, 1984, pp. 21-31). Vejam-se as seguintes palavras, a título de exemplo, em cujo prefixo, por não ser usual, se encerra uma “estranheza” que abre para surpreendentes matizes de sentido: desvesti (frag. 84, I, p. 89), desdurmo (frag. 99, I, p. 104), desesquecimento (frag. 172, I, p. 194), desacontecimento (frag. 294, II, p. 21), desforço (frag. 321, II, p. 54).

3.Richard Zenith, o editor literário do “último” Livro do Desassossego (Assírio & Alvim, 1998), refere, na “Introdução”, ter encontrado numa das inúmeras listas de projectos que Pessoa deixou (e que, em boa parte, não passaram de projectos) estas duas frases em inglês à frente de um título. O espólio, por extensão, estaria cheio de “O que é isto? Ainda não sei”. Apesar de, no caso do “Livro”, haver muito mais do que um título, a “dubitatio” genética e genológica, se foi muito óbvia até 1929, ano do “arranque” definitivo da fase soariana, manteve-se até ao fim, já que o autor real não consumou a intenção manifesta de equilibrar e rever – como escreve a joão Gaspar Simões, em carta de 28 de Setembro de 1932 – o compósito do “Livro”, o que, considera na mesma carta, “não levaria menos de um ano”.

4. E. M. Cioran, A Tentação de Existir, Relógio D’Água, Lisboa, 1988, p. 78.

5. São resumidamente as seguintes: uma primeira fase, muito marcada pela estética simbolista, anterior à explosão heteronímica de 1914, mas com recorrências até 1917; a fase seguinte, longa mas dormente e hesitante, estende-se até 1929; na última fase, que compreende o largo conjunto de textos datados entre 1929 e 1934, encontra Sena o mais consistente do “Livro” (cf.: Jorge de Sena - “Inédito de Jorge de Sena sobre o ‘Livro do Desassossego’”, in Persona, nº 3, Centro de Estudos Pessoanos, Porto, 1979, p. 20). Teresa Sobral Cunha está, no essencial, está de acordo com esta “progressão genética” do “Livro”, embora difira na atribuição “autoral”, já que esta editora defende uma nítida “autoria” dupla do “Livro”, temporalmente balizada: os textos anteriores a 1929 pertencem a Vicente Guedes; Bernardo Soares terá surgido só em 1929, herdando a obra já feita, mas conferindo-lhe um tom que, sendo daí em diante definitivo, em larga escala se diferencia da obra herdada. É sabido que Pessoa, o “arquitecto”, tendo hesitado sobre o que fazer a um conjunto tão heterogéneo de fragmentos, cujo ímpeto criativo arrefeceu bastante na década de 20, intentava, digamos, “bernardo-soarizar” todo o conjunto anterior a 1929, critério que leva Richard Zenith, o último editor, a considerar todo o “Livro” atribuível a Bernardo Soares.

6. Cf. “Bibliografia activa”, p. 24.

7. Manuel Gusmão, O Poema Impossível – O ‘Fausto’ de Pessoa, Caminho, Lisboa, 1986, p. 213.

8. Na esteira de Jorge de Sena, Jacinto do Prado Coelho, no prefácio à “sua” edição, que estou a seguir, ao falar do “laboratório secreto do escritor”, defende que os textos do “Livro” de algum modo desvelam, num estado, digamos, pré-operatório e, portanto, mais “solto”, os temas que  individualizam e substanciam os heterónimos e os ortónimos. Nesse sentido, Eduardo Lourenço vai considerar o “Livro do Desassossego” um “livro suicida”, na medida toda a mitologia heteronímica é ensombrada pela esmagadora diversidade temática e estilística que atravessa o “Livro”, muito mais profunda do que as clivagens que existem entre os heterónimos (cf.: Eduardo Lourenço – “O Livro do Desassossego” – texto suicida?”, in Fernando Pessoa, Rei da Nossa Baviera, IN-CM, Lisboa, 1986, pp. 81-95). No mesmo sentido opina Richard Zenith: Com efeito, podemos folhear o “Livro do Desassossego” como um caderno de esboços e resquícios que contém o artista essencial em toda a sua diversidade heteronímica (cf. Richard Zenith, “Introdução” a Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998, p. 20).

9. Hugo von Hofmannsthal - A Carta de Lord Chandos, Hiena, Lisboa, 1990.

10. Considerando que “a insónia é um instrumento privilegiado de uma poética do desassossego”, Eduardo Prado Coelho entende a  “insónia como uma forma de escrita”. Assim, uma das vertentes fundamentais da escrita de Bernardo Soares seria o “deixar-se embalar até adormecer” (cf.: Eduardo Prado Coelho – “Poética do desassossego: a insónia”, in A Noite do Mundo, IN-CM, Lisboa, 1988, p.57)

11. A expressão em itálico é o título de um ensaio de Silvina Rodrigues Lopes, publicado na revista Colóquio-Letras, nº 77.

12. E. M. Cioran, A Tentação de Existir, Relógio D’Água, Lisboa, 1988, p. 79.

13. Henri Bergson, O Riso, Relógio D´Água, Lisboa, 1991, pp. 14-24.

14. Sem cuidar de leituras redutoramente biografistas ou psicanalíticas, Jorge de Sena aponta, em Pessoa, a incapacidade de amar como “o mais terrível do não-ser, o mais demoníaco da existência como negação” (cf.: Jorge de Sena, ibid., p. 5). Sem pretender arrogantemente fazer disso uma bandeira para  desvalorizar uma obra em nome de um “incumprido dever de viver isto ou aquilo” (que cada um, se para si próprio for honesto, saberá que para todos é, afinal, mais ou menos, incumprido), creio também que esta “incapacidade de amar” é, em Pessoa, um incontornável esteio (des)estruturante da sua personalidade, da sua obra. É que, “helàs”, pese toda a mistificação possível, houve ali um homem. A propósito, cedo a citar uma vez mais E. M. Cioran: O conhecimento arruína o amor: à medida que penetramos nos nossos próprios segredos, detestamos os nossos semelhantes, precisamente porque eles são parecidos connosco. Quando deixamos de ter ilusões sobre nós próprios, não as conservamos também acerca de outrem” (cf. E. M. Cioran, História e Utopia, Lisboa, Bertrand, 1994, p. 113). Bernardo Soares diz isto mesmo em menos palavras: Para compreender, destruí-me. Compreender é esquecer de amar (f. 234, I, p. 260).            

15. Eduardo Prado Coelho – “Pessoa: lógica do desassossego”, in  A Mecânica dos Fluidos, IN-CM, Lisboa, 1984, pp. 24-27. Uma das teses defendidas neste ensaio pretende que o “Livro” assenta na “exploração meticulosa e obstinada de todos os estados de espírito que funcionam como um passo atrás em relação à evidência habitável do mundo (id., ibid., p. 26).


BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA ACTIVA

EDIÇÕES DO LIVRO DO DESASSOSSEGO EM PORTUGAL

EDIÇÃO “PRINCEPS”

PESSOA, Fernando – Livro do Desassossego por Bernardo Soares, Vols. I e II (Recolha e transcrição dos textos: Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha; prefácio e organização: Jacinto do Prado Coelho), Ática, Lisboa, 1982.

EDIÇÕES SUBSEQUENTES

PESSOA, Fernando – Obras de Fernando Pessoa, vol. II (Organização, introdução e notas de António Quadros), Lello Editores, Porto, 1986.

PESSOA, Fernando – Obras Completas de Fernando PessoaLivro do Desassossego, vols. 9/10 (Organização, introdução e notas de António Quadros), Europa-América, Mem Martins, 1986.

PESSOA, Fernando – Livro do Desassossego, vol. I – Vicente Guedes (Introdução, leitura, fixação de inéditos, organização e notas de Teresa Sobral Cunha), Presença, Lisboa, 1991.

PESSOA, Fernando – Livro do Desassossego, vol. II – Bernardo Soares (Leitura, fixação de inéditos, organização e notas de Teresa Sobral Cunha), Presença, Lisboa, 1991.

PESSOA, Fernando – Livro do Desassossego, vol. I – Vicente Guedes (Edição e Introdução de Teresa Sobral Cunha), Relógio D’Água, Lisboa, 1997.

Soares, Bernardo – Livro do Desassossego (Edição e Introdução de Richard Zenith), Assírio e Alvim, Lisboa, 1998.

ANTOLOGIA

Livro do Desassossego de Bernardo Soares (selecção e apresentação crítica de Maria Alzira Seixo), Editorial Comunicação, Lisboa, 1986.

BIBLIOGRAFIA PASSIVA

COELHO, Eduardo do Prado – “Pessoa: lógica do desassossego”, in A Mecânica dos Fluidos, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1984, pp. 21-31.

COELHO, Eduardo do Prado – “Pessoa / Amiel”, in A Mecânica Dos Fluidos, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1984, pp. 33-46.

COELHO, Eduardo Prado – “Poética do desassossego: a insónia”, in A Noite do Mundo, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1988, pp. 51-60.

COELHO, Jacinto do Prado – “Fernando Pessoa sempre existiu” e “Nota sobre a ordenação dos textos”, in Fernando Pessoa – Livro do Desassossego, Ática, Lisboa, 1982, Vol I, pp. VII-XXXIII.

CUNHA, Teresa Sobral – “Introdução” a Fernando Pessoa – Livro do Desassossego I – Vicente Guedes, Relógio D’Água, Lisboa, 1997, pp. 7-20.

CUNHA, Teresa Sobral – “Ainda o Livro do Desassossego”, in Colóquio-Letras nº 129-130, Fundação Gulbenkian, Lisboa, 1993, pp. 217-221.

DIOGO, Américo A. Lindeza – “Livro (O) do desassossego”, in Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua     Portuguesa, Verbo, Lisboa, 1997, pp. 185-189.

LOPES, Silvina Rodrigues – “A ficção da memória e a inscrição do esquecimento no Livro do Desassossego”, in Colóquio-Letras, nº 77, Fundação Gulbenkian, Lisboa, 1984, pp. 19-26.

LOURENÇO, Eduardo – “O Livro do Desassossego, texto suicida”, in Fernando, Rei da Nossa Baviera, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1986, pp. 81-95 (anteriormente publicado in Actas do II Congresso Internacional de Estudos Pessoanos [Nashville, 1983], Centro de Estudos Pessoanos, Porto, 1985, pp. 346-361).

ROCHA, Clara – “’O Livro do Desassossego’ de Bernardo Soares e o ‘Diário Íntimo’ de Manuel Laranjeira”, in Máscaras de Narciso – Estudos sobre a Literatura Autobiográfica em Portugal, Almedina, Coimbra, 1992, pp. 173-183.

SEIXO, Maria Alzira – “Apresentação crítica”, in Livro do Desassossego de Bernardo Soares, Editorial Comunicação, Lisboa, 1986, pp. 9-32.

SENA, Jorge – “Inédito de Jorge de Sena sobre o Livro do Desassossego” in Persona 3, Centro de Estudos Pessoanos, Porto,1979, pp. 3-40 (Posteriormente Publicado in Fernando Pessoa & C.ª Heterónima, Vol. I, Edições 70, Lisboa, 1982, pp. 177-242, sob o título “Introdução ao Livro do Desassossego”).

ZENITH, Richard – “Introdução” a Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Assírio & Alvim, Lisboa, 1998, pp. 9-36.

ZENITH, Richard – “Um novo Livro do Desassossego?”, in Colóquio-Letras, nº 125/126, Fundação Gulbenkian, Lisboa, 1992, pp. 219-221.

OUTRAS OBRAS UTILIZADAS

BERGSON, Henri – O Riso, Relógio D’Água, Lisboa, 1991.

CIORAN, E. M. – A Tentação de Existir, Relógio D’Água, Lisboa, 1988.

CIORAN, E. M. – História e Utopia, Bertrand, Lisboa, 1994.

GUSMÃO, Manuel – O Poema Impossível – O “Fausto” de Pessoa, Caminho, Lisboa, 1986.

PESSOA, Fernando, Poemas Dramáticos, Ática, Lisboa, 1979.