Manual de Jornalismo

Anabela Gradim, Universidade da Beira Interior

Maio de 2000

 

2º de 6 ficheiros

(1/6, 3/6, 4/6, 5/6, 6/6)

 

4. O percurso da Informação; 5. Os géneros; 5.1. A Notícia; 5.1.1. Lead; 5.1.2. Pirâmide invertida; 5.1.3. Os parágrafos -  construção por blocos;      5.1.4. Norma e desvio; 5.1.5. Estilo codificado: vantagens e desvantagens; 5.2. Títulos.

 

4. O percurso da Informação

 

            A notícia, antes de ser apresentada ao público como produto acabado, passa por diversas fases de selecção e processamento que condicionam, em maior ou menor grau, o seu formato final e constituem, no seu conjunto, o trabalho que uma Redacção realiza diariamente.

            Da mesma forma que uma Redacção não é composta somente por jornalistas-redactores, também as notícias, antes de assumirem a sua forma definitiva, não passam somente por uma mão, e isso é um factor positivo porque impede que razões meramente subjectivas – leia-se pessoais – determinem o seu conteúdo e o espaço que ocuparão na publicação.

            É possível listar pelo menos seis instâncias de selecção e tratamento da notícia, que poderão, consoante os casos, multiplicar-se ou, pelo contrário, sofrer um afunilamento. Mas regra geral, toda a notícia:

 

1.   Não importa a via pela qual chegue ao jornal, começa por ser seleccionada pela direcção, chefia, editores, secretários de redacção, durante o  processo em que as informações são colocadas na Agenda, ou negligenciadas.

 

2.   Seguidamente os editores, atendendo aos recursos humanos e meios disponíveis nesse dia, fazem a marcação da agenda, distribuindo os serviços pelos redactores. É também durante a marcação da agenda que se estuda o ângulo de abordagem de um trabalho, o espaço que lhe poderá ser dedicado nessa edição, e se o trabalho terá ou não reportagem fotográfica. Todas estas operações de selecção dependem de contingências diversas como sejam a quantidade de jornalistas disponíveis, a quantidade de serviços agendados – e é tendo estes dados em conta que se determinará o ângulo de abordagem do tema e os seus privilégios de espaço. Normalmente nesta fase uma parte dos serviços – aqueles que são avaliados como menos pertinentes - “caem”[10] em favor dos mais relevantes.

 

3.   O jornalista e os repórteres fotográficos tomam conhecimento dos serviços agendados e começam a preparar a realização do trabalho, documentando-se sobre o assunto, preparando entrevistas, recolhendo dados, e, finalmente, deslocando-se ao sítio onde decorre o acontecimento e levantando o máximo de informações posssíveis a esse respeito. Tal levantamento passa pela observação directa e realização de entrevistas, que poderão depois ser complementadas com mais contactos e novas entrevistas assim que se chegue à Redacção, e sempre que o assunto o justifique. Nesta fase, de recolha de informação, os jornalistas fazem também muitas escolhas. Dos dados observados e recolhidos podem resultar alterações radicais no ângulo de abordagem e dimensões do trabalho – o serviço mais anódino pode tranformar-se na machete do jornal, ou vice-versa, o trabalho mais promissor no chouriço mais entediante.

 

4.   Quando dá por finda a recolha de informações, o jornalista passa à fase de criação, durante a qual deverá redigir o trabalho: notícia, entrevista, reportagem... elaborar caixas e títulos, e ajudar o editor a escolher as imagens mais adequadas para ilustrar o acontecimento. 

 

5.   A notícia volta a sair das mãos do jornalista que a elaborou quando passa à fase da edição. Assim que termina de redigir o seu trabalho, o jornalista entrega-o ao editor ou chefe de secção, o qual tem por tarefa editar a peça, isto é: lê-la integralmente (a atenção com que a lê é proporcional à experiência do redactor e à importância do assunto); corrigi-la e modificá-la, conformando-a ao livro de estilo do jornal; proceder a cortes no texto sempre que este exceda em caracteres o espaço disponível; escolher o destaque que levará nas páginas da secção que o editor dirige - e isto tem de ser conjugado com a inserção da publicidade; a forma como e o local onde deverá ser paginado; as imagens, gráficos ou infografias que o ilustrarão; e ainda, eventualmente, a elaboração dos títulos e legendas, sempre que o redactor, como deveria, não se encarregou disso ele próprio. 

 

6.   O chefe de redacção, depois de reunir com os diversos editores e de se inteirar dos trabalhos importantes que estes têm em mãos, escolhe o tema que fará a manchete do jornal e as restantes chamadas à primeira página. Depois selecciona as imagens necessárias e elabora os títulos e textos que constituirão esta “montra” do jornal – um resumo hierarquizado e apelativo do que de mais substancial a publicação tem para oferecer aos seus leitores.

 

Duas notas ainda sobre o percurso da informação: O ângulo de abordagem da notícia ou reportagem pode ser proposto pelo jornalista, pelos editores, chefia de redacção, ou pela direcção. Não é um manifesto nem um programa político - normalmente tratam-se de decisões sensatas e ponderadas sobre a melhor forma de aproveitar o potencial de uma notícia. Mesmo quando não haja instruções explícitas nesse sentido, o ângulo de abordagem deve, quando as circunstâncias o permitirem, ser debatido pelo jornalista com os responsáveis editoriais

De qualquer forma, e especialmente nos trabalhos de profundidade, ponderar o ângulo de abordagem - mesmo que este venha a ser alterado depois do confronto com os factos - é em geral melhor do que o improviso e a tábua rasa.

 

 

5. Os géneros

 

5.1. A Notícia

 

Daniel Ricardo considera características essenciais da notícia a veracidade, actualidade e a capacidade de interessar, sendo que os valores que imprimem interesse a factos actuais e verdadeiros são a proximidade, a importância, o conteúdo humano e a originalidade[11].

Notícia, é pois, em princípio, tudo aquilo que um jornal publica; mas em sentido técnico, enquanto género, a definição de notícia é mais restrita. Refere-se a textos eminentemente informativos, relativamente curtos, claros, directos, concisos e elaborados segundo regras de codificação bem determinadas: título, lead, subtítulos, construção por blocos, e em forma pirâmide invertida.

 

5.1.1.Lead

 

O lead é o primeiro parágrafo da notícia e nele o leitor deverá encontrar resposta a seis questões fundamentais: O Quê, Quem, Quando, Onde, Porquê e Como; sendo que as duas últimas questões – Porquê e Como – podem as mais das vezes omitir-se do lead, guardando-se para o parágrafo subsequente.

A razão é que, antes de mais, os leads têm duas funções a cumprir: informar imediatamente o leitor das características mais importantes do facto que se noticia; e serem atraentes apelando à leitura do resto do texto. Leads muito pesados dificultam a compreensão e desencorajam a leitura.

Com bom senso e discernimento, o jornalista saberá naturalmente quais as perguntas que se sacrificam no lead, ou se se incluem todas. Também há casos onde algumas das questões  - geralmente  “quando” e “onde” - são desnecessárias. “A Câmara do Porto aprovou hoje, na sala de sessões dos Paços do Concelho, alterações ao Plano Director Municipal...”  é uma informação tautológica.

Quando, que é o caso mais comum, o lead de uma notícia é composto por apenas uma frase, é de extrema importância a escolha do verbo utilizado, que deverá ser directo, forte, de acção, e preferencialmente no presente do indicativo, pois é este que dá o “tom” (leads) da notícia. Agora atenção, o conteúdo semântico do verbo tem de respeitar rigorosamente o acontecimento.

Um lead bem construído dispensa o leitor apressado de se deter no resto da peça, porque a informação básica mais importante já foi dada; mas se retiver o carácter apelativo é, simultaneamente, o melhor anúncio publicitário que tal peça pode ter – e o leitor quererá lê-la até ao fim. Neste sentido, todo o jornalista sabe da importância que tem a construção de um bom lead, e como, obedecendo às regras, é possível investir tempo e cuidado em qualidade e originalidade. Leads preguiçosos - chapa quatro - marcam as peças e, com o tempo, marcarão também o jornalista.

A formulação “responder aos quatro Q’s” pode parecer artificial e forçada, mas a verdade é que os factos que devem constar do lead correspondem às perguntas que a generalidade das pessoas coloca quando deseja inteirar-se de um acontecimento. São pois “naturais” no sentido em que estão intimamente ligadas à nossa forma de conhecer e narrar uma história.  Isto para dizer que o jornalista, quando constrói um lead, não deve estar obcecado em amontoar nele a resposta a todos os Q’s da cartilha – apenas dizer de forma clara o que de mais importante se passou. Com um pouco de prática a escrita passará a fluir ligeira e sem esforço.

 

O Cônsul honorário de Portugal em Marrocos (Quem) foi detido (O quê) ontem (Quando) no porto de Ceuta (Onde) com mais de 86 quilos de haxixe (Porquê).

 

É um perfeito lead informativo, que diz tudo quanto um leitor apressado necessita de saber sobre o assunto antes de decidir se prossegue a leitura. O parágrafo que segue o lead deverá depois conter precisões dos factos aí narrados, o que se faz, neste caso, precisando a indentidade do protagonista e as circunstâncias que rodearam a sua detenção:

 

Ahmed B. de 54 anos, foi detido na terça-feira à tarde quando tentava embarcar ao volante de um veículo automóvel do corpo diplomático português, que transportava, num fundo falso, a droga apreendida pelas autoridades espanholas.

 

A ordem pela qual as questões se seguem no lead depende apenas do assunto em causa e do que, num dado facto, é mais importante, de forma que um lead pode iniciar-se por qualquer uma das perguntas:

 

O Quê – “Um aparatoso acidente rodoviário, do qual não resultaram vítimas, manteve fechada por mais de 12 horas a Linha da Beira Baixa, impedindo a circulação do Sud Express

 

Quem – “Francisco Verde substitui Arlindo Cunha na pasta da Agricultura já a partir da próxima segunda-feira...”

 

Quando – “A partir de Janeiro os taxistas vão ter de prestar mais atenção à forma como se comportam na presença de passageiros...”

 

Onde – “O Porto é hoje palco de mais 20 concertos rock no âmbito...”

 

Como – “Armado de um saco de plástico e três carrinhos de linhas, Luís Pinto escalou ontem a Torre dos Clérigos, no Porto, um feito que lhe valeu...”

 

Porquê – “Para pôr fim à greve dos médicos e enfermeiros o Governo decidiu...”

 

Nem todos os leads obedecem as estas regras de construção, e, no caso da reportagem ou fait divers, tal não é sequer desejável. O lead directo, aquele que resume com brevidade um acontecimento, aplica-se sobretudo às notícias do tipo hard news; ao passo que as soft news[12], curiosidades, casos insólitos, fait divers, pedem um lead retardado, aquele que já não tem a preocupação de transmitir informação directa, mas sim despertar imaginativamente o leitor para o assunto que aborda. Um bom exemplo de lead retardado é o que abria, no Público, a incrível história de Happi Bull:

 

“Na véspera de Natal, Patricia White Bull acordou mal disposta. Olhou para as desconhecidas à sua volta e disse: "Não façam isso". As enfermeiras que, num hospital do estado norte-americano de Albuquerque, lhe ajeitavam os lençóis da cama paralisaram. A índia Sioux com o nome tribal de Happi acabava de despertar de 16 anos de coma.”

           

            O tipo de lead a utilizar depende, evidentemente, do carácter do acontecimento; sendo que só os leads  directos requerem depois a utlização da pirâmide invertida e, eventualmente, a construção por blocos.

 

5.1.2. Pirâmide invertida

A pirâmide invertida é a técnica mais comum de construção das notícias e segue-se naturalmente da elaboração de um bom lead directo. Significa, muito simplesmente, que numa notícia, a seguir ao lead, todas as restantes informações são dadas por ordem decrescente de importância, de forma que, à medida que se vai descendo no corpo da notícia, os factos relatados se vão tornando cada vez menos essenciais. Pirâmide invertida porque a base desta, aquilo que é noticiosamente mais importante, se encontra no topo – em ordem muito distinta à que seguem por exemplo a novela, o drama ou o conto.

 

 

 


5.1.3. Os parágrafos -  construção por blocos

 

            A construção por blocos é uma técnica que se associa frequentemente à pirâmide invertida, embora cada uma possa subsistir de forma independente. Construir um texto “por blocos” significa que cada parágrafo funciona na notícia como uma entidade logicamente autónoma. Isto é, os parágrafos são construídos como blocos estanques, sem ligação necessária, nem linguística nem semântica-informativa, com o parágrafo imediatamente anterior. Não é que os parágrafos não tenham, todos, ligação com o acontecimento que narram, que funciona como fio condutor; simplesmente, eles são autónomos em relação uns aos outros.

            A vantagem deste tipo de construção é dupla: por uma lado, se o leitor desiste da leitura da notícia a meio, perde certamente informação, mas não é deixado com nenhuma ideia ou conceito pendente do parágrafo seguinte; por outro, e esta muito mais importante, o editor e o paginador sabem que se for necessário diminuir apressadamente a extensão da peça podem começar a cortar parágrafos a partir do fim, sem que se perca informação essencial e sem ser necessário emendar ou corrigir os parágrafos que se mantêm. Num trabalho rigorosamente construído, se o editor continuasse a cortar até só restar o lead, ainda assim teríamos notícia - uma breve.

 

            5.1.4. Norma e desvio

 

            Não faltam críticos a esta técnica de escrita jornalística que é considerada restritiva, empobrecedora e limitada. Tais críticas são injustificadas. A técnica clássica de construção de notícias sobrevive porque tem provas dadas, e é de facto a que melhor serve quer o tempo de produção do jornal - em regra um dia - quer as necessidades e expectativas dos leitores que desejam ser informados.

Mesmo um fanático leitor de jornais, ou um profissional de imprensa, não dedica mais de duas horas por dia à leitura de jornais[13]. Possuimos, além disso, uma capacidade de memorização limitada, de maneira que as fórmulas uma frase-uma ideia, e primeiro o mais importante, aumentam a eficácia da comunicação e do acto de informar

É por isso indispensável para qualquer jornalista o domínio perfeito da técnica de construção de notícias a partir de leads e pirâmides invertidas. Isso treiná-lo-á na distinção entre o essencial e o acessório, e a passar directamente dos pormenores ao coração dos acontecimentos. Apreendida a técnica, servirá não só na passagem dos acontecimentos à forma escrita, mas igualmente durante o processo de recolha de informação. O jornalista experiente é focused, sabe exactamente aquilo que pretende, o que é relevante nos factos em apreço, e por isso não se deixa conduzir pelos entrevistados nem permite que estes se esquivem às questões incómodas.

Permanecem mesmo assim por responder as críticas que versam sobre as restrições que esta forma de escrever impõe ao estilo. É verdade que aporta limitações incontornáveis, próprias da rigidez das regras de escrita, só que todas elas podem ser supridas através dos restantes géneros jornalísticos e, porque essencialmente informativa, especialmente pela reportagem ou nota de reportagem. A notícia nem sempre é o género adequado para narrar um acontecimento, e por isso existem os outros géneros, mas é perfeita para veicular certo tipo de informações.

 Depois, mesmo aplicando as regras, não há limites para a criatividade de um jornalista na produção de uma boa notícia, e pode passar-se uma vida inteira a apurar e aperfeiçoar a riqueza, clareza, precisão e concisão da linguagem jornalística, sempre obedecendo às mesmas regras. Ou, de outras vezes, porque não, quebrá-las? Sem dúvida. Algumas. Só que não é possível subverter, ultrapassar ou melhorar uma técnica sem antes a dominar perfeitamente.

É claro que nem todos os jornais, em todos os momentos, aplicam exclusivamente esta técnica de construção de notícias. O estilo é muito popular na imprensa anglo-saxónica;  na europeia, imprensa francesa por exemplo, é condimentado com outras técnicas[14].

Outras estratégias podem ser seguidas na construção da notícia. Pode-se ir “alimentando” o leitor com dados importantes o longo de toda a peça, tentando manter vivo o seu interesse. Outra técnica é poupar dados de grande interesse para o parágrafo final da notícia, fechando como num soneto, com “chave de ouro”. Também é possível criar suspense no lead, suspense que não se resolve imediatamente no parágrafo a seguir, mas só depois de oportunamente se ter espicaçado a curiosidade do leitor. Especialmente cara à resportagem, mas não exclusiva, é a construção do texto na forma de sucessivas pirâmides invertidas, nas quais os temas se encontram ordenados logicamente e separados por subtítulos.

                                                         Título

                                                         Lead

                                                                                 

                                                         Subtítulo                                  

 

                                                                Subtítulo  

 

 

 

Com ou sem regras estritas, que podem ser um convite à inovação e originalidade, a plasticidade da linguagem permite a renovação interminável das formas. A conformidade ao lead e à pirâmide invertida não é incompatível com a pertinência, precisão de linguagem, estilo vivo e nervoso, prosa criativa e original que devem caracterizar toda a notícia. Por tudo isto, para concluir: no Urbi et Orbi nenhum jornalista faz notícias de outra maneira antes de as saber fazer desta.

 

           

5.1.5. Estilo codificado: vantagens e desvantagens

 

            A estruturação das notícias de acordo com a técnica tradicional - lead, pirâmide invertida, blocos - apresenta vantagens e desvantagens, sendo que a maioria dos profissionais admite que as primeiras suplantam largamente as segundas.

            As vantagens prendem-se com a “naturalidade”, devido à forma da narração estar muito próxima da forma como conhecemos e contamos uma história; a facilidade de leitura e memorização dos elementos mais importantes da notícia; o facto de informar eficientemente o leitor apressado e servir à captação do seu interesse; e de se adaptar com facilidade às necessidades de edição e paginação de qualquer jornal.

            Como instrumento de trabalho é um dispositivo poderoso nas mãos do jornalista. É uma técnica de codificar a realidade, mas também de a “descodificar”, de ler imediatamente os sinais importantes de um acontecimento e saber distingui-los do acessório. Também  permite ao jornalista, por mais desfavoráveis que sejam as circunstâncias, narrar um facto com correcção jornalística, por maiores que sejam as pressões que enfrenta.

            Essas pressões, no sentido de contingências que afectam a realização da notícia, podem ser muitas e variadas. As mais comuns prendem-se com limitações de ordem temporal - as rotativas têm horas para começar a funcionar, os acontecimentos não. Acresce que a atribuição da impressão a empresas exteriores ao jornal tende a agravar a inflexibilidade da “hora de fecho” porque tais empresas não imprimem um mas muitos jornais e não podem pôr em perigo os interesses dos restantes clientes.  Por tudo isto, 15 ou 20 minutos para redigir uma notícia de última hora - por exemplo um acidente de onde o jornalista acabou de chegar - não é, na Redacção de um diário, uma situação fora do normal. Mas há mais:

 

extremo cansaço físico (na cobertura de sinistros ou desastres naturais); uma noite em branco a caminho do local de um desastre depois de um dia de trabalho; jet lag; situações de perigo físico ou stress de guerra; condições de alojamento e alimentação deficientes — a lista é praticamente interminável. A técnica de redacção de notícias, que se torna um dispositivo quase automatizado, assegura ao jornalista que, mesmo em circunstâncias tão adversas, ele consegue reportar os factos, se não da melhor forma possível, pelo menos de forma aceitável e jornalisticamente correcta.

            E este é também o seu calcanhar de Aquiles. As rotinas e os automatismos podem facilmente resvalar para uma forma “preguiçosa” de fazer jornalismo, que repete até à exaustão fórmulas que o tempo desgasta e já despojou de todo o interesse. É o caso do lead cronológico reiterado ad infinitum, qualquer que seja o facto que lhe subjaz, uma falha muito comum, que retém a aparência de notícia, mas não a sua essência:

 

“ Realizou-se ontem, pelas 19 horas, a segunda Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia de Serrotes de Baixo ...”

“Decorreu ontem...”

“Os empresários da Região Centro reuniram ontem...”

“O ministro X anunciou ontem...”

 

            São aberturas de leads perfeitamente soporíferas que pretendiam relatar acontecimentos excitantes, cheios de vida e interesse: uma Assembleia Geral de uma Misericórdia em que os irmãos andaram à estalada por causa de dinheiro; a abertura de um congresso de médicos sobre a dor crónica; o boicote de uma importante associação de empresários a medidas do Governo; o anúncio de que o Serviço Nacional de Saúde vai ser privatizado...

            Uma boa parte dos defeitos que se assacam à técnica da pirâmide invertida são acidentais, derivam do mau uso da técnica por maus profissionais, e não intrínsecos a esta forma de fazer jornalismo. Por isso o Urbi et Orbi adopta-a como forma básica de veicular notícias directas, sem prejuízo do cuidado posto nos outros géneros.

           

            “Por mais respeitáveis que sejam os argumentos dos seus detractores, a verdade é que o sistema do lead e da pirâmide invertida possui potencialidades que seria um erro menosprezar. Trata-se de uma fórmula cuja aplicação não só imprime rapidez à transmissão de informações e clareza à exposição das ideias, como permite escrever depressa e ajustar os textos aos espaços disponíveis nas páginas (...) Quando são elaboradas em conformidade com aquela técnica, as peças jornalísticas adquirem uma estrutura sui generis, que as distingue da generalidade das obras de ficção literária: ao passo que, nestas, a narração se desenvolve cronologicamente e num crescendo de tensão, até ao clímax final, naquelas o relato começa pelo desfecho da história ou pela condensação do que nela há de inédito e interessante. Por outro lado, o ritmo especial que a valorização da actualidade confere aos textos, torna-os imediatamente reconhecíveis como produto da actividade jornalística”[15].

 

 

5.2. Títulos

 

            Os títulos anunciam o texto jornalístico que encabeçam, e são aquilo que em primeiro lugar o leitor apreende quando se debruça sobre as páginas de um jornal. O leitor típico vai viajando de título em título até encontrar algo que lhe prenda definitivamente a atenção, ou corresponda aos seus interesses quotidianos: aí detém-se, prosseguindo a leitura da notícia. Nenhum jornalista desconhece a importância da arte de titular e, também, as dificuldades que a construção de um bom título apresenta.       

            O título é sempre o mais delicado e o mais difícil de obter numa peça jornalística. Um bom truque consiste em deixá-lo para o fim, para depois de se ter concluído a peça, altura em que o jornalista domina perfeitamente o seu conteúdo. Por vezes isto basta. Ou então fazer uma pausa e pensar noutra coisa depois de terminado o trabalho — uma forma de não menosprezar o poder e a permanente vigília do subconsciente, que às vezes, surpreendentemente, oferece prendas inesperadas.

            Descrever as funções e principais características do título, e ainda fixar algumas das regras a que a sua construção deve obedecer é tudo quanto um manual pode fazer pelo jornalista. A consecução de títulos brilhantes, bons, maus, razoáveis, péssimos, ou geniais é um acto criador solitário, com resultados muitas vezes desiguais, que cada jornalista tem de enfrentar sozinho.

            Um título, se não necessita sempre de ser directo e imediatamente informativo, deve, mesmo na reportagem, reter algo dessa característica. O título tem de ser concreto e estar relacionado com o assunto de que fala o texto, informando directamente, levantando pistas sobre o que vai ser revelado, ou, simplesmente, brilhando pela sua oportunidade ou originalidade.

 

Morreu o escritor Graham Greene

ou

Our man in heaven

 

título que abria a reportagem do Expresso sobre esse assunto,  são respectivamente, um correcto título noticioso e um brilhante título de reportagem — atente-se que ambos dizem exactamente a mesma coisa, e que o conteúdo informativo, que não o brilho da fórmula, é idêntico.

 

            Isto para dizer que, sem prejuizo da mais intensa liberdade e criatividade, o título tem de ter relação com aquilo que titula; aportar, pelo menos, vestígios de informação; e, sobretudo, ser perceptível para a generalidade do público a que se dirige. Isto é, os títulos não devem ser herméticos, enigmáticos, elucubratórios, pedantes, acessíveis apenas ao seu autor e ao Altíssimo.

            “Consideramos bom o título que prende a atenção de todos os leitores, quaisquer que sejam os seus particulares interesses, gostos e hábitos de cada um, ou seja: o que salta à vista e, ao mesmo tempo, se revela ‘suficientemente explícito para que toda a gente o compreenda com facilidade, e misterioso q.b. para suscitar o desejo de obter mais informações’ sobre a matéria que apregoa”, diz Daniel Ricardo[16].

            Temos pois que os títulos, os quais, juntamente com as fotografias, são a primeira coisa, e por vezes a única, a que o leitor atenta no jornal. O título serve assim para informar, cativar, prender o leitor, despertando a sua atenção e curiosidade. Um mau título, como um mau lead, pode matar a melhor peça jornalística.

            As dificuldades de elaboração de um bom título emergem da necessidade de reunir numa única frase alguma informação, a “essência” do texto a que se reporta, e fazê-lo numa fórmula poderosa, cheia de ritmo, brilho e nervo, e que deve ainda permanecer fiel ao texto que titula. “O título deve possuir um ritmo próprio e um equilíbrio interno que o tornem, simultaneamente, apelativo e esclarecedor” resume Silva Araújo[17].

            Apesar da intenção declarada de cativar o leitor, a regra de ouro de todo o título é nunca o enganar, prometendo em título mais do que aquilo que se tem para lhe oferecer. O resultado disso são títulos gritantes e sensacionalistas que defraudam e frustram os leitores. O título deve respeitar rigorosamente o texto a que se reporta, e nunca insinuar — por exemplo, através da descontextualização de uma frase — elementos que a peça não contemple.

 

            Os títulos, antetítulos e subtítulos desempenham ainda uma função estética nas páginas dos jornais, ajudando a quebrar a monotonia das extensas colunas de texto, demarcando a arrumação dos próprios textos, e servindo ao equilíbrio gráfico da página.

           

            No Urbi et Orbi os títulos não podem exceder as duas linhas; excepto em chamadas da primeira página a uma coluna, nas quais o título pode ocupar até quatro linhas. Todos os títulos são precedidos de um antetítulo, em corpo de letra menos destacado, o qual nunca pode exceder uma linha de texto. Nos textos em que a sua extensão o justifique serão colocados subtítulos a negro, com um máximo de 25 batidas por linha, e ocupando até duas linhas.

            Além disso, para o Urbi et Orbi a primeira palavra do título inicia com caixa alta, e as seguintes — observadas as regras sobre este tema do capítulo “Convenções tipográficas” — sempre que aplicável com caixa baixa.

            Duas linhas é pois a extensão máxima permitida para um título de uma peça, embora estes possam ter só uma linha. No caso da primeira página, em que a apresentação gráfica dos trabalhos é outra, são admissíveis, quando paginados a uma coluna, títulos com até quatro linhas — mas em tal caso, isto é, sempre que se ultrapassem as duas linhas, deve prescindir-se de antetítulo.

            Uma palavra apra os antetítulos: tratam-se de uma linha de texto em corpo muito menos destacado que o do título, e que o precede na abertura de uma peça. O antetítulo completa o título, fornecendo elementos preciosos para a sua inteligibilidade, já que a condensação a que o título obriga nem sempre permite a contextualização imediata e o enquadramento daquilo de que fala. O antetítulo retira ao título a obrigação de dizer tudo, permitindo a utilização neste de fórmulas mais breves, e portanto mais vigorosas e expressivas. No Urbi et Orbi a sua utilização deve constituir a regra, a ausência uma excepção.

            O título deverá ser, em geral, eminentemente informativo, condensando a informação incluída no lead. Todavia, nunca é demais dize-lo, neste aspecto o seu carácter é essencialmente ditado pelo acontecimento e pela forma que se escolheu para o narrar — leads retardados pedem títulos onde a criatividade e as preocupações estéticas  brilhem mais que a informação.

            “A brevidade e a vivacidade do título permitem certas violências gramaticais. Todavia, deverá conter , expressos ou implícitos, sujeito, predicado e complemento (directo ou indirecto). Quanto a outros elementos da frase, nomeadamente algumas partículas e artigos, devem ser retirados”, acrescenta Silva Araújo[18].

            Os títulos devem ser construções afirmativas, preferencialmente com o verbo colocado no presente do indicativo. Por princípio desaconselha-se a utilização de títulos negativos — o leitor quer saber o que aconteceu, e não o inverso — e interrogativos, que sugerem que o jornal veicula rumores ou boatos.

 

António não foi condenado

pelo Tribunal da Boa Hora

 

uma construção negativa, não é a mesma coisa que

 

António Cunha absolvido

pelo Tribunal da Boa Hora

           

            A excepção que pode admitir-se ao emprego da forma negativa num título e quando se reporta a situações em que a partícula não “causa comoção ou alívio”:

 

 

Portugal não entra na III Guerra

Tufão não atinge os Açores

 

mas este último título poderia igualmente ser construído de forma positiva:

 

Tufão passa ao largo dos Açores

 

            Por regra, jamais se utiliza o ponto de interrogação num título: o jornal informa, responde às perguntas dos leitores, tira a limpo rumores, e prtanto não os veicula. A única possibilidade — sempre excepcional — de produzir um título interrogativo é quando o ponto de interrogação, em vez de se reportar ao conteúdo informativo da notícia, assinalando dúvida ou desconhecimento, tem propósitos estéticos.

 

 

Sondagem revela: 80 desconhecem 2001

Porto dois mil e quê?

 

mas jamais

 

Soares é candidato?

           

            O jornal tem obrigação de saber se Soares é ou não candidato, e em que pé estão as negociações nesse sentido. Na eventualidade de nem o próprio Soares saber se é candidato, o título informará de forma positiva esse mesmo facto:

 

Contra a oposição da ala esquerda do PS

Guterristas querem Soares

 

            Da mesma forma que não se produzem leads genéricos, também não se fazem títulos demasiado gerais. Em vez de:

 

Conselho de Ministros toma importantes medidas

 

deve escrever-se:

 

Por decisão do Conselho de Ministros

Gasolina aumenta a partir de Janeiro

 

            Os títulos, da mesma forma que os períodos e as frases, nunca podem iniciar por algarismos. Quando for necessário empregá-los dessa forma, o número deverá ser escrito por extenso. Assim:

 

Seis milhões de contos para os têxteis

 

e nunca

 

6 milhões de contos para os têxteis

 

            É proibido o uso de parêntesis, de ponto e vírgula e de ponto final nos títulos, bem como de reticências, as quais, mais uma vez, deixam em suspenso o que se quer dizer, como quem lança um boato, levanta uma dúvida ou tem uma piada para contar. Os títulos informam, agarram e atraem, não criam dúvidas, não são engraçados nem contam anedotas.

 

Águia mostrou... as garras

 

            É título que poderia facilmente ser corrigido por um editor atento — as reticências, como quase sempre, deveriam muito simplesmente ter sido omitidas.

            Nos títulos, os sinais de pontuação devem ser reduzidos ao estritamente indispensável e, sempre que possível, eliminados. Em todo o caso, são admissíveis, com conta, peso e medida, a vírgula, o travessão e os dois pontos.

            Os títulos não fazem trocadilhos, não brincam com as pessoas ou com os cargos que ocupam, nem servem para mandar recados. Ainda que pressionado pelo tempo o jornalista possa achar tais opções acertadas no momento, elas são de mau gosto, e é penoso que só venha a aperceber-se disso, e a arrepender-se, depois do texto publicado.

Há também regras para a partição dos títulos, que seguem o seguinte princípio: não devem ficar partículas ou elementos lógicos “pendurados” numa linha de título. As linhas dos títulos não devem terminar em artigos definidos ou indefinidos, preposições ou locuções prepositivas — os elementos de ligação que sustentam a frase “caem” sempre para o início da linha seguinte, de forma que a anterior represente sempre uma unidade lógica, e não um dispositivo que apresenta ideias aos soluços.

 

“Agora vamos trabalhar para

completar a reforma fiscal”

 

            É um título errado porque “para” deveria ter sido remetido para a linha seguinte.

 

            Pela mesma razão, um título pode ser partido num verbo, mas só em determinados casos.  É sempre errado proceder à partição dos títulos em verbos de ligação, também chamados copulativos. O verbo de ligação por excelência é o verbo se, mas existem muitos outros, como tornar-se, estar, ficar, permanecer, parecer, aparecer, etc...

            A partição dos verbos transitivos — aqueles que expressam uma acção que incide sobre um sintagma nominal que sedempenha a função de complemento directo — requer alguns cuidados: há casos em que é possível, outros em que resulta deselegante. Os verbos intransitivos apresentam muito menos problemas já que são sempre passíveis de partição — tratam-se dos verbos que não são acompanhados de sintagma nominal, e cujo sentido é “pleno” assim que são enunciados: nasceu, chorou, morreu...

            Proibido igualmente é partir os títulos a meio de nomes próprios:

 

Sofinca compra Jardim

Público da Covilhã

ou

Gomes critica Fernando

Lemos de Freitas

ou

Investimento do Banco

de Portugal cresce em 99

 

Outro erro a evitar é abrir o título com um verbo, deixando o sujeito subentendido:

 

Vão demolir o Coliseu

ou

Despediram cem trabalhadores

em vez de

Lisnave despede cem trabalhadores

ou

IURDY projecta

demolir o Coliseu

 

            Deve também, por razões estéticas, respeitar-se uma certa proporção entre as linhas que compõem o título, procurando que a sua extensão seja equilibrada de forma que o conjunto não seja graficamente chocante. É errado escrever:

 

Inês Monteiro sagrou-se campeã da Europa

em corta-mato

 

Podendo dizer-se exactamente o mesmo da seguinte forma:

 

Inês Monteiro sagrou-se

campeã europeia de corta-mato

 

            É também um erro repetir palavras no mesmo bloco antetítulo-título, bem como repetir palavras em títulos que fiquem situados na mesma página ou em páginas contíguas par-ímpar. O efeito deste erro, que cumpre ao editor não cometer já que é ele quem centraliza todos os textos e os distribui nas páginas, é tornar a leitura monótona e mesmo desagradável.

            Há duas razões para isto: devido ao corpo utilizado ao titular, que é de grande destaque, essas repetições “berram” de forma ensurdecedora na página, mesmo que atentemos apenas ao seu aspecto gráfico; e também devido ao facto de o leitor, numa página, apreender todos os títulos de relance — é o que lê em primeiro lugar —, e só depois se deter então nas peças que lhe interessam.

            Os títulos têm de evitar repetições de palavras, rimas, cacofonias ou sons chocantes, cujo efeito em título é muito desagradável; e ainda chavões, lugares comuns e expressões com duplo sentido.

            Igualmente, os títulos abster-se-ão de utilizar gíria, calão, ou expressões desprimorosas e chocantes, excepto quando o conteúdo informativo de tais expressões o justifique

 

“Bardamerda para o Estado”

 

da boca de um Presidente da República é uma expressão deste género de conteúdo informativo riquíssimo. De igual forma a expressão:

 

“Até os comemos!”

 

de um candidato a um cargo político de sufrágio directo, referindo-se aos seus opositores, tem indubitavelmente carácter noticioso e é de interesse público reproduzi-la. 

            Agora, como é evidente, quando num título se recorre a uma citação ou opinião, o autor da mesma deve ser identificado no antetítulo, sob pena de se prejudicar a credibilidade do jornal, que assumiria como seu o conteúdo de tal título.

            Os títulos, como aliás os textos — embora em título o erro seja mais grave porque lhe aumenta a visibilidade — não devem generalizar raças, etnias, nacionalidades ou profissões, excepto quando tal se reporta a atitudes colectivas de tais grupos:

 

Espanhóis referendam regiões administrativas

 

Médicos anunciam greve de zelo

 

mas já não deve utilizar-se

 

Juiz mata mulher e amante

ou

Cigano ateou incêndio da Capinha

 

            Por mais brilhante que seja um título, ele deve estar de acordo e em harmonia com o estilo da peça jornalística que encabeça; e ainda, adequar-se perfeitamente à secção do jornal onde vai ser inserido. “Os títulos devem reflectir o tom das peças a que se referem: serão circunspectos, frios, emotivos, optimistas, jocosos, sarcásticos, etc., consoante a forma como os redactores abordam os acontecimentos, a natureza das declarações recolhidas pelos entrevistadores e as diversas personalidades das pessoas entrevistadas. As áreas de publicação às quais se destinam os textos, representam, igualmente, referências indispensáveis a uma correcta titulação”[19].

 

            Silva Araújo acrescenta ainda aos defeitos dos títulos, os efeitos perversos e o mau gosto dos trocadilhos, dando como exemplos:

 

Cardeal cai no conto do vigário

Vida de bombeiro é fogo

           

 

            A obrigação de nunca utilizar chavões genéricos para titular acontecimentos:

Lamentável acidente

Choque de veículos

Caso a esclarecer

 

                        E, não resisto a transcrever, o inigualável: “Títulos como:

 

Da burrice do Samora

à pulhice dos traidores

 

são de evitar”[20].



10. “Deixar cair” uma notícia ou assunto é desinteressar-se dele, dando-lhe menos relevância que a que tivera em edições anteriores do jornal ou, pura e simplesmente, não o noticiando.

[11] . Daniel Ricardo, pp. 12-13

[12] . Hard  e soft news é uma distinção com origem no jornalismo anglo-saxónico, utilizada também pelo Livro de Estilo da Lusa. 

[13]. Em França a média de tempo dispendida na leitura de toda a imprensa é de 37 minutos. In Boucher, Jean-Dominique, 1994, A Reportagem Escrita, col. Técnicas da Jornalismo, Editorial Inquérito, Mem Martins.

 

[14]. Mais uma vez a origem histórica desta forma de construção parece ter a ver com razões técnicas. Os jornais que não tratavam as notícias em forma de pirâmide invertida eram aqueles em que a maquete - diagramação das páginas - era feita antes da chegada dos textos, e portanto o jornalista antes de saír para um serviço sabia com toda a precisão o número linhas que podia escrever, e nunca havia necessidade de “aparar” textos. Maior liberdade? Talvez sim, ou não, já que independentemente da qualidade que o acontecimento viesse a revelar durante o trabalho de campo, o jornalista estava limitado a um determinado espaço.  Hoje a paginação electrónica, com a rapidez e flexibilidade que oferece, já não obriga, por razões meramente técnicas, à utilização rígida da pirâmide invertida.

[15]. In Daniel Ricardo, Op. cit., p. 20. Ricardo observa também que ao lead “ainda ninguém propôs uma fórmula alternativa consistente“ e, citando Lago Burnett, “Não façamos a revolução às avessas para regredir aos velhos dogmas de uma escola superada”, no caso o regresso ao nariz de cera em uso no início do século. Ibidem, p. 19.

[16]. Op. cit., p. 53.

[17]. Araújo, Domingos Silva, 1988, Vamos falar de Jornalismo, Direcção-Geral da Comunicação Social, Lisboa, p. 88.

[18]. Ibidem, p. 88.  

[19]. Daniel Ricardo, Op. cit. p. 58.

[20]. Silva Araújo, Op. cit., p. 109.