O quadrado semiótico situa-se na semântica fundamental, ponto de partida do processo generativo. Este consiste na trajectória de produção do objecto semiótico, das estruturas profundas às estruturas de superfície, do mais simples ao mais complexo, do mais abstracto ao mais concreto. Nesse percurso distinguem-se três níveis, da base para o topo: o nível profundo e o nível de superfície das estruturas narrativas, e o nível das estruturas discursivas. Os diferentes níveis são estudados respectivamente pelas sintaxes e semânticas fundamentais, narrativas e discursivas.1

A semântica fundamental estuda as estruturas elementares da significação e cobre conjuntamente com a sintaxe fundamental o estudo das estruturas designadas pelos conceitos de língua (Saussure) e de competência (Chomsky). As estruturas semânticas podem ser formuladas como categorias e são susceptíveis de ser articuladas pelo quadrado semiótico. É justamente este que lhes confere um estatuto lógico-semântico e as torna operatórias.2

O quadrado semiótico consiste na representação visual da articulação lógica de uma qualquer categoria semântica. Partindo da noção saussureana de que o significado é primeiramente obtido por oposição ao menos entre dois termos, o que constitui uma estrutura binária (Jakobson), chega-se ao quadrado semiótico por uma combinatória das relações de contradição e asserção. Este é um procedimento estruturalista na medida em que um termo não se define substancialmente, mas sim pelas relações que contrai.

Tomando S1 como masculino e S2 como feminino, o primeiro passo é negar S1, produzindo assim a sua contradição ~S1, que se caracteriza por não poder coexistir simultaneamente com S1 (há uma impossibilidade de os dois termos estarem presentes ao mesmo tempo). A seguir afirma-se ~S1 e obtém-se S2. Isto é, se não é masculino é feminino. Esta é uma relação de implicação. O passo assim descrito representa-se graficamente do seguinte modo:

O segundo passo consiste no mesmo procedimento a partir de S2, pelo que se obtém o seguinte esquema:






Os dois esquemas constituem então o quadrado semiótico:

As linhas bidireccionais contínuas representam uma relação de contradição, as bidireccionais tracejadas uma relação de contrariedade e as linhas unidireccionais uma relação de complementaridade. Daqui decorrem seis relações:3

O quadrado semiótico permite indexar todas as relações diferenciais que determinam o nível profundo do processo generativo. A combinação das relações de identidade e alteridade, figuradas pelo quadrado semiótico, constitui o modelo ou esquema a partir do qual se geram as significações mais complexas da textualização.

O nível fundamental sintáctico-semântico articula e dá forma categórica ao micro-universo susceptível de produzir as significações discursivas. Contudo, as categorias desenhadas pelo quadrado semiótico constituem valores virtuais cuja selecção e concretização pertence à semântica narrativa. A tarefa desta consiste essencialmente em fazer uma selecção dos valores disponíveis e actualizá-los mediante uma junção com os sujeitos da sintaxe narrativa de superfície.4

O poder operatório do quadrado semiótico é tão grande, quanto fundamental, aplicando-se a toda e qualquer instância significativa. Nele assentam todas as textualizações. Por um lado, o quadrado semiótico representa uma articulação das relações fundamentais estáveis de todo o processo generativo. As relações de identidade encontram-se à partida estabelecidas nas estruturas de profundidade. Por outro lado, possui uma dinâmica relacional que induz ao próprio processo generativo.

A aplicação do quadrado semiótico é universal a todos os objectos. A análise de Greimas à receita da sopa de basílico constitui um exemplo de como um texto programático se ergue sobre estruturas elementares simples esquematizadas pelo quadrado semiótico. Greimas constrói um programa narrativo que parte das relações base cozinheiro/convidados e cru/cozido.5

1- Greimas e Courtés, Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Paris: Hachette, 1979, pp. 157-160.
2- ibidem, p.300.
3- Greimas e Courtés, ibidem, p. 31.
4- ibidem, p. 331.
5- Algirdas Julien Greimas, "La Soupe au pistou ou la construction d'un object de valeur" em Du Sens II, Essais Sémiotiques, Paris: Seuil, 1983. Exemplos de aplicação do método greimasiano a textos literários encontram-se em Anne Hénault, Les Enjeux de la Sémiotique, Paris: PUF, 1979. Ver sobretudo capítulos IV e V. Exemplos de uma aplicação do quadrado semiótico às estratégias de marketing e de comunicação aparecem no livro de Jean-Marie Floch, Sémiotique, marketing et communication. Sous les signes, les stratégies, Paris: PUF, 1990. No livro são traçados percursos generativos diversos, desde a elaboração de uma tipologia comportamental dos passageiros do metropolitano de Paris, ao estudo das filosofias de pubs, passando pela definição da identidade visual de um banco e pela publicidade de automóveis.