Da semiótica e seu objecto

 

António Fidalgo, Universidade da Beira Interior

 

(Publicado em Comunicação e Sociedade 1, Cadernos do Noroeste, 1999, Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho)

 

1999

 

1- Introdução

Sempre a questão do objecto foi uma das questões centrais de qualquer ciência. Saber de que é que uma ciência trata é tão importante ou mais do que saber quais os seus métodos ou seus objectivos. O mesmo se passa com a semiótica. A indicação do seu objecto é elemento importantíssimo para a sua compreensão enquanto ciência. Tradicional­mente a semiótica era entendida como ciência dos signos, mas hoje aparecem escolas e autores a defenderem a semiótica como ciência da significação em contraposição a uma semiótica enquanto ciência dos signos. Um desses autores é Moisés Martins que logo na primeira página do seu relatório sobre a disciplina de semiótica, apresentado à Universidade do Minho para provas de agregação, afirma explicitamente: "Não circunscrevemos a semiótica ao regime do signo. Pensamo-la antes na confluência de dois níveis semânticos não sígnicos: o da textualidade/discursividade e o da enunciação. E enquanto num caso acentuamos o domínio da escrita, o domínio do objecto textual, e suspendemos a relação com o contexto, no outro, colocamos a ênfase nas dimensões da prática discursiva, interacção, intersubjectividade, reflexividade, intencionalidade e comunicação. Quer isso dizer que pensamos a semiótica como a disciplina da significação".[1]

Moisés Martins não nega que tradicionalmente a semiótica era entendida como ciência dos signos,[2] mas considera que na década de sessenta houve uma alteração do objecto desta ciência, de algum modo concomitante com a alteração da denominação de semiologia para semiótica: "A disciplina de Semiótica começou por ser em Saussure, e foi-o ainda com Barthes, uma ciência que se ocupou dos sistemas de signos (semiologia). Nos anos sessenta rompe com a linguística do signo e afirmou-se como a ciência da significação (semiótica)."[3] Embora esta alteração de denominação de semiologia para semiótica se aplique tão somente ao universo parisiense, pois que antes de Saussure forjar o termo "semiologia" já o termo "semiótica" era vulgar na filosofia e na lógica como teoria dos signos, o que importa aqui registar é que Moisés Martins considera estar meramente a aceitar um dado adquirido, isto é, que a semiótica mudou de facto de objecto: "Fazemos, sim, acto da deslocação operada em semiótica ao longo das últimas décadas. Esta disciplina deixou, com efeito, de se ocupar dos signos, cuja crise talvez com algum exagero, é dada por definitiva, para se centrar na significação, e na realização que esta tem em textos (e em discursos)".[4]

O meu intuito neste artigo é duplo: por um lado, compreender o abandono dos signos pela Escola de Paris, isto é, apurar as razões para o que é considerado um dado adquirido, e, por outro, reafirmar os signos como o objecto da semiótica, mostrar que esse é o entendimento largamente predominante na comunidade científica internacional, e justificar esse entendimento. De algum modo retomo os propósitos do artigo de Umberto Eco  “Signo” na Enciclopédia Einaudi.[5]

Como meta final do artigo proponho-me mostrar que a noção de semiótica como doutrina dos signos continua a ser hoje uma noção muito rica e, mais importante ainda, que esta acepção de semiótica é mais ajustável que a acepção da semiótica como ciência da significação num currículo de estudos de um curso de comunicação.

2- A história e os confins da semiótica

As fronteiras de uma ciência devem muito do seu traçado não à necessidade dedutiva decorrente dos seus princípios, mas ao acaso da história. Que objectos caem ou não no seu âmbito resulta não raras vezes de uma reivindicação atempada. Como ciência recente, a semiótica sentiu a dificuldade de encontrar já ocupadas áreas de investigação que poderiam muito bem ser suas. Isto mesmo o reconhece Roland Posner ao apresentar a semiótica como ciência com um objecto, no artigo com que abre a monumental obra Semiotics. A Handbook on the Sign-Theoretic Foundations of Nature and Culture.[6] Escreve ele que o propósito da semiótica teórica de fornecer os conceitos gerais a todos os tipos relevantes de signos e de semioses chocou com os direitos adquiridos de disciplinas tão estabelecidas como a biologia, a psicologia e a medicina, por um lado, e a filologia, a musicologia e a história de arte, por outro.[7] A alternativa foi, primeiro, abordar áreas ainda não cobertas cientificamente, dando assim origem às semióticas regionais, como a do teatro, a da cinema e a da comunicação não verbal, e, segundo, tratar unitariamente áreas diversas, abordadas isoladamente por outras disciplinas. Fora o desenvolvimento da semiótica mais lesto e hoje seriam os seus confins diferentes.

Definir a semiótica tal como existiu e existe exige conhecer a sua história. Com efeito, qualquer definição nominal ou convencional não evitaria um certo grau de arbitrariedade. A definição etimológica do termo semiótica como disciplina dos signos (σημεĩον) poderia considerar-se como corroborando a posição de que são os signos e não a significação o objecto da semiótica, no entanto, um olhar mais atento à história do étimo revelaria que não será a etimologia a abitrar o litígio do objecto semiótico. O termo σημεĩον constituinte de semiótica é tardio no grego e deriva do termo anterior ση̃μα.[8] Ora é deste radical que surgem também outras disciplinas adjacentes, concorrentes ou mesmo pertencentes à semiótica, como semântica e semasiologia. A raiz etimológica dos termos é a mesma, todavia o seu significado varia consoante a história destes. O termo semântica, por exemplo, só em 1897, com o Essai de Sémantique de Michel Bréal, viu a sua significação definitivamente estabelecida como a ciência do significado.

A própria história do termo ‘semiótica’, que não da ciência semiótica, não resolverá certamente a disputa em aberto, apesar das achegas importantes que possa dar. É sabido que ‘semiótica’ começa por ser um termo da medicina grega. Na tradição hipocrática Galeno classifica a σημειοτική como um dos seis ramos da medicina, a par da fisiologia, etiologia, patologia, higiene e terapia. Fazendo parte da diagnose, caberia à semiótica descobrir os sintomas das doenças.[9] No entanto, e apesar de Galeno ser, além de médico, um filósofo com uma obra ampla num campo lógico-linguístico que hoje incluiríamos na semiótica,[10] a relação entre os dois campos, a sintomatologia médica e a linguística, não foi feita pelos gregos.[11] Umberto Eco escreve mesmo que Galeno teria ficado muito surpreendido se soubesse que a sua τεχνη σημειοτική servia para analisar também os elementos da língua.[12]

Não é à história do termo, mas à história da ciência por ele designada, que há que buscar directrizes vinculativas sobre o seu objecto específico. Determinar-se-á o objecto da semiótica sabendo qual o objecto de que ela tratou e trata. Sendo muito claro este método de resolução do problema, ele não é fácil. E não é fácil desde logo porque nos encontramos de algum modo numa situação circular, da charada do ovo e da galinha. Para determinar o que cabe e não cabe na história da semiótica, exige saber-se do que ela trata, e para se saber do que a semiótica trata há que recorrer à história da semiótica. Esta dificuldade foi levantada e tratada por Jürgen Trabant[13] e Umberto Eco.[14]

Trabant considera não ser possível uma história “objectiva” da semiótica, mas que haverá sempre diferentes semióticas consoante as diferentes concepções de semiótica dos historiadores. Com base em duas apresentações da história da semiótica,[15] Trabant mostra como a semiótica é vista e narrada consoante o respectivo ponto de partida. Adoptando a divisão nietzscheana da história em monumental, crítica e antiquarista, Trabant considera que tanto uma como a outra das apresentações analisadas pertencem ao género monumental, interessadas em justificar e glorificar uma determinada teoria e prática semióticas. Trabant nota a falha de ainda não existir aquela história antiquarista da semiótica, que tudo regista sem diferenciar o valor de cada coisa, nem respeitar proporções, mas que acribicamente junta tudo o que possa de perto ou de longe, de qualquer maneira, ter a ver com a temática semiótica. E declara ser uma necessidade a elaboração dessa história antiquarista da semiótica, até para por ela se aferirem as particularidades e se corrigirem as falhas e as injustiças das histórias de tipo monumental e crítico.[16]

A história antiquarista da semiótica foi entretanto feita. O referido manual de semiótica de Posner contém uma vastíssima quantidade de material histórico que abarca todos os domínios que podem ser considerados como pertencendo ao longo dos tempos, de longe ou de perto, à semiótica.[17] Ora é justamente num artigo introdutório a esta história da semiótica que Umberto Eco analisa o problema da relação do objecto e da história da semiótica. Um historiador que quisesse elaborar uma história da semiótica, entendida esta como uma teoria dos signos, verificaria que muitos autores do passado, apesar de abordarem temáticas que no entender do próprio historiador estariam relacionadas com os signos, ou não mencionam a noção de signo, ou questionam mesmo a própria noção de signo, ou afirmam que o objecto da semiótica é algo diferente dos signos, ou sustentam que os signos são apenas uma sub-espécie de entidades semióticas e que a semiótica incide sobre um campo mais vasto de fenómenos inter-relacionados, ou negam abertamente a existência de um campo unificado de interesses denominado semiótica, ou, por fim, assumem expressamente que as suas investigações nada têm a ver com a semiótica. Ainda segundo Umberto Eco, o problema subjacente a este dilema é o facto de, por um lado, os semióticos modernos ainda não terem chegado a acordo sobre uma lista mínima de conceitos básicos e, por outro, de a noção de signo não ter sido sempre, desde os primórdios do pensamento ocidental, uma categoria semiótica suficientemente compreensiva. A solução consistirá em todo o historiador expor logo de início qual o seu entendimento de semiótica e qual o objecto da sua pesquisa por campos tão diferentes da reflexão científica e da cultura humana.[18] Mesmo assim, a proposta de Eco é partir da definição de semiótica como doutrina dos signos, por isso seguir as propostas mais difundidas como a de Jakobson[19] e a de Sebeok.[20]

No entanto, para além de uma história geral da semiótica, isto é de uma semiótica de certo modo avant la lettre, que incluiria tudo e todos, há a história da semiótica como disciplina do século XX. Aqui é inquestionável que Charles Sanders Peirce e Ferdinand de Saussure são os fundadores da semiótica tal como se viria a constituir nos nossos dias. A semiótica é, vale dizê-lo, uma ciência recente para uma temática antiga[21]. Dentro da história da semiótica cabe portanto como seu núcleo duro a história da disciplina da semiótica tal como ela se afirmou como disciplina autónoma na contemporaneidade. E aqui não subsistem quaisquer dúvidas de que foi concebida pelos seus fundadores como ciência dos signos.

John Locke é o primeiro na modernidade a postular em 1690 uma ciência chamada σημειοτική incumbida de estudar os signos, de que as palavras são a parte mais usual, nomeadamente de considerar a natureza dos signos de que o espírito se serve para entender as coisas ou para comunicar esse conhecimento aos outros.[22] Ora é sobretudo a função representacional dos signos no conhecimento que chama a atenção dos lógicos do século XIX, como Lambert[23], Bolzano e Husserl[24]. Eles vêem na semiótica uma ciência propedêutica à lógica virada para o estudo dos signos como instrumentos do pensamento e do conhecimento.

É no seguimento desta linha filosófico-lógica que Peirce desenvolve o seu conceito de semiótica.[25] Para Peirce a semiótica é uma disciplina lógica. Logo nos primeiros escritos, nomeadamente em “On a New List of Categories”,[26] estabelece os traços gerais do que seria a sua semiótica. As categorias aristotélicas e kantianas são substituídas simplesmente por três, Qualidade, Relação e Representação, havendo então a distinguir três tipos de representações (termo que viria a ser substituído por signo), similitudes (mais tarde, ícones), índices e símbolos. A tese fundamental de Peirce nos primeiros escritos, “Questions Concerning Certain Faculties Claimed for Man” e “Some Consequences of Four Incapacities”, é de que “todo o pensamento está nos signos” e, portanto, de que a semiótica tem uma aplicação universal. Tudo pode ser um signo, bastando para isso que entre num processo de semiose, no processo de que algo está por algo para alguém.

Directamente na peugada de Peirce, Charles Morris apresenta a semiótica como a ciência dos signos com as sub-disciplinas da sintáctica, semântica e pragmática.[27] O mérito de Morris é o de ter estabelecido esta divisão epistemológica da semiótica, que se tornaria canónica, na base do próprio processo semiósico. O estudo semiótico dos signos pode ser sintáctico, semântico ou pragmático justamente dada a natureza relacional do signo. Todo o signo consiste na relação de um veículo sígnico que denota algo para alguém. A semiótica “is not concerned with the study of a particular kind of object, but with ordinary objects in so far (and only in so far) as they participate in semiosis”.[28]

Numa palavra, não restam dúvidas de que, quanto à semiótica de proveniência peirceana, seguramente a corrente semiótica mais importante da actualidade, ela foi e continua a ser entendida como doutrina dos signos. Thomas A. Sebeok e toda a escola de Indiana aí estão para o mostrar através de numerosas obras e congressos científicos.

A negação dos signos como o objecto da semiótica aparece na escola francesa, precisamente com A. J. Greimas, e é portanto na história da semiologia, isto é, da semiótica de proveniência linguística, que deveremos encontrar as razões para uma alteração da acepção tradicional de semiótica.

A ideia que Saussure apresenta da semiologia é tão clara quanto embrionária. À semiologia competiria “o estudo da vida dos signos no seio da vida social”. Sendo a linguagem um sistema de signos entre outros sistemas de signos de que o homem se serve para comunicar, a linguística seria uma ciência particular de determinados signos, os signos da linguagem, e enquadrar-se-ia na ciência geral da semiologia que se debruçaria sobre todos os signos. A nova ciência, denominada a partir do grego semeion, “sinal”, “estudaria em que consistem os signos, que leis os regem”.[29]

A concepção saussureana de semiologia é desenvolvida, na década de sessenta, no sentido de uma semiologia da comunicação, oposta à semiologia da significação de Roland Barthes,[30] por Buyssens[31] e Prieto.[32] O que estes dois autores intentam é de facto erigir uma teoria geral dos signos.

Ora é justamente esta semiologia saussureana, enquanto teoria geral dos signos, linguísticos e não linguísticos, que Greimas considera ultrapassada. Explicitamente Greimas e Courtés escrevem que “O projecto semiológico, na medida em que se procurou desenvolvê-lo no quadro restrito da definição saussureana - o estudo dos signos, inscrito na teoria da comunicação, consistindo na aplicação quase mecânica do modelo do signo linguístico - depressa se viu reduzido a bem pouco: à análise de alguns códigos artificiais supletivos, como as análises de Prieto e de Mounin, fazendo da semiologia como que uma disciplina anexa da linguística."[33] Mais exactamente, é o modelo por assim dizer ortodoxo da semiologia saussureana, defendido por Georges Mounin, que Greimas declara ter-se esgotado.

Greimas inscreve-se expressamente[34] na tradição de Louis Hjelmslev para sustentar uma concepção de semiótica não como teoria geral dos signos, mas como teoria dos processos universais de significação. Seria, pois, com Hjelmslev que se daria, segundo Greimas e Courtés, a alteração da noção de semiótica e isso bastaria para nos obrigar a olhar atentamente para a doutrina do linguista dinamarquês. Há porém que redobrar a atenção, quando outros autores consideram que, pelo contrário, é Hjelmslev que realiza o projecto de Saussure, da semiologia como uma ciência dos signos, baseada na linguística imanente e estrutural.[35]

Nos Prolegómenos a uma Teoria da Linguagem de 1943 Hjelmslev conclui ser inevitável o alargamento das considerações linguísticas a outras áreas que não as línguas naturais, e isto porque esse alargamento decorre das preocupações estritas do linguista.[36] Essas áreas são as semióticas, dando Hjelmslev um sentido peculiar a este termo. Por semiótica entende ele não uma ciência, mas um sistema hierárquico de relações tal como, por exemplo, uma linguagem natural.[37] Uma semiótica é um sistema estruturado de modo análogo à linguagem. A conclusão daqui resultante é a que “obriga o linguista a considerar como seu objecto, não só a linguagem natural do dia a dia, mas também qualquer semiótica, isto é, qualquer estrutura análoga à linguagem”.[38] Donde resulta que a linguagem como uma semiótica entre outras “pode ser encarada como um caso especial de um objecto mais geral”.[39] Daqui segue-se, segundo Hjelmslev, ser proveitoso e necessário estabelecer um ponto de vista comum às várias disciplinas, do estudo da literatura à matemática, passando pela música e história, “dando cada uma, à sua maneira, o seu contributo à ciência geral da semiótica”.[40] Hjelmslev concebe, portanto, também uma ciência geral, modelada sem dúvida a partir da linguística, mas onde esta se inseriria.[41]

Esta é, a este nível, uma posição claramente saussureana. O próprio Hjelmslev o reconhece.[42] O que Hjelmslev contesta, isso sim, é o carácter sociológico e psicológico que a semiologia teria, na opinião de Saussure. Com efeito, Saussure enquadra a semiologia dentro da psicologia social e esta por sua vez dentro da psicologia geral. Donde a linguística, como ciência particular da semiologia, seria também uma disciplina socio-psicológica. Contudo, como Hjelmslev muito bem aponta, o que Saussure acaba por realmente fazer com a linguística é algo completamente diferente. A linguística como Saussure efectivamente a desenvolve é uma “ciência da pura forma” e a língua uma “estrutura abstracta de transformações”.[43] Não é por acaso que a estrutura semiológica é redescoberta nas estruturas dos jogos, por exemplo na do xadrez. A concepção da linguagem é formal. Ora este é, ainda segundo Hjelmslev, um ponto muito importante na constituição da semiologia numa base “imanente”. E é aqui que uma colaboração íntima entre lógicos e linguistas se pode e deve estabelecer. Hjelmslev cita a obra de Rudolf Carnap, A Sintaxe Lógica da Linguagem, 1934, como situando-se na fronteira dessa colaboração. Portanto, a concepção hjelmsleviana da doutrina geral da semiótica é a de uma ciência claramente formal, de natureza linguístico-lógica.

Sendo assim, como é que Greimas enraíza uma semiótica social na doutrina de Hjelmslev? Através da distinção crucial que Hjelmslev faz entre processo e sistema.[44] Sendo as semióticas hierarquias e havendo dois tipos de hierarquias, processos e sistemas, a ideia greimasiana de semiótica é a de uma hierarquia de processos determinante da hierarquia de sistemas.

Hjelmslev considera que toda a análise linguística tem de ser processual e sistemática. Ora é justamente na base da análise processual do eixo sintagmático da língua que Hjelmslev chega às figuras constituintes dos signos. Os signos não são entidades linguísticas últimas, mas sim construções sígnicas feitas a partir de um número reduzido de figuras.[45] Conclui-se assim que “as línguas não podem ser descritas como puros sistemas de signos…, mas que pela sua estrutura interna são primeiramente e antes de tudo o mais algo diferente, a saber, sistemas de figuras que se podem usar para construir signos.”[46] Fica assim desfeita a ideia da linguagem como sistema de signos. Na base desse sistema está uma construção.

A semiótica de Greimas reforça o carácter processual da análise.[47] É neste ponto, portanto, na distinção entre processo e sistema, que claramente se situa a bifurcação na concepção de semiótica, a semiologia sistemática saussureana e a semiótica processual - ou semântica! - de Greimas.[48]

Sem querer entrar numa filologia da obra de Hjelmslev, parece não sofrer dúvidas que a leitura que Greimas faz é unilateral. Para Hjelmslev todo o processo tem um sistema por detrás que o possibilita e o condiciona. Pode haver sistemas sem processos, mas não há processos sem sistemas.[49]  Ora a noção que Hjelmslev apresenta da semiótica é, como se viu atrás, a de um alargamento e desenvolvimento do sistema linguístico. Apesar do que Greimas e Courtés pretendem fazer crer, a semiótica de Hjelmslev está na linha de desenvolvimento da semiologia de Saussure.

3- A polissemia e a crise do ‘signo’

A crise do signo é antes de mais uma crise do signo linguístico. A semiologia que Greimas considera ultrapassada é a semiologia que se baseia na noção saussureana de signo linguístico. Porém, para além da noção de signo linguístico outras noções há de signo que de modo algum se reduzem àquela. A questão é pois se a crise do signo tal como é proclamada pela Escola de Paris se estende à noção de signo em geral, überhaupt, ou apenas se cinge à noção de signo como uma entidade de duas faces, significante e significado. Há que dar razão a Umberto Eco quando diz que o anúncio da morte do signo raramente é precedido por uma análise do conceito de signo ou por uma investigação histórica da sua semântica.[50]

O que Aristóteles diz do ente, que se diz de muitas maneiras, também se pode dizer do signo. Comecemos então por fixar as noções mais comuns de signo.[51]

Sabemos que a noção de signo em Saussure tem a sua génese num processo comunicativo em que o emissor transmite uma mensagem a um destinatário. O signo toma a função de representação de algo que se pretende comunicar a outro ser. Na base desta transmissão há-de haver um código comum capaz de associar as mesmas representações no emissor e no destinatário. Aqui a relação sígnica é uma relação de equivalência, p º q. Esta é a relação sígnica presente nos dicionários e nas enciclopédias, onde woman significa mulher e “animal, humano, feminino, adulto”. Esta relação tem um cariz arbitrário.

Esta noção de signo não é todavia a inicial, aquela em que signum está por sinal, marca, indício.  O rasto de um animal que serve de sinal a um caçador, o fumo como sinal do fogo, a febre como sintoma da doença, não são signos com uma relação de equivalência. A relação sígnica aqui presente é antes a de implicação, p É q, ou seja, é uma condicional, se p então q. Um sinal é algo a partir do qual se podem fazer inferências válidas. Assim da presença do rasto conclui-se que por ali passou um animal, do fumo conclui-se que há fogo. É neste sentido que os estóicos declaram ser o signo uma proposição constituída por uma conexão válida com o seu consequente.

Mas para além destes dois sentidos de signo ainda há outros que convém referir. Signo significa também um símbolo que representa um objecto abstracto ou uma relação, como é o caso dos símbolos da álgebra e da geometria. Enquadram-se aqui as fórmulas e os diagramas. Embora sejam arbitrários, há neles também uma relação de motivação na medida em que alterando-se a expressão altera-se o conteúdo, dada a relação de um-a-um entre expressão e conteúdo. São os chamados signos icónicos ou analógicos. Este é o sentido de signo que os matemáticos e os lógicos do Século XIX, nomeadamente Bolzano e Husserl, abordam. Os signos são considerados aqui instrumentos eficazes do pensamento.

Signo significa ainda um desenho. A diferença entre um desenho e um diagrama reside em o diagrama obedecer a regras precisas e codificadas de produção enquanto o desenho é feito espontaneamente e ainda por o diagrama representar objectos abstractos enquanto o desenho representa normalmente um objecto concreto.

Signo significa um desenho estilizado que mais do que representar um objecto concreto representa aquilo por que o objecto ele próprio está, a cruz como sinal do Cristianismo e o crescente como sinal do Islão. São símbolos, porém diferentes das fórmulas e dos diagramas, na medida em que estes são desprovidos e eles repletos de sentido.

Por fim, signo toma o sentido de indicador. A Estrela do Norte é um sinal para o marinheiro, não enquanto representa algo, mas enquanto lhe serve de indicação sobre como proceder. A relação aqui mais do que de substituição é de instrução.

Avançados estes sentidos de signo, convém verificar em que consiste a crise do signo e verificar se a crise do signo linguístico se estende aos outros sentidos de signo.

A crise do signo consiste essencialmente numa desconstrução do signo linguístico, numa recondução deste a unidades de maior ou menor porte. Assim temos a desconstrução do signo em figuras, em proposições e em texto.

A dissolução do signo em figuras, já o vimos, é operada na linguística de Hjelmslev. A análise processual permite dividir o signo, tanto no plano da expressão como no plano do conteúdo, em unidades menores chamadas figuras. No plano da expressão o termo ‘gatos’, por exemplo, pode, graças ao método da comutação, dividir-se em unidades menores gat/o/, onde o ‘o’ indica o masculino, por oposição ao femino ‘a’ (gata). Também no plano do conteúdo podemos estabelecer unidades menores como felino, masculino, animal doméstico, etc. Deste modo, o signo linguístico aparece como o constructo de agregações e desagregações de unidades de menor tamanho. É justamente a possibilidade de analisar a forma do conteúdo que funda, segundo Greimas, a semântica estrutural.

A desconstrução dos signos linguísticos em figuras não se aplica todavia a outros tipos de signos. Há signos em que não há articulações. O fumo que assinala o fogo não pode ser desconstruído e o mesmo vale dos símbolos da aritmética.

Por outro lado, o signo linguístico tem sido reduzido a unidades de maior extensão como a proposição e o texto. Buyssens considera que o signo em si não tem dimensão suficiente para fazer um sentido. Esse sentido reside no sema, na proposição correspondente a um estado de coisas. O mesmo signo linguístico aparece em diferentes proposições que exprimem coisas completamente diferentes. O termo ‘rua’, por exemplo, tem um sentido completamente diferente consoante é utilizado em ‘Vai para a rua’ e ‘A rua é larga’. O signo buscaria o seu sentido na proposição que integrasse. A sua existência significativa seria meramente virtual.

A dissolução do signo no texto é defendida pelo último Barthes e por Kristeva. O texto é o local do sentido, gerador e produtor de sentido. As palavras (signos) e as frases (proposições) que ocorrem no texto têm o sentido no texto. Este pode tirar-lhes o sentido do dicionário e dar-lhes novos sentidos, pode sempre rever os sistemas significativos e significantes anteriores e dotá-los de novo sentido, ou tirar-lhes o sentido. Com as mesmas palavras se constróem textos diferentes e em que as palavras ganham sentidos diferentes. A expressão “Que pontual me saíste!” para referir que o interlocutor chegou atrasado dá ao termo pontual um sentido oposto ao do sentido habitual do termo.

A desconstrução do signo em unidades de maior extensão, todavia, também não consegue esvaziar completamente a autonomia significativa do termo, isto é, não consegue por completo destruir a sua unidade significativa. Mesmo nos casos em que uma palavra aparece com um sentido diferente, há sempre uma identidade última que a comanda e que lhe permite que efectivamente surja com significados muito diferentes, como no caso da palavra olho: “Vai para o olho da rua” ou “O olho é um órgão da visão”, mas que, neste caso, a impede de integrar frases como “O olho comeu favas”. As potencialidades semânticas do termo estão presentes no próprio termo. “A capacidade de os textos esvaziarem, destruirem ou reconstruirem funções-sígnicas pre-existentes depende da presença no seio da função sígnica de um conjunto de instruções orientado para a produção (potencial) de diferentes textos”.[52] Não é uma destruição pura e simples dos signos que ocorre nos textos, mas antes uma violência que estende o sentido destes num processo infinito.

Umberto Eco avança um ‘modelo instrucional’ para cobrir os sentidos conotativos ou metafóricos de um termo, que por vezes parecem negar o sentido primeiro. O sentido obtém-se através de um conjunto de instruções sobre as possíveis contextualizações do termo. Temos então uma semiótica contextual segundo a qual “o tipo semântico é a descrição dos contextos em que o termo pode esperar-se vir a correr”.[53]

Os sentidos diferentes, conotativos ou metafóricos, são possíveis porque mesmo no primeiro nível de significação, para além de uma relação de equivalência há já inferência latente.[54]

Para concluir esta parte, dir-se-á que não só a crise do signo linguístico não se estende às outras noções de signo, mas que a consideração de outros tipos de signo, nomeadamente as relações que lhe estão subjacentes, obrigam a uma revisão do próprio signo linguístico à luz de uma concepção mais funda e mais abrangente do signo enquanto signo.

4- A natureza relacional do signo

A definição clássica de signo “aliquid stat pro aliquo” é feliz na medida em que, colocando duas variáveis nos termos da relação, acentua a própria relação. Algo que está por algo. À primeira vista, a definição é de uma generalidade tão grande que aparentemente a torna de pouca utilidade. “Algo” cobre tudo e pouco diz sobre o que cobre e o mesmo vale para a relação “estar por”. A extensão dos termos “algo” e “estar por” é tão vasta quanto reduzida a sua intensão. Contudo, é graças a essa generalidade que a relação sígnica se pode aplicar a qualquer coisa. Também as noções primeiras de outras ciências são gerais e não deixam de ser fundamentais. A noção de “ser” por exemplo, apesar de uma extrema generalidade não deixa de ser de crucial importância para a filosofia.

O que importa averiguar é a relação sígnica, o “estar por” que constitui o signo. Vimos atrás, aquando da abordagem da polissemia do signo, que as relações sígnicas podem ser de inferência, de equivalência, de similitude, icónicas ou isomórficas, entre outras. A relação “estar por” cobre todas elas. Contudo, também pode cobrir outras, havendo então que apurar qual o âmbito, a extensão, da relação sígnica. Esse âmbito, todavia, só poderá ser traçado mediante a natureza ou intensão da relação. Como heurística para analisar a natureza da relação sígnica, adopto o acrescento que Charles Peirce fez à definição clássica de signo: algo que está por algo para alguém. Deste modo será possível determinar a relação “estar por” constituinte do signo. O “estar por” é uma relação entre  um A e  um B que permite a um C dar-se conta de B mediante A. Quer isto então dizer que há uma relação sígnica entre um A e um B sempre que um C ao dar-se conta de um A também se dá conta de um B. Só nesse momento é que esse A passa a estar por esse B, o mesmo é dizer, é que A é signo de B.

Inferências é o nome dado às relações em que alguém chega ao conhecimento de algo mediante um terceiro. Diz-se então que esse conhecimento é feito por inferência a partir desse terceiro. Antes de mais, convém dizer que inferência é tomada aqui no seu sentido mais lato e que, portanto, não se confina à chamada implicação filoniana.

Dedução e indução são os dois tipos de inferência mais conhecidos. A concepção da inferência sígnica como sendo do tipo dedutivo assenta na noção de um signo forte em que a relação “estar por” é uma relação necessária. Para que C deduza B a partir de A é necessário que B decorra necessariamente de A. Em todos os signos necessários a inferência é de tipo dedutivo. Temos assim signos necessários sempre que haja uma bicondicional como no caso “Se for dia, então haverá luz solar”. Um outro exemplo é o código Morse em que a cada unidade corresponde uma letra do alfabeto. Falamos neste caso de códigos fortes.[55] Código forte é aquele que estabelece uma relação necessária entre o A e o B pelo qual está para C.

Na matemática e em todas as outras linguagens formais as relações sígnicas são necessárias e, dessa maneira, de tipo dedutivo. A necessidade sígnica é aqui estabelecida por definição dos signos em causa. Por sua vez as linguagens naturais são códigos muito menos fortes que a matemática. A relação sígnica diz-se aqui arbitrária, estabelecida pela convenção de usos e costumes. De qualquer modo, a arbitrariedade do signo linguístico, tal como é explanada em Saussure, não significa de modo algum que a relação entre significante e significado se possa alterar ad libitum. Saussure ao realçar a arbitrariedade do signo realça também o seu carácter inamovível. Arbitrariedade significa tão somente que não há motivos para que os termos da relação sígnica sejam esses e não outros. Porém, uma vez estabelecida a relação sígnica por convenção ela tem a força que tem a convenção, ou seja, tem a necessidade que tem a convenção que a instaura.

É de notar que o modelo dedutivo dos sistemas sígnicos como a matemática representa um ideal que exerce uma grande atracção sobre todos os sistemas sígnicos. As tentativas de formalização das linguagens naturais, o esforço por tornar científica a linguagem quotidiana, de a depurar de todas as ambiguidades e de a tornar unívoca podem ser vistas à luz dessa atracção pelo modelo dedutivo da ciência.

Os signos necessários são apenas uma parte, reduzida, do universo dos signos. Mais frequentes no dia a dia são as inferências indutivas. Os sinais de diagnóstico e de prognóstico incluem-se aqui. Há sempre um maior ou menor grau de probabi­lidade na indução.

Mas além da dedução e da indução temos ainda a abdução como inferência lógica e sígnica. Foi Peirce quem descobriu o quão importante é a abdução no conhecimento humano e de que forma. A natureza categorial do signo, a sua universalidade, depende deste tipo de inferência. Efectivamente, a possibilidade de qualquer coisa ser um signo de qualquer coisa para alguém depende da possibilidade deste alguém elaborar uma hipótese explicativa da primeira coisa. Por abdução entende Peirce a inferência em que, face a circunstâncias algo curiosas que poderiam ser explicadas pela suposição do que é um caso de uma regra geral, adoptamos essas suposição”.[56] Toda e qualquer coisa pode ser vista à luz de uma hipótese, ganhando nesse preciso momento um estatuto sígnico.

O leque das inferências abdutivas é enormíssimo, cabendo nele formas de abduzir tão diferentes como percepcionar, presumir, supor, tecer hipóteses, mesmo imaginar.[57] Umberto Eco distingue três tipos de abdução: supercodificada, subcodificada e criativa.[58] A abdução supercodificada ou hipótese é aquela em que a regra é dada quase de imediato. Se numa rua de Portugal ouvir a expressão “rei”, entenderei a palavra como significando “monarca”, contudo se estiver numa aula de latim e ouvir a mesma palavra-som então assumirei que se trata do genitivo singular do substantivo latino “res”. As inferências que se fazem num e noutro local são feitas com base em códigos diferentes, nomeadamente de que nas ruas de Portugal se fala português e de que nas aulas de latim se declinam substantivos latinos. A abdução subcodificada, por seu lado, tem de buscar ela própria o contexto em que se há-de situar, isto é, tem de seleccionar uma regra entre várias possíveis. A palavra “homem” pode significar, consoante os contextos,  “animal racional”, “pessoa adulta do sexo masculino”, “pessoa de carácter”. A expressão “É um homem” tem, assim, sentidos diferentes de acordo com o código escolhido para a cobrir. O terceiro tipo de abdução é aquele em que a regra explicativa tem de ser criada ex novo, ou seja, em que não há códigos disponíveis em que possa ser integrada a coisa a explicar, mas onde o código é ele próprio elaborado. Eco considera que Copérnico fez uma abdução criativa ao ter a intuição do heliocentrismo. Em vez de inserir o fenómeno em causa num modelo já existente, é o próprio modelo que tem de ser criado para fornecer a explicação necessária.

A semiótica americana é muito clara relativamente à natureza relacional do signo. Todo o signo existe num processo de semiose. Peirce e Morris são extremamente explícitos neste ponto. Para que algo possa funcionar como signo de algo tem de haver um interpretante do signo.  O signo como unidade fechada contra o qual se volta a Escola de Paris não existe pura e simplesmente na semiótica de proveniência anglo-saxónica.

Ora é justamente devido ao carácter semiósico ou processual dos signos que a semiótica se pode dividir em sintáctica, semântica e pragmática. Esta divisão não é simplesmente um divisão de facto, é também uma divisão de princípio. Ela assenta na estrutura relacional do signo como bem o demonstra Charles Morris em Foundations of the Theory of Signs. Eliminar os signos da semiótica acarreta o ónus de fundamentar a divisão corrente em sintáctica, semântica e pragmática. Essa divisão não deve ser olhada como mais um facto adquirido por quem considera a significação, e não os signos, como objecto da semiótica.

5- Sintáctica e operatividade dos signos

Uma das consequências de considerar a significação, e não os signos, como o objecto da semiótica é a marginalização da sintáctica e da classificação dos signos. Isso é patente na obra de Moisés Martins, marginalização que é percebida e de algum modo justificada por não se que querer sucumbir à “ideologia do operativismo”.[59]

A divisão morrisiana da semiótica em sintáctica, semântica e pragmática retoma a divisão medieval do trivium, do estudo das voces, em gramática, dialéctica (lógica) e retórica. Charles Peirce foi o primeiro a reinterpretar as velhas  artes dicendi como partes da semiótica. Sistematizando-as em disciplinas que estudariam respectivamente a primeiridade, a segundidade e a tercialidade, Peirce subdividiu a semiótica numa gramática pura ou especulativa, que teria como função “descobrir aquilo que deve ser verdade do representamen utilizado por qualquer inteligência científica para que possa receber uma significação”, a lógica pura como “a ciência daquilo que é necessariamente verdade dos representamina de uma inteligência científica para que possam valer para qualquer objecto, isto é, para que possam ser verdadeiros” e a retórica pura com a função de “descobrir as leis graças às quais em qualquer inteligência científica um signo dá origem a um outro e em particular um pensamento produz outro pensamento”.[60] Charles Morris tenta com a divisão em sintáctica, semântica e pragmática, cobrir as diferentes correntes filosóficas dos anos trinta que estudavam, sob perspectivas diferentes, os signos. A sintáctica incorporaria os trabalhos do positivismo lógico, a semântica os estudos dos empiristas e a pragmática as investigações do pragmatismo.

A ideia de sintáctica estabelecida por Morris é a daquela parte da semiótica que estuda “a maneira como os signos de várias classes se combinam de modo a formar signos. Ela abstrai da significação dos signos que estuda e dos respectivos usos e efeitos”.[61] Nesta concepção assumem-se três tarefas para a sintáctica: i) estudar os aspectos formais dos signos; ii) estudar as relações dos signos com outros signos, isto é, classes de signos com outras classes de signos; iii) estudar as formas de combinação de signos de modo a formar signos complexos.

Ora estes estudos têm larga tradição. Morris recua mesmo até aos gregos para aí encontrar importantes realizações no âmbito da sintaxe, nomeadamente a apresentação da matemática sob a forma de um sistema dedutivo ou axiomático, e reconhece que foram esses sistemas formais que “tornaram inevitável” o desenvolvimento da sintáctica, merecendo especial destaque as ideias leibnizianas da ars characteristica, da ciência a que incumbiria formar os signos de modo a obter, através da mera consideração dos signos, todas as consequências das ideias correspondentes, e da ars combinatoria, do cálculo geral para determinar as combinações possíveis dos signos. Além de Leibniz, Morris cita as contribuições de Boole, Frege, Peano, Peirce, Russel, Whitehead e Carnap, no domínio da lógica simbólica. É justamente em atenção a esta longa e rica tradição lógica que Morris considera ser a sintáctica a disciplina semiótica melhor desenvolvida.[62]

De certo modo a sintáctica está para os sistemas sígnicos como a gramática está para uma língua natural.[63] Não basta conhecer o significado das palavras é também fundamental dominar as regras sintácticas da formação e transformação de signos mais complexos dentro da língua, como as proposições. E tal como saber gramática é um dos saberes básicos de uma língua, conhecer a sintaxe que preside a um sistema sígnico seja ele qual for é um dos princípios fundamentais da utilização desse sistema. De pouco valerá tecer considerações de tipo metalinguístico sobre a matemática ou sobre uma língua natural se não se conhecerem as regras que presidem à organização e combinatória dos seus elementos. A teoria dos jogos invocada por Hjelmslev para compreender as analogias constantes que Saussure traça entre a língua e o jogo de xadrez estipula uma independência formal das regras em jogo que nada têm a ver com os condicionalismos sociais ou psicológicos que possam rodear a realização efectiva de um jogo.

Destacar ou marginalizar a sintáctica no quadro das disciplinas da semiótica depende da realce dado ou à componente sistemática ou à componente processual da semiótica, assumindo aqui a distinção hjelmsleviana entre sistema e processo. No caso de se dar realce ao sistema, tal como o fazem Saussure e Hjelmslev, para já não falar da semiótica de origem lógico-filosófica, então é de crucial importância a sintáctica. As investigações de Saussure sobre os planos sintagmáticos e paradigmáticos da língua são disso o melhor exemplo. Todo o processo da fala se desenrola dentro do sistema da língua. Ou como Hjelmslev escreve, e volto a citar, pode haver sistemas sem processos, mas não há processos sem sistemas.[64]

A Escola de Paris ao acentuar, rever e revalorizar o aspecto processual da semiótica, enveredando pela sociologia e antropologia, fá-lo em oposição à linha lógico-sistemática de Saussure e de Hjelmslev.[65]

6- Que semiótica para os cursos de comunicação?

A semiótica tem hoje um lugar inquestionável, por direito e de facto, nos currículos universitários dos cursos de ciências da comunicação. Mas havendo várias acepções de semiótica, que por vezes divergem de forma profunda, convém reflectir sobre qual a semiótica mais indicada para esses cursos.

Penso que a questão não se coloca sobre o tipo de semiótica, no sentido de inquirir se a semiótica europeia é mais ou menos indicada que a semiótica anglo-saxónica para os estudos de comunicação. Uma e outra têm contributos importantes para os estudos de comunicação e a tendência é para aproximar as duas correntes. A questão é mais do nível epistemológico, se ciência dos signos, do seu funcionamento e da sua utilização, ou se ciência da significação e então meta-ciência.

Tanto na tradição anglo-saxónica de semiótica como na tradição europeia se distinguem vários níveis epistemológicos de semiótica. Jerzy Pelc distingue na polissemia do termo “semiótica” nada menos que cinco níveis de semiótica.[66] Desde logo, semiótica pode significar apenas as propriedades sintácticas, semânticas e pragmáticas do signo. É a semióticap. A semióticac é propriamente a teoria ou disciplina que estuda as referidas propriedades semióticas dos signos, isto é, é a ciência cujo objecto é a semióticap.  A semióticamc estuda a semióticac de um nível superior, meta-científico.  A semiótica teórica (semióticat) envolve tanto a semióticamc como a semióticac. A semióticam significa o método ou o conjunto dos métodos semióticos e, por fim, por semióticaa entende-se a semiótica aplicada, que mais não é do que a aplicação da semióticam à análise de um fragmento da realidade.

Por sua vez, Greimas e Courtés, na esteira de Hjelmslev, distinguem também várias disciplinas dentro da semiótica.[67] Uma distinção importante é a feita entre semiótica geral e teoria semiótica. A primeira abordará a existência e o funciomamento de todos os sistemas semióticos particulares. À teoria semiótica, por sua vez, caberá satisfazer as exigências de cientificidade próprias de qualquer teoria. A teoria semiótica “define-se assim como uma meta-linguagem”. Ora a teoria semiótica tem de apresentar-se como aquilo que, segundo Greimas e Courtés, ela antes de mais é: teoria da significação.

A semiótica apresentada por Moisés Martins é claramente a de uma meta-ciência, de uma ciência que interroga as condições de significação.[68]  Moisés Martins não nega, todavia, uma semiótica a que chama “imanentista” e que, na perspectiva de Greimas, seria uma semiótica geral e uma semióticac, na classificação de Pelc. Essa semiótica imanentista estudaria “o núcleo de questões que lhe é próprio e as suas metodologias de base”.[69] Ora esse núcleo de questões  e essas metodologias de base constituem o campo próprio da semiótica como teoria dos signos tal como é rejeitada logo na primeira página do relatório.[70] De tal maneira é assim que, escolhendo a acepção de semiótica como teoria da significação, Moisés Martins não aborda directamente no seu relatório o principal contributo de Greimas à semiótica geral, a saber, “o quadrado semiótico”.

Sem negar a possibilidade, a utilidade e a conveniência de uma semiótica enquanto meta-ciência, deve-se, no entanto, ter em conta que uma meta-ciência é possibilitada pela ciência que trata. Assim como não há meta-linguagens sem linguagens, assim também não há meta-semióticas sem semióticas. É, de um ponto de vista científico crucial, estudar a matemática enquanto ciência. Mas esse estudo de pouca utilidade seria não houvesse um conhecimento da matemática enquanto ciência directa de números. O mesmo se passa na semiótica.

É por isso que considero que a semiótica ensinada aos cursos de ciências da comunicação deve ser antes de mais uma semiótica geral, uma semiótica que ensine os estudantes a analisar as propriedades sintácticas, semânticas e pragmáticas dos signos. É esse estudo que os capacitará para uma abordagem semiótica da comunicação jornalística, publicitária, etc. Daí também que ache que a semiótica deve ter um cariz operacional, isto é, ensinar os estudantes a lidar com os signos, tal como a gramática de uma língua os ensina a lidar com as palavras, na formação e transformação de signos.  A partir daí, mas só a partir daí, então sim pode-se e deve-se proceder a uma reflexão epistemológica da própria semiótica, entrar na semiótica enquanto teoria da semiótica.

 

 



[1] - Semiótica. Programa e Metodologia, pp. 1 e 2.

[2] - ibidem, p. 2.

[3] -  ibidem, p.18

[4] - ibidem, p.20.

[5] - Enciclopédia Einaudi, vol. 31, Signo, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994. pp. 11-51.

[6] - Manual organizado por Roland Posner, Klaus Robering, Thomas A. Sebeok, publicado em Berlin e New York pela Walter de Gruyter. A obra é composta por três volumes, no conjunto com cerca de três mil páginas. O primeiro volume veio à luz em 1997, o segundo em 1998. Espera-se que o terceiro surja em 1999. O manual é o décimo terceiro da série Handbooks of Linguistics and Communication.

[7] - ibidem, pp. 2.

[8] - Sobre a variedade semântica do termo ση̃μα na Grécia pré-clássica ver Ezio Pellizer, “Sign Conceptions in pre-classical Greece” in Posner, org., 1997, pp. 831-836. São oito os significados de ση̃μα que Pellizer identifica na Grécia pré-clássica: signo físico, forma desenhada ou modelada, túmulo ou sepulcro, escrita, fenómeno natural, constelação, profecia ou resposta, evidência circunstancial.

[9] - Thomas A. Sebeok, “Symptome, systhematisch und historisch” in Zeitschrift für Semiotik 6/1-2, 1984, pp. 37-52.

[10] - Ver Robert Blair Edlow, Galen on Language and Ambiguity, Leiden: E.J.Brill, 1977.

[11] - Ver Pellizer, ibidem.

[12] - Umberto Eco, “History and historiography of Semiotics” in Posner, org., 1997, pp. 730-746.

[13] - Jürgen Trabant, “Monumentalische, kritische und antiquarische Historie der Semiotik” in Zeitschrift für Semiotik 3/1, 1981, pp. 41-48.

[14] - Umberto Eco, ibidem.

[15] - São elas o manual de Elisabeth Walther, Allgemeine Zeichenlehre. Einführung in die Grundlagen der Semiotik, Stuttgart, 1974, e Thomas A. Sebeok, Theorie und Geschichte der Semiotik, Reinbeck, 1979.

[16] - Trabant, ibidem, p. 48.

[17] - A secção B do Semiotics. A Handbook on the Sign-Theoretic Foundations of Nature and Culture que inclui nada menos que 68 artigos em mais de 1500 páginas, pp. 668-1198 do 1º volume e pp. 1199-2339 do 2º volume.

[18] - Eco, ibidem, p. 733.

[19] - Roman Jakobson define semiótica na abertura do primeiro congresso da Associação Internacional de Estudos Semióticos como qualquer tipo de estudo interessado numa relation de renvoi, no sentido clássico do aliquid stat pro aliquo. Veja-se ainda Roman Jakobson, On Language, Cambridge: Harvard University Press, 1990. “Language as one of the sign systems and linguistics as the science of verbal signs, is but a part of semiotics, the general science of signs which was forseen, named and delineated in John Locke’s essay…” p. 454.

[20] - Thomas A. Sebeok, Contributions to the Doctrine of Signs, Bloomington: Indiana University Press, 1976.

[21] - Ver António Fidalgo, Semiótica: A Lógica da Comunicação, Covilhã: Universidade da Beira Interior, 1998. Ver sobretudo a Introdução, intitulada justamente “Uma ciência recente para uma temática antiga”, pp. 3-16.

[22] - Ensaio sobre o Entendimento Humano, Parte 4, Cap. XXI, § 4.

[23] - Christoph Hubig, “Die Zeichentheorie Johann Heinrich Lamberts: Semiotik als philosophische Propädeutik” in Zeitschrift für Semiotik 1, 1979, pp. 333-344.

[24] - Ver Fidalgo, ibidem; os capítulos dedicados a Bolzano e a Husserl, pp. 22-43.

[25] - Klaus Oehler, “An Outline of Peirce’s Semiotics” in Martin Krampen, org., Classics of Semiotics, New York: Plenum Press, 1987.

[26] - Collected Papers of Charles Sanders Peirce, Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1931-1935, 1.545-567.

[27] - Charles Morris, “Foundations of the Theory of Signs” (1938) in Writings on the General Theory of Signs, The Hague: Mouton, 1971, p. 20. A razão de traduzir aqui sintactics por sintáctica e não por sintaxe como fiz em Semiótica, A Lógica da Comunicação deve-se à necessidade de corresponder à distinção morrisiana entre sintax  e sintactics. Segue-se, assim, a tradução de Adriano Duarte Rodrigues, Introdução à Semiótica, Lisboa: Presença, 1991, pp. 94‑95.

[28] - Charles Morris, Writings on the General Theory of Signs, The Hague: Mouton, 1971, p. 20.

[29] - Ferdinand de Saussure, Curso de Linguística Geral, Lisboa: Publica­ções Dom Quixote, 1986, p. 44.

[30]- Georges Mounin, Introduction à la Sémiologie, Paris: Éditions de Minuit, 1970, pp. 11-15.

[31]- Eric Buyssens, Semiologia e Comunicação Linguística, São Paulo: Editora Cultrix, s.d.

[32]- Luis Prieto, Mensagens e Sinais, São Paulo: Editora Cultrix, 1973 (1966).

[33] -Le project sémiologique, dans la mesure où l’on a cherché à le développer dans le cadre restreint de la définition saussurienne…; l’étude des ‘signes’, inscrite dans la théorie de la communication, consistant dans l’application quasi mécanique du modèle du ‘signe linguistique’, etc. - s’est vite réduit à fort peu de chose: à analyse de quelques codes artificiels de suppléance (cf. les analyses de Prieto, de Mounin), ce qui a fait apparaître la sémiologie comme une discipline annexe de la linguistique.” A.J.Greimas, J.Courtés, Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Paris: Hachette, 1979, p. 336.

[34] - “En nous inscrivant dans la tradition de L. Helmslev qui a été le premier à proposer une théorie sémiotique cohérente, nous pouvons accepter la définition qu’il donne de de la sémiotique”, ibidem, p. 341.

[35] - “For in my opinion, and with all respect for Hjelmslev’s importance as a linguistic scientist, the truly original aspect of his work is the development of a semiotic rather than a linguistic theory. For he is nothing less than the originator of that Saussurean desideratum, namely a general science of signs (sémiologie) based on immanent ans structural linguistics.” Jürgen Trabant, “Louis Hjelmslev: Glossematics as General Semiotics” in Martin Krampen, org., Classics of Semiotics, New York: Plenum Press, 1987, pp. 89-108, p. 90.

[36] - Louis Hjelmslev, Prolegomena to a Theory of Language, Madison: The University of Wisconsin Press, 1961. “We stress that these further perspectives do not come as arbitrary and dispensable apprendages, but that, on the contrary, and precisely when we restrict ourselves to the pure consideration of natural language, they spring with necessity from ‘natural’ language and obtrude themselves with inevitable logical consequence. If the linguistic wishes to make clear to himself the object of his own science he sees himself forced into spheres which according to the traditional view are not his.” pp.101-102.

[37] - Exactamente a definição formal dada por Hjelmslev de semiótica é a de “a hierarchy, any of whose components admits of a further analysis into classes defined by natural relation, so that any of those classes admits of an analysis into derivates defined by mutual mutation.” ibidem, p. 106.

[38] - ibidem, p.107.

[39] - ibidem, p.107.

[40] - ibidem, p.107.

[41] - “Each will be able to contribute in its own way to the general science of semiotics by investigating to what extent and in what manner its objects may be submitted to an analysis that is in agreement with the requirements of linguistic theory.” ibidem, p.108.

[42] - ibidem, p.107-109.

[43] - “Saussure sketches something that can only be understood as a science of pure form, a conception of language as an abstract transformation structure, which he elucidates from a consideration of analogous structures.” ibidem, p.108.

[44] - ibidem, pp.28-41.

[45] - “Such non-signs as enter into a sign system as parts of signs we shall here call figurae; this is a purely operative term, introduced simply for convenience. Thus, a language is so ordered that with the help of  a handful of figurae and through ever new arrangements of them a legion of signs can be constructed.” ibidem, p. 46.

[46] - ibidem, p. 47.

[47] - Greimas e Courtés  reconhecem de certo modo a unilateralidade da sua semiótica, à luz da definição de semiótica dada por Hjelmslev: “Le fait que les recherches actuelles favorisent davantage, sous forme d’analyses de discours et des pratiques sémiotiques, l’axe syntagmatique et les procès sémiotiques, ne modifie en rien cette définition: on peut très bien imaginer qu’une phase ultérieure de la recherche soit consacrée à la systématisation des résultats acquis.” A.J.Greimas, J.Courtés, Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Paris: Hachette, 1979, p. 341.

[48] - “Si la sémiologie est pour Saussure l’étude des ‘systèmes des signes’, c’est que le plan des signes est pour lui le lieu de la manifestation de la forme sémiotique. Pour Hjelmslev, au contraire, le niveau des signes n’a besoin d’être analysé que pour permettre le passage dans un au-delà des signes, dans le domaine des figures (des plans de l’expression et de contenu): le plan de la forme du contenu qui s’offre ainsi à l’analyse devient de ce fait le lieu d’exercice de la sémantique et fonde épistemologiquement son autonomie. La sémiotique d’inspiration hjelmslévienne ne correspond donc pas à la sémiologie de Saussure: elle n’est plus ‘système’ (car elle est à la fois système et procès), ni ‘systèmes des signes’ (car ele traite d’unités plus petites que les signes, et relevant de l’un ou de l’autre plan du langage, mais non des deux à la fois comme dans le cas des signes).” ibidem, p. 66. Mais claro não se podia ser.

[49] - “The decisive point is that the existence of a system is a necessary premiss for the existence of a process: the process comes into existence by virtue of a system’s being present behind it, a system which governs and determines it in its possible development. A process is unimaginable without a system behind it. On the other hand, a system is not unimaginable without a process; the existence of a system does not presuppose the existence of a process.” Hjelmslev, ibidem, p. 39.

[50] - Umberto Eco, Semiotics and the Philosophy of Language, Bloomington: Indiana University Press, 1984, pp. 14-45.

[51] - Sigo aqui de perto a investigação de Umberto Eco, ibidem.

[52] - ibidem, p. 25.

[53] - ibidem, p. 35.

[54] - “A linguistic term appears to be based an pure equivalence simply because we do not recognize in it a ‘sleeping’ inference.” ibidem, p. 35

[55] - Sobre a noção de códigos fortes ver Umberto Eco, ibidem, pp. 36-39, e Theory of Semiotics, 1979, Cap. 2, pp. 48-150.

[56] - Charles S. Peirce, Collected Papers, 2.624.

[57] - Fidalgo, ibidem, pp.45-58.

[58] - Umberto Eco, Semiotics and the Philosophy of Language, Bloomington: Indiana University Press, 1984, pp. 39-43.

[59] - “Se perspectivássemos a semiótica como a ciência dos sistemas de signos, o que é um entendimento de larga tradição, sem dúvida que teríamos uma ciência muito mais facilmente funcionalizável. Tratar-se-ia, com efeito, de analisar regimes de signos, suportados pelos seus sistemas, os códigos, e de trabalhar, entre outros, os conceitos de linguagem e significação, classificação e estruturação, codificação e decodificação. Sucumbindo, por sua vez, à ‘ideologia do operativismo’, a linguagem seria informativa, dado o código contemplar todas as suas possibilidades combinatórias e ser possível a estrita decodificação de qualquer mensagem. Mas não é o caso, não circunscrevemos a semiótica ao regime do signo.”, Moisés Martins, ibidem, p. 2.

[60] - Peirce, CP, 2.229, Adriano Duarte Rodrigues, Introdução à Semiótica, Lisboa: Presença, 1991, pp. 94‑95.

[61] - Charles Morris, Writings on the Theory of Signs, 1971, The Hague: Mouton, pp. 365 ss.

[62] - “Syntactics, as the study of the syntactical relations of signs to one another in abstraction from de relations of signs to objects or to interpreters, is the best developed of all the branches of semiotic”. Morris, ibidem, p. 28.

[63] - “Syntactics proper includes only morphology and syntax from the linguistic disciplines, and it is no accident that this is exactly what linguistics have traditionally called ‘grammar’. Thus it is justified to regard syntactics as a semiotic generalization of grammar.” Roland Posner, Klaus Robering, “Syntactics”, in Posner, org, 1997, pp. 14-83.

[64] - Ver nota de roda-pé 49.

[65] -  “Contrairement donc à F. de Saussure et à L. Hjelmslev, pour qui les langues naturelles sont des sémiotiques parmi d’autres, les langues naturelles et le monde naturel nous paraissent comme des vastes réservoirs des signes, comme des lieux de manifestation de nombreuses sémiotiques. D’autre part, le concept de construction doit également être revisé et revalorisé dans cette perspective: dans la mesure où la construction implique l’existence d’un subject constructeur, une place doit être aménagée - à côté des subjects individuels - pour des sujects collectifs (les discours ethnolittéraires ou ethnomusicaux, par exemple, sont des dirscours construits)” A.J.Greimas, J.Courtés, Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Paris: Hachette, 1979, p. 340.

[66] - “Methodological Nature of Semiotics” in Thomas Sebeok, Enciclopedic Dictionary of Semiotics, vol. 2, pp. 901-912.

[67] - ibidem, p. 339 ss.

[68] - Ver sobretudo o programa de desenvolvimento da apresentação na pg. 19. “Este delineamento permite-nos, por um lado, interrogar o modo como se instaura a inteligibilidade contemporânea do processo de significação em geral, e por outro lado, lançar as bases de uma teoria geral da significação”.

[69] - ibidem, p. 21. Cita nomeadamente: “a linguagem e a codificação/decodificação, a textualidade e a discursividade”.

[70] - Ver nota de roda-pé 59.