Paulo Serra, Universidade da Beira Interior
1995/96
I. INTRODUÇÃO
"Se se encontra um mortal que não tenha mais nenhuma ambição que não a de ampliar o império e o poder do género humano sobre a imensidade das coisas, terá de se convir que essa ambição é pura, mais nobre e mais augusta que todas as outras."
"Conhecer a natureza para a dominar" - tal é a divisa da revolução
científica europeia dos séculos XVI e XVII, de que Bacon
é um dos arautos. Esta divisa prenunciava, desde logo, o advento
de um "novo mundo", baseado na progressiva união entre a ciência
e a técnica. Esse "novo mundo" traria o bem-estar, a abundância
e a felicidade a todo o género humano, construindo uma sociedade
mais livre, mais igualitária e mais fraterna.
Com a Revolução Industrial, nos séculos XVIII/XIX,
tal sonho parece começar a tomar forma. No entanto, rapidamente
o sonho começa, nalguns aspectos, a tornar-se pesadelo: a falta
de casas e/ou as más condições de habitabilidade,
o trabalho infantil e feminino, as longas jornadas de trabalho, os baixos
salários, a falta de condições de segurança
no trabalho, de assistência médica e de segurança social,
a anomia, a desorganização familiar, as greves, a destruição
da maquinaria, etc. É a época da chamada "questão
social", do triunfo das doutrinas socialistas e comunistas, dos sindicatos,
dos conflitos sociais que parecem ameaçar a própria sobrevivência
da sociedade.
Com o desenvolvimento da Revolução Industrial surge a
preocupação do "Estado Social", e muitos destes problemas
vão sendo resolvidos de forma satisfatória. No entanto, outros
problemas surgem, resultantes do crescimento da produtividade científico-tecnológica,
da industrialização e da urbanização: o congestionamento
das cidades, a poluição, a escassez dos recursos energéticos,
o alargamento dos subúrbios, o desemprego dito "estrutural", as
novas regras da competição económica, o falhanço
do "Estado Social" (incapaz de responder às crescentes exigências
em matéria de saúde, segurança social...), etc.
A pouco e pouco, começa a desenhar-se a necessidade (e a realidade)
de uma nova viragem. Segundo alguns teóricos, já estaríamos
a viver, de algumas décadas a esta parte (alguns falam dos anos
60), uma "nova revolução industrial". Ao contrário
da anterior, não se trata agora de produzir mais e melhor determinados
bens físicos ou materiais (essa não será a resposta
aos problemas do nosso tempo). Trata-se, isso sim, de melhor produzir,
distribuir e utilizar a informação e o conhecimento. Baseada
nas chamadas TIC's (Tecnologias de Informação e Comunicação),
essa "revolução" está a criar uma sociedade radicalmente
diferente das anteriores, a que muitos chamam "sociedade da informação".
Os seus efeitos começam, hoje, a tornar-se visíveis em todos
os domínios da vida social.
Um dos domínios em que nos interessa estudar esses efeitos é
o do trabalho. Fala-se actualmente, e cada vez mais, de uma nova forma
(supostamente mais flexível, mais produtiva, mais cómoda)
de organizar o trabalho: o teletrabalho.
Assim, este nosso trabalho tem o objectivo de responder - que será
talvez mais um percorrer - aos seguintes problemas fundamentais:
1. A "sociedade da informação": o que é? quando
surgiu? quais os seus componentes fundamentais? quais os seus aspectos
positivos e negativos?
2. A Europa e a "sociedade da informação": como se tem
situado (e situa) a Europa face à sociedade da informação?
que iniciativas têm vindo a ser tomadas? quais os efeitos, a médio
e longo prazo, dessas medidas? que papel é atribuído ao teletrabalho
no contexto da sociedade da informação?
3. O teletrabalho : como e quando surgiu? que razões levaram
e levam ao seu aparecimento e desenvolvimento? quais as suas implicações
sociais ("vantagens/desvantagens")? qual a posição dos parceiros
sociais (governos, sindicatos, empresários) sobre o teletrabalho?
que experiências têm sido feitas? quais as tendências
futuras?
Para tentar responder a estes problemas, a nossa investigação
percorreu as etapas e mobilizou os recursos seguintes:
1. Pesquisa bibliográfica na Biblioteca da UBI (Universidade
da Beira Interior), no
CDE (Centro de Documentação Europeia) da mesma e no CIEBI
(Centro de Inovação
Empresarial da Beira Interior);
2. Entrevista ao Director do CIEBI, Dr. João Carvalho, com o
objectivo de obter uma
primeira visão global sobre a problemática do teletrabalho,
traduzindo a perspectiva das empresas e das organizações
de desenvolvimento locais, nacionais e internacionais (europeias e americanas);
3. Recolha, em Jornais e Revistas nacionais, de notícias e artigos
relativos às problemáticas em estudo (e de que alguns constam,
a título de exemplos, nos "Anexos" a este trabalho);
4. Consulta da Bibliografia recolhida nas instituições
referidas em 1. e da distribuída, aos Mestrandos do Curso de Ciências
da Comunicação, pelas Profªs Droutoras Ana Maria R.
Correia e Maria Joaquina Barrulas.
O presente trabalho não é, como é óbvio,
um texto definitivo e fechado. Ele represen-ta a nossa visão "aqui
e agora", em função de determinadas condições
de tempo, de espaço e de percurso pessoal. Gostaríamos, nomeadamente,
de ter incidido também nos seguintes aspectos:
a) Qual a situação portuguesa, em termos de "sociedade
de informação" em geral e de teletrabalho em particular?
As revistas e os jornais consultados (e até conversas do dia a dia)
dão-nos conta dum interesse crescente sobre estas matérias
- mas qual será a realidade "no terreno"?
b) Como se situa, em termos teóricos e práticos, a Escola
portuguesa face às problemáticas da "sociedade da informação"
e do teletrabalho? Passa-se alguma coisa ou, como tememos, também
nestes domínios a Escola vai ser "a última a saber" ?
c) Quais as possibilidades de implementar, a nível da gestão
e administração correntes de uma Escola, um sistema de teletrabalho?
II. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
"Great excitement was generated during the 1970s and early 1980s about the arrival of new social conditions. Computer and communications technologies had made possible the "Information Society". All manner of benefits awaited us; new prosperity, new democratic and educational opportunities, a "global village" thanks to new telecommunications , and a realignment of workplaces and class relations. There is no denying that advantages do indeed accrue from such technological development, but a little historical reflection and sociological imagination makes warning bells ring."
David Lyon, The Electronic Eye, p. VIII
É nas décadas de 60 e 70 que são publicadas algumas
das obras consideradas fundamentais na teorização da chamada
"sociedade da informação": Understanding Media , de Marshall
McLuhan (1964), The New Industrial State, de John K. Galbraith (1967),
The Age of Discontinuity, de Peter Drucker (1969), La Societé Post-Industrielle,
de Alain Touraine (1969), The Coming of the Post--Industrial Society, de
Daniel Bell (1973), The Information Economy, de Marc Porat (1977), The
Third Wave, de Alvin Toffler (1980)...
Apesar dos diferentes nomes que estes (e outros) autores dão
à nova sociedade emergente ("aldeia global", "novo estado industrial",
"sociedade pós-industrial", "economia da informação",
"terceira vaga", para citar apenas alguns) (CORREIA e BARRULAS, 1995),
acabou por se generalizar a expressão "sociedade da informação".
Expressão que alguns contestam, argumentando que "information has
existed and been of value in every age." (MARTIN, 1988, p. 303; ver também
WEBSTER, 1994, p. 1)
Este tipo de afirmações parece fazer esquecer, aos que
as fazem, a diferença abissal que reside na utilização
da partícula "de" ou "da", para ligar "sociedade" e "informação".
O que se quer acentuar, com a partícula "da", é que na sociedade
dita "da informação", a informação assume uma
posição não apenas importante (como em qualquer outro
tipo de sociedade), mas central e decisiva. Com efeito, aqui a informação
é entendida como o recurso fundamental, com um valor e um uso próprios
e estando na base do desenvolvimento tecnológico, económico,
social e cultural. Neste tipo de sociedades é possível identificar
uma tecnologia da informação, uma indústria da informação,
um mercado da informação e um mercado de trabalho em informação.
(CORREIA e BARRULAS, 1995)
Para Daniel Bell, que é considerado por alguns como um dos teóricos
fundamentais da "sociedade da informação", "the post-industrial
society is an information society, as industrial society is a goods-producing
society."( BELL, citado em ROBBINS e WEBSTER, 1987, p. 97). Numa sociedade
deste tipo, ainda segundo Bell, o centro da vida económica e social
já não reside na produção (de bens materiais),
mas na informação. A informação, sendo o recurso
que está na base da produtividade e do crescimento económico,
acaba por substituir o trabalho como fonte de valor. E, deste modo, o conhecimento
e a informação tornam-se "the transforming agent of the postindustrial
society". (ROBBINS e WEBSTER, 1987, pp. 97-100)
Uma "sociedade da informação" não o é apenas
em função de um ou outro critério (por exemplo, económico
ou tecnológico) exclusivo. Segundo William J. Martin, que assinala
que a "sociedade da informação" é ainda, em muitos
casos, mais uma questão do futuro que do presente, o seu "reconhecimento"
envolve os seguintes critérios: tecnológicos (as TIC's como
força motriz ), sociais (qualidade de vida), económicos (a
informação como factor económico chave: recurso, serviço,
mercadoria, fonte de valor acrescentado e emprego), políticos (liberdade
de informação, levando a maior participação
e consenso) e culturais (reconhecimento do valor cultural da informação,
visando a promoção do desenvolvimento nacional e individual).
(MARTIN, 1988, pp. 304-306). Frank Webster, que não refere os critérios
sociais e políticos, acrescenta o ocupacional (desenvolvimento contínuo
das ocupações baseadas no trabalho da informação)
e espacial (as "redes" e as "auto-estradas" da informação,
conduzindo à compressão do espaço-tempo e à
globalização da economia). (WEBSTER, 1994, pp. 3 e seguintes)
Se é verdade que, como se infere das afirmações
de David Lyon acima transcritas, a "sociedade da informação"
é olhada, nos anos 70 e 80, de forma altamente positiva, constituindo
para alguns uma verdadeira "utopia ", não é menos verdade
que, nos tempos mais recentes, ela tem gerado um conjunto de visões
menos optimistas, para não dizermos sombrias (passa-se aqui algo
semelhante ao que se passou aquando do advento da sociedade industrial).
Na origem destas visões estarão, ainda segundo Lyon,
factos como os seguintes: o falhanço das economias baseadas nas
TIC's na saída da recessão e no combate ao desemprego (o
Japão, a Europa e os EUA estão a braços com crises
que não conseguem resolver, ou resolvem a custo, acrescentamos nós);
o surgimento da "guerra electrónica" (de que a Guerra do Golfo é
o exemplo mais recente, exemplo nosso); os perigos derivados do espectro
do "big brother", que leva alguns a falar de uma "sociedade da vigilância",
termo que, segundo o Autor, terá surgido em 1985. (LYON, 1994, p.
VIII)
Tom Forester, em artigo fortemente crítico da "sociedade da
informação", compa-rando as previsões feitas por alguns
em relação à mesma ( a "fábrica sem trabalhadores",
o "escritório sem papel", a "sociedade sem dinheiro", a "vivenda
electrónica" , a "teledemocracia", etc.) com a realidade, chega
`a conclusão de que, afinal, "society has not changed very much".
( FORESTER, 1992, p. 134; ver também, acerca do falhanço
das previsões sobre a sociedade da informação, PRIESTLEY,
1995, p. 25)
Com efeito, segundo Forester, a realidade mostra que:
a) Ao contrário do que se temia, a computorização
não levou ao desemprego maciço, criando mesmo novas oportunidades
de emprego;
b) A maior parte dos trabalhadores parece trabalhar mais que antes,
tornando um mi-to a anunciada "sociedade do lazer";
c) As fábricas totalmente robotizadas e automatizadas são
ainda uma ficção;
d) O "escritório sem papel" permanece uma utopia: o consumo
de papel não parou de aumentar, de forma exponencial, nos últimos
anos, com o computador, o fax, a fotocopiadora,etc.;
e) Os correios tradicionais continuam a ser empresas florescentes e
em expansão;
f) Apesar dos cartões e dos sistemas do tipo multibanco, os
Bancos continuam a ter grande parte da actividade centrada no papel (e
no papel-moeda);
g) A "vivenda electrónica" (e o "teletrabalho" feito a partir
dela, na visão de Alvin Toffler) é, na maior parte dos casos,
um cenário falhado;
h) O videotexto, o "home banking" e as telecompras falharam, sobretudo
devido a causas sociais;
i) A "teledemocracia" permanece uma ficção;
j) A vida doméstica (apesar dos PC's, dos VCR's, dos CD's) permanece
basicamente a mesma;
k) Todas as previsões sobre as escolas (com a propagada "revolução
na sala de aula") e o "tele-ensino" falharam. (FORESTER, 1992, pp. 133-139)
Acresce a estes factos que, ainda segundo Tom Forester, a revolução
nas tecnologias
da informação criou problemas inesperados à sociedade
e aos indivíduos, de entre os
quais destaca os seguintes:
a) no que se refere à sociedade: maior vulnerabilidade perante
as falhas tecnológicas; problemas relativos à segurança
dos dados armazenados nos computadores e à privacidade pessoal;
dificuldade de utilização, pelo cidadão comum, de
tecnologias ainda demasiado complexas; possibilidade de desastres por fogos,
sabotagens,etc.; acréscimo da vigilância electrónica...
b) no que se refere ao indivíduo: sobrecarga de informação,
que o indivíduo deixa de ter capacidade de interpretar e que pode
mesmo levar à paralisia da descisão; problemas a nível
das relações humanas (destruição das relações
de trabalho, confusão entre trabalho e lazer, "comunicaoolismo",
empobrecimento da interacção social)... (FORESTER, 1992,
pp. 140-145)
Tony Benn, por seu lado, embora reconhecendo que "the computer revolution
is overwhelmingly the most important revolution in our lifetime" (BENN,
1995, p. 58), acha que todos nós, enquanto cidadãos nela
envolvidos, devemos colocar(-nos) as seguintes questões: quem controla
as novas tecnologias? que efeitos terão? representam maior vulnerabilidade?
impõem novas formas de exploração? implicam novas
distanciações entre ricos e pobres? quem controla e usa a
informação sobre nós? e para quê? as novas tecnologias
trarão novos níveis de desemprego (e de insegurança)?
podemos controlar democraticamente as novas tecnologias da informação?
Podemos achar que estas são visões demasiado cépticas
e negativas sobre a "socie-dade da informação". No entanto,
elas têm a grande qualidade de nos fazer parar para pensar criticamente
neste "mundo novo " que se anuncia (e realiza) perante os nossos olhos.
Como é óbvio, não está na nossa mão
fazer com que ele exista ou não - mas teremos, seguramente, algum
papel na sua orientação futura.
III. A EUROPA , A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E O TELETRABALHO
O Programa INFO 2000 (que, de acordo com o seu título, se destina
a "estimular o desenvolvimento de uma indústria europeia de conteúdos
multimedia e incentivar a utilização de conteúdos
multimedia na nova sociedade da informação"), considera que
a definição e orientação de uma acção
política comum, a nível europeu, com o objectivo de preparar
o advento da sociedade da informação, passou pelos seguintes
momentos fundamentais:
1. Livro Branco ("Crescimento, competitividade, emprego: os desafios
e as pistas para entrar no século XXI") , de 1993;
2. Relatório Bangemman ("A Europa e a sociedade global da informação
- Recomen-dações ao Conselho Europeu"), de 1994;
3. Cimeiras do Conselho Europeu de Corfu e Essen, ambas em 1994;
4. Plano de Acção da Comissão "A Via Europeia
para a Sociedade da Informação", de 1994;
5. Conferência do G7 em, Bruxelas, dedicada à Sociedade
da Informação, em 1995. (p. 10; ver também CORREIA
e BARRULAS, 1995).
Para justificar a urgência da tomada e implementação
de decisões no que se refere à indústria de conteúdos
- que considera como o sector mais importante, em termos de volume de negócios
e de empregos, da indústria da informação - o Programa
avança os seguintes dados estatísticos relativos à
indústria europeia da informação (englobando a indústria
de conteúdos, os equipamentos e serviços de telecomunicações,
as tecnologias da informação e a electrónica destinada
ao grande público), referentes a 1994: volume de negócios
- 439 000 milhões de ecus; empregados a tempo inteiro - 4,48 milhões.
(p. 14; as somas são nossas, com base nos dados referidos no Programa).
O RELATÓRIO DELTA, para além da repetição
de algumas das ideias fundamentais do Livro Branco e do Relatório
Bangemman (documentos que analisaremos daqui a pouco), dá-nos algumas
informações importantes sobre a posição da
Europa em relação à sociedade da informação.
Segundo o Relatório, a problemática da sociedade da informação
preocupou a União Europeia desde os anos 80. Os trabalhos preparatórios
para o início da sociedade da informação envolveram
o lançamento de Programas nos domínios das tecnologias de
informação, como o ESPRIT (1984), das comunicações
avançadas, como o RACE (1985), dos sistemas telemáticos de
interesse geral, como o STIG (1985), bem como os três primeiros programas
em aplicações telemáticas (desde 1986): o AIM (cuidados
de saúde), o DRIVE (transportes rodoviários) e o DELTA (ensino
à distância). Simultaneamente, desenvolveram-se políticas
no âmbito das telecomunicações e, mais recentemente,
no do audiovisual. (p.1)
Na história das posições da Comunidade Europeia
acerca da sociedade da informação, é no entanto o
LIVRO BRANCO que deve ser considerado o documento fundamental, uma espécie
de "Bíblia" que viria a balizar todas as reflexões e acções
futuras (algumas ainda em curso). É sobre esse documento que, mais
ou menos sob a forma de paráfrase, nos debruçaremos a seguir.
O problema fundamental que leva à realização do
Livro Branco " resume-se numa palavra: desemprego." (p. 9) Desemprego que
deriva, nomeadamente, da mudança de cenário técnico,
levando ao advento de "uma nova revolução industrial", que
envolve: a mudança acelerada das técnicas, dos empregos e
das competências; a "desmateriali-zação" da economia;
a transferência das actividades produtivas para o exterior; a predominância
dos serviços; o papel decisivo da posse e circulação
da informação. (pp. 10/11) Uma das pistas para reduzir o
desemprego , de forma activa (criando empregos), passa pelo desenvolvimento
da sociedade da informação, com a abertura "de um mundo "multimedia"
(som/texto/imagem), que representa uma mutação comparável
à primeira revolução industrial." (p. 14) E avançam-se
alguns dados estatísticos referentes aos EUA: calcula-se em 6 milhões
o número de pessoas de pessoas já envolvidas pelo teletrabalho;
200 das suas maiores empresas já utilizam as redes de banda larga
("auto-
-estradas da informação"). Face ao avanço dos
EUA, o que está em jogo é, a curto prazo, a sobrevivência
ou o declínio da Europa. A resposta da Europa deve ser urgente,
dando satisfação às novas necessidades das sociedades
europeias: "redes de comunicação dentro das empresas; acesso
generalizado a bases de dados científicas e de lazeres; difusão
do teletrabalho; desenvolvimento dos cuidados preventivos e da medicina
ao domicílio para os idosos, etc.." (p. 14). Há, em suma,
que criar as "auto-estradas da informação" (redes de banda
larga) e desenvolver os serviços e as aplicações que
lhes estão associadas, através de uma "parceria entre sectores
público e privado" (p. 14). Criar as redes europeias de infrastruturas
e lançar os fundamentos de uma sociedade da informação
são acções que constituem "as chaves para uma melhor
competitividade e colocar-nos-ão à altura de controlar o
progresso técnico ao serviço do emprego e do melhoramento
das condições de vida." (p. 22)
A sociedade da informação, com as suas "redes de informação",
trará modificações às condições
de trabalho: horários de trabalho mais flexíveis, alteração
do local de trabalho e possibilidade do teletrabalho, alteração
das condições contratuais e dos sistemas de remuneração.
As empresas terão acesso aos novos mercados, poderão globalizar
as suas actividades e estratégias, poderão desenvolver formas
de aliança e cooperação muito mais amplas. Todos os
consumidores terão acesso a novos serviços na área
da informação, das bases de dados, da cultura e do lazer.(p.
24) Os EUA e o Japão adiantaram-se à Europa nesta mutação
- e a Europa deve responder a este desafio, sob pena de perder a sua competitividade.
(p. 25; ver também p. 100) Prevêem-se quatro aplicações
prioritárias das "redes de informação": teletrabalho,
teleformação, telemedicina e teleadministração.
No que ao teletrabalho se refere, afirma-se que nos Estados-Membros já
estão a ser desenvolvidos projectos. (p. 27) Acrescenta-se, noutro
passo do Documento, que o teletrabalho e a teleparceria "constituem factores
importantes para a transferência do trabalho e das empresas para
zonas menos favorecidas da Europa (zonas rurais, periféricas, em
reconversão...)", adiantando a possibilidade de lançar um
projecto para estimular este tipo de aplicações. (pp. 102-103)
Segundo o Livro Branco, a sociedade da informação é
uma sociedade " em que a gestão, a qualidade e a rapidez da informação
se transformam no factor-chave para a competividade: como factor produtivo
para todo o sector industrial e como serviço fornecido aos consumidores
finais, as tecnologias da informação e da comunicação
influenciam todos os níveis da economia". (p. 97) A introdução
das TIC's mostra os seguintes efeitos económicos positivos: em média,
uma situação de emprego mais favorável nas empresas
que introduziram as TIC's; crescimento da produtividade; aumento do PIB;
redução da inflação. Como lados menos positivos
das TIC's, apontam-se as seguintes possibilidades: risco de exclusão
cultural (sociedade a duas velocidades); reforço do isolamento individual;
intrusão no espaço e na vida privada; problemas de ética
e de moral. (p. 98)
Com a missão de estabelecer prioridades e definir modalidades
de acção e o respecti-
vo calendário, o Livro Branco propõe a criação
de uma "task force", a um "nível muito
elevado", para as Infra-Estruturas Europeias da Informação,
a funcionar sob mandato do Conselho Europeu. (p. 105)
Do trabalho dessa "task force" viria a resultar o Relatório
BANGEMMAN, que constitui outra peça fundamental na definição
europeia da sociedade da informação.
Baseando-se em muitas das formulações do Livro Branco,
que evitaremos repetir, o RELATÓRIO BANGEMMAN propõe, entre
outras, as seguintes recomendações fundamentais:
A União Europeia deve confiar nos mecanismos do mercado, como
força motriz, devendo as iniciativas implicar a parceria entre os
sectores público e privado, liberalizando o sector das telecomunicações
e acabando com os monopólios. (pp. 4 e 12)
As vantagens esperadas são: a melhoria da qualidade de vida
dos cidadãos europeus, da eficiência da sua organização
social e económica e o reforço da coesão. (p. 6)
Merecem ser promovidas as seguintes aplicações das TIC's:
teleconferência, teleco-mércio, transferência electrónica
de dados (EDI), sistemas de pagamento electrónico, redes de ligação
das PME's aos mercados, a outras empresas, a universidades, a institutos
de investigação e a laboratórios, telebanco, telecompras,
entretenimento a pedido (por exemplo o VOD), etc. (pp. 9-10)
Constituem elementos fundamentais das sociedade da informação
os seguintes: as Redes (telefónicas, de satélites, de cabos),
para transporte das informações; os Serviços Básicos
(correio electrónico, vídeo interactivo), para utilização
das redes; e as Aplicações (ensino à distância,
teletrabalho), que oferecem soluções especializadas para
certos grupos de utilizadores. (p. 21)
Em matéria de Redes, o Relatório aponta a necessidade
de olhar a existência da RDIS (Rede Digital com Integração
de Serviços) europeia, iniciada em 1993, como apenas o primeiro
passo do processo que permite a comunicação directa, PC a
PC, de voz, dados e imagens em movimento; o próximo passo deverão
ser as comunicações multimedia em banda larga (conjugando
todos os meios de comunicação), que deverá constituir
a "coluna dorsal" da sociedade da informação europeia. (p.
21)
Quanto às Aplicações, propõem-se dez, "para
lançar a sociedade da informação": 1. Teletrabalho;
2. Ensino à distância; 3. Uma rede para universidades e centros
de investigação; 4. Serviços telemáticos para
as PME's; 5. Gestão do tráfego rodoviário; 6. Controlo
do tráfego aéreo; 7. Redes para os cuidados de saúde;
8. Informatização dos concursos públicos; 9. Rede
transeuropeia de administrações públicas; 10. Auto-estradas
de informação nas cidades. (pp. 23-29)
Sobre o Teletrabalho ( apresentado com o subtítulo " Mais empregos,
novos empre-gos para uma sociedade das comunicações móveis"),
o Relatório vai colocando uma série de questões, a
que vai dando a respectiva resposta, como a seguir se indica:
- O que deve ser feito: deve promover-se o teletrabalho em casa e em
escritórios externos, a fim de evitar aos trabalhadores o percurso
de longas distâncias casa-trabalho e vice-versa;
- Quem o fará: as empresas do sector privado, se as condições
do teletrabalho se revelarem vantajosas;
- Quem ganha: as empresas e a administração pública
poderão ganhar em termos de maior produtividade, maior flexibilidade
e economia de custos; o grande público poderá ganhar na redução
dos níveis de poluição, do congestionamento do tráfego
e do consumo de energia; os trabalhadores poderão ganhar a nível
do aumento da flexibilidade
dos contratos de trabalho ( para os que tiverem de trabalhar em casa)
e da redução das
distâncias (para os que trabalharem fora de casa);
- Questões a ter em conta: o teletrabalho pode levantar problemas
relativamente à diminuição das oportunidades de contacto
e promoção social; além disso, desconhece-se o seu
impacto na legislação laboral e na segurança social;
- Meta a atingir: criar centros-piloto de teletrabalho em 20 cidades,
envolvendo o mínimo de 20 000 trabalhadores, até ao final
de 1995; transformar 2% dos trabalhadores dos serviços em trabalhadores
à distância, até 1996, e 10 milhões de postos
de trabalho à distância até ao ano 2000. (p. 25)
Curiosamente, nem o Livro Branco nem o Relatório Bangemann, que
tanto se refe-rem ao teletrabalho, propõem uma definição
desse conceito... (HUWS, 1995, p. 5)
IV. O TELETRABALHO
"It is possible to imagine the total telezombie in his or her telehouse hooked obsessively into the virtual world. The real world, with direct and emotional contact and so much imperfection, could be kept at bay. Telework could pay for telegames or teleplay. Screen shopping could replace window shopping, teleshopping the trip to the takeaway, grocer or travel agent. Spending could be directly networked, possibly using a smart or debit card. Chat lines and electronic forums could providing new undemanding friends. At the end of the day, the latest teledisaster or telewar could be switched off, with the zombie going to bed and - help, call in the telepsychiatrist - the more or less real world of dreams."
Judy Hillman, Telelifestyles and the Flexicity: The Impact of the Electronic
Home, p. 4
1. ANÁLISE HISTÓRICA
Ao contrário do que acontecia até há alguns anos
atrás, hoje em dia já acontece com alguma frequência
folhearmos um Jornal ou uma Revista portugueses e encontrarmos um artigo
ou uma notícia sobre as problemáticas da sociedade da informação
e do teletrabalho (para exemplificação ver, nos "Anexos"
a este trabalho, os Documentos 2, 3, 4, 7, 8, 9 e 10). O que mostra que,
apesar de serem relativamente recentes, entre nós, elas têm
vindo a ganhar importância crescente, mesmo a nível do grande
público.
No que se refere à cena internacional, o teletrabalho faz parte,
há já bastante tempo, das preocupações da Comissão
Europeia, dos Governos e das grandes Empresas de todo o mundo desenvolvido.
Segundo Lemesle e Marot (cuja exposição seguiremos, nesta
breve análise histórica), o conceito de "trabalho à
distância" (com que muitas vezes se identifica o teletrabalho) aparece
pela primeira vez nos anos 50, com os trabalhos de Norbert Wiener sobre
a Cibernética. Wiener dá o exemplo hipotético de um
arquitecto que, vivendo na Europa, poderia supervisionar, à distância,
a construção de um prédio nos EUA, utilizando a comunicação
por fac-simile. Asim, segundo Wiener, podemos distinguir dois tipos de
comunicação, permutáveis entre si: como transporte
físico e como transporte de informação.
Por outro lado, nos anos 60 reaparece em força, na sociedade
europeia, algo que estava quase extinto desde os finais do século
XIX: o trabalho em casa (domicílio). Incidindo inicialmente na produção
de vestuário, têxteis e calçado, ele estende-se, na
década de 70, a sectores como a embalagem e montagem de artigos
eléctricos e electrónicos, a alimentação industrial,
as bebidas, os detergentes, os plásticos, os cosméticos,
etc.
Da convergência das noções de "trabalho à
distância" e "trabalho em casa" surge o primeiro conceito de "teletrabalho",
nos anos 70. Este conceito está perfeitamente ilustrado em Alvin
Toffler que, no seu livro A Terceira Vaga, de 1980, citado pelos Autores,
anuncia a probabilidade de, num futuro próximo, milhões de
pessoas se deslocarem dos escritórios e fábricas para os
seus domicílios, dando origem a "uma indústria familiar dum
tipo superior, fundada sobre a electrónica e, concomitantemente,
uma nova polarização sobre o lar, tornado o centro da sociedade."
(LEMESLE e MAROT, 1994, p. 4 )
O interesse pelo teletrabalho, nos anos 70, resulta da conjugação
de vários factores, de que se destacam: a crise energética
(nomeadamente, a petrolífera), as ideias "loca-listas" resultantes
do Maio de 68, a diminuição dos preços das TIC's (
e especialmente, dos computadores), o aparecimento da "telemática"
(neologismo criado, em 1978, por S. Nora e A. Minc, para designar o "casamento"
entre as tecnologias da informação e as telecomunicações).
O grande objectivo deste tipo de teletrabalho é reduzir o "commuting"
(deslocações casa-trabalho, e vice-versa, a que os franceses
chamam "pendulaire") por aquilo a que o americano Jack Nilles, em 1973,
chama "telecommuting", assente na substituição do transporte
(físico) do trabalhador pela telecomunicação (da informação).
É dentro desta concepção que, nos fins dos anos 70
e nos anos 80 surgem várias experiências de teletrabalho.
(LEMESLE e MAROT, 1994, pp. 3-6)
Este teletrabalho dos anos 70/80 é concebido segundo o que Lemesle
e Marot cha-mam o "paradigma da deslocalização" (ou da "substituição"),
assente nos seguintes pressupostos:
a) Desconcentração da actividade assalariada: na formulação
de Jack Nilles, citada pelos Autores, trata-se de levar o trabalho ao trabalhador,
e não o inverso, substituindo o "commuting" pelo "telecommuting",
como atrás referimos;
b) Acção paliativa e correctiva: o teletrabalho como
solução para problemas como o congestionamento do tráfego
urbano, a poluição atmosférica, o "atraso" de zonas
mais desfavorecidas (nomeadamente, as rurais), a "depressão" económica
e social dos subúrbios, etc.;
c) Dinâmica exógena de desenvolvimento de micro-realizações:
o teletrabalho como medida coerciva ou incitadora para levar as empresas
a deslocalizarem postos de trabalho, a fim de evitar a concentração
geográfica e urbana, reduzir o congestionamento do tráfego
e a poluição atmosférica (estas foram as razões
fundamentais que levaram ao lançamento de muitas das experiências
de teletrabalho nos EUA, nomeadamente no Estado da Califórnia);
d) Redução dos custos: o teletrabalho como forma de reduzir
custos de deslocação, de instalações, de mão
de obra, etc.
e) Motivação social: o teletrabalho como solução
para pessoas incapacitadas, idosas, donas de casa, portadoras de deficiência,
etc. poderem aceder ao mercado de trabalho, contribuindo assim para evitar
a sua exclusão social;
f) Simplicidade da fórmula de emergência: o teletrabalho
visto como assentando na seguinte equação "desenvolvimento
tecnológico + política de ordenamento = capacidade de desenvolver
uma nova organização espacial da empresa". ( LEMESLE e MAROT,
pp. 16-18)
Por outro lado, o facto de nesta época (anos 80) o teletrabalho
ser frequentemente concebido(e praticado) como "trabalho em casa", faz
surgir opiniões fortemente críticas sobre ele, acusando-o
de conduzir ao isolamento social, à atomização do
trabalho e à exploração do trabalhador, predominantemente
feminino. (HORNER e DAY, 1995, p. 334)
Na opinião de Lemesle e Marot, as experiências fundadadas
neste tipo de paradigma - muitas vezes promovidas e financiadas pelos poderes
públicos - falharam, na maior parte dos casos. O seu falhanço
mostra que, nos anos 90 - que viram ressurgir o interesse pelo teletrabalho
- ele deve ser visto no contexto de um outro paradigma, a que os autores
chamam o "paradigma económico" ( ou da "diferenciação"),
implicando os seguintes pressupostos:
a) o teletrabalho como fonte de valor acrescentado e, como tal, com
interesse económico para as empresas; o que implica
b) substituir a noção "clássica" de teletrabalho
pela de "tele-serviço" (telegestão, tele-tradução,
teleformação, telesecretariado, telecontabilidade, etc.).;
o que implica, por
sua vez
c) criar as estruturas que permitam organizar o mercado desses tele-serviços.
Uma das formas ilustrativas deste paradigma é, segundo os Autores,
a "corretagem em teletrabalho" - envolvendo organismos que funcionam como
"interface" entre os clientes que procuram um determinado tipo de serviço
à distância e os trabalhadores independentes ou empresas susceptíveis
de fornecerem esse serviço - que surge em França por volta
de 1990. ( Os Autores expõem e analisam um Caso que, pelo interesse
que nos parece ter, em termos de ilustração dos dois diferentes
paradigmas de teletra-balho, reproduzimos nos "Anexos" a este Trabalho,
como Documento 6). (LEMESLE e MAROT, pp. 100-101 e 117)
2. CONCEITO E MODALIDADES DE TELETRABALHO
A breve análise histórica do conceito de teletrabalho,
que acabámos de fazer, permite--nos constatar, desde logo, que não
há um, mas (poderá haver) vários conceitos de teletrabalho
- conceitos que não têm, necessariamente, de ser contraditórios,
e podem mesmo ser complementares.
Etimologicamente (e habitualmente), teletrabalho significa "trabalho
à distância". Mas, por demasiado ampla (o delegado de informação
médica que, trabalhando para uma empresa farmacêutica sediada
em Lisboa, vende medicamentos no Porto , "teletrabal-ha" ?), esta definição
é insuficiente. As três definições de teletrabalho
que apresentamos a seguir mostram, de forma clara, tal insuficiência:
i) Definição 1: " Since telework means work at distance,
anyone who operates away from a central point but remains in contact by
telephone is in a sense a teleworker. (...) More usually however the word
"teleworker" is used to describe individuals whose work also involves at
least some sort of computer with screen display , a telephone, a fax and
possibly online text and data connection, wether direct or through a modem."
(HILMAN, 1993, p. 10 )
ii) Definição 2: " (Le télétravail est)
activité professionelle exercée à distance grâce
à l'utilisation interactive des nouvelles technologies de l'information
et de la communication. Il concerne le travail salarié ou le travail
indépendant et interesse toutes les tâches consistant à
manier, traiter, analyser ou produire de l'information." (RUBINSTEIN, 1993,
p. 57)
iii) Definição 3: "Le terme "télétravail"
désigne des activités exercées loin du siège
de l'enterprise (on l'apelle aussi perfois travail à distance)
par la communication diferée ou directe au moyen des techniques
nouvelles." (TATE, 1995, p.63)
Qualquer destas definições de teletrabalho acentua dois
aspectos essenciais do mes-mo: por um lado, o facto de se exercer à
distância; mas, por outro lado (e isto é decisivo para o conceito
de teletrabalho), o facto de ele implicar a utilização das
novas tecnologias de informação e telecomunicação.
(Veja-se, nos "Anexos" a este trabalho, o Documento 1, com a representação
do conceito de teletrabalho).
Há ainda Autores que consideram que, sendo o teletrabalho uma
realidade multi-forme, será mesmo impossível aceitar qualquer
definição essencial do mesmo que não seja unilateral,
optando por uma definição do tipo descritivo, que se concentra
em identificar e descrever as várias formas ou modalidades do teletrabalho.
(LEMESLE e MAROT, 1994, pp. 7-10)
Seguindo esta via descritiva, um estudo da OIT (Organização
Internacional do Tra-balho), sobre o teletrabalho, publicado em 1990, distinguia
quatro grandes modalidades ou formas de exercer esta actividade: o trabalho,
com computador, em casa; o trabalho nos centros-satélites; o trabalho
nos centros de vizinhança (também chamados "centros de teletrabalho"
ou "de recursos"); o trabalho móvel.
A literatura consultada, seguindo em geral esta posição
da OIT, distingue as seguintes modalidades ou formas de teletrabalho:
a) Quanto ao local de trabalho (a flexibilidade do local de trabalho
é um dos aspectos
fundamentais e uma das apregoadas vantagens do teletrabalho):
- Em casa: o trabalhador está em casa, ligado a um escritório
central ou sede. Esta é a modalidade em que se pensa habitualmente,
quando se fala em teletrabalho, talvez por ser a que mais cedo foi teorizada
e iniciada; ela liga-se a um outro conceito ("utopia"?) importante na teorização
da sociedade da informação, e ainda por realizar: o de "domótica"
, "casa electrónica" ou "casa inteligente".
Segundo HUWS (1995, p. 10), esta modalidade de teletrabalho admite
ainda as três possibilidades seguintes: a) teletrabalho a tempo parcial
(sendo o resto do tempo passado no local de trabalho); b) teletrabalho
a tempo inteiro, para um empregador exclusivo; c) teletrabalho "free-lance",
para vários clientes ou empregadores.
- Num centro-satélite ou escritório-satélite ("satelite
broad office"): que é pertença de uma empresa, mas está
situado em local diferente da sede, normalmente próximo da residência
do trabalhador. Este tipo de solução existe por exemplo na
Califórnia e na Suiça (para citar um caso: o Crédit
Suiss, com sede em Zurique, tinha em 1993 oito escritórios-satélites,
de onde cerca de 100 trabalhadores podiam trabalhar em ligação
com a sede).
- Num centro de teletrabalho ou centro de recursos (partilhados): os
equipamentos, dos próprios ou alugados, são partilhados por
utilizadores pertencentes a várias empresas ou independentes. Situa-se
geralmente perto do local da residência dos utilizadores (há
quem lhe chame também "centro de vizinhança") e pode também
ser utilizado para telefonemas, telecompras, lazer, etc. (são deste
género as "telecottage" ou telecabanas, de que falaremos adiante,
com a diferença de estarem implantadas no meio rural).
- O teletrabalho móvel, nómada ou itinerante: assenta
no conceito de "escritório móvel" ou "portátil", e
pode ser feito a partir do hotel, da estação de serviço,
do automóvel, do avião, etc. Há quem afirme mesmo
que, com a crescente oferta de produtos nas áreas dos computadores
portáteis e das telecomunicações móveis, talvez
o futuro do teletrabalho passe mais pela "motótica" do que pela
"domótica"... (RUBINSTEIN, 1993, p. 73); HUWS (1995, p. 24) refere
que a sociedade nova-ior-quina de estudos de mercado Link Resources estimava,
em 1994, em 7 milhões o número de trabalhadores móveis
nos EUA, e previa que esse número atingisse os 20 milhões
no ano 2000!
- O tele-serviço, fornecido por empresas de trabalho à
distância: o que está à distância são
os clientes ou os utilizadores do serviço, podendo o trabalhador
estar na empresa ou em outro (ou outros) dos locais acima assinalados.
No que respeita às modalidades de escritório-satélite
e tele-serviço, cabe aqui referir que, actualmente, algumas empresas
europeias e americanas instalam os seus escritórios-
-satélites em ou subcontratam empresas de tele-serviços
de outras zonas do globo (nomeadamente o Sudoeste Asiático), pondo
em prática o chamado teletrabalho "off-
-shore". Tarefas como a programação e a análise
de sistemas, a dactilografia, a fotocomposição, a impressão,
a contrução de bancos de dados, a elaboração
de catálogos, para citar alguns dos casos mais correntes, são
feitas em países como a Índia, a China, as Filipinas, a Jamaica,
a Malásia, etc., em que os custos são muito inferiores e
a mão-de-obra é tão qualificada como a ocidental.
( LEMESLE e MAROT, pp. 29-34)
Para concluir a caracterização destas modalidades de
teletrabalho assinale-se que, sendo o local de trabalho flexível,
o teletrabalhador poderá utilizar uma ou simultaneamente várias
das soluções que acabámos de enumerar. Por exemplo:
dois dias em casa, dois dias no escritório-satélite, ocasionalmente
no carro ou no hotel, um dia da semana no escritório central...
b) Quanto ao horário de trabalho (a flexibilidade do horário
de trabalho é outra das características fundamentais do teletrabalho):
- A tempo inteiro: podendo o trabalhador gerir o seu tempo da forma
que entender, trabalhando num ou em vários locais;
- A tempo parcial.
c) Quanto à situação sócio-profissional:
- Trabalho assalariado;
- Trabalho independente.
Combinando todas estas possibilidades (em termos de local, de horário
e de situação
sócio-profissional) facilmente vemos a grande quantidade de
modalidades ou formas que o teletrabalho pode, pelo menos teoricamente,
assumir. O que justifica, plenamente, a qualificação de "flexível",
que se costuma aplicar ao teletrabalho, e que constitui um dos grandes
motivos do interesse actual em relação ao mesmo. (HILLMAN,
1993, p. 5 ; HORNER e DAY, 1995, p. 333; ver, no Documento 5 dos "Anexos"
a este trabalho, alguns exemplos reais das várias possibilidades
de teletrabalho)
Pelo interesse que poderão ter, para Portugal em geral e para
a Beira Interior em particular, analisaremos mais detidamente duas das
modalidades do teletrabalho que acabámos de referir.
2.1. O TRABALHO EM CASA
Como dissemos anteriormente, segundo HUWS (1995, pp. 10-23), o teletrabalho
em casa pode admitir três possibilidades diferentes, que passamos
a analisar:
a) Teletrabalho a tempo parcial: os teletrabalhadores implicados são,
em geral, altamente qualificados (gestores, quadros, técnicos, vendedores,
etc.), parecendo ser esta a forma de teletrabalho que mais apreciam.
b) Teletrabalho a tempo inteiro, para um empregador exclusivo: envolve
trabalhado-res em geral pouco qualificados, da área do secretariado
( dactilografia, televendas, telesecretariado, tarefas administrativas,
etc.). A maior parte destes trabalhadores são mulheres, não
têm grande segurança de emprego, são muitas vezes remunerados
em função da sua produtividade, ganham geralmente menos que
os seus colegas não teletrabalhadores...
Uma das experiências mais famosas e bem sucedidas (pelo menos
de acordo com os seus promotores), no campo desta forma de teletrabalho,
foi a levada a efeito pela British Telecom, com a participação
da Union of Communication Workers, no decorrer de 1992/93 (terminou em
Junho de 1993), em Inverness, na Escócia, envolvendo 12 operadores
telefónicos. Em cada uma das casas foi escolhido um espaço
próprio (apenas destinado ao efeito ou sendo parte da sala de jantar),
que foi equipado com uma estação de trabalho. Os operadores
deviam aprender a usar o correio electrónico, "bulletin boards"
e formulários electrónicos. Apesar de os trabalhadores poderem
ir ao escritório e serem visitados regularmente pelos gestores,
foram instalados "vision phones" para, quando o desejassem, falarem com
os seus supervisores e colegas. Os trabalhadores continuavam a ganhar o
mesmo salário e a usufruir do mesmo tipo de regalias que tinham
anteriormente, a que se juntavam condições como o reforço
da iluminação e o pagamento dos gastos do aquecimento e luz.
(HILLMAN,1993, p. 14)
Segundo a Britih Telecom, a experiência teria mostrado que os
operadores "were less stressed, took less sick leave and were more productive."
(citado em HORNER e DAY, 1995, p. 338)
c) Teletrabalho "free-lance": envolve profissionais independentes,
de áreas como o jornalismo, a tradução, a edição,
a consultoria, etc. Recobre, em parte, a forma de trabalho a que alguns
autores chamam "tele-serviço".
OLSON defendeu, em 1981 (e a maior parte das pesquisas americanas posteriores
tê-lo-ão confirmado), que o trabalho em casa deve, para ter
sucesso, obedecer às seguintes condições:
1) Limitar (simplificar) ao máximo os equipamentos (exemplo:
computador e
telefone);
2) Dar ao indivíduo os meios de controlar o seu ritmo de trabalho;
3) Fazer com que os resultados da actividade sejam facilmente mensuráveis;
4) Preferir as actividades que necessitem de concentração
intelectual;
5) Definir planos de trabalho, quando necessário;
6) A actividade não deve consumir demasiadas comunicações
de longa distância.
(LEMESLE e MAROT, 1993, pp. 82-8)
2.2. OS CENTROS DE TELETRABALHO
Para evitar uma das desvantagens que é normalmente atribuída
ao teletrabalho em casa - o isolamento social do trabalhador, com todas
as consequências daí decorrentes - foram criados os centros
de teletrabalho, referidos atrás.
O "antepassado" directo desse tipo de centros é a chamada "tele-cabana"
(telecot-tage) ou "centro comunitário de tele-serviço", surgida
na Escandinávia por volta de 1985, com o objectivo de minorar as
desvantagens das áreas rurais, propiciando-lhes condições
e recursos existentes apenas nas cidades, de forma a criar emprego e promover
o desenvolvimento. Desde o seu aparecimento, o seu número não
parou de crescer: em 1990 já havia cerca de 50 na Dinamarca, Finlândia,
Noruega e Suécia; em 1993 o seu número atingia as 100 unidades.
Na Grã-Bretanha, onde a ideia também foi lançada,
já havia 45 no final de 1992 (HILLMAN, 1993, p. 15-16); e, em Junho
de 1994, a "Tellecottage Association" contava com mais de uma centena de
membros. (HUWS, 1995, p. 31)
Algumas das "tele-cabanas" não utilizam edifícios próprios,
instalando-se em Escolas e Bibliotecas. Podem facultar serviços
de informação local e regional, económica e comercial,
serviços educativos, serviços de apoio a pequenos negócios,
formação profissional, serviços de tele-compras, acesso
a bases de dados nacionais e internacionais, serviços de telecomunicações,
actividades de lazer (TV por cabo, por exemplo), salas para reuniões,
etc. (HILLMAN, 1993, p. 15-16); onde é possível, oferece
também facilidades de "telecommuting". A sua gestão corrente
está a cargo de um especialista em tecnologias da informação,
que ajuda os utilizadores (público em geral, profissionais, comerciantes...).
O interesse deste tipo de solução, para Portugal, está
bem patente num documento da Comunidade Europeia, de 1988, em que se diz
que que as autoridades dinamarquesas "have recently provided the Spanish,
Greek and Portuguese authorities with relevant information." ( COM (88)
371final, p.55; para esta descrição das "tele-cabanas", ver
pp. 54-55)
3. A REALIDADE SÓCIO-PROFISSIONAL DO TELETRABALHO
3.1. PROFISSÕES E SECTORES DE ACTIVIDADE
Em princípio, o teletrabalho pode aplicar-se em todas as profissões
e actividades que não se refiram à produção
e distribuição de bens materiais (ver, nos "Anexos" a este
trabalho, os Documentos 2 a 8). Essas profissões e actividades,
por vezes chamadas "informacionais" ou "de escritório", são
classificadas por Lemesle e Marot da seguinte forma:
- produção da informação: profissões
científicas e técnicas, recolha de informação,
consultoria, etc.
- tratamento da informação: dactilografia, secretariado,
tratamento de texto e edição electrónica, corretagem,
programação, comunicação de gestão,
realização de relatórios, controle e supervisão,
etc.
- distribuição da informação: educação,
formação, espectáculos, "media", publicida-de, vendas,
marketing, etc.
- exploração e manutenção dos sistemas
de informação: "hot line" informática, exploração
e manutenção das telecomunicações, etc. (LEMESLE
e MAROT, 1994, p. 25; LENCASTRE, 1995, p. 29)
Quanto aos sectores de actividade, o teletrabalho já abrange,
com sucesso, sectores muito importantes das sociedades, de que se destacam
os seguintes:
- Administração Pública: o teletrabalho já
existe, sobretudo a partir de 1985, e revela tendência para aumentar,
na administração central e regional de países como
os EUA (particularmente no Estado da Califórnia), a Grã-Bretanha,
a Suécia, a Alemanha, a Holanda, etc. Optou-se, normalmente, pelo
trabalho em casa ou em escritórios-satélites, conjugando
teletrabalho com trabalho tradicional no escritório.
- Ensino e formação: existem estruturas de ensino e formação
à distância em países como os EUA, o Canadá,
a Grã-Bretanha, a Holanda, a França,etc., fornecendo o seu
serviço ao domicílio, em centros próprios ou no local
de trabalho (em empresas como a France-Télécom, a Telecom
Argentina, a Hewlett-Packard, a Bull...). O Programa europeu DELTA (Developing
European Learning through Technological Advance), lançado em 1988,
é um bom exemplo desta tendência.
- Companhias de Seguros e Bancos: recorrem ao teletrabalho Bancos como
o Crédit Suiss, o Chase Manhattan Bank, o Midland Bank e Companhias
de Seguros como as Mutuelles Unies, a AXA, a MACIF, aa New York Life, a
Massachussets Life , a Tavelers Insurance, etc.
- Venda por correspondência e "telemarketing": empresas como
La Redoute, Trois Suisses, Otto desenvoveram formas diversas de teletrabalho.
- Sector da Informática: as principais empresas deste sector,
como a Rank Xerox, a ICL, IBM, a Control Data Equipement, a Hewlett-Packard,
a Fujitsu, a Digital, a Integrata, desenvolvem aplicações
do teletrabalho.
- Sector das telecomunicações: encontram-se aplicações
de teletrabalho na maior par-te das empresas mundiais de telecomunicações,
como a US West, a Pacific Bell, a ATT, a British Telecom, a France-Télécom.
São de referir ainda os seguintes sectores: sociedades especializadas
no tratamento do texto; serviços de tradução; a imprensa
e a edição; a indústria aeronáutica; sociedades
de consultoria; sociedades de inquéritos por sondagem... (LEMESLE
e MAROT, 1994, pp. 21-28; LENCASTRE, 1995, p. 29)
3.2. O TELETRABALHO EM NÚMEROS
Aquilo em que a literatura concorda, acerca dos números referentes
ao teletrabalho, pode sintetizar-se em dois pontos essenciais:
1. As estimativas feitas, acerca do teletrabalho, nos fins dos anos
70 e princípios dos anos 70 pecaram (algumas delas estrondosamente)
por excesso;
2. Não há, mesmo actualmente, números fiáveis
sobre o teletrabalho, mas apenas estimativas.
Assim, segundo o Compuserve Magazine (referido em LENCASTRE, 1995,
p. 28), nos EUA haveria, em 1995, 12 milhões de pessoas que trabalhavam
em casa, a tempo inteiro e outros 12 milhões a tempo parcial, num
número total de 125 milhões de trabalhadores. Na Europa,
uma em cada oito pessoas trabalharia a partir de casa, como empresário
ou telecommuter.
O LIVRO BRANCO, que atrás analisámos, referia que, na
altura (1993), haveria cerca de 6 milhões de teletrabalhadores nos
EUA.
Comparando este número com os anteriores, referentes a 1995,
é de concluir que, efectivamente, o teletrabalho parece ser uma
tendência irreversível das nossas sociedades.
Quanto à incidência do teletrabalho nos vários
países europeus, TATE (1995, p. 66) refere que o Reino Unido e a
França serão, logo a seguir aos Estados Unidos, os países
com maior número de teletrabalhadores em casa a nível mundial.
4.VANTAGENS E DESVANTAGENS DO TELETRABALHO
Como qualquer realidade social, o teletrabalho envolve implicações
(económicas, sociais, psicológicas, etc.) susceptíveis
de serem valorizadas positiva ou negativamente -às vezes pelas mesmas
razões - por diferentes actores e grupos sociais. Por isso a literatura
consultada (HILLMAN, 1993, p. 12 e segs; HORNER e DAY, 1995, pp. 333-338;
HUWS, 1995, pp. 3-4 e 10-38; LEMESLE e MAROT, pp. 61 e segs; LENCASTRE,
1995, pp. 28 e 31; RUBINSTEIN, 1993, pp. 58, 61-62 e 64;) fala em termos
de "vantagens" e /ou "desvantagens" (potenciais) do teletrabalho para os
trabalhadores, para as empresas, para a sociedade em geral. Por uma questão
de sistematização, seguiremos essa ordem de análise
- ainda que, por vezes não seja fácil decidir em que categorias
enquadrar determinados aspectos.
Por outro lado, há que dizer que as vantagens e as desvantagens
devem ser entendi-das como potenciais, dependendo a sua existência
efectiva das reais condições, oferecidas pela empresa e pela
sociedade global, em que se efectua o teletrabalho (características
dos locais, do equipamento, salários, férias e outras licenças,
saúde, segurança social, etc.).
4.1.VANTAGENS
PARA O TRABALHADOR
- possibilidade de reduzir ou mesmo eliminar o tempo gasto na deslocação
casa-trabalho
- economia no gasto de combustíveis
- flexibilização do horário de trabalho, permitindo
conciliar vida profissional e familiar
- flexibilização do local de trabalho
- autonomia relativa, com a diminuição dos constrangimentos
hierárquicos
- clima de trabalho mais confortável
PARA AS EMPRESAS
- redução de custos (imobiliários, de transportes,
de pessoal, etc.)
- aumento da produtividade
- maior facilidade de recrutamento de pessoal (independentemente do
seu local de resi-
dência
PARA A SOCIEDADE
- preservação do espaço rural
- desenvolvimento de áreas menos favorecidas (nomeadamente rurais)
- "desconcentração" do centro das cidades
- participação na divisão internacional do trabalho,
com o trabalho "off-shore"
- criação de empregos
- aumento da produtividade
- descongestionamento do tráfego urbano
- economia em combustíveis
- redução da poluição
- revitalização dos subúrbios
- redução dos investimentos em infrastruturas de transportes
- integração, no mercado de trabalho - combatendo a exclusão
social - de pessoas que
não podem sair de casa (idosos, portadores de deficiência,
donas de casa, etc.)
4.2. DESVANTAGENS (POTENCIAIS)
PARA O TRABALHADOR
- isolamento social (quando o trabalho é feito em casa a tempo
inteiro)
- redução dos contactos com os colegas de trabalho e
a hierarquia
- possível tendência para a feminilização
do teletrabalho
- desenvolvimento da precaridade de emprego
- déficit de protecção jurídica
- possibilidade de condições de emprego menos favoráveis,
em termos de regalias econó-
mico-sociais
- degradação da vida familiar, devida à intrusão
do trabalho no lar
- apagamento da diferenciação entre trabalho e lazer
- maiores possibilidades de conflitos familiares no alojamento (quando
o teletrabalho aí é
feito)
- maior dificuldade de defesa dos seus interesses laborais e profissionais
(o contrato de
trabalho tende a ser individual, dificultando ou impedindo as reivindicações
colectivas)
- parcelarização do trabalho
- aumento do trabalho a tempo parcial
- controle invisível e omnipresente pelo computador central
- menos oportunidades de promoção
PARA AS EMPRESAS
- impossibilidade de assegurar o controle da presença e a disponibilidade
imediata do
trabalhador no local de trabalho ( para evitar esta desvantagem, a
empresa deve medir
o trabalho em termos de resultados ou tarefas)
- aumento de custos em equipamentos extra, energia e telecomunicações
- destruição da unidade da empresa e do colectivo de
trabalho
- aumento dos custos de formação do trabalhador
PARA A SOCIEDADE
- efeitos negativos na integração social do trabalhador
na comunidade (de trabalho e re-
sidencial)
- vulnerabilidade crescente face ao teletrabaho "off-shore" (com as
possíveis consequên-
cias em termos de desemprego)
- desaparecimento das formas colectivas de trabalho e dispersão
da mão de obra
- exploração de trabalhadores em situação
mais vulnerável (mulheres, crianças, pessoas
com deficiência, membros de minorias étnicas, etc.)
- aumento da polarização entre uma elite de trabalhadores
bem pagos e com posição es-
tável (masculinos, brancos, altamente qualificados e sem deficiências)
e uma maioria de
trabalhadores mal pagos e com posição instável
(mulheres, membros de
minorias étnicas ou outras)
- erosão das estruturas tradicionais de educação
e formação profissional
- transferência, para as zonas menos desenvolvidas, apenas dos
empregos pouco
qualificados e mal pagos, agravando assim as assimetrias
É de notar que muitas das desvantagens apontadas ao teletrabalho
em geral se refe-rem, na realidade, ao teletrabalho feito em casa, a tempo
inteiro (normalmente pouco qualificado, para um empregador exclusivo, em
condições contratuais ambíguas ou claramente desfavoráveis
para o trabalhador). Ora, esta forma de teletrabalho não representa,
na actualidade, nem a única nem a forma mais importante de teletrabalho
(nem sequer representa, como vimos atrás, a única possibilidade
de trabalho em casa).
5. OS PARCEIROS SOCIAIS E O TELETRABALHO
Para ter sucesso, o teletrabalho exige todo um conjunto de condições (tecnológicas, económicas, sociais, espaciais, etc.). Nesse conjunto de condições assume especial importância a posição (positiva ou negativa, decidida ou reticente) dos seus principais intervenientes: trabalhadores (e respectivos sindicatos ) e empresários.
5.1. OS SINDICATOS
Nos anos 80, as principais centrais sindicais, tanto europeias como
americanas manifestam, em geral, uma posição de rejeição
e resistência em relação ao teletrabalho. A título
de exemplo: uma resolução da central sindical americana AFL-CIO
reclamava, em 1983, a abolição do teletrabalho informático
em casa. O teletrabalho é encarado, por esta central sindical, como
um retrocesso ao trabalho doméstico do século XIX, mal pago,
precário, pouco qualificado, sem regalias sociais; e, como tal,
reforçando o trabalho a tempo parcial e o isolamento social dos
trabalhadores, contrariando ao mesmo tempo a possibilidade de estes se
organizarem na defesa dos seus interesses. Posições semelhantes
são tomadas, em 1985, pelos sindicatos na Dinamarca, na RFA e no
Reino Unido.
Note-se que, como já referimos atrás, as grandes críticas
feitas ao teletrabalho, pelos Sindicatos, são-no sobretudo ao teletrabalho
em casa, e parecem ter algum fundamento. TATE (1995, p. 8), por exemplo,
refere haver casos conhecidos que mostram que a situação
dos teletrabalhadores ao domicílio é pior do que a dos trabalhadores
tradicionais, em termos de remunerações, situação
na profissão e segurança de emprego.
À posição geralmente crítica dos Sindicatos
também não será alheio o facto de, para além
de colocar problemas aos trabalhadores, o teletrabalho colocar problemas
aos próprios sindicatos, enquanto organizações: a
força de trabalho fragmenta-se e dispersa-se, perde a capaciade
de organização colectiva, quebra a sua ligação
aos sindicatos, diminui o número de trabalhadores sindicalizados,
os contratos individuais substituem a contratação colectiva
- logo, os sindicatos perdem poder e influência. (HORNER e DAY, 1995,
p. 335)
Referindo-se ao Reino Unido, os Autores acabados de citar distinguem
três tipos de posições dos sindicatos ingleses, nos
anos 70 e 80, em relação à "revolução
tecnológica" em geral e ao teletrabalho em particular:
a) Receptiva: é a posição de sindicatos sobretudo
ligados às telecomunicações, que vêem o teletrabalho
como um meio de incrementar a flexibilidade e a autonomia, desenvolver
as competências profissionais e melhorar as condições
de vida do trabalhador; assim sendo, defendem que ele deve ser promovido.
b) Defensiva: é a posição dominante da TUC (Trades
Union Congress), influenciada sobretudo pelos sindicatos dos "colarinhos-brancos",
e vê o teletrabalho como uma realidade inevitável mas, ao
mesmo tempo, problemática. Para estes sindicatos o teletrabalho
pode ser positivo, se se conseguirem evitar os potenciais problemas que
a ele podem estar associados (isolamento, exploração, etc.)
e forem garantidas, aos teletrabalhadores, todas as regalias comuns aos
outros trabalhadores.
c) Oposta: é a posição de sindicatos predominantemente
do sector das indústrias da impressão e radiodifusão.
É uma posição muito proteccionista, preocupada em
defender as competências tradicionais dos trabalhadores e o seu controlo
sobre o produto do tra-
balho. A BIFU (Banking, Insurance and Finance Union) ilustra bem esta
posição, ao en-
carar o teletrabalho como oposto aos interesses dos seus membros e
do próprio sindicato, assinalando em relação ao mesmo
as seguintes desvantagens: em relação aos trabalhadores -
o potencial isolamento social, os problemas psicológicos de motivação,
o potencial perigo de pôr um "espião" (electrónico)
em casa, o aumento dos custos domésticos, os problemas derivados
do cuidar dos filhos, etc.; em relação ao sindicato - dificuldades
no recrutamento de filiados, problemas de organização colectiva
(reuniões no local de trabalho, comunicação entre
o sindicato e os trabalhadores, etc.).
A existência destas posições contraditórias
mostra que:
i) não há, da parte dos sindicatos, uma estratégia
comum e coerente, permanecendo estes, na sua maioria, encerrados no seu
papel tradicional de reivindicação (sobretudo) salarial.
ii) se torna cada vez mais urgente que os sindicatos, sob pena de serem
completamente ultrapassados pela situação, promovam e aprofundem
o debate sobre a problemática do teletrabalho.
5.2. OS EMPRESÁRIOS
Mostram, em geral, uma posição reticente sobre o teletrabalho
; a reflexão sobre o mesmo situa-se sobretudo a nível dos
dirigentes das grandes empresas. (LEMESLE e MAROT, 1994, p. 72)
As suas reticências parecem derivar, sobretudo, do facto de muitos
deles continuarem presos a um modelo de gestão que já vem
do século XIX e que, como atrás referimos, exige o contacto
directo e a disponibilidade imediata do trabalhador, quando necessários,
e a possibilidade de controlo permanente do seu trabalho. (HILLMAN, pp.
33-35 )
Ora, os estudos levados a efeito sobre as experiências de teletrabalho
mostram que o seu sucesso, nas Empresas, depende de factores como a familiaridade
já existente na aplicação das TIC's, a sua vontade
de inovar nos planos técnico e organizacional e a sua capaciade
de gestão por objectivos. (LEMESLE e MAROT, p. 85)
Encarar o teletrabalho como uma mera estratégia para redução
de custos, nomea-damente de salários, é condená-lo
ao fracasso (na medida em que não pode competir com o teletrabalho
"off-shore", que envolve salários muito mais baixos, mais horas
de trabalho e menores encargos sociais); há que encará-lo
no contexto de uma estratégia centrada na inovação,
capaz de conquistar novos mercados, oferecer melhor qualidade e, assim,
acabar por efectivamente reduzir os custos. (STROETMAN e KUBITSCHKE, p.
71)
V. A SITUAÇÃO PORTUGUESA (ALGUMAS PISTAS)
Em Portugal, os temas das sociedade da informação e do
teletrabalho estão na agenda de instituições e organizações
como as Universidades (o IST, a UBI, a Universidade de Aveiro, etc.), os
Institutos de Investigação (o INETI, por exemplo, a cujo
quadro pertencem as Profªs Doutoras Ana Maria R. Correia e Maria Joaquina
Barrulas), o Instituto de Emprego e Formação Profissional,
os Organismos de desenvolvimento local (o CIEBI, por exemplo), as Empresas
de telecomunicações ...
A nível da Imprensa, a Bibliografia e os Anexos deste trabalho
referem e/ou repro-duzem, a título de exemplo, elementos retirados
de alguns Jornais e Revistas acessíveis ao grande público,
nomeadamente:
- Jornal Público: publica, com relativa frequência, notícias
e artigos de opinião sobre os diversos temas da sociedade da informação
(por exemplo: teletrabalho, tele-ensino, pirataria informática,
avanços nas telecomunicações, Internet, etc.); e,
às segundas-feiras, um Suplemento intitulado "Computadores";
- Jornal Expresso: publica, com relativa frequência, notícias
e artigos de opinião so-bre os temas da sociedade da informação,
no seu Suplemento de Economia;
- Revista Exame: esta revista, cujo público-alvo é predominantemente
constituído por empresários e gestores, publica frequentemente
notícias e artigos de opinião sobre os temas da sociedade
de informação (e especificamente sobre o teletrabalho); em
Maio/Junho de 1995, dedicou mesmo toda uma edição especial,
aos diversos aspectos (tecnológicaos, económicos, sociais...)
da sociedade da informação (ver Bibliografia).
Também em conversas dos dia a dia (e permita-se-nos utlizar,
aqui, a nossa expe-riência pessoal), começam a estar presentes
as problemáticas da sociedade da informação e do teteletrabalho.
Citaremos, a este propósito, dois exemplos:
Exemplo 1. Há poucos dias, um amigo, conhecedor do nosso interesse
por estes te-mas, perguntou-nos se tínhamos visto, na TV2, um programa
dedicado aos sistemas de vigilância electrónica (evocando
o perigo do que alguns chamam a "sociedade da vigilância"); e passou,
em seguida, a descrever toda uma série de situações
, ilustradas no programa, que considerava mais ou menos "aterradoras".
Exemplo 2. Um amigo nosso tem um irmão arquitecto que, há
alguns anos, decidiu montar o seu próprio Gabinete de Arquitectura,
no Porto, equipando-o com o que de mais moderno havia, na altura, em matéria
de informática e telecomunicaçãoes - de forma a poder
trabalhar a partir de casa. Na época, os colegas apelidaram-no de
"maluco" e "megalómano"; hoje, os mesmos colegas reconhecem que
teve razão antes do tempo (deles), ao ser pioneiro nesta forma de
teletrabalho.
Em Portugal, tanto quanto nos apercebemos como cidadão comum,
os temas da sociedade da informação e do teletrabalho não
estão na agenda da generalidade dos políticos, dirigentes
empresariais e dirigentes sindicais...
Quanto à Escola e à Cultura dita "geral", decidimos fazer
uma experiência. Fomos à Biblioteca de uma Escola Secundária
da Cidade e consultámos a Enciclopédia Luso-Brasileira de
Cultura (Editorial Verbo) e a POLIS - Enciclopédia Verbo da Sociedade
e do Estado. Os resultados foram os seguintes:
1) Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura: no seu 17º
volume, publicado em 1975, não constam entradas sobre "Sociedade
da informação" e "Teletrabalho"; no seu III Suplemento, publicado
em 1991, também não constam entradas sobre "Sociedade da
Informação" e "Teletrabalho" - consta uma entrada sobre "Sociedade
pós-industrial", a páginas 849/850, em que se refere (sem
explicitar) duas vezes a expressão "sociedade da informação";
na entrada sobre "Trabalho", que também lemos, nada consta sobre
teletra-
balho.
2) POLIS - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado: nos
seus 3º volume (publicado em 1985) e 5º volume (publicado em
1987), não constam entradas sobre "Sociedade da informação"
e "Teletrabalho"; consta uma entrada sobre "Sociedade pós-industrial",
em que a expressão "sociedade da informação" é
referida (sem a explicitar ) duas vezes, a páginas 940 e 941; na
entrada sobre "Trabalho", também lida por nós, não
há qualquer referência ao teletrabalho.
Este panorama, algo contraditório, desperta-nos o interesse (não
satisfeito neste trabalho, como referimos na Introdução)
em conhecer mais de perto a realidade portuguesa, bem como a tentar avaliar
as possibilidades e as condições de implantação
de um sistema de teletrabalho a nível da administração
corrente de uma Escola.
VI. CONCLUSÕES (E ALGUNS PROBLEMAS...)
" People need people."
" Regardless of technology, people are human beings. (...) Except for
the obsessed, technology is a tool, an enabler, not the purpose of life."
Judy Hillman, Telelifestyles and the flrxicity: The Impact of the Electronic Home, p. 32
De forma semelhante ao que aconteceu em relação à
Revolução Industrial (e ao "No-vo Mundo" que ela iria realizar),
também o "Mundo Novo" da sociedade da informação tem
os seus profetas e os seus críticos... ou, se quisermos, os seus
optimistas e os seus pessimistas.
Tomem-se por exemplo os textos representativos da posição
da Comunidade Euro-peia (de que consideramos o Livro Branco como "a pedra
de toque"). Neles, o desenvolvimento da sociedade da informação
(nos seus aspectos tecnológicos, económicos e sociais) e
das suas aplicações, nas quais se inclui o teletrabalho,
é encarado como a única via para a Europa combater o desemprego
e competir com sociedades como o Japão e os Estados Unidos. O tom
é, em geral, optimista e voluntarioso, fazendo por vezes lembrar
alguns dos textos utópicos (por exemplo de Saint-Simon, de Comte)
sobre a Revolução Industrial... E, no entanto, a realidade,
de 1993 para cá, parece obstinar-se em não dar razão
a tal tipo de posições: o crescimento económico estagna,
o desemprego não pára de aumentar (mesmo em países
super-desenvolvidos, como o Japão e a Alemanha, em que esses problemas
eram desconhecidos), assiste-se à falência do "Estado Social",
cresce a despesa pública, etc. O que nos pode levar a pensar que,
se as TIC's eram a solução do problema (do desemprego, da
falta de competitividade), elas parecem ter-se tornado, agora, o problema
da solução...
Há, por outro lado, um conjunto de posições (de
David Lyon, Tom Forester, Tony Benn, Frank Webster, Kevin Robbins, Thimothy
Luke, Stephen White, muitos Sindicatos...), pelas quais perpassa um olhar
bastante crítico da sociedade da informação e do teletrabalho.
Para alguns, tais realidades representam uma forma de o sistema - esgotada
a sua solução industrial, por problemas como a escassez de
recursos energéticos, as diversas formas de poluição,
a impossibilidade de satisfazer as crescentes exigências de bens
para consumo - fazer uma viragem no sentido de uma economia mais volátil
e menos poluente... Não será assim por acaso que os defensores
mais entusiastas da sociedade da informação e do teletrabalho
sejam empresas das áreas das telecomunicações, da
informática... dos produtos da informação em geral.
Para outros, a sociedade da informação não é
mais do que uma estratégia para o Estado aumentar a eficiência
da produção e do controlo sobre os cidadãos, numa
linha que já vem do Taylorismo e é retomada pelo Fordismo...
Outros, ainda, vêem a sociedade da informação como
o culminar do domínio das elites científicas e tecnocráticas
(detendo o monopólio do saber e do discurso) sobre o cidadão
em geral.
Qualquer destas visões nos parece, no entanto, unilateral. Se
é verdade que a socie-dade da informação em geral,
e o teletrabalho em particular, nos trazem problemas novos, não
é menos verdade que também comportam potencialidades que
devemos ter em conta e tentar explorar.
Quanto aos problemas colocados pelo teletrabalho, gostaríamos
de salientar apenas os seguintes:
1.De ordem económica: o teletrabalho "off-shore" mostra que
o conceito de tele-trabalho encerra uma ambiguidade fundamental. Promovido,
pelos países desenvolvidos (nomeadamente europeus), como uma forma
de trabalho flexível e inovadora, possibilitando a criação
de emprego e aumentando a produtividade, ele pode vir a tornar-
-se gerador de desemprego (criando empregos, sim, mas no local "errado")...
Porque, se é verdade que a desmaterialização e a globalização
da economia, características da sociedade da informação,
podem trazer novas oportunidades em termos de mercados e negócios,
não é menos verdade que tamém poderão ter os
seus efeitos perversos.
2. De ordem sociológica: o teletrabalho insere-se na tendência
crescente, observável desde o advento da "Galáxia Marconi"(McLuhan),
para substituir as relações humanas pessoais e directas (a
que os sociólogos chamam "face to face") por tele-relações,
isto é, relações à distância, mediatizadas
pelas tecnologias de informação e comunicação
(a pessoa substituída pela sua "imagem" textual, sonora ou visual,
na máquina). Esta tendência traz consigo o perigo de levar
as pessoas a pensar (e a pôr em prática ) o contrário
do que afirma a citação de Judy Hillman ("as pessoas precisam
de pessoas"); e, assim, minar a própria noção de sociedade
(de grupo, de comunidade, de empresa, etc.), enquanto conjunto de interacções
reais e directas entre seres humanos
Por outro lado, o teletrabalho pode tender a esbater as tradicionais
distinções entre o público (o social) e o privado
(o lar), o trabalho e o lazer, levando o indivíduo a tornar- -se
uma espécie de "escravo" dos imperativos colectivos da produtividade
"informa-cional"...
3. De ordem psicológica: a sociedade de informação
em geral (logo, também o teletrabalho) introduz um novo conceito
de realidade: o de "realidade virtual". Pode defender-se que, em certa
medida, toda a realidade comporta sempre algo de "virtual" (no sentido
de imaginário). Mas, até ao aparecimento da sociedade da
informação, essa realidade virtual existia apenas na imaginação
humana (mesmo que traduzida em romances e outras obras de ficção,
estas nada seriam sem a imaginação do leitor). Agora, a "realidade
virtual" está presente aos nossos sentidos: vê-se, ouve-se,
toca-se.... e transforma a "realidade real" em mera imaginação.
O que é "real": as imagens da guerra no Ruanda que eu vejo na máquina
ou a situação no terreno, que eu tenho de conceber a partir
delas? Correremos o risco de - para utilizarmos a metáfora de Judy
Hillman, atrás citada - nos transformarmos todos em "telezombies",
encerrados na carapaça da nossa "realidadezinha virtual", sempre
mais cómoda e menos problemática?
Quanto às virtualidades do teletrabalho, gostaríamos de
chamar a atenção para as se-guintes:
1. A grande vantagem do teletrabalho reside no facto de ser uma forma
de trabalho "flexível" (em termos de local e de horário de
trabalho). Se for entendido (e posto em prática) em condições
económica e socialmente vantajosas, ele representará, para
o trabalhador, uma forma de trabalhar mais motivadora, mais cómoda
e mais eficiente, permitindo conciliar vida pessoal/familiar e vida profissional,
administrar melhor o tempo de trabalho e de lazer, ter um maior espaço
de liberdade e autonomia...
2. O teletrabalho, no contexto da sociedade da informação,
é uma maneira mais ecológica (menos poluente) de o homem
se relacionar com a natureza, não produzindo resíduos poluentes,
reduzindo custos de energia, poupando a nível dos recursos, promovendo
a contenção no consumo dos bens materiais...
3. Nos países mais desenvolvidos observa-se, desde a década
de70, uma tendência crescente para a dispersão urbana e a
suburbanização (para fugirem aos problemas das grandes cidades
e aumentarem a sua "qualidade de vida", cada vez mais pessoas procu-ram
as vilas e as pequenas cidades para viverem). O teletrabalho pode representar
um meio muito importante para sustentar e reforçar esta tendência,
que achamos (por razões económicas e sociais) altamente positiva.
Parece-nos, assim, que a redução (ou mesmo eliminação)
das desvantagens e pro-blemas do teletrabalho, com a correspondente potenciação
das suas virtualidades e vantagens, deverá implicar uma discussão
que:
1. Envolva a sociedade no seu conjunto (sindicatos, empresários,
agentes políticos, cidadãos em geral);
2. Encare o teletrabalho não apenas nos seus aspectos económicos
(o que levará a uma visão economicista/reducionista), mas
também sociológicos, jurídicos, políticos,
psicológicos, etc., promovendo uma visão globalizante e integrada
do problema;
3. Tenha, na base, a consideração da pessoa como valor
ou fim fundamental a promover, encarando sempre a tecnologia e a organização
social como meios para os atingir.
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