Sumário
APRESENTAÇÃO , INTRODUÇÃO, 1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA, 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, 2.1. DIZER E NÃO DIZER, 2.2. NOTÍCIAS E APARÊNCIAS, 2.3. DESEJO E PODER NO DISCURSO, 3. A REPORTAGEM, 3.1. O DITO, 3.2. FATOS QUE REMETEM AO NÃO DITO, 4. O NÃO DITO, CONCLUSÃO, Referências bibliográficas
PRÓLOGO
É instigante trazer à discussão um trabalho
que ultrapassa os limites da retórica tradicional, e objetiva analisar
as figuras de linguagem presentes em diferentes tipos de discurso. Esta
obra de Antonio Francisco de Freitas, efetua uma análise de um importante
momento histórico deste país. É fruto de um tempo
de maturação, de uma vida diversificada no jornalismo, e
de riqueza vivenciada no Curso de Pós-Graduação.
Estamos em uma sociedade em que os meios de comunicação
nos bombardeiam com imagens, símbolos e sons, como elementos interagentes
de um grande sistema. A percepção das mensagens veiculadas
pode patentear-se, tanto em nível consciente, quanto em nível
inconsciente. Freitas, em uma linguagem descontraída, analisa essas
mensagens, de forma clara e precisa, em capítulos bem concatenados,
desvelando os elementos significativos explícitos e implícitos;
e as intenções das fontes e dos codificadores.
A obra - Análise do discurso jornalístico - caso
Tribuna de Alagoas: os pressupostos e subentendidos na reportagem Dossiê
Explosivo - está repleta de teias de relações
e interesses, que motivam os textos jornalísticos, e os princípios
éticos (aéticos), norteadores do dia-a-dia das redações.
Este trabalho merece destaque pela coragem de enfrentar, nestas
paragens, temática tão delicada, pelo fato de não
analisar o discurso do ponto de vista da estética nem como recorte
do mundo, mas sobretudo por abordar os mecanismos utilizados para manipular
as mentes. Sua investigação evidencia realidades que transcendem
a materialidade dos conteúdos das mensagens simbólicas. Esse
fato lhe assegura ter realizado uma tarefa formidável, como contribuição
para o progresso de todos aqueles que resolverem estudar as mensagens subliminares.
Podemos afirmar que o pré-requisito de uma democracia passa por
um público bem informado.
Antonio Francisco de Freitas consegue oferecer ao leitor uma obra
densa, cheia de novidades e muito útil para a compreensão
da realidade jornalística nacional, justamente, por analisar o discurso
de jornalistas e de políticos. Este "Dossiê Explosivo" é
dirigido não apenas aos comunicadores, mas a todos aqueles que detêm
ou almejam deter poder. Resta atentar, pois, para o fato de que o discurso
é uma verdadeira arma de poder.
Maceió, Maio de 1999,
Carlos Eduardo de Moraes Dias, Doutor em Ciências da Comunicação
- ECA/USP, Professor do DECOS/UFAL
Toda pesquisa de análise discursiva remete à história
e às condições de produção dos enunciados
e das enunciações dos sujeitos sociais, razão pela
qual, este trabalho de análise do discurso da mídia tem um
caráter sócio-histórico, uma vez que, traz em si,
as marcas lingüísticas do dito e do não dito; ou seja,
dos elementos implícitos e explícitos, que, lingüística
e extra-lingüisticamente, constituíram o turbulento período
histórico da política brasileira contemporânea durante
o governo Collor.
Nele, se objetivam as relações de poder e de desejo de
poder, segundo Foucault, - relações essas que se instauraram
e se transformaram em grave corrupção no então governo
Collor, no período 90-92, e que foram agravadas ainda mais pelas
denúncias de Pedro Collor de Mello contra o empresário Paulo
César Farias - provocando o impedimento do presidente Fernando Collor.
Ao realizar este ensaio de análise do discurso da mídia
impressa, optou-se pela matéria veiculada pela revista Veja,
em sua edição de número 1.222, de 11.02.92.
Espera-se que, ao se preservar a narrativa no passado, este trabalho
estará fiel à época em que foi produzido (fevereiro
de 1992), na forma de monografia, como exigência parcial para a conclusão
do curso de Especialização em Língua Portuguesa, no
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da UFAL, tendo
como orientador o prof. Dr. Ingo Voese.
Deseja-se manter a fidelidade ao tempo histórico dos acontecimentos
para demonstrar-se como o signo e a linguagem, refletem e refratam,
no dizer bakhtiniano, as condições de produção
social, trazendo em sua materialização, nos enunciados, as
marcas das formações sociais, ideológicas e discursivas
de uma época e as relações de desejo, poder, classe
e ideologia que são instauradas através da linguagem, perceptíveis
ao se realizar a leitura do dito e do não dito.
Este ensaio tem por objetivo fazer a análise do discurso jornalístico
contido na reportagem "Dossiê explosivo", sobre o caso Tribuna
de Alagoas -, e paralelamente, levantar as reais intenções
dos enunciantes, para se compreender o dito e não dito na referida
matéria jornalística.Para se compreender o significado do
que foi dito e o que foi pressuposto ou implicitado, bem como quais foram
as reais intenções dos enunciantes, faz-se necessário
conhecer o que não foi dito, ou seja, se ler nas entrelinhas o não
dito no discurso jornalístico.Neste trabalho será feita a
análise do caso ocorrido em Alagoas - a disputa do mercado de comunicação
impressa envolvendo os empresários Pedro Collor de Mello (PC Mello),
irmão do presidente da República e Paulo César Farias
(PC Farias), ex-tesoureiro das campanhas do presidente Fernando Collor
de Mello. Pedro Collor de Mello, superintendente da Organização
Arnon de Mello - que edita o jornal Gazeta de Alagoas, afirma
que não permitirá que o empresário Paulo César
Farias implante o jornal Tribuna de Alagoas - eventual concorrente
da Gazeta de Alagoas.
Fundamento a presente análise lingüística nos estudos
de Ducrot (1977), Foucault (1971), bem como da Lógica Dialética
em Marx e áreas afins - o que permitirá ao leitor compreender
os significados literais e os significados implícitos contidos no
discurso jornalístico analisado.
Na parte inicial deste ensaio, apresento o Resumo Histórico
dos fatos analisados. Em seguida, traço a Fundamentação
Teórica que conduzirá a análise discursiva em pauta.
Posteriormente, abordo o Dito e o Não Dito: os elementos lingüísticos,
extralingüísticos (filosóficos, ideológicos,
institucionais e subjetivos) que apontam para o Não Dito.
Ao trazer à tona o não dito, busco os pressupostos implícitos
do discurso, que são classificados por Ducrot (op. Cit.) como significados
implícitos. Tais fatos discursivos ficam camuflados ou subentendidos
numa realização discursiva.
Esta análise de caso tem por objetivo levantar os pressupostos
e os subentendidos que caracterizam o não dito no discurso; e tem
como objeto de estudo o texto da revista Veja, de 11. 02. 92, edição
número 1.222, ano 25, número 8, páginas 24 e 25, que
traz a matéria com o título "Dossiê explosivo", relatando
a existência de três fitas cassete comprometedoras contra o
empresário Paulo César Farias. Tal denúncia contra
PC Farias é feita por Pedro Collor de Mello - tentando assim fazer
com que PC Farias desista da idéia de implantar o jornal Tribuna
de Alagoas.
Na matéria, PC Mello, em seus enunciados, ameaça PC Farias,
com o objetivo de intimidá-lo em relação ao seu projeto
de instalação em Alagoas não só do jornal Tribuna
como também de quaisquer outros meios de comunicação
(emissoras de rádio e tevê). Com isso, PC Mello visa manter
o monopólio da família Collor sem nenhum concorrente no estado.
O desejo da manutenção do poder e de sua ampliação
na comunidade alagoana por parte da família Collor é o fio
condutor que este trabalho procura mostrar - tendo em vista que comunicação
é poder, a família do presidente Collor deixa claro que não
pretende dividir com ninguém o poder e a hegemonia no mercado de
comunicação alagoano.
Através do canal 7, TV Gazeta (afiliada da Rede Globo,
da Gráfica e Editora Gazeta de Alagoas, do jornal Gazeta
de Alagoas, e das Rádios Gazeta AM, Gazeta FM
(Maceió) e Gazeta FM (Arapiraca, a segunda maior cidade de
Alagoas) e jornal Gazeta Arapiraca; os Collor de Mello detêm
o domínio do mercado da comunicação social no estado,
e por extensão, significativa parte do poder sócio-político-econômico
e ideológico.
Graças a esse complexo de comunicação que foi
possível se articular o lançamento de um membro da família
- Fernando Collor, o playboy de Copacabana dos anos 70, a prefeito
biônico de Maceió em 1978 pelo PDS, num acordo feito com a
elite dominante alagoana. Em troca da indicação de Fernando
Collor a prefeito, o grupo político que detinha o poder na época
teria garantido o acesso por vários anos ao complexo de comunicação
dos Collor.
Antes de terminar o mandato de prefeito biônico da capital, ele
lançou-se candidato a deputado federal pelo PDS em 1980, sendo o
deputado federal mais votado de Alagoas, graças ao poder de comunicação
da família.
Também através de acordo para continuar permitindo o
acesso da elite política regional aos veículos de comunicação
social da família Collor, foi proposta a candidatura do então
deputado federal Fernando Collor para governador do Estado. No decorrer
das negociações, Fernando Collor percebe que uma parte da
elite política alagoana que o sustentava, basicamente filiada ao
PDS e PFL, não concordava com a sua indicação pelo
grupo, para governador.
Então, Fernando Collor rompe com seu partido, o PFL, e com parte
do grupo político que o sustentava, ingressa no PMDB alagoano "como
um simples soldado'', mas, visando com isso, garantir a legenda para sair
candidato a governador - numa articulação política
elaborada pelo então deputado federal pelo PMDB, Renan Calheiros,
que garantiu o ingresso de Collor no partido.
Novamente, em razão do poder de comunicação detido
pelos Collor, foram possíveis outras negociações políticas,
e, em poucos meses no PMDB, Fernando Collor, vindo da ex-ARENA, e passando
pelo PDS, sai como o candidato oficial do PMDB para disputar o governo
do estado de Alagoas. Assim que consolida o apoio do PMDB para sua candidatura,
a TV Gazeta passa a programar ostensivamente entrevistas com Fernando
Collor (pois ele é um dos donos da empresa), visando passar sempre
a imagem de um político jovem, sem vícios, decidido, moderno
e dinâmico.
Ao mesmo tempo, Collor também passa a fazer pequenos comentários
na programação jornalística da emissora da família,
no horário de maior audiência, sempre as 19h45, num processo
de construção de imagem e de marketing político
permanente.
Sua ida súbita para o PMDB rompeu os seus laços com parte
da oligarquia política alagoana concentrada no PDS, PFL e PTB; mas,
trabalhando rapidamente sua imagem e usando um discurso político
falsamente identificado com os interesses da comunidade, e, veiculado diariamente
através da rede de comunicação de sua família,
fez novos acordos e atraiu outros apoios.
Ao romper antigos acordos com a oligarquia local, buscou passar para
a opinião pública regional uma imagem de oposicionista aos
políticos tradicionais da terra. De olho nos votos do Alto Sertão
Alagoano, que poderiam eleger o candidato do outro grupo, segundo as pesquisas
indicavam, ele, que era divorciado, se casa relativamente rápido.
A escolhida foi uma jovem da família Malta, que há décadas
se constitui na oligarquia política e econômica daquela região.
Estrategicamente, garante com isso os votos que necessitava na região
de Canapi, Mata Grande e Inhapi, área conhecida como ''curral eleitoral
fechado'' da família Malta. Ganha a eleição, numa
campanha milionária e cria laços com os Malta.
Foi ainda a influência e o domínio na área de comunicação
da família Collor que garantiu as conexões políticas
do então governador Fernando Collor com os principais empresários
e veículos de comunicação do país a partir
de 1986.
Houve o estreitamento de suas ligações com o dono da
Globo, empresário Roberto Marinho, e com o então todo
poderoso Ministro das Comunicações do governo Sarney, Antonio
Carlos Magalhães, atual governador da Bahia. Tais pessoas apadrinharam
a sua candidatura e promoveram-na abertamente contra o candidato considerado
comunista e despreparado para levar o Brasil para o primeiro mundo, Luís
Inácio Lula da Silva, que segundo as pesquisas indicavam, iria para
o segundo turno eleitoral. Baseados nos laços de amizade que sempre
existiram entre o ex-governador e o ex-senador de Alagoas Arnon de Mello,
pai de Fernando Collor - que era amigo íntimo de Roberto Marinho,
tendo inclusive trabalhado no jornal O Globo décadas atrás
e de Antonio Carlos Magalhães, a rede Globo e o Ministro
das Comunicações assumem explicitamente a candidatura de
Collor para presidente.
Assim, o até então desconhecido governador alagoano,
passa a ser conhecido nacionalmente, com inserções garantidas
na maior rede de tevê do país, em seu horário nobre.
A sua imagem de caçador de marajás é construída
no imaginário coletivo. Num trabalho de marketing político
previamente traçado, são garantidas suas entradas gratuitamente
em rede nacional em programas como o Fantástico, o Jornal
Nacional, o programa do Chacrinha e o Globo Repórter.
Paralelamente a isso, a sua imagem também é "fabricada" em
outros importantes veículos da mídia nacional, através
de matérias pagas.
Até as novelas realizadas pela Central Globo de Produções
veiculavam a idéia da necessidade de o país eleger um "Salvador
da Pátria", nome inclusive de uma das telenovelas da época,
que tinha um personagem com as características do candidato que
o país precisava naquele momento e que a mídia estava ''vendendo'':
ele era jovem, capaz, empreendedor, comprometido com mudanças neoliberais
profundas, belo, garboso, bem falante e relativamente culto.
Outra novela "Que rei sou eu?, também trabalhou o imaginário
coletivo, remetendo o público telespectador a pensar duas vezes
antes de votar em um candidato "simplório e de origem humilde" para
governar o fictício reino de Avilã.
Através de matérias pagas em vários jornais e
revistas de circulação nacional, dentre elas a Veja,
a de maior tiragem do país, Collor foi capa por várias vezes,
fortalecendo sua imagem de "Caçador de Marajás", num trabalho
muito bem pago e elaborado de marketing político.
Com o apoio político e institucional da maior rede de comunicação
do país - a Globo, e do Ministro das Comunicações
da época, Antonio Carlos Magalhães, o governador alagoano
assumiu a liderança na disputa eleitoral, pregando a ''modernidade
administrativa", a "seriedade", a "caça aos corruptos" e o "fim
da bandalheira do governo Sarney'', temas que as telenovelas da Globo
já veiculavam nos enredos ficcionais e também nas pautas
de telejornalismo.
Todos os temas dos seus discursos eram previamente pesquisados pelo
Ibope, Instituto Gallup e usando ainda os trabalhos "gratuitos"
da agência de publicidade Setembro, sediada em Belo Horizonte
e do Instituto Vox Populi - também ligado à agência
Setembro, ambas empresas pertencentes ao filho de seu cunhado Marcos
Coimbra (embaixador e atual secretário particular da Presidência
da República). Com discursos baseados em temas previamente encomendados
e ''plantados'', com o apoio do complexo Globo e com muito dinheiro
de origem obscura, Fernando Collor chegou ao Palácio do Planalto.
Atrás da ascensão de Fernando Collor está o enigmático
empresário Paulo César Farias, o PC Farias, que mesmo não
tendo nenhum cargo público é o "cidadão comum" que
detém o maior poder na esfera pública nacional.
Paulo César Farias, ou PC Farias, como é conhecido nacionalmente,
foi o ''homem forte" ou "homem cofre" de Collor em suas campanhas para
deputado federal, governador de Alagoas e para presidente da República,
ao assumir as funções de tesoureiro de Collor. A principal
empresa de PC Farias, a Tratoral, ligada à revenda de tratores
e equipamentos agrícolas estava falida e envolvida na emissão
de notas fiscais frias; na venda fictícia de tratores para usinas
alagoanas através do crédito rural e envolvida em elevadas
dívidas com o Banco do Brasil.
Após assumir a função de tesoureiro da campanha
de Collor a governador de Alagoas, sua empresa saiu da falência e
começou a diversificar seus investimentos. Seus negócios,
que já caminhavam bem após ter sido tesoureiro de Collor
na campanha a governador de Alagoas, ampliaram-se muito mais depois que
foi tesoureiro de Collor para a presidência.
O seu nome, que constava inclusive na lista negativa do Banco Central,
que o impedia de ter contas ou operar com a rede bancária nacional
foi excluído da "lista negra" do Bacen.
Paulo César Farias foi o responsável direto para levantar
recursos junto ao empresariado nacional para a campanha de Collor, e coincidentemente,
nesse mesmo período, sua riqueza, segundo a imprensa, passa a crescer
cada vez mais, enquanto o país se afunda na recessão e os
empresários têm seus patrimônios reduzidos.
Sabendo do valor estratégico de possuir meios de comunicação
para consolidar o poder, PC Farias, hoje um dos empresários mais
ricos do país, passa a se interessar em estruturar uma moderna rede
de comunicações em Alagoas, contando com o beneplácito
do amigo-presidente, Collor.
Em sendo consumado seu projeto, ele será o principal concorrente
da Organização Arnon de Mello em Alagoas.
Já instalou a estrutura física do jornal Tribuna de
Alagoas, cuja empresa jornalística conta com o que há
de mais moderno na tecnologia de ponta para a produção de
jornal - e segundo especialistas, se o jornal vier a ser efetivamente implantado,
será um dos mais modernos do país. De acordo com dados extra-oficiais,
já foram investidos cerca de 7 milhões de dólares
no projeto Tribuna, algo em torno de 15 bilhões de cruzeiros.
Ele pretende ainda instalar a TV Tribuna e já protocolou
através de seu irmão, deputado federal Augusto César
Farias, do PRN, junto à Secretaria Nacional de Comunicação,
o pedido de 11 canais de rádio para a família e "amigos"
em Alagoas. Ao mesmo tempo em que pretende lançar o jornal Tribuna
de Alagoas, visa paralelamente articular a candidatura de seu irmão
Augusto César Farias a prefeito de Maceió, tendo o jornal
Tribuna como suporte de comunicação. Futuramente,
visará influir na eleição para governador, tendo seu
próprio complexo de comunicação e trabalhar pela eleição
das pessoas ligadas ao seu grupo político ou familiar.
Tais desejos de PC Farias desencadearam o ataque verbal de PC Mello,
contrário à entrada de PC Farias no setor da comunicação
em Alagoas. A guerra pelo domínio da comunicação e
com isso o fortalecimento do poder político no estado é a
base dessa disputa. Esta análise pretende apontar as razões
dos enunciados contidos na reportagem da revista Veja, que se constitui
no corpus deste trabalho. Para tanto, parte-se do pressuposto de
que o não dito do discurso jornalístico em pauta aponta mais
claramente as razões do que foi dito.
A fundamentação teórica que delimitará os
conceitos deste trabalho terá como base a pressuposição
e o subentendimento que aparecem no interior da língua. Também
será de extrema importância os elementos da filosofia analítica
inglesa, conhecida também como a "escola de Oxford", cujos dados
são extraídos do trabalho de Ducrot (1977), que utiliza os
princípios do implícito e dos pressupostos para levantar
o não dito no discurso.
Através do que foi dito é sempre possível se chegar
ao não dito, cujas pressuposições e implicitações
estão contidas de forma velada ou camuflada em qualquer discurso.
A língua, na concepção de Ducrot (1977-1987),
perde o caráter de um simples código, ultrapassando a visão
saussuriana, pois ela não é constituída de significados
restritos e homogêneos; ela não é um instrumento de
comunicação fechado. A língua é muito mais
do que isso "... ela será considerada como um jogo, ou melhor, como
o estabelecimento das regras de um jogo que se confunde com a existência
cotidiana", frisa Ducrot (1977, p.12).
Ele observa que se a língua for aceita como um simples código,
está se admitindo de antemão que todos "...os conteúdos
expressos graças a ela são exprimidos de maneira explicita
(...) assim, o que é dito no código é totalmente dito,
ou não é dito de forma alguma", Ducrot (op. Cit., p.13).
O que não é verdade, pois existe o implícito, que
supera a língua como código. Ele afirma ainda que a língua
não é um código, pois "...muitas vezes temos necessidade
de, ao mesmo tempo, dizer certas coisas, e de poder fazer como se não
tivéssemos ditos: de dizê-las, mas de tal forma que possamos
recusar a responsabilidade de tê-las dito".
Isso acontece, lembra Ducrot (op. Cit., p.13), devido ao fato de que
em toda sociedade, mesmo naquelas tidas como mais liberais ou livres (aparentemente),
há um conjunto não negligenciável de tabus lingüísticos.
Tabus esses não especificamente quanto ao sentido lexicográfico
e sim devido à existência de temas inteiros proibidos e protegidos
por "uma espécie de lei do silêncio (há formas de atividades,
sentimentos, acontecimentos, de que não se fala)", aponta Ducrot
(op. Cit., p. 13) ao abordar o assunto.
Não bastasse isso, ele explica que há para cada locutor,
em cada situação particular, diferentes tipos de informação
que ele não tem o direito de dar, - não porque haja alguma
proibição no ato de fala e sim porque a atitude seria tida
como repreensível. Em razão disso, justifica Ducrot (op.
Cit., p. 15) "...recorre-se para as formas implícitas de expressão,
pois permitem deixar entender sem acarretar responsabilidades de ter dito".
Toda enunciação explícita ou afirmação
explicitada é aberta e passível de discussões, fazendo
com que tudo o que é dito seja passível de contradição,
daí o jogo lingüístico entre os falantes se fazer com
o implícito - que não permite uma contestação
imediata por parte dos interlocutores.
Para Ducrot (op. Cit., p. 15), existem duas categorias básicas
nos procedimentos de implicitação:
a) O "implícito do enunciado", onde o locutor, através
do jogo silogístico procura construir um discurso baseado em premissas
nem sempre verdadeiras; vez que o locutor poderá fazer uso de jogos
que digam mais respeito às convenções oratórias
do que à lógica.
Tais premissas fazem parte da organização interna do
enunciado, o que para ele consiste em deixar não-expressa uma afirmação
que é necessária para a compreensão ou a coerência
do enunciado, criando assim uma lacuna no encadeamento das proposições
explícitas. Só o destinatário neste caso, é
chamado a preencher a lacuna.
b) A outra categoria nominada por Ducrot (op. Cit., p. 16) é
o "implícito fundado na enunciação" ou o "subentendido
do discurso", uma vez que o ato
(...) de se tomar a palavra não é, com efeito, ao menos
nas formas de civilização que conhecemos, nem um ato livre
nem um ato gratuito. O ato não é livre pelo fato de que certas
condições devem ser satisfeitas para que se possa ter o direito
de falar e falar desta ou daquela maneira".
O ato de falar também não é gratuito, esclarece
Ducrot (op. Cit., p. 16), pois toda fala apresenta-se como ''motivada,
como respondendo a certas necessidades ou visando a certos fins".Por que
o sujeito falou como falou, quais as suas reais intenções,
quais os pontos objetivos, os subjetivos e intersubjetivos contidos em
seu discurso? São indagações que vêm à
mente para se compreender a enunciação do sujeito. Quem disse
o quê? Com que intenções? Por que disse de tal maneira
tal coisa? O que não disse? São perguntas básicas
que necessitam de respostas para quem se dispõe a analisar um discurso.
Devido a isso Ducrot (op. Cit., p. 17) cita que "...o implícito
não deve ser procurado no nível do enunciado, como um prolongamento
do nível explícito, mas num nível mais profundo, como
uma condição de existência do ato de enunciação".
Ressalta ainda que todo ato de fala é motivado e que não
se fala simplesmente por falar; sempre existe um interesse em jogo, interesse
esse que pode ser do locutor, do destinatário ou de um terceiro
qualquer; razão pela qual deve-se indagar sempre quais os motivos
que levaram o locutor a falar.
Salienta também que em todos os casos ou atos de fala existem
uma significação implícita (Si) superposta a uma significação
literal (Sl), assim, o locutor beneficia-se da eficácia da fala
e da "inocência do silêncio". Dessa forma, o locutor restringe
sua responsabilidade apenas à significação literal
(Sl) do enunciado, ficando a significação implícita
(Si), sob a responsabilidade do ouvinte.
Tal raciocínio também pode ser aplicado no conteúdo
dos objetivos dos enunciados, pois neste caso, o lingüista Ducrot
(op. Cit., p. 20) ressalta que o "implícito é o que os fatos
implicam: ele me disse x: ora, x implica y ; logo, ele me disse y".
O implícito também pode aparecer, no caso dos subentendidos,
no próprio ato da enunciação, conforme Ducrot (op.
Cit.) explica, "neste caso, o implícito que tornou a fala possível:
ele me disse x, ora, não se diz x a não ser y; logo ele quis
dizer y".
Ele observa ainda que o implícito nunca é encontrado
e sim reconstituído. Para tanto, é fundamental utilizar-se
dos conceitos de "implicitação como manifestação
involuntária", e das "manobras estilísticas", que permitem
ao locutor gerar certas opiniões no destinatário, sem no
entanto correr o risco de formulá-las, "permitem portanto, fazer
sem ter dito", observa Ducrot (op. Cit.). Motivo pelo qual, para se compreender
um discurso, se faz necessário conhecer os elementos da ''retórica"
que dão caráter conotativo ao discurso.
Para uma melhor compreensão deste trabalho - do que foi dito e das intenções dos enunciantes em suas enunciações (que levam ao não dito), vale ressaltar o que diz Mainguenau (1989):
a) "... é preciso levar em consideração outras
dimensões; a AD relaciona-se com textos produzidos:
-no quadro de instituições que restringem fortemente
a enunciação;
-nos quais se cristalizam conflitos históricos, sociais, etc.;
-que delimitam um espaço próprio no exterior de um interdiscurso
limitado".
Outra observação é para que se atente aos elementos
do discurso, pois a língua não é apenas um instrumento
de comunicação, ela é também um poderoso instrumento
de dominação, a serviço de interesses, ideologias,
vontades e desejos.
Em razão disso, Possenti (1990) lembra que "O fato de afirmar
algo pode, em certas circunstâncias, ser mais relevante (ou tão
relevante quanto, ou, pelo menos relevante) do que aquilo que se afirma".
Tal idéia, segundo Possenti (op. Cit., p. 46), se desdobra em duas
outras, fundamentais: os chamados atos de fala (perguntar, prometer, ameaçar,
ordenar e outros), incluindo aí também os elementos formais
da língua que são interpretados no momento da enunciação
(os pronomes pessoais, demonstrativos, advérbios e outros).
b) "...a análise do discurso consiste num conjunto de procedimentos
cujo objetivo é responder às perguntas: quem fala? a quem
fala? o que significa o que se fala".
Fatos importantes mencionados tanto por Possenti (op. Cit. p. 46) quanto
por Ducrot (op. Cit.) no tocante à enunciação é
que ela é regrada, ou seja, não é qualquer pessoa,
em qualquer sociedade que se pode dizer o que quer que seja.''Na análise
do discurso, é preciso levar-se em conta a consideração
simultânea do contexto de ocorrência com a ocorrência
lingüística" explica Possenti (op. Cit. p. 44). Alerta que
certos enunciados podem ser gramaticalmente ambíguos, porém,
o discurso poderá oferecer condições para a sua interpretação
unívoca.
Afirma que a língua pode não fornecer todas as interpretações
do enunciado, pois o contexto completa, ou os fatores contextuais podem
também modificar o que se diz, e o contexto também justifica
- porque se disse isso e não aquilo (os fatores externos da língua).
Outros fatos discursivos que também remetem ao não dito,
conforme enumera Possenti (op. Cit. p. 51-2), citando Pêcheux (1983):
a) todo sujeito é assujeitado, ou seja, o discurso por isso ultrapassa
não só a dimensão do indivíduo como também
de sua consciência;
b) em relação aos falantes, remete à questão
da subjetividade e vigora também a idéia de que o sujeito
é uma função - e cita Foucault, explicando que não
existe uma unidade interna nos discursos - ou seja, ele é disperso;
c) outro detalhe é que o discurso "trabalha sob o signo da heterogeneidade",
ou seja, "os enunciados de cada discurso têm um percurso que faz
com que carreguem a memória de outros discursos";
d) é ressaltado o efeito polifônico do discurso, ele lembra
que todos os integrantes lingüísticos dos discursos "são
atravessados por muitos outros discursos", oriundos de outras áreas
do saber.Assim, é preciso ter em conta a interdisciplinaridade que
sempre está presente no discurso; tendo em vista que podem ser enunciados
elementos comuns à filosofia, economia, psicologia, religião,
direito, psicanálise e outras áreas afins.
Em razão desses aspectos apontados, tanto de caráter interno
ou lingüísticos, quanto os elementos externos ao discurso ou
extralingüísticos, existe a hipótese de que tudo o que
é dito traz em si vários discursos ou enunciados não
ditos.
Tendo em vista que o material analisado é um discurso jornalístico,
é importante frisar que os manuais de jornalismo bem como a deontologia
da comunicação social pregam que o jornalista ao relatar
qualquer fato, seja através de entrevista ou reportagem deve ser
imparcial, objetivo e expressar sempre a verdade dos fatos.
O mito da imparcialidade e da objetividade da imprensa e do jornalista
não se sustenta, afirma Rossi (1986, p. 10), pois entre o fato e
a versão que dele publica qualquer veículo de comunicação,
há a mediação de vários jornalistas - e até
da cúpula diretiva da empresa; todos, envolvidos na preparação
do produto notícia, de forma direta ou indireta.
No caso em pauta, o primeiro mediador entre o fato e a versão
foi o repórter Eduardo Oinegue: isso é sabido pois a matéria
traz a sua assinatura (nome) ou crédito; porém muitos outros
mediadores tiveram acesso ao texto primário - ficando difícil
saber quais foram, pois os seus nomes não são explicitados
no crédito da matéria. Porém, será possível
se conhecer o fluxo que qualquer notícia percorre desde a sua captação,
elaboração, diagramação até a edição,
dentro de um veículo de comunicação impresso.
Antes de mais nada, é importante ressaltar que não existe
neutralidade ou objetividade no "fazer jornalístico", pois "qualquer
jornalista carrega consigo toda uma formação cultural, todo
um background pessoal, eventualmente opiniões muito firmes a respeito
do próprio fato testemunhado (...). É realmente inviável
exigir dos jornalistas que deixem em casa todos esses condicionamentos...",
ressalta Rossi (op. Cit.), confirmando a não neutralidade do jornalista.
Na busca diária da objetividade jornalística, fato impossível
como já foi mencionado, e confirmado por Rossi (op. Cit. p. 12),
existe a orientação de se ouvir os dois lados ou as duas
partes envolvidas no fato. Ao publicar as declarações de
um e de outro lado - em tese, o veículo estaria sendo objetivo em
sua linha editorial. Na prática, lembra Rossi (op. Cit.), pode ocorrer,
e ocorre muito, que um dos lados (ou ambos) minta. O veículo irá
publicar em suas páginas uma mentira, "fazendo o leitor raciocinar
a partir de dados falsos".
Outra limitação que o jornalista sofre é a pauta,
geralmente discutida sem a participação do repórter,
onde somente os pauteiros e editores dos veículos definem o que
o repórter vai levantar. Assim, já há um direcionamento
prévio da matéria. Dessa forma, quem coleta as informações
e as redige ou relata, não participa das discussões sobre
o que o veículo vai publicar, como vai publicar, sob que enfoque,
tamanho, títulos, estilo de diagramação e outros dados
técnicos.
Rossi (op. Cit.) alerta também para a produção
da pauta, que geralmente recebe da empresa o tratamento, a angulação
e até o espaço que o assunto vai merecer: contribuindo para
condicionar o repórter a obedecer aos itens solicitados pelos pauteiros.
Por ser um produto da indústria cultural, existem dentro da
estrutura da redação e edição de uma notícia
verdadeiros labirintos, que atuam como filtros da notícia. Iniciando-se
pela pauta e passando pelo estilo adotado pelos veículos, que através
de manuais de normas e estilo impõem uma segunda limitação
na hora de se escrever um texto, chegando o filtro até à
figura do editor.
O repórter tem que escrever de acordo com o Manual de Redação
e adequar o estilo ao que determinam as normas redacionais. Como são
muitas as matérias que chegam aos veículos; das sucursais,
dos correspondentes regionais, nacionais ou internacionais, das agências
noticiosas, dos colaboradores, dos articulistas, dos enviados especiais
e da reportagem local, há a necessidade de se fazer os ajustes de
texto, estilo e de espaços disponíveis, aos padrões
dos veículos, função essa atribuída ao copidesque;
que irá reescrever os textos para adequá-los às exigências
editoriais contidas nos manuais ou para se obedecer às orientações
internas da empresa jornalística.
Assim, para Rossi (op. Cit., p. 27) o material produzido pelo repórter
passa por uma ''primeira distorção entre o que aconteceu,
na visão do repórter, e o que será publicado''.
Outros filtros podem ser citados; o editor, que se ocupa da editoria
e comanda os seus repórteres, a chefia de reportagem, que decide
se o enfoque dado pelo repórter é o correto ou precisa ser
refeito, e, nesse caso, o copidesque é chamado para refazer ou adequar
a matéria, podendo com isso omitir informações tidas
como importantes pelo repórter que levantou o material primário
junto às fontes.
O tamanho do texto, se conterá 20, 30 ou 70 linhas, bem como
o tamanho do título, a forma de diagramação, os destaques
que são dados na hora de se esboçar o layout da página
do jornal ou da revista; são filtros visíveis de informação.
O título que atrai e fisga o leitor. "É evidente que uma
notícia publicada com um título forte chamará mais
a atenção do que outra com título pequeno. E, também
nesse caso, o filtro pode ser político, jornalístico ou puramente
gráfico - ou às vezes, todos ao mesmo tempo'', acrescenta
Rossi (op. Cit., p. 43-4).
Existe na abertura do corpus da reportagem objeto deste trabalho
um título forte "Dossiê explosivo'' e conotações
que remetem às três formas de filtros citadas por Rossi. Além
desses condicionantes, existe ainda a cúpula do veículo,
que influi em todo o processo de produção da notícia,
desde a elaboração da pauta até a edição
final.
Demonstra-se assim que a notícia percorre um tortuoso caminho,
desde a sua inclusão na pauta até ela entrar no processo
redacional ela passa por uma filtragem significativa, e a subjetividade
da linguagem faz-se presente no processo de produção do produto
notícia dentro das redações, até atingir a
sua forma final, quando estará pronta e "embalada'' para o consumo.
O critério da subjetividade jornalística, ressalta Rossi
(op. Cit. p. 42), é na maior parte dos casos ''...o critério
central a influir nas decisões''. Porém, quando o assunto
é muito importante, entra em cena um segundo critério muito
mais poderoso do que o da subjetividade jornalística: o julgamento
político, em função das posições que
cada veículo adota.
O critério político, adverte Rossi (op. Cit., p. 46)
permeia todas a orientações enumeradas anteriormente, pois
ele influi de forma poderosa na extensão da reportagem ''...tamanho
do título, na colocação da página, na chamada
(ou ausência dela) na primeira página - e, algumas vezes,
até na não publicação de uma notícia
que contrarie os interesses fundamentais ou a visão sócio-política
da empresa'', são fatores de manipulação da notícia.
Com isso, percebe-se que a imparcialidade, a objetividade e a veracidade
da informação perseguida pelo jornalista e apregoadas pelos
veículos de comunicação social é efetivamente
um mito.
O conceito de objetividade posto em voga consiste basicamente em descrever
os fatos tal como aparecem: é, na realidade, um abandono consciente
das interpretações, ou do diálogo da realidade, para
extrair desta apenas o que se evidencia. A competência profissional
passa a medir-se pelo primor da observação exata e minuciosa
dos acontecimentos do dia-a-dia. No entanto, ao privilegiar aparências
e reordená-las num texto, incluindo algumas e suprimindo outras,
colocando estas primeiro, aquelas depois, o jornalista deixa inevitavelmente
interferir fatores subjetivos. A interferência da subjetividade,
nas escolhas e na ordenação, será tanto maior quanto
mais objetivo ou preso às aparências, o texto pretenda ser,
menciona Laje (1982, p. 25).
A busca da intenção do discurso pronunciado pelos enunciantes
visa trazer à tona os pressupostos que o sujeito deixa implícito
ou subentendido em sua ação discursiva. A compreensão
do dito e do não dito levantam as pistas sobre o jogo, os interesses,
as intenções, ideologias ou valores contidos num dado discurso,
pois, para Laje (op. Cit., p. 99) ''Ao admitirmos a verdade como atributo,
iniciando daí a discussão, partimos da materialidade da coisa
ou do enunciado para sua eventual condição de verdade'',
adverte.
Em razão disso e de outros fatores é que a realização
da análise do discurso exige do lingüista especial atenção,
tendo em vista ainda que a linguagem é o veículo da ideologia,
conforme explica Lajes (op. Cit., p.104) ''No código lingüístico,
composto de formas, conformidades e conformações, estão
reunidas não só as possibilidades sintáticas e morfológicas
como também significações referidas às ideologias
e concepções do mundo: o que a cultura supõe de si
mesma em termos políticos, jurídicos, filosóficos,
religiosos e morais''.
Faz-se necessário ter em mente que a notícia tem suas
aparências de verdade, mas deixou de sê-la, como foi visto,
para ser um simulacro da verdade pressuposta como tal; em razão
dos critérios subjetivos que a acompanham desde o seu nascimento,
na sua coleta e elaboração pelo repórter, os jogos
de interesses políticos, econômicos e sociais que a envolvem,
até a sua produção final, como mais um produto para
o consumo do mercado. A notícia passa por um amplo processamento
em cadeia, típico da produção em série na indústria
cultural, descaracterizando o fato ou o acontecimento inicial. A versão
do fato estará sempre no lugar do fato, pois o fato é único
e irrepetível e a representação do fato é feita
através da mediação sígnica.
Até o fato noticioso chegar ao público, aconteceram diversas
mediações, não somente de responsabilidade direta
do jornalista que coletou e redigiu o texto primário e que manteve
o contato direto junto às fontes. Tais mediações,
como foram vistas, são de responsabilidade do próprio modo
de produção da cultura, uma vez que medeia a produção
de sentidos, conceitos, idéias ou valores que são construídos
por meio da mediação dos signos lingüísticos.
Nesse processo fica difícil caracterizar a notícia inicial
com a resultante desse afunilamento e após tantas mediações.
Inúmeros filtros alteram a matéria ou partes do seu conteúdo,
inclusive as fontes; outro filtro importante, uma vez que são partes
diretamente interessadas em prestígio, vingança ou outros
motivos, observa Rossi (op. Cit.). Por isso, o leitor terá sempre
uma informação parcial dos acontecimentos.
Devido a tais fatores, Lage (op. Cit., p. 107) ressalta que as notícias
são meros relatos de aparências codificadas:
a) pelo código semiológico ou lingüístico;
b) pelas técnicas de nomeação, ordenação;
c) por um estilo.Somente após serem obedecidas estas três
etapas ou ordens básicas de restrições ao elenco de
possibilidades do enunciado jornalístico, a ''verdade'' se apresenta
como conformidade do texto com o acontecimento aparente. Essa conformidade,
supostamente qualifica o jornalista como correto, enfatiza Laje (op. Cit.).
O que vem a confirmar a falsa noção de objetividade, derrubando
o mito da imparcialidade jornalística.
2.3. DESEJO E PODER NO DISCURSO
As pressões num veículo de comunicação são
muitas e muito grandes, pois o jogo do poder, do interesse político,
econômico e o controle ideológico são sentidos de forma
clara pelos profissionais de comunicação, que lutam para
divulgar os fatos, porém, seus textos, quando publicados, são
pasteurizados ao extremo, e, no final, não raramente, o público
terá uma tênue informação sobre o fato. Muitas
vezes, o que é dito tem pouco significado. O sentido do discurso,
em muitos casos, está no não dito, ou seja, nas entrelinhas,
nos pressupostos e subentendidos. No que não foi divulgado ou no
que está implícito nas matérias jornalísticas.
"Dados os fatos, porém, pode-se inverter o sentido do texto
jornalístico. Uma palavra, uma nota podem evidenciar com clareza
tudo o que se quer esconder'', acentua Laje (op. Cit., p. 111). Por
isso, faz-se necessário buscar-se os significados ou sentidos implícitos.
Laje (op. Cit.) observa ainda que nos veículos de comunicação,
geralmente ''...está a verdade da censura e do liberalismo, da
dominação e da independência. Há corrupção,
medo e esperança nos jornais, mas eles não são feitos
com tais substâncias, fazem-se com relatos imperfeitos de acontecimentos...''.
Percebe-se que ''A imparcialidade, a objetividade e a veracidade
nos veículos de comunicação efetivamente são
mitos (...) só os ingênuos acreditam que não têm
interesses capazes de levá-los a deturpar os fatos'', frisa
Laje (op. Cit.), ao contestar a imparcialidade discursiva.
Ele afirma ainda que existem dois gêneros de verdade que devem
ser considerados nas notícias. Uma verdade está no acordo
íntimo entre o que está sendo narrado e o que de fato ocorreu.
Outra verdade está colocada no paradigma da escolha das palavras,
da ordem e seleção dos acontecimentos - dos vazios existentes
entre uma e outra informação e das sugestões que se
deixam ao consumidor das notícias sobre como preenchê-los
- é a verdade como adequação histórica, e aí
aparecem os pressupostos e os subentendidos mencionados por Ducrot (op.
Cit.) ao longo deste trabalho.
Nem tudo o que se fala ou se escreve é ou está no verdadeiro.
A língua, além de ser um instrumento de comunicação
também é instrumento de dominação. O enunciante,
em muitos casos não diz a verdade em razão de tabus, proibições,
rituais, seleção do sujeito (processo de exclusão),
da enunciação (divisão e rejeição),
da oposição entre o falso e o verdadeiro - que são
dados exteriores ao discurso.
Devido a tais fatos, a análise do discurso fornece instrumentais
para o lingüista tentar desvendar no jogo lingüístico
qual a real intenção do que foi dito, e o que não
foi dito pelo sujeito, como observa Fraga Rocco (1989, p. 72).
O tratamento da linguagem em função, em ação,
a AD irá contemplar os contextos situacionais e as condições
de produção do verbal - em razão do que seus domínios
terão que necessariamente trabalhar com a argumentatividade da linguagem,
com as funções sociais da linguagem, com os níveis
de pressuposições (implicações e subentendidos),
com a enunciação, seus problemas de polifonia e recortes,
com a pragmática e a semântica, com o diálogo e com
os atos de linguagem.
Foucault (op. Cit., p. 5) por sua vez afirma que dos três grandes
sistemas de exclusão que marcam o discurso: a palavra proibida,
a divisão da loucura e a vontade de verdade, é justamente
este último, a vontade de verdade, o mais importante. Tais sistemas
de exclusão se exercem do exterior, acrescenta, e referem-se à
parte do discurso que põe em jogo o desejo e o poder.
É Foucault (op. Cit., p. 2) quem afirma que:
Numa sociedade como a nossa, conhecem-se seguramente, os processos
de exclusão. O mais evidente, o mais familiar, também, é
a proibição. Sabe-se bem que não se tem o direito
de dizer tudo, que não se pode fazer de tudo em qualquer circunstância,
que não importa quem, não pode falar de não importa
o quê.
Nem tudo pode ser falado, nem tudo é falado, muitas coisas não
podem ser ditas e muitas vezes se faz o contrário do que se diz.
Dessa forma, a verdade ou a real intenção do sujeito não
é explicitada, pois vai contra os interesses, os desejos e a ideologia
dominante, razão pela qual sempre se deve ter em mente, frente a
qualquer discurso, a presença da subjetividade e dos processos de
exclusão.
Os dados do discurso jornalístico onde procura-se buscar
o não dito é a reportagem intitulada "Dossiê explosivo",
elaborada pelo jornalista Eduardo Oinegue, veiculada na edição
1.222 da revista Veja, número 8, ano 25, inserida às
páginas 24 e 25, datada de 11.02.92. Nela, o empresário Pedro
Collor de Mello, superintendente da Organização Arnon
de Mello, ataca o empresário e ex-tesoureiro das campanhas de
Fernando Collor, Paulo César Farias, o PC Farias.
O fato básico que gerou os desentendimentos está na implantação,
em Maceió, do jornal Tribuna de Alagoas, pela família
de PC Farias, que visa dessa forma ampliar o seu poder de influência
na política alagoana, e futuramente pretende implantar também
estações de rádio e tevê - competindo diretamente
com as empresas de comunicação da família Collor.
O dito no enunciado da reportagem é o seguinte:
ALAGOAS
DOSSIÊ EXPLOSIVO
Para o irmão mais novo do presidente, PC Farias é uma ''lepra ambulante'' cujos negócios podem provocar o impeachment de Collor.
Eduardo Oinegue
Três anos mais novo e 4 centímetros mais baixo que Fernando
Collor, o irmão caçula Pedro Collor de Mello, 39 anos, também
tem em comum com o presidente o temperamento explosivo. Pedro prefere ser
chamado pelo sobrenome do pai, Mello, e não Collor, da mãe,
como o presidente fazia até trocar a assinatura por sugestão
de um numerólogo. Ao contrário de Fernando Collor, Pedro
Mello detesta gravatas e não gosta de uísque importado. Sua
bebida preferida é vodca nacional. Fernando usa um Lincolm
importado para se deslocar por Brasília e Pedro anda num Santana,
modelo antigo, nas ruas de Maceió. Outra diferença entre
os irmãos se refere ao empresário Paulo César Farias,
o PC Farias, tesoureiro da campanha presidencial. Fernando é amigo
de PC. Pedro e PC se detestam.
O irmão caçula só chama o empresário PC
Farias de ''Lepra Ambulante''. Ao referir-se a Pedro, PC também
não é amistoso. ''Aquele moleque tem uma inteligência
desse tamaninho e toma doses de vodca desse tamanhão'', diz,
afastando o polegar e o indicador ao máximo. O que faz o conflito
da Lepra Ambulante e do Moleque da Vodca atravessar as fronteiras da República
e ingressar em Brasília é um dossiê que Pedro Collor
tem em suas mãos. Ele passou os últimos dois anos reunindo
uma gorda documentação contra seu rival.
A parte mais explosiva do pacote são três fitas cassete
de gravador, nas quais Pedro Collor relata operações financeiras
irregulares promovidas por Lepra Ambulante. Há três cópias
do dossiê PC, uma das quais guardada num cofre. As outras duas foram
entregues a pessoas de confiança de Pedro.
Ao detalhar as estrepolias de PC, o dossiê atinge também
amigos de Lepra Ambulante. "Se esse material se tornasse público,
o impeachment poderia ocorrer em 72 horas", disse o irmão mais
novo de Collor ao entregar o dossiê a um de seus amigos depositários.
Pedro se referia à possibilidade de cassação de seu
irmão, medida que legalmente só pode ocorrer em caso de crime
contra a Constituição. O caçula não considera
que o presidente esteja diretamente envolvido em nenhuma falcatrua de PC,
mas teme que o irmão possa ser incriminado por seu tesoureiro de
campanha.
"Liga aí'' - Lepra e Moleque têm um caudaloso passivo
de desavenças. A penúltima se refere ao lançamento,
em Maceió, do jornal Tribuna de Alagoas, com o qual PC Farias pretendia
tomar posse de uma fatia do latifúndio da família Collor
de Mello na área de comunicações. Encarregado de administrar
os negócios da família, o irmão Pedro movimentou-se
pelos bastidores de Brasília e Maceió e colheu alguns frutos;
o lançamento do jornal, prometido para o início de janeiro,
foi adiado para o final do mês, e acabou não acontecendo.
O próximo prazo é abril. A última querela envolve
a campanha municipal. Na semana passada, o deputado Augusto Farias, irmão
de PC, lançou sua candidatura para a prefeitura de Maceió,
Numa conversa com o candidato, Pedro Collor disse o que pensa a respeito
das duas desavenças: ''Não aceito que vocês tenham
qualquer rádio ou televisão em Maceió e também
não admitirei a candidatura Farias à prefeitura".
No início do ano, irado com as deambulações de
Lepra pelos corredores do mundo das verbas públicas, Pedro Collor
almoçou com o presidente e cobrou uma manifestação
contra a candidatura do irmão de PC em Maceió para, dessa
maneira, desvincular seu nome dos negócios do tesoureiro. "Em
política a coisa não funciona bem assim", disse Fernando
Collor, ''mas já estou mandando meus sinais''. O encontro
marcou uma reconciliação. Os dois irmãos passaram
meses sem se falar. Agora, trocam telefonemas pelo menos uma vez por semana.
O caçula também passou uma temporada tensa com o primogênito,
o empresário Leopoldo Collor. Pedro Collor tentou realizar negócios
em São Paulo, área do primeiro-irmão, e chocou-se
com Leopoldo. Agora, estão pacificados.
À frente das empresas, Pedro Collor quer expandir seus investimentos.
A dificuldade para a expansão é o Lepra. Abrindo um jornal
em Alagoas, PC ameaça enfraquecer a fortaleza do grupo Arnon de
Mello em seu estado natal, onde reina desde 1943. Surpreendido pelo concorrente,
Pedro Collor resolveu ir à luta com uma idéia exótica
- manter o jornal do adversário sob o controle de uma eminência
parda até dezembro de 1994, quando termina o mandato presidencial
de Collor.
No mês passado, o caçula teve duas conversas com PC em
Brasília. O primeiro encontro não deu em nada. No segundo,
a conversa foi mais produtiva. Mas o Moleque irritou-se quando a Lepra
Ambulante resolveu dar uma demonstração de seu prestígio
pessoal junto ao presidente.
''Eu já falei com o Fernando sobre esse assunto'', disse
PC. Pedro enfrentou o interlocutor levantando o fone do gancho. "Liga aí,
PC, fala com ele'', desafiou o irmão caçula. "Eu já
combinei com o Fernando que se você usasse o nome dele na conversa
eu iria mandar você telefonar para o Planalto na minha frente''.
PC não fez a ligação. A cena teve como testemunha
o secretário particular de Collor, Cláudio Vieira, responsável
por um tipo de gasto que interessa de perto a empresários de comunicação
- verbas publicitárias do governo federal. Apesar do desafio, a
reunião encerrou-se com o esboço de um acordo. Casochegue
às bancas, a Tribuna de Alagoas terá, em sua direção,
um amigo da família Collor.
Sucessor de Fernando Collor na gerência dos negócios da
família, Pedro gasta doze horas do seu dia para administrar a Organização
Arnon de Mello, um império regional que envolve uma estação
de TV (retransmissora da Rede Globo), um jornal e três rádios.
Seu maior mérito empresarial até agora foi retirar a Gazeta
de Alagoas do vermelho.
Hoje, o grupo fatura 12 milhões de dólares por ano, dos
quais 3,6 milhões são gerados pelo jornal. A Gazeta nem de
longe é um fenômeno editorial. Dona da maior circulação
do Estado, tem como principal rival um jornaleco, o Jornal de Alagoas,
cuja tiragem não ultrapassa os 2000 exemplares nos dias de semana.
A Gazeta vende 12.000.
Em sua linha editorial, o jornal dos Collor não é uma
publicação chapa-branca. Fez reportagens sobre o escândalo
da LBA durante a gestão da primeira-dama Rosane, sobre a corrupção
no Ministério da Saúde de Alceni Guerra e na semana passada,
divulgou denúncias a respeito da venda de uma usina do ministro
da Ação Social Ricardo Fiúza. "Não quero
ser acusado de acobertar irregularidades para proteger o presidente'',
justifica-se o empresário. O sobrenome dos proprietários
talvez tenha sido um fator decisivo para o sucesso da Gazeta nos últimos
dois anos. Metade do faturamento do jornal é levantado junto a empresas
e agências de publicidade no eixo Rio-São Paulo - ainda que
encontrar nas bancas um exemplar de A Gazeta de Alagoas nessas cidades
seja mais difícil do que comprar a edição mais recente
do japonês Asahi Shimbum.
3.2. FATOS QUE REMETEM AO NÃO DITO
Para se compreender os sentidos dos enunciados, é preciso se
fazer a leitura contrastiva, pois o discurso quer dizer isso e não
aquilo, tendo em vista as implicitações discursivas. Também,
faz-se necessário saber quem é o sujeito, a que classe pertence,
os valores que defende e de que lado político-ideológico
ele está. São dados que remetem ao não dito.
Quem fala? A quem fala? O que significa o que se fala? Por que se fala?
Como fala? Quem ouve? Através de quais instituições
o discurso é feito ou justificado?
As pistas que induzem ao não dito são dadas pela coesão
léxica, pelo jogo semântico, a presença e a forma de
utilização dos operadores argumentativos - mas, embora,
porém e outros, que indicam quais as noções são
aceitas e quais são as rejeitadas. O uso da paráfrase, das
metáforas, dos dêiticos e das marcas da subjetividade, bem
como as formas de utilização dos verbos num dado discurso,
assim como os tempos verbais empregados, contribuem para uma compreensão
melhor das intenções implícitas no discurso.
No caso em questão, quem fala, o sujeito do discurso é
o repórter Eduardo Oinegue, que cita Pedro Collor de Mello e publica
versões do ocorrido entre PC Mello e PC Farias. Quais são
as funções que o sujeito assume ao falar? A de jornalista?
Ou de porta-voz de um dos entrevistados? Fala como um crítico social
neutro? Ele dá pistas no seu texto sobre as intenções
e desejos implícitos de ambas as partes citadas na reportagem.
Quais são as condições de quem fala? Os interesses,
a existência ou não de compromissos do repórter para
com uma das fontes? São fatos que remetem ao não dito.
A quem fala: o jornalista fala a um público leitor específico,
constituído pela elite nacional, pois o veículo por ele utilizado,
a revista Veja, é a de maior circulação nacional,
com uma tiragem de 980 mil exemplares por semana, e cuja circulação
semanal é de aproximadamente 860 mil exemplares.
O que significa o que se fala: a princípio o significado do
que se fala tem um caráter jornalístico de denúncia,
pois traz informações sobre a provável existência
de negócios financeiros irregulares praticados por PC Farias, usando
o nome do presidente Fernando Collor, e que poderão comprometer
o presidente da República; porém, analisando-se com mais
atenção existe implicitamente um forte recado de Pedro Collor
a PC Farias para que este desista da implantação do jornal
Tribuna de Alagoas.
Os enunciados atribuídos a Pedro Collor de Mello são
ameaçadores contra PC Farias, que sustenta ter fitas cassete cujos
conteúdos, se tornados públicos, poderiam provocar a cassação
do presidente. Tais declaração, feitas pelo irmão
mais novo do presidente, têm um valor implícito significativo,
pois não é uma pessoa qualquer quem afirma ter documentos
que poderão gerar a queda do presidente da República, é
o seu próprio irmão.
Devido a isso, faz-se necessário buscar os pressupostos e os
subentendidos que permeiam a formação discursiva em análise,
em razão dos desejos, dos interesses e da disputa pelo poder em
Alagoas, na área de comunicação, implícitos
na reportagem.
O que não foi dito na reportagem ''Dossiê explosivo'' ou o que efetivamente se pode subentender ou pressupor, de acordo com Ducrot (op. Cit.) nos elementos discursivos contidos na matéria analisada:
1º. Enunciado
Significação literal: "Lepra Ambulante"
Significação implícita
''Lepra Ambulante'', PC Mello amplia o campo semântico e seus significados ou sentidos, podendo ter tido a intenção de nominar o concorrente de mal caráter, corrupto contagioso, elemento pernicioso, visando desqualificá-lo como pessoa e como empresário.
2º. Enunciado
Significação literal: "Aquele moleque tem uma inteligência desse tamaninho e toma doses de vodca desse tamanhão''.
Significação implícita
PC Farias deixa implícito aos leitores da revista Veja que PC Melo tem uma inteligência limitada, ao fazer uso do adjetivo na forma diminutiva (tamaninho). Além de limitado intelectualmente, o chama de moleque, remetendo o significado para o campo semântico conotativo de ''infante'', ou de pessoa que toma atitudes infantis ou inconseqüentes. Constrói também o sentido de alcoólatra, atribuindo ao irmão do presidente da República o fato dele tomar doses muito grande de vodca. Seu discurso deixa subentender que Pedro Collor é um ''moleque beberrão''. Vejamos como PC Farias constrói silogisticamente a imagem de PC Mello e conclui que ele é alcoólatra: PC Melo toma bebida alcoólica (vodca). Toma doses elevadas. Ora, quem toma doses elevadas de bebida alcoólica é, portanto, alcoólatra.
3º. Enunciado
Significação literal: "Se esse material se tornasse público, o impeachment poderia ocorrer em 72 horas".
Significação implícita
A afirmação pode ser interpretada como sendo uma ameaça
concreta contra seu próprio irmão (presidente Collor), forçando
assim que o presidente reduza o ''campo de ação'' de PC Farias.
Elaborando-se outra leitura, pode ser entendido também como um blefe,
pois o enunciado está no condicional ''...se tornasse... poderia...''.
Funciona também como um aviso a PC Farias, para que ele desista
de ser concorrente da família Collor na área de comunicação
no estado de Alagoas, pois, em sendo verdadeira a existência de tais
documentos comprometedores, PC Mello pode divulgar algumas partes das fitas
ou demais documentos que tenha em seu poder. Tal possibilidade está
implícita no enunciado, dada a construção frástica
no condicional.
Ao tempo que afirma ter documentos comprometedores contra PC Farias,
Pedro Collor aumenta as suas chances de impedir a circulação
da Tribuna de Alagoas, caso PC Farias tenha realmente envolvimento em negócios
nebulosos.
4º. Enunciado
Significação literal: ''Não aceito que vocês tenham qualquer rádio ou televisão em Maceió e também não admitirei a candidatura Farias à prefeitura".
Significação implícita
O sujeito enunciante usa o verbo no modo indicativo afirmando com determinação e certeza ''...Não aceito... não admitirei...''. Com isso, demonstra implicitamente ter poder ou poderes de fazer cumprir suas ameaças. Deixa implícito que ''Eu sou o poder, sou o irmão do presidente e dou as cartas em Alagoas. Aqui quem manda sou eu, e não aceito dividir o poder com os Farias''. Também deixa subentendido que a família Farias não terá as concessões que pretende para instalar emissoras de rádio e televisão no estado.
5º. Enunciado
Significação literal: "Em política a coisa não funciona bem assim...mas já estou mandando meus sinais'', disse Fernando Collor.
Significação implícita
O presidente da República reconhece ao irmão que não
tem poderes totais sobre PC Farias, talvez em razão de favores ou
acertos político-financeiros existentes na relação
dele, presidente, com o seu ex-tesoureiro de campanha. Ele não quer
entrar em choque com o homem que abasteceu de dinheiro as suas campanhas
para governador de Alagoas e presidente da República, tendo em vista
que, por trás disso tudo existem fatos e assuntos que não
podem ser ditos ou tornados públicos.
Mas, mesmo assim, ele, presidente, vai tentar dar um jeito. A conjunção
''mas'' designa no contexto restrição, oposição
- o presidente se compromete a fazer algumas restrições para
PC Farias não lançar um irmão à prefeitura
de Maceió.
Outras pressuposições podem ser levantadas no enunciado,
como por exemplo a de que "Em política as coisas são diferentes,
têm coisas que não podem ser ditas''. Pode-se propor também
outras interpretações na direção dos seguintes
sentidos "Devo muito ao PC, por isso não tenho como opor-me a ele'',
ou ainda, "Tentarei dissuadi-lo da idéia da Tribuna de Alagoas
e da candidatura do irmão, porém, Pedro, tenha calma, pois
não posso me expor e nem me desentender com o PC", são alguns
dos pressupostos discursivos deste enunciado.
6º. Enunciado
Significação literal: "Liga aí, PC, fala com ele... Eu já combinei com o Fernando que se você usasse o nome dele na conversa eu iria mandar você telefonar para o Planalto na minha frente".
Significação implícita
O enunciado ordena, pois está na forma imperativa e determina que PC tome uma atitude imediatamente. É uma ordem visando provar que PC não tem mais tanto prestígio junto ao governo central - e isso foi previamente combinado entre Fernando e Pedro Collor para desmascarar PC Farias.
PC Mello ordenou que PC Farias demonstrasse naquele momento seu livre acesso ao presidente e que comprovasse realmente que houvera tratado com o presidente o assunto que estava sendo discutido naquele momento entre ambos. Segundo o texto, PC não ligou, deixando mais uma vez subentender que ele estava mesmo usando indevidamente o nome do presidente em seus negócios.
A partir do momento em que PC Farias não ligou, ficou implícito que ''ele efetivamente usa o nome do presidente em suas transações particulares e que não possui mais o prestígio que diz ter junto ao Planalto'', pois não ligou ao presidente no instante em que foi desafiado e ordenado pelo empresário PC Mello.
7º. Enunciado
Significação literal: ''Não quero ser acusado de acobertar irregularidades para proteger o presidente''.
Significação implícita:
Neste enunciado PC Mello se contradiz, pois diz uma coisa e faz outra,
tendo em vista que ele já estava claramente acobertando irregularidades
para proteger o presidente. É o que o texto mostra. Veja-se o enunciado
3, onde ele afirma ter em mãos material (as 3 fitas cassete denunciando
as irregularidades de PC Farias que envolvem o nome do presidente), que
se tornadas públicas provocariam a queda de Collor. Eis aí
um material jornalístico de grande importância, que ele deveria
veicular em sua empresa de comunicação, já que afirma
não acobertar nenhuma irregularidade para proteger o irmão-presidente.
A prova de que está acobertando irregularidades é a própria
reportagem "Dossiê explosivo'', onde os fatos denunciados são
atribuídos a ele - Pedro Collor de Mello. Caso ele não quisesse
ser acusado de esconder irregularidades do governo Collor, porque não
divulgou os conteúdos das 3 fitas que disse ter?
A análise dos enunciados atribuídos no texto a PC Mello
e PC Farias demonstra que o desentendimento entre ambos foi gerado pelo
desejo de manter e ampliar o poder em Alagoas, tendo como instrumento principal
para se atingir tais objetivos o domínio dos meios de comunicação
no estado. É isso o que Pedro Collor não aceita, pois o poder
político e os principais meios de comunicação no estado
estão nas mãos da família Collor, e tal hegemonia,
segundo PC Mello, é intocável. Isso Pedro Collor não
deixou claro no dito, mas está no não dito, nos subentendidos
ou nas entrelinhas do texto em análise.
Na luta pela manutenção da hegemonia no setor de comunicação
PC Mello afirma inclusive ter poderes para impedir a concessão de
emissoras de rádio e televisão para a família de PC
Farias, esse dado está no não dito do discurso por ele enunciado.
Para atingir os seus objetivos de manutenção do poder,
PC Mello, de acordo com o texto jornalístico, ameaça, chantageia
e envia recados tanto para PC Farias quanto ao seu irmão-presidente.
Ao insinuar que possui fitas gravadas que provam o envolvimento de PC Farias
em atos financeiros ilegais e que talvez, tais atos possam atingir Fernando
Collor, provocando até a sua cassação. Para não
divulgar tais documentos, Pedro Collor de Mello quer em troca a ''cabeça''
de PC Farias.
Algumas considerações adicionais são pertinentes
sobre as intenções discursivas produzidas tanto por Pedro
Collor de Mello quanto por Paulo César Farias, conforme a matéria
publicada pelo repórter Eduardo Oinegue - o sujeito no discurso
jornalístico analisado que mediou as enunciações.
Considerações essas tanto de caráter objetivo
quanto subjetivo, que necessitam ser observadas tendo-se em vista não
existir o mito da imparcialidade e da objetividade no fazer jornalístico.
2. Há dúvidas quanto ao contato do repórter com as fontes primárias, Pedro Collor e PC Farias. Pelo texto jornalístico produzido e levando-se em conta o tipo de articulação textual, fica evidente que ele não esteve em nenhum momento com as fontes - apenas atribui os enunciados aos personagens citados. Como não teve acesso direto às fontes e recebeu as informações de terceiros, divulgou versões, já que não teve acesso direto aos fatos;
3. Outro detalhe que deixa dúvidas sobre a ausência do repórter com as fontes, é o fato de que o repórter, autor e sujeito da versão sobre o ''Dossiê explosivo'', é que, em encontros onde estão em jogo assuntos de natureza tão grave, os envolvidos não permitiriam que jornalistas tivessem acesso ao encontro; notadamente quando os temas tratados estão diretamente ligados ao poder. Não deixariam ter um repórter testemunhando;
4. No texto, não está claro onde se deu o encontro entre Pedro Collor e o presidente Fernando Collor, porém, onde quer que tenha sido, dificilmente algum jornalista teria acesso a tal encontro;
5. Evidencia-se que o repórter recebeu as informações de fontes secundárias, pois como foi dito antes, em encontros envolvendo Pedro Collor, Paulo César Farias, Cláudio Vieira e Fernando Collor, para ser tratado de um caso explosivo, um jornalista a serviço da Veja ou de outro veículo de comunicação não teria acesso;
6. As fontes secundárias que passaram as informações ao repórter são todas de confiança? São ligadas a que grupo? Defendem os interesses de qual grupo junto ao poder? Não estariam fazendo o jogo de um dos lados para prejudicar o outro lado? Passaram as informações com absoluta fidelidade? Essas e outras indagações ficam sem respostas.
7. Como o repórter não participou dos encontros relatados, pois todos os enunciados são introduzidos no texto entre aspas, não teria havido a ''plantação de notícias'', visando favorecer Pedro Collor e ao mesmo tempo tendo sido um recado a PC Farias?
8. A matéria é favorável a PC Mello, desde o título, o subtítulo e a prioridade da foto. Na referida reportagem, está implícita um forte recado de Pedro Collor, através da revista de maior circulação nacional, a PC Farias e seus amigos de que não tinham mais o apoio e o aval do ''poder'' para realizar seus negócios;
9. Ao se fazer a análise semântica, detecta-se no discurso uma carga emotiva muito forte por parte de PC Mello, através dos signos lingüísticos por ele utilizado. Também numa análise semiótica nota-se que a foto principal, que abre a matéria, prioriza Pedro Collor, onde ele aparece com o punho direito cerrado sobre a mesa, os cenhos franzidos, demonstrando sinal de irritação, raiva. A imagem de punho fechado, prestes a esmurrar a mesa do escritório da TV Gazeta, (e o adversário PC Farias) abre o texto. Ao fundo da imagem, aparece em segundo plano, a logomarca da empresa Gazeta de Alagoas, cuja marca representa a força e o poder da família Collor.
A foto tem um valor fotojornalístico e semiótico importante, e produz um sentido forte, explicitando um desafio e um último aviso ao seu adversário e inimigo PC Farias. Tanto o título quanto o subtítulo, bem como as fotos de Pedro Collor, Leopoldo Collor e Rosane Collor, que ilustram o texto, se articulam de forma metalingüística, apontando o poder da família do presidente no estado de Alagoas. A morfologia, a estrutura da paginação e da diagramação da reportagem deixam subentender que a ''família'' do político mais importante do país (o presidente da República), estaria unida para isolar a ''Lepra Ambulante'', que poderia causar o impeachment do presidente, e com isso a perda do poder.
10. A matéria não é de responsabilidade editorial da revista Veja, e sim do autor, jornalista Eduardo Oinegue, pois o texto traz a sua assinatura. Em razão disso, outras perguntas podem ser feitas: Será que pela disputa do poder e pelo controle da comunicação em Alagoas, uma das partes não estaria usando direta ou indiretamente o jornalista para atingir seu objetivo? Mesmo sem duvidar da seriedade profissional do repórter, isso é perfeitamente possível de ocorrer, e ocorre, na luta pelo poder e no meio jornalístico:
11. Dos oito enunciados atribuídos às fontes, seis deles
partiram ou privilegiaram Pedro Collor de Mello (incluindo aí um
atribuído ao seu irmão-presidente), enquanto que somente
dois enunciados foram atribuídos a Paulo César Farias.
Estatisticamente, nota-se que 75% dos enunciados foram de PC Mello,
enquanto que 25% dos enunciados restantes foram creditados a PC Farias.
O discurso jornalístico nessa análise quantitativa prova
que o texto foi elaborado de forma a favorecer Pedro Collor de Mello:
12. Os enunciados atribuídos a Pedro Collor de Mello são
redundantes e se repetem ao longo do texto, num esforço de tornar-se
claro e de fazer-se entender pelo público leitor; constata-se a
presença da paráfrase, pois o texto é expandido em
torno de um único tema em questão, para dar mais clareza
aos fatos.
Foi visto que toda enunciação carrega um forte caráter
ideológico, tendo por trás como elementos básicos
o poder e o desejo, porém, tais intenções não
são ditas explicitamente, havendo a necessidade de se buscar o sentido
oculto dos enunciados de um dado discurso, que por ser polissêmico,
polifônico e constituído de subentendidos e pressuposições,
muitas vezes a intenção real do enunciante não está
no que foi dito e sim no não dito.
Foucault (op. Cit., p. 2) lembra que nem tudo pode ser dito e que a
enunciação está marcada por uma ampla rede de significações,
proibições, interesses e desejos por parte do sujeito, e
afirma que:
Apesar de o discurso parecer ser pouca coisa, as proibições
que o atingem revelam muito cedo, muito depressa sua ligação
com o desejo e o poder. O espantoso está em que o discurso - a psicanálise
nô-lo mostrou - não é simplesmente o que manifesta
(ou encobre) o desejo; é também o que é objeto do
desejo; e em que o discurso - isso a história não cessa de
nô-lo ensinar - não é simplesmente o que traduz as
lutas ou os sistemas de dominação, mas o porquê, aquilo
pelo que se luta, o poder cuja posse se procura.
Assim, é possível compreender que, mesmo em razão
das proibições impostas aos enunciantes Pedro Collor de Mello
e Paulo César Farias, por estarem ligados ao poder (presidente Collor),
seus enunciados estão carregados de intenções e desejos,
notadamente os atos de fala atribuídos a Pedro Collor. Ao se fazer
a leitura do não dito em Ducrot (op. Cit.), é possível
se detectar os desejos de poder implícitos nos enunciados de Pedro
Collor.
A princípio pode parecer que a verdadeira intenção
do discurso jornalístico analisado estaria no que foi dito, mas,
após a análise, percebe-se que a importância central
do texto veiculado pela revista Veja está no não dito.
É Politzer (s. d., p. 80) quem observa que
A contradição das idéias é apenas uma das
formas da contradição: por ser a contradição
uma realidade objetiva, presente em todo o mundo, é que se encontra,
também, no ''sujeito'', que ela se encontra no homem (que faz parte
do mundo). Todo processo (natural ou social) explica-se pela contradição.
Essa contradição subsiste, enquanto dura o processo: existe,
ainda que não seja manifestada.
Sabe-se que, quando o sujeito afirma, o dito, é preciso buscar-se
o que ele está negando ou deixando de dizer, o não dito;
para se detectar suas reais intenções discursivas e objetivas.
Como foi mostrado, o mito da imparcialidade, da objetividade e da veracidade
total não existe não ação humana, e por extensão
no discurso jornalístico, razão pela qual o fazer jornalístico
está condicionado a todos os tipos de interesses e manipulações,
pois ''só os ingênuos acreditam que não têm interesses
capazes de levá-los (os meios de comunicação e também
os jornalistas) a deturpar os fatos'' adverte Laje (op. Cit. p. 111). Devido
a isso, em todo discurso jornalístico há a necessidade de
se interpretar também o não dito.
Compreende-se que o não dito tem um valor igual ou até
mesmo maior do que o dito, em razão dos interesses envolvidos e
que por isso mesmo não são explicitados, ficando dessa forma
nos implícitos discursivos. Apreende-se ainda que a subjetividade
permeia todos os discursos e que o ocultamento dos fatos pelo enunciante,
o porquê ele enuncia dessa ou daquela maneira deve ser buscado no
não dito, ou seja, no campo do extralingüístico, no
contexto sócio-histórico.
No caso analisado, Pedro Collor deixa implícita a sua vontade
de mais poder e o desejo de manutenção do monopólio
da comunicação em Alagoas ad infinitum. Tais fatos
estão nos pressupostos de implicitação discursiva,
no não dito.
Espero ter demonstrado neste trabalho que as intenções
implícitas de poder e desejo tanto de PC Mello quanto de PC Farias,
tendo como tema central o domínio do setor de comunicação
em Alagoas foram os fatores que desencadearam a reportagem "Dossiê
explosivo''.
Ao final, conclui-se que nenhum discurso é neutro e que as conseqüências
dos enunciados de Pedro Collor na reportagem "Dossiê explosivo''
abalaram a estrutura do poder. O projeto de lançamento do jornal
Tribuna de Alagoas foi efetivamente adiado por tempo indeterminado
pelo empresário PC Farias e família, no dia 10 de abril de
1992 e os desdobramentos políticos e institucionais continuaram,
aprofundando ainda mais a crise no governo Collor, quando seu irmão,
Pedro Collor, resolveu divulgar, também através da revista
Veja, na segunda edição do mês de abril de 1992,
a rede de empresas que PC Farias teria montado no exterior, comprovando
seu enriquecimento rápido e ilícito.
Entendo também que esta análise não está
esgotada e que não foram levantados todos os elementos lingüísticos
que o texto jornalístico permite, em razão das limitações
de tempo e espaço que nos impossibilitam o aprofundamento deste
trabalho. Porém, creio ter levantado algumas pistas de implicitações
e subentendidos existentes no discurso jornalístico, permitindo,
com isso, futuras reflexões sobre o assunto, tanto por parte dos
alunos quanto dos profissionais de comunicação e áreas
conexas, sobre a importância da linguagem e a disputa de poder que
acontece na sociedade, tendo como elemento mediador o signo lingüístico.
DUCROT, Osvald. Princípios de semântica lingüística (dizer e não dizer). São Paulo, Cultrix, 1977.
________ . O dizer e o dito. Campinas, Pontes, 1987.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Trad. Sírio Possenti, Paris, Callimard, mimeo, 1971.
FRAGA ROCCO, Maria Thereza. A linguagem autoritária. São Paulo, Brasiliense, 1989.
LAJE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. 2a ed. Petrópolis, Vozes, 1982.
MAINGUENAU, Dominique. Novas tendências em análise do discurso. Campinas, Pontes, 1989.
OINEGUE, Eduardo. in: "Dossiê explosivo''. Veja, São Paulo, 11.02.92, ed. 1.222, nº. 8, ano 25, Ed. Abril, p. 24-5.
POLITZER, Georges. BESSE, Guy et alii. Princípios fundamentais de filosofia. São Paulo, Hemus, s.d.
POSSENTI, Sírio. Apresentação da análise do discurso. S. J. R. Preto - SP, Glotta, 12: 45-59, 1990.
REVISTA IMPRENSA. Ano V, mês 11, nº. 51, in "Caderno de mídia'', São Paulo, Feeling Editorial, dez., 1991.
ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. 7 ed. São Paulo, Brasiliense, 1986.