A DIFUSÃO DA QUESTÃO INDÍGENA PELA IMPRENSA MATO-GROSSENSE

André Luís Alves, Universidade Federal de Mato Grosso

1999

INTRODUÇÃO

Qual é o tratamento dado às questões indígenas pela atual imprensa mato-grossense? Quando e por que um índio ou uma sociedade indígena é notícia? Responder essas perguntas foram os objetivos desta pesquisa.

Para tanto, algumas hipóteses precisaram ser levantadas para orientar os estudos: a) a imprensa tem pouco interesse em publicar assuntos indígenas por acreditar que o tema não vende jornal; b) povos indígenas, na maioria das vezes, só aparecem na imprensa quando estão relacionados a invasões de terra, sejam eles os invasores ou os invadidos; c) nas matérias sobre esses temas os índios não são ouvidos adequadamente, com a imprensa se abastecendo quase somente pelas fontes oficiais (Funai, Ministério Público, Polícia Federal e ONGs) e d) a falta de conhecimento do assunto do repórter ou editor pode reforçar estereótipos sobre essas sociedades e de outras minorias.

Primeiramente foram pesquisados alguns periódicos, compreendidos entre 1847 e 1969, microfilmados no Núcleo de Documentação e Informação Histórico Regional de Mato Grosso (NDIHR). Pela análise dos jornais A Cruz, O Porvir, O Matto Grosso, A Opinião, O Iniciador, entre outros, pôde-se saber quais os enfoques que a imprensa mato-grossense dava aos índios.

Para a análise da atual imprensa mato-grossense foram escolhidos os jornais Diário de Cuiabá e A Gazeta. O primeiro por ser o mais antigo em circulação no estado de Mato Grosso - completou 30 anos este ano - e o segundo por ter maior circulação na capital mato-grossense - quase 70% de preferência dos leitores, de acordo com dados do Ibope de novembro de 1997.

Os jornais Diário de Cuiabá e A Gazeta foram analisados em dois momentos. Primeiro foi verificado, em números, a quantidade de material informativo e opinativo fornecida por esses dois jornais aos seus leitores entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 1997. Depois, essas matérias foram classificadas como notícia, reportagem e entrevista (informativos), editorial, artigo, resenha e carta (opinativos), de acordo com a classificação proposta pelo jornalista Marques de Melo.

Num segundo momento utilizou-se o método da semana composta. O método é mais comumente usado para aferir conteúdos televisivos mas foi adequado para medir a regularidade e os conteúdos das matérias, inclusive para se poder fazer um estudo mais aprofundado, verificando, inclusive, a centimetragem das matérias.

Paralelamente, foi aplicado um questionário estruturado aberto dirigido especificamente aos jornalistas.
 
 

1 - AS SOCIEDADES INDÍGENAS


Entende-se genericamente por "índio" aquele indivíduo que dessa forma se auto identifica e é reconhecido pelas outras pessoas de sua comunidade como um dos seus. Índio é aquele que possui vínculos históricos com populações de origens pré-colombianas.

Por questão indígena entende-se o conjunto de problemas que as diversas populações vêm sofrendo cotidianamente: A invasão de garimpeiros, madeireiros, e fazendeiros em territórios indígenas, a luta pela demarcação de terras, o alcoolismo, a desnutrição, outras doenças. A construção de estradas que atravessam reservas, hidrelétricas e hidrovias, como a Paraná-Paraguai e Araguaia-Tocantins, que podem reduzir ou inundar muitas áreas indígenas também são questões indígenas. De fato, os problemas sofridos pelas populações indígenas são questões nacionais, pois os povos indígenas também são povos brasileiros.

A população indígena no Brasil à época da chegada de Pedro Álvares Cabral girava em torno dos cinco milhões. Daquela época até 1950 os povos indígenas foram caçados, escravizados, sofreram graves reduções. Inúmeras sociedades desapareceram, e muitas outras estiveram bem próximas do desaparecimento, em função das práticas de extermínio dos governos e da sociedade brasileira.

A partir de 1950, embora em alguns grupos indígenas, como os Jabuti e os Avá-Canoeiros, existam apenas alguns representantes, muitas outras sociedades começaram a ver suas populações aumentando, ao contrário do que era previsto:

Atualmente há 325.652 indivíduos 1 (sem contar os índios isolados), divididos em cerca de 215 etnias. São faladas por eles em torno de 170 línguas distintas, divididos em dois troncos principais, Tupi e Macro-Jê e outras seis importantes famílias lingüísticas: Aruak, Arawá, Karib, Maku, Tukano e Yanomami. Sessenta por cento da população indígena do Brasil se encontra na chamada Amazônia Legal, que inclui o estado de Mato Grosso.

Ao todo, os grupos indígenas estão distribuídos em 554 áreas, que abrangem 964.452 quilômetros quadrados, ou 11,12% do território nacional. Entretanto, mais da metade dessas terras ainda não foram sequer demarcadas e várias delas encontram-se parcialmente ocupadas por fazendeiros, garimpeiros, madeireiros e posseiros.

Em Mato Grosso, desde o século XVII, os índios sofreram com o contado com os brancos. Primeiramente por causa do garimpos e a partir da segunda metade do século XIX por causa do extrativismo vegetal, principalmente borracha, caucho e poaia. Da década de 60 em diante, com a colonização do estado e a expansão agropecuária, os índios continuam representando "obstáculos" ao desenvolvimento da região e, portanto, deviam ser domados, caçados, escravizados, exterminados. Muitas sociedades indígenas, como os Coxiponé (subgrupo Bororo) e os Payaguás, foram inteiramente exterminadas.

Além da violência física sofrida, as populações indígenas viram drasticamente reduzidos seus imemoriais territórios de domínio que deram lugar aos latifúndios incorporados em Mato Grosso.

Os "desbravadores" do sertão mato-grossense rapidamente impuseram novas necessidades e novas tecnologias até então estranhas às suas culturas.

O estado de Mato Grosso é o quinto estado em quantidade de índios, superado apenas pela Amazônia, Roraima, Pernambuco e Mato Grosso do Sul, incluindo os que vivem em perímetros urbanos. São aproximadamente 20 mil índios de 35 sociedades indígenas divididos em 56 áreas com diversos graus de regularização fundiária, totalizando de 12 milhões de hectares, mais ou menos 12% do estado, só perdendo em extensão de território para os estados da Amazônia e do Pará.

Os grupos indígenas de Mato Grosso falam línguas do tronco Macro-Jê, Tupi e línguas das famílias Karib, Aruak, Nambikwara e Irantxe. Isso evidencia uma variedade de práticas culturais, sociais e econômicas e diversidade nas formas de interação com a natureza.

1.1 - A Imprensa e As Sociedades Indígenas

As sociedades indígenas sempre foram pauta para jornal. Isso pode ser verificado com uma rápida pesquisa em arquivos ou mesmo observando com um pouco mais de atenção os jornais nas bancas. O que vem mudando é a forma e o ângulo das abordagens dos temas indígenas pela imprensa. De violentos passaram a passivos, de sem voz a reclamadores.

A imprensa mato-grossense foi inaugurada em 1839, com o jornal Themis Matogrossense, primeiro jornal editado e impresso em Cuiabá. A partir de 1848, com a Gazeta Cuyabana, começam a serem dados os primeiros ensaios da imprensa mato-grossense informativa e opinativa.

Esses primeiros jornais, por sua natureza política, e até amadora, eram efêmeros, raramente passando dos quatro anos de vida. Outros jornais que vieram anos mais tarde, mas ainda com essas características foram O Porvir, A Opinião e O Iniciador.

Nesse início, os indígenas eram tratados, em pequenas notas, como violentos, cruéis, assassinos. Não eram raros textos como esses:

Selvicolas Segundo vemos de uma carta particular que nos foi obsequiosamente mostrada, os selvicolas continuavão em suas depredações bem perto da capital.


A partir do final do século passado e nas primeiras décadas deste, o enfoque ao índio começa a mudar. Parte devido ao amadurecimento da imprensa - reflexo da mudança da postura da sociedade - mas também por causa do aparecimento do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) em 1910. O SPI foi criado com uma perspectiva positivista chamada de "doutrina de proteção fraternal ao silvícola", sistematizada e posta em prática pelo engenheiro-militar Cândido Mariano da Silva Rondon. Sob o lema morrer se preciso, matar nunca, Rondon criticou as práticas de extermínio bem como sua assimilação dirigida e acelerada (...) defendendo ao contrário um tratamento humanitário aos silvícolas (Oliveira, 1995:65). A imprensa começa, devagar, a publicar artigos como o de Nicolau Horta Bueno 2 , Em Prol do Índio :

Nessa mesma época, os índios muitas vezes foram tratados como "filhos adotivos" pela imprensa católica, então muito forte em Mato Grosso. São representantes o jornal A Cruz e a Revista Matto Grosso. É o resultado das campanhas religiosas de catequização, em que o êxito, pelo que foi publicado nos jornais da época, foi maior entre os Bororo.

O trechos a seguir são exemplos do que saía publicado sobre os indígenas:


As narrativas, em forma de crônicas, também eram comuns, escritas por missionários religiosos que tiveram a experiência de viverem entre índios. O exemplo a seguir é de uma carta de autoria do padre Antonio Colbacchini à Dom Aquino sobre suas necessidades religiosas frente aos Bororo.


Os jornais da primeira década do jornalismo mato-grossense traziam seções intituladas Notícias do Paquete, ou nomes semelhantes, em que eram comentadas notícias vindas de capital (Rio de Janeiro) por paquetes. O jornal A Cruz replicou o "ataque" de um jornal carioca à uma missão religiosa entre comunidades indígenas:


A Igreja Católica obteve maior êxito, do ponto de vista da catequização, entre os Bororo mas grupos dos Xavante também sofreram com as missões salesianas. Os jornais vinculados às missões comprovam.


A partir do final da década de 60, os indígenas passam a figurar de maneira mais abrangente nos noticiários. Entre os motivos podemos destacar pelo menos quatro: A) a criação da Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1967, órgão substituto do SPI; B) a política de ocupação amazônica, que provocou a retirada dos Panará, por exemplo, do seu território tradicional; C) os antropólogos brasileiros, como Darcy Ribeiro, se identificaram, em muitas linhas de pesquisa, com assuntos indígenas e relações interétnicas e D) o surgimento de um novo tipo de liderança indígena, segundo Darcy Ribeiro, sem nenhuma submissão diante dos missionários, de seus protetores oficiais ou de quaisquer agentes da civilização (1996:333). Ou seja, lideranças de várias nações indígenas começam a refletir sobre suas relações com a sociedade brasileira. Com isso, passaram conseguir em alguns momentos um espaço, ainda que pequeno, na imprensa brasileira.

Como bem lembra o jornalista Luiz Beltrão 3,

De acordo com o antropólogo Carlos Alberto Ricardo 4 (1995:31) percebe-se que a imprensa nacional passou a ter um real interesse pelos povos indígenas, embora ofereça histórias superficiais, fragmentadas e, não raramente, errôneas. Ainda segundo o autor, a partir dessa época algumas etnias surgem nos noticiários como "índios de plantão", devido a circunstâncias históricas. Ele cita como exemplos os Panará ("pacificados" e removidos para a construção da rodovia Cuiabá-Santarém, nos anos 70), os Kayapó (de Raoni e Paiakã), os Yanomami (invasão de garimpeiros em seus territórios), os Guarani (suicídio de jovens), entre outros.

Na década de 90, por volta da reunião mundial da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre ecologia e desenvolvimento, que aconteceu no Rio de Janeiro (ECO 92), os índios foram descobertos pela imprensa brasileira como os "ecologicamente corretos", percebendo que manejam os recursos naturais (animal, vegetal e mineral) de maneira branda, ou seja, com poucas alterações ambientais. A partir de então, matérias de assuntos indígenas correlacionadas ao ambiente tornaram-se freqüentes.

Atualmente, as notícias referentes às questões indígenas são, conforme a jornalista Priscila Siqueira (1992:227-230) 5, muito factuais, faltando reflexões de suas causas e conseqüências por meio de editoriais ou, simplesmente, de suítes (tratamento continuado das matérias). Para a jornalista, haveria um conflito entre as causas humanistas (dos jornalistas) e os interesses econômicos (da empresa jornalística). Em outros termos, a imprensa "evitaria" publicar determinadas matérias para não se indispor com certos anunciantes ou com alguns setores do governo.

Segundo a autora, a imprensa e todos os profissionais da comunicação deveriam refletir sobre a necessidade da democratização da informação, ainda mais se tratando de minorias, como é o caso das sociedades indígenas. Ela alerta que os jornalistas têm vários compromissos com a questão indígena mas, a não ser em alguns casos esporádicos como é o caso do Washington Novaes, não o cumprem:

2 CONCEITO DE NOTÍCIA

Antes de analisar a difusão da questão indígena pela atual imprensa mato-grossense, necessário se faz delimitar e especificar o que significa o termo notícia.

José Marques de Melo (1994:65) 6 a define como uma forma de narrar o que está se repercutindo no organismo social, diferenciando-a de nota (relato do que ainda está se caracterizando), de reportagem (relato ampliado de um fato que gerou alterações percebidas pela sociedade) e de outras categorias do jornalismo informativo e opinativo.

Num sentido mais amplo, considerando a notícia como o que é de interesse à empresa jornalística e ao público-leitor, Ciro Marcondes Filho 7 a caracteriza como uma informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais devendo sofrer, para isso um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização, padronização, simplificação e negação do subjetivismo (1989:13). Ainda mais que isso, o autor afirma ser a notícia uma forma de manipulação ideológica e de poder político.

A generalização, a padronização, a simplificação e a negação do subjetivismo 8, fazem parte da técnica jornalística como forma de atingir um maior número de leitores e poupar tempo, já que a informação jornalística corre contra o tempo. A manipulação ideológica, segundo o autor (1989:14), se dá porque a notícia é apresentada de forma recortada, "quebrada", até mesmo desfigurada da realidade. No conjunto, as notícias têm um duplo caráter ideológico, de preocupação e de alívio/ desconcentração. Assim, o caso recentemente divulgado pelo meios de comunicação sobre o maníaco do Parque, em São Paulo, com dez assassinatos confessos, gerou preocupação (enquanto a polícia o procurava) e alívio da população quando o acusado foi preso.

O poder político é mais ou menos evidente em cada jornal, mas é inegável sua influência. O apoio da Folha de São Paulo à campanha para as eleições diretas ("Diretas Já"), em 1984, e apoio da Rede Globo à eleição de Fernando Collor, em 1989, são exemplos nacionais visíveis. Localmente, sabe-se do apoio que o Grupo Gazeta de Comunicações dá ao governador candidato à reeleição, Dante de Oliveira, enquanto que seu principal adversário é apoiado pelos dois jornais concorrentes.


2.1 Importância da Notícia


Muniz Sodré 9 conceitua ironicamente notícia como sendo aquilo que os jornalistas acham que interessa aos leitores e, portanto, notícia é aquilo que interessa aos jornalistas (1996:135). É evidente, ao selecionar determinadas informações como noticiáveis em detrimento de outras, um público-leitor está sendo produzido, por exemplo o publico para jornais "sérios" ou "populares".

Sodré está se referindo, outrossim, em como se processa a escolha do material publicável, ou melhor, das notícias, justificando ser o leitor-médio, um "ser abstrato", inventado e produzido, então, pelo arbítrio dos profissionais e da empresa jornalística. Essa autoridade de certos profissionais da imprensa pode gerar o que Dines 10 (1996:59) chama de bumerangue cultural: as redações não recebem novas informações, não se atualizam, e o público-leitor passa a receber as mesmas mensagens, que por sua natureza jornalística já são simplificadas, reprocessadas e reutilizadas. Como será visto no capítulo 03, a desocupação de garimpeiros e madeireiros da Reserva Sararé, dos índios Nambikwara, forneceu material para a imprensa mato-grossense durante meses. Mesmo assim, não foi dado uma ampliação necessária, com informações novas e mais aprofundadas.

A importância de uma notícia para o seu público-leitor pode ser medida pelo seu ineditismo (fato novo), improbabilidade (acaso), apelo (curiosidade), empatia (identificação do consumidor por um personagem do fato noticioso) e interesse (quantidade de pessoas que possam ter sua vida afetada pelo fato). O interesse por um evento também tem uma relação direta com a atualidade e com a proximidade do leitor.

E qual a finalidade da notícia, da transmissão da informação? Para Sodré, a finalidade aparente da informação é ordenar (ou reordenar) a experiência social do cidadão (1992:19), tendo, pois, uma função política de manter o status quo e as ideologias predominantes.
 
 

2.2 Gêneros Jornalísticos

Além da nota, notícia e reportagem, a entrevista é a outra forma, segundo Marques de Melo, de se exercer o gênero informativo. Para ele, a entrevista é um relato que privilegia um ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade (1994:65).

No campo do jornalismo opinativo, o editorial destina-se a ser a opinião da instituição jornalística, não possuindo, pois, autoria, com uma angulagem imediatista.

O artigo é o espaço em que o jornalista (ou não) opina sobre um assunto ou desenvolve uma idéia. Melo (1994:118) divide o artigo em dois tipos: o artigo, propriamente dito, e o ensaio, mais extenso e mais elaborado, geralmente encontrado em suplementos e revistas.
Já a resenha é a orientação de um especialista ao público leitor sobre determinado produto cultural. Ambos (resenha e artigo) necessitam de autoria, pois, na maioria dos casos o leitor lê "o autor" mais que "o conteúdo". Ou seja, é a opinião de quem escreve que importa. A angulagem, tanto da resenha quanto do artigo, depende da competência do autor.
A carta é o espaço do leitor no jornal. Normalmente ele se manifesta quando se sente ofendido ou caluniado, mas é também uma forma de defender suas idéias num debate público.

O comentário é o espaço onde um jornalista especializado omite, ou deixa nas entrelinhas, sua opinião, que não é, necessariamente a da empresa onde atua. O comentarista, sempre bem remunerado, explica a notícia, seu alcance e aponta suas conseqüências. Franklin Martins, da Rede Globo, é um bom exemplo de comentarista.

A coluna é, segundo Marques de Melo (1994:136), um mosaico, estruturado por unidades curtíssimas de informação, caracterizando-se pela agilidade e pela abrangência. É o espaço onde jornalistas mais bem informados e com as melhores fontes podem dar o furo, a notícia em primeira mão, quando não dá em matérias comuns dos jornais, impresso ou eletrônico.

Ainda segundo o autor (1994:145) a crônica é um gênero de jornalismo exclusivamente brasileiro. Sua forma, mistura-se com a literatura quando conta-se uma "estória", um caso, e com o jornalismo pois a função da crônica no jornal é divulgar uma informação e debatê-la. Carlos Heitor Cony é, provavelmente, o cronista mor do atual jornalismo brasileiro.

A charge e a caricatura são formas de opinar sobre um personagem da notícia ou a própria notícia de uma maneira bem-humorada, levando o leitor primeiramente ao riso e, em seguida, à reflexão. Geralmente aparece na segunda página ao alto, à direita, ao lado do(s) editorial(is). Exceção à regra, o jornal O Globo, sempre traz as charges na primeira página.

De todos as formas de jornalismo, a coluna, o comentário e a crônica não foram localizados, nesta pesquisa, na imprensa mato-grossense analisada se referindo à algum tema indígena.

3 - A DIFUSÃO DA QUESTÃO INDÍGENA PELA IMPRENSA

Os dois jornais utilizados para a pesquisa no ano de 1997 foram o Diário de Cuiabá 11 e A Gazeta 12. As edições desses dois jornais noticiaram, com uma certa freqüência, matérias relacionadas a temas indígenas. As invasões e desocupações de garimpeiros e madeireiros da reserva Sararé, dos Nambikwara, foram os fatos mais divulgados pela imprensa no ano passado. Ao lado dos Nambikwara, os Xavante, os Bororo e os Paresi foram os povos mais citados pelos dois jornais analisados.

Em 41 dias na Gazeta13 e em 63 dias no Diário de Cuiabá houve manchetes na primeira página relacionadas a algum povo indígena. Somando-se os dois jornais, no gênero informativo foram veiculadas 257 notícias, 39 reportagens e duas entrevistas sobre algum grupo indígena. É pouco, considerando-se que apenas no estado de Mato Grosso existem 35 povos indígenas e que foram alguns poucos episódios, isolados, que constituíram a maioria das notícias e reportagens: a retirada dos garimpeiros da Reserva Sararé; o assassinato do Pataxó Galdino dos Santos (que não será analisado neste trabalho); a discussão sobre o arrendamento de uma parte das terras dos Paresi e a conquista dos Panará, que voltam às suas terras. Os grupos mais noticiados foram, então, os Nambikwara, os Paresi, os Panará e os Xavante. Estes últimos apareceram constantemente, mas em três diferentes assuntos: a visita de uma equipe da UFMT a aldeia São Marcos, a pressão feita por eles para a saída do então presidente da Funai, Júlio Gaiger e a discussão em torno da implantação da hidrovia Paraguai-Paraná.

Os assuntos mais tratados pela imprensa mato-grossense foram os conflitos entre índios e brancos (fazendeiros, garimpeiros e madeireiros) sobre terras. O segundo assunto mais tratado foram as culturas indígenas e retrospectos de indigenistas, como foi o caso de Vicente Cañas, que viveu entre os Myky, Paresi, Enawenê-nawê e os Beiços-de-pau. Isso vem a comprovar as respostas dos jornalistas em um questionário aplicado para essa pesquisa, sobre quando os índios são notícia (ver anexo I) Uma repórter respondeu que

Comparando-se os dois jornais percebe-se que houve uma igualdade quanto ao número de notícias e reportagens, pelo menos nos três primeiros meses e também em junho e agosto do período analisado.

No gênero opinativo, dez editoriais, vinte e um artigos, duas resenhas e três cartas abordaram temas indígenas, sendo que uma significativa parte dos artigos não foram escritos por jornalistas e sim por outros profissionais.

Os assuntos mais tratados pela imprensa mato-grossense são abordados neste capítulo, divididos por sociedade indígena.

3.1 Os Nambikwara


O nome Nambikwara é um termo genérico para vinte subgrupos que falam três línguas distintas além de vários dialetos. Como não aceitam morar em grandes aldeias, geram-se pequenas facções que migram para outros territórios. Para eles, a aldeia é um local sagrado, onde estão enterrados os seus antepassados. Silbene de Almeida 14 (1987:97-98) explica que onde há Nambikwara enterrado é aldeia, e onde não há ninguém enterrado não é aldeia ainda que aí vivam 50 habitantes.

Há oitenta anos os Nambikwara sofrem com as invasões de suas terras, que se intensificaram a partir da década de 70, com a conivência da Funai (Almeida:1987:95). Dos 10 mil indivíduos no início deste século, eles contam atualmente com pouco mais de oitocentas pessoas.

A reserva Nambikwara, palco da Operação Sararé 15, abriga os Nambikwara Kithaurlu e os Halotesu, fica em Comodoro e está regularizada desde 1990. Há um grupo também na reserva Umutina, em Barra do Bugres, onde também são encontrados Paresi e os próprios Umutina.

A desintrusão dos garimpeiros da reserva Sararé por agentes da Polícia Federal e da Funai, que se iniciou no dia 10 de janeiro, foi noticiada quase todos os dias, no primeiro mês de 1997, pelos dois jornais. Esse fato mereceu manchetes na primeira página doze vezes pelo Diário de Cuiabá e sete pela Gazeta. A ação dos policiais, batizada de Operação Sararé II foi mais enfatizada do que a atividade garimpeira ilícita ou mesmo sobre quem é o povo Nambikwara.

No dia 14 de janeiro de 1997, é chamada a atenção para a degradação ambiental provocada pela retirada de minérios que, segundo a imprensa, poderá levar até 40 anos para se recompor. Nesse mesmo dia, segundo denúncia da Gazeta, os Nambikwara deixam de ser vítimas, tornando-se coniventes: A extração de madeira dentro da Reserva Indígena Sararé tinha até mesmo a participação de índios e de indigenistas (ÍNDIOS CONIVENTES COM EXTRAÇÃO, A GAZETA, pág. 3-C).

No dia seguinte, a reportagem do Diário informa que os índios de Sararé são violentos: ... os índios nhambiquaras (...) ameaçam espancar e matar garimpeiros que ainda estiverem na área após a saída da Polícia Federal (ÍNDIOS AMEAÇAM MATAR GARIMPEIROS QUE PERMANECEREM DENTRO DA RESERVA, DIÁRIO, pág. B-1). Este foi o único dia que o cacique Nambikwara Américo Xathitaurlu foi mostrado numa foto (e na primeira página) pela imprensa. Entretanto, a legenda é bem sugestiva: O cacique (...), armado com espingarda, ao lado dos dois filhos, ameaça os garimpeiros que continuam na Reserva Sararé (DIÁRIO, 15/01/97).

Nos meses de março, setembro, novembro e dezembro há outras ocupações e expulsões de garimpeiros e madeireiros na Reserva Sararé que são noticiadas pela imprensa, entretanto sem acrescentar novos dados sobre os índios que vivem nessa reserva.

A imprensa mato-grossense utilizou a Operação Sararé II para mostrar a falta de estrutura da Funai, para apontar falhas na ação da Polícia Federal e para revelar à sociedade que o garimpeiro mato-grossense ou brasileiro é apenas mais um excluído que está fora do modelo econômico (DIÁRIO, 19/01/97, PÁG. B-1).

Quanto aos Nambikwara da Reserva Sararé, foi informado que eles vivem a 540 quilômetros ao noroeste de Cuiabá, possuem uma área de 67, 4 mil hectares e totalizam 79 indivíduos, entre adultos e crianças.

Constitui-se prática comum na imprensa citar a população da aldeia ou de um povo e a extensão do seu território. Ao fazer isso, sem nenhuma relativização, a imprensa, reforça um preconceito em relação aos índios. Qualquer cidadão brasileiro fará a conta e verá que há quase mil hectares para cada índio Nambikwara. Uma área para fazer inveja a muitos fazendeiros e aos sem-terra.

Entretanto, a imprensa não informa que a terra significa, para as sociedades indígenas, muito mais que um simples meio de subsistência. A terra, de uso coletivo, representa o suporte da vida social e está diretamente ligada ao sistema de crenças e conhecimento (Ramos:1988 13). O território indígena, além de ser o local onde um povo indígena garante a sua sobrevivência e se apropria dos recursos naturais existentes para se alimentar, fabricar utensílios e extrair plantas medicinais, é também um espaço simbólico em que as pessoas travam relações entre si e com seus deuses (Fernandes:1993, 81).

Não foi encontrada nos jornais a explicação da significação das terras indígenas em termos legais. A área continua pertencendo à União, é limitada a utilização exclusiva dos povos indígenas que a ocupa e representa apenas uma pequena parcela dos territórios tradicionais.

3.2 - Os Xavante

Os Xavante se autodenominam A'úwê e pertencem ao tronco lingüístico Macro-Jê. Em 1946 foi realizado o primeiro contato pacífico com um grupo Xavante, que na época estavam dispersos em três grupos, com o Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Atualmente eles se encontram divididos em nove áreas, das quais apenas quatro estão regularizadas, em diversos municípios do estado de Mato Grosso.

Eram tradicionalmente seminomâdes, coletores e caçadores, tendo a agricultura o papel menos importante para sua sobrevivência. Entretanto, a Funai, a partir da década de 70 começou a incentivar a agricultura mecanizada entre os Xavante.

As crianças Xavante estudam em escolas da Funai ou das Missões da Igreja Católica.


Em meados de março, os dois jornais locais diários analisados noticiaram a pressão que lideranças Xavante estavam fazendo para que o então presidente da Funai, Júlio Gaiger, renunciasse. Entre os motivos alegados por lideranças Xavante, estavam a ineficácia da assistência da Funai e


Gaiger responde que caciques Xavante o estariam pressionando porque ele havia cortado "mordomias" que o órgão distribuiria tradicionalmente às lideranças indígenas. Haveria até uma tabela dos "honorários" mensais, que variariam de 50 reais (para os "guerreiros") a duzentos reais (para os caciques) (GAZETA e DIÁRIO 10/03/97):

Os Xavante aumentam a pressão para a saída de Júlio Gaiger da Funai e, segundo o Diário, a Polícia Federal faz uma operação de guerra para tirar índios da Funai (12/06/97). Mesmo assim, no dia 16 de julho, Júlio Gaiger pede demissão da presidência da Funai. O Movimento Indígena indica Marcos Terena, mas foi o procurador Sulivan Silvestre quem passou a ser o presidente da Funai.

Nos dias 31 de maio e 1º de junho os Xavante voltam a ser destaque nos noticiários locais por causa da visita de uma equipe da Universidade Federal de Mato Grosso à aldeia Xavante São Marcos, localizada a 150 quilômetros de Barra dos Garças. Foram cinco páginas inteiras de notícias, juntando os dois jornais, afora as manchetes na primeira página.

Os leitores tiveram uma oportunidade de ficarem um pouco a par dos problemas, da história e da cultura Xavante. Entre as notícias estão: 1) o questionamento por parte dos Xavante, entre eles o cacique Aniceto Tsudzaware, sobre a atuação da Missão Salesiana, que difunde o cristianismo na aldeia; 2) críticas perante as ações da Funai; 3) a falta de animais para caça; o sistema de coleta; 4) o ritual da "furação de orelha" e outros.

Entretanto, pode ser percebido que a Gazeta retratou a equipe da UFMT como uma salvadora dos problemas indígenas:


Vale ressaltar que tanto a equipe de reportagem do Diário quanto a da Gazeta foram a convite da UFMT

A Hidrovia Paraguai-Paraná entra no noticiário local relacionado aos Xavante, mais uma vez, e aos impactos ambientais que poderia trazer e as populações indígenas que seriam afetadas. A imprensa apóia, em certa medida, organizações não-governamentais e lideranças indígenas que se posicionam contra a essa hidrovia. Índios, como o cacique Xavante Megaron Aniceto, denunciam os problemas que poderiam ser gerados com a construção da hidrovia.

A divulgação do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) da hidrovia Paraguai-Paraná mostra que 88 aldeias indígenas estavam sendo ignoradas,

3.3 - Os Panará

A Reserva Panará, no município de Guarantã do Norte, tem 484 mil hectares. Está delimitada mas ainda não foi demarcada. O primeiro contato com os brancos foi há 25 anos pelos sertanistas Orlando e Cláudio Villas-Boas. Eles foram levados para o Parque Nacional do Xingu porque a rodovia Cuiabá-Santarém, que estava sendo construída, em 1973, passava no seu território de origem. Dos 600 na época do contato em pouco tempo restaram apenas 79. Os primeiros contatos com os "Índios Gigantes" foram registrados e amplamente divulgados pela mídia nacional.

Em 1990, enfim, eles voltaram para Guarantã do Norte e contam atualmente com 198 índios.

No dia 22 de outubro de 1997 vem à tona a reivindicação dos Panará a demarcação física da reserva onde estão inseridos em Guarantã do Norte. A área já havia sido determinada em novembro de 1996 pelo então ministro da Justiça, Nelson Jobim. Mas essa reivindicação só foi ouvida quando fazendeiros da região acusam os Panará de "saquear" quatro propriedades. (FAZENDEIROS DE GUARANTÃ ACUSAM PANARÁS DE SAQUEAR 4 PROPRIEDADES - DIÁRIO).

No dia seguinte (23 de outubro) é noticiado que as terras onde estão as fazendas pertencem à União (FAZENDEIROS OCUPAM TERRAS DA UNIÃO, GARANTE INCRA DIÁRIO).

Os Panará ainda estão em evidência no noticiário local 20 dias após o incidente. O juiz Novely Villanova da Silva, da 7ª vara federal de Brasília (e pai de um dos acusados de terem ateado fogo no Pataxó Galdino dos Santos, em abril do mesmo ano) condena a União a indenizar os parentes dos Panará mortos durante a construção da BR-163 (Cuiabá - Santarém), na década de 70.

Desta vez os jornais noticiam que os Índios Gigantes têm outros problemas, além das invasões e da demarcação física das terras. Escreve A Gazeta que durante a construção da BR-163 muitos dos Panará

Acrescenta, no mesmo dia, o Diário:


3.4 - Os Paresi

Os Paresi falam língua Aruak e se autodenominam Halíti. A história dos Paresi com a sociedade envolvente remonta há mais de duzentos e cinqüenta anos. Mas foi a relação deles com a Comissão Rondon, chefiada por Cândido Mariano da Silva Rondon, que atravessou o território Paresi para estabelecer uma linha telegráfica que ligaria Mato Grosso ao Amazonas, que trouxe os maiores impactos a esse povo. Grupos de índios foram afastados de seus territórios tradicionais e tecnologia e valores alheios foram introduzidos provocando alterações na sociedade deles.

Da década de 40 em diante, famílias inteiras fugiram para os centros urbanos. São sobreviventes de grupos que foram dizimados por ataques e doenças trazidas por poaieiros e seringueiros que invadiram seus territórios.

Atualmente os Paresi vivem dispersos em dez áreas, das quais sete encontram-se regularizadas, nos municípios de Comodoro, Diamantino, Nova Marilândia, Tangará da Serra, Pontes e Lacerda, Sapezal, Barra dos Bugres e Campo Novo dos Parecis.

Já chegando no final de setembro, uma iniciativa dos índios da reserva Paresi, em Campo Novo dos Parecis, de arrendar uma parte de suas terras para agricultura é noticiada pelo Diário e pela Gazeta. O enfoque dado pela imprensa foi a extensão da área que estava para ser negociada, entre 20 e 50 mil hectares de terras férteis, que se valorizaria com a Hidrovia Madeira-Amazonas para a plantação de soja, girassol, milho, arroz e algodão.

Entretanto, a imprensa noticia que apesar de experiências em outros estados com pequenas faixas de terra, essa seria a primeira vez que a Funai iria permitir um acordo desse porte entre índios e fazendeiros. Afora isso, não havia legalidade, uma vez que a Constituição Federal 16 não prevê essa possibilidade de parceria.

Até o final do ano de 1997 estava suspensa a audiência pública entre os Paresi, a Funai e as várias cooperativas e empresas interessadas, que iriam discutir a parceria agrícola.

A imprensa mato-grossense apenas citou o que poderia ter sido um relato dos problemas que os Paresi de Campo Novo dos Parecis vem enfrentando:

O gênero opinativo na imprensa versou muito pouco sobre os problemas indígenas. As empresas jornalísticas, por meio de editoriais, e os jornalistas, por meio de artigos, se expressaram principalmente sobre a Reserva Sararé, cobrando maior eficiência da Funai e da Polícia Federal e mostrando que os garimpeiros são apenas mais uma categoria dentre outras na imensa massa dos excluídos.

3.5.1 - Editoriais

Uma vez no Diário e uma vez na Gazeta, esses jornais trouxeram no editorial opiniões sobre o índio como agente social e histórico.

O editorial do Diário de Cuiabá dia 8 de novembro de 1997 discursava sobre a pressão de organizações não-governamentais (ONGs) para se aproveitar uma parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário (Padic) às comunidades indígenas. No final do texto, elogia-se a luta de comunidades indígenas pelos seus direitos:

Entretanto, anteriormente o editorial já havia se pronunciado à favor da integração dos índios à sociedade envolvente: O editorial de A Gazeta sobre as possíveis conseqüências do projeto BID-Pantanal, que visa o desenvolvimento auto-sustentável e o ecoturismo no Pantanal, criticava entidades que se opunham a esse projeto. É escrito que o estado de Mato Grosso tem uma vocação ecológica e indígena mas que "precisa" se "desenvolver".

Neste editorial são enumerados exemplos de inovações tecnológicas como a agroindustrialização e as hidrelétricas que seraim necessárias ao estado e que podem ser feitas sem prejudicar o meio ambiente.

O editorial conclui, então, que se deve conciliar a modernidade com a tradição:

Sutilmente, o editorial sugere no termo "herança indígena" que os índios fazem parte do passado e que algumas coisas boas deles foram transmitidos aos brancos.

Os dois editoriais defenderam, no mínimo sugeriram, a integração das sociedades indígenas à sociedade envolvente.

3.5.2 - Artigos

Os 21 artigos encontrados nas edições dos dois jornais se concentraram na visita do reitor da UFMT à uma aldeia Xavante, a Operação Sararé e o assassinato do Pataxó Galdino dos Santos, em Brasília. Entretanto quase não foram escritos por jornalistas e sim por sociólogos (João Vieira), historiadores (Luiza Volpato) e até um médico (Júlio Capilé). Exceção feita ao articulista Onofre Ribeiro que, na Gazeta, escreveu uma série de artigos sobre os Xavante.

As duas resenhas se referiam ao lançamento de uma biografia do senador e antropólogo Darcy Ribeiro, poucos meses depois de sua morte.

3.5.3 - Cartas

As três cartas localizadas na pesquisa se referiram a assuntos distintos. A primeira, publicada no Diário no dia 04 de março ficaria melhor na forma de um artigo, pois desenvolvia uma idéia de um especialista em assuntos indígenas que estava envolvido no problema em questão. A carta tratou da volta dos garimpeiros à reserva Sararé, apesar da retirada deles pela Polícia Federal. O autor, Darci Secchi, professor universitário e assessor para assuntos indígenas, escreve sobre a ineficácia da desintrusão:

A segunda carta foi também foi publicada no Diário. Em quatro de abril de 1997, os caciques Xavante Aniceto Tsudzaware (Aldeia São Marcos), Tibúrcio Abnooai (Aldeia Nossa Senhora de Aparecida), Simão Butre (Aldeia Namunkurá) e Domingos Nahoboreá (Aldeia Dom Bosco) respondem, através de uma carta às acusações das "mordomias" feitas pelo então presidente da Funai, Júlio Gaiger: Um texto de autoria indígena e veiculado na íntegra por um meio de comunicação é uma exceção no espaço destinado pela mídia às sociedades indígenas. Além disso, esta carta desmitifica a idéia de índios fortes e saudáveis comumente encontrada em livros didáticos17.A terceira carta, publicada na Gazeta no dia 15 de agosto, inserida no espaço normalmente destinado a artigos, na metade superior da página A-3. Foi escrita por uma auxiliar de enfermagem da Fundação Nacional de Saúde, Fabiene dos Santos, pedindo a devolução de uma Toyota que alguns Xavante haveriam tomado. A auxiliar de enfermagem não mencionou o motivo que os levou a pegar o automóvel (protesto contra a Funai dos Xavante da aldeia Felipe, em Campinapólis, porque a aldeia não foi inserida num programa de produtividade agrícola) muito menos que foram apenas alguns índios de uma aldeia.

O texto é um sermão a todos os Xavante e, por extensão, a todos os índios:

Ela apela ao patriotismo dos brasileiros para que o veículo seja devolvido:


Para facilitar a leitura pelos consumidores de jornais, a imprensa "aportuguesa" os nomes indígenas, divergindo das regras convencionadas pela antropologia.

Por essas regras, definidas em 1953 pela Associação Brasileira de Antropologia, os nomes de povos indígenas não podem ser flexionados nem em gênero nem em número, pois trata-se da identificação de um povo. Assim, Enawenê-nawê se refere tanto a um índio deste grupo quanto ao grupo todo, diferente de "brasileiro", flexionado e em minúsculo por possuir diversas culturas, não representando uma unidade.

Entretanto, o Manual de Redação da Folha de São Paulo (1992:81) ensina aos seus jornalistas que nomes de nações, povos e tribos indígenas do país são flexionados como os de qualquer etnia, povo, ou nação. Da mesma forma o Manual de Redação e Estilo de O Globo (1997:63) repassa aos seus leitores que nomes de tribos indígenas são grafados no plural. E ainda recomenda o aportuguesamento dos nomes indígenas, que devem ser grafados sem o "w", "y" ou "k".

No caso da imprensa mato-grossense, há uma falta de convenções. Embora na maioria dos casos siga-se as regras definidas pelos manuais de redações há exemplos de total falta de conhecimento. Os Nambikwara servem de exemplo. Eles foram grafados de pelo menos três maneiras: nhambiquaras, inhambiquaras e Nambiquaras. Ou seja, ficou livre ao conhecimento do jornalista a forma de se escrever os nomes das nações indígenas.

O baixo índice de matérias de opinião reflete que praticamente não houve no período analisado uma reflexão nas linhas editoriais dos jornais sobre as causas e conseqüências das lutas indígenas, conforme ressalta Siqueira:

Todas as vezes que matérias saíram publicadas a respeito dos índios, o homem branco estava envolvido. E ambos trocavam de papéis, de acordo com o episódio, sendo ora o índio bom e o branco mau e vice-versa. No caso da Reserva Sararé os garimpeiros eram os maus porque estavam invadindo uma área que não lhes pertencia. Entretanto, quando se amontoaram em Pontes e Lacerda e os Nambikwara começaram a se impacientar com as invasões foram estes que se converteram em vilões, deixando de serem vítimas. Quando os Xavante se manifestam contra a hidrovia Paraguai-Paraná eles são encarnados como protetores da natureza, mas quando são acusados de receberem um "salário" da Funai, mudam de personagem.

A grande maioria das matérias se referiu às reservas indígenas e era explicitada a área, mas sem explicações sobre o porquê da extensão, que é uma área muito menor a anteriormente ocupada pelas sociedades indígenas e que foi delimitada por brancos. Esse fato serve para reforçar preconceitos, pois o que um sem terra, um fazendeiro ou mesmo um morador da cidade vai pensar de mil hectares para cada índio, sem entender a necessidade?

Essa atitude e o desinteresse dos leitores podem ser comprovados nas respostas dos jornalistas (ver Anexo I):

Ou seja, embora as notícias sobre temas indígenas sejam verdadeiras e fidedignas, a "angulação" das matérias deixaram passar preconceitos (muita terra para pouco índio) e estereótipos (vítimas porque "impotentes" e violentos porque "selvagens").

4 - MÉTODO DA SEMANA COMPOSTA

O método da Semana Composta consiste em verificar quantitativamente a constância ou o enfoque de um assunto nos meios de comunicação. Analisa-se o conteúdo veiculado em um domingo, depois na segunda-feira da outra semana, depois na terça-feira da seguinte até se completar todos os dias da semana. Esse método tenta evitar viéses que possam ocorrer em outros métodos. A coleta das edições do Diário de Cuiabá e de A Gazeta foi feita nos mesmos dias.

Em cinco dos sete dias da Semana Composta foram registrados quatro notícias e uma crônica sobre assuntos indígenas. Em três desses dias houve chamadas na primeira página, comprovando um certo interesse em se noticiar esse tema. Apesar disso, os dois jornais não trataram do mesmo assunto nas edições analisadas, o que poderia ser um confronto de interesses editoriais.

No dia 03 de março, a Gazeta trazia no canto inferior direito da primeira página, uma chamada referente à morte do sertanista Cláudio Villas Bôas. Havia uma foto de arquivo (sem legenda) de Villas-Boas com duas crianças índias. O texto, de uma coluna e 6,5 cm de altura, reprodução do lead, destaca a perda que os índios do Brasil tiveram:


Na página 3C, do caderno Geral, é destacada a importância do Parque Nacional do Xingu, criado pelos irmãos Villas Bôas e também a "Marcha para o Oeste", expedição dos três irmãos pelo Brasil Central e Amazônia que resultou no contato de 21 grupos indígenas.

Na quinta-feira, 19 de março, vem à público a notificação do primeiro caso de Aids em um índio mato-grossense. A Gazeta traz na primeira página uma caixa18 (4,8 X 10,3 cm) logo abaixo do título e ao centro a foto de um Bororo e do administrador regional da Funai em Cuiabá, Idevar Sardinha: O Ministério da Saúde notificou o primeiro caso de Aids em um índio em Mato Grosso. Em todo o País, é o quinto caso. A vítima é um bororo.

Na página 01 do caderno Geral é informado aos leitores que a descoberta só foi possível porque dois técnicos do Ministério da Saúde estiveram em Rondonópolis para fazer um levantamento das condições de saúde das aldeias (NOTIFICADO 1º CASO DE EM ÍNDIO NO ESTADO). A partir do terceiro parágrafo o enfoque dado é para a elaboração de um programa de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e Aids em aldeias indígenas. No sexto parágrafo a matéria alerta que os cinco casos registrados de Aids em índios preocupa porque apesar do crescente processo de aculturação (grifo nosso) da maioria das 215 etnias do país muitas tribos ainda vivem isoladas e não têm qualquer contato com os brancos.

Do modo como foi escrito pelo jornalista ele está sugerindo que o "processo de aculturação" (conceito abandonado pela moderna Antropologia) é benéfico às sociedades indígenas, pois as "aculturadas" teriam mais facilmente acesso, no caso, à medicina preventiva da sociedade envolvente.

A teoria da aculturação acredita que o contato interétnico, ou seja, entre sociedades diferentes, faz que a cultura "mais fraca" se descaracterize frente a cultura "mais forte", é uma teoria etnocêntrica19. No exemplo da matéria as sociedades indígenas sucumbiriam à branca. Esse conceito foi abandonado pela moderna antropologia tendo em vista que as sociedades podem se apropriar de elementos de outra sociedade sem perder os elementos de sua cultura. Os Xavante e os Bakairi, por exemplo, utilizam a escola para ensinar aos alunos índios a visão de mundo própria de suas sociedades.

Num box o repórter informa que há um alto índice de desnutrição, alcoolismo e pneumonia entre os povos indígenas no estado. Mas, uma vez mais, não é informado aos leitores as causas desses três problemas levados pelos brancos.

A única matéria referente a um grupo indígena de outro estado saiu na Gazeta no dia 27 de março. O texto foi reproduzido da Agência Estado sobre uma disputa entre duas "facções" dos Quiriri que vivem na reserva de Mirandela, a 296 quilômetros de Salvador (BA). A matéria os trata como indisciplinados, que precisam de tropas do Exército, Polícia Militar e agentes federais (...) para evitar um conflito dos quiriris, armados com arcos e flechas (CLIMA É TENSO ENTRE QUIRIRIS):

Esta matéria junta dois estereótipos muito comum que se tem sobre os índios: o primeiro, de que às vezes eles são violentos e selvagens e o segundo de que possuem mais terras do que precisam para viverem. Maria de Lourdes Nosella observa que esses estereótipos são os mesmos tratados em livros escolares infantis: O atraso na demarcação da reserva Panará foi o assunto da única matéria sobre a temática indígena verificada no Diário. Na primeira página, a chamada no canto inferior direito culpa a Funai pelo atraso. Os Índios Gigantes são vistos como vítimas exemplares dos contatos com os brancos. Num momento raro na imprensa mato-grossense, são os caciques que falam sobre esse problema que eles, os Panará, enfrentam. O cacique Aká falou na sua língua e foi traduzida para o repórter.

Dois boxes integram a página B-1. O primeiro sobre o livro "Panará A volta dos índios gigantes". O outro, na verdade uma outra notícia, sobre o anteprojeto de cursos universitários indígenas na UFMT e Unemat:

A única expressão do jornalismo opinativo observada pela Semana Composta foi uma crônica do historiador e membro da Academia Mato-grossense de Letras, Luis-Phillipe Pereira Leite que versava particularmente sobre Cândido Rondon. O texto, no caderno de cultura do Diário (D-3), não relacionou Rondon a algum grupo indígena, a não ser por um detalhe:

Apesar de ter sido verificado uma certa freqüência de veiculação de assuntos indígenas por esse método, em nenhum dia a mesma notícia foi veiculada pelos dois jornais, apontando que geralmente não há interesse da imprensa por essa temática.

As duas nações que vivem em Mato Grosso (Panará e Bororo) explicitadas nas matérias dos jornais são, pode-se dizer, bastante conhecidas. Representam para a imprensa e para a sociedade mato-grossense a figura dos "índios de plantão". Os Panará, que chamaram a atenção da mídia nacional desde a época do primeiro contato, em 1973, e da remoção do seu povo para o Parque Nacional do Xingu para que seu território desse passagem a BR-163, ligando Cuiabá a Santarém. Recentemente voltaram aos noticiários quando, quase extintos, puderam voltar a região de origem (Guarantã do Norte) e lutar pela demarcação da área. E os Bororo, talvez o povo mais significativo para os cuiabanos já que a capital foi erguida em cima do território dos Coxiponé, um subgrupo dos Bororo. Desde o início da imprensa mato-grossense eles foram notícia nos jornais (ver capítulo 01).

A imprensa local, então, só considera noticiáveis as sociedades indígenas já conhecidas pela população, descartando e ignorando as outras, que aí sim só têm espaço em casos excepcionais, como os Quiriri da Bahia. Os motivos podem ser falta de interesse dos editores, falta de conhecimento dos repórteres e precariedade dos jornais em ir atrás dos fatos noticiosos que ocorram fora da capital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela conferência das matérias dos jornais A Gazeta e Diário de Cuiabá, em todas edições no ano 1997 e pelo método da semana composta percebeu-se que houve uma constância na divulgação de informações sobre diversas sociedades indígenas no estado de Mato Grosso. Em alguns casos graves, como a rotineira ocupação de madeireiros e garimpeiros na Reserva Sararé, os dois jornais deram ampla cobertura, embora o enfoque, às vezes, possa ter sido discutível.

Em certa medida, todas as hipóteses levantadas na introdução deste trabalho foram comprovadas.

De fato, os assuntos indígenas são quase somente ligados a terras, seja demarcação de alguma reserva, ocupações de brancos em terras indígenas ou justamente o contrário.

Outras questões, como a educação escolar e a saúde indígena são tratadas de forma esporádica e sem uma real compreensão dos fatos. Ou seja, não há interesse da mídia em assuntos que não afetem, explicitamente, o seu público consumidor.

A sociedade brasileira conhece pouco e tem introjetados muitos estereótipos e preconceitos em relação aos povos indígenas do país. Esta é uma verdade que pôde ser averiguada pelo material noticioso coletado e analisado nessa pesquisa, uma vez que a imprensa local reflete a sociedade dessa região. Assim sendo, a sociedade envolvente se interessa mais pela folclorização dos índios do que pela valorização das identidades indígenas. Mesmo nas matérias que visaram mostrar um pouco a realidade de algum grupo indígena o mais observado foi a vangloriação dos índios como "guardiães da natureza", "guerreiros" e "vítimas" dos brancos.

Ou seja, apesar de muitas notícias sem preconceitos e uma quantidade até surpreendente de notícias, no geral as informações, da maneira como foram reprocessadas e passadas para o público-leitor, serviram mais para reafirmar preconceitos e estereótipos que para esclarecer o consumidor.

Um desses motivos é o descompasso entre as informação correntes dos produtores de notícias e as teorias da moderna antropologia. O conceito de aculturação, abandonado pela antropologia, é um exemplo bastante preciso. A falta de especialização dos jornalistas pode gerar ou agravar preconceitos ao tratar temas complicados, principalmente em relação a minorias étnicas ou sociais.

Os índios, principais personagens das matérias analisadas, quase não foram citados como fonte, comprovando a hipótese que a imprensa não os ouve. É uma falha grave cometida pela imprensa, pois quando os jornalistas vão atrás somente das fontes oficiais (Funai, Polícia Federal e Ministério Público) as notícias têm uma tendência maior de sair enviesada.

A grafia errada dos nomes indígenas pelos jornais também é outra falha, embora seja "desculpável" nos manuais de redação pelo motivo de pretender tornar mais fácil a leitura desses nomes pelo público.

O fato de somente os "índios de plantão" (Xavante, Bororo, Panará, Nambikwara e Paresi) serem transformados em notícias revela a falta de interesse mas também a precariedade das empresas jornalísticas em cobrir assuntos que exijam um pouco mais de trabalho.

Na prática, como foi averiguado, não existe uma imprensa opinativa que realmente discuta a questão indígena. O artigo é o único espaço dedicado a especialistas, que não são jornalistas, para debater a temática indígena. Mesmo assim só em momentos excepcionais como no caso do assassinato do Pataxó Galdino dos Santos, em Brasília, da Operação Sararé II e nas discussões sobre a implantação das hidrovias Paraguai-Paraná, Araguaia-Tocantins e do Madeira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




1 Dados atualizados foram adquiridos no site da Funai, pela Internet.
2 Um dos engenheiros da Comissão de Linhas Telegráficas Rondon. Neste artigo ele defende a atuação de índios na conservação de linhas telegráficas, defendendo acusações de um jornal carioca.

3 BELTRÃO, Luiz. O Índio, um Mito Brasileiro. Petrópolis: Ed. Vozes, 1977
4 RICARDO, Carlos Alberto. "Os Índios" e a sociodiversidade nativa contemporânea do Brasil. In: SILVA, Aracy Lopes & GRUPIONI, Luis Donisete Benzi. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995.

5 SIQUEIRA, Priscila. Imprensa e Questão Indígena: relações conflituosas. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). Índios no Brasil. Brasília: MEC, 1994.
6 MELO, José Marques de. A Opinião no Jornalismo Brasileiro. 2ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994.
7 MARCONDES FILHO, Ciro. O Capital da Notícia: Jornalismo como produção social de segunda natureza. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1989.

8 Para Maria Baccega (1995:14), a objetividade é um processo de superação da subjetividade, determinaria pelo nosso conhecimento do mundo. Alberto Dines (1996:120) afirma que o jornalista seleciona e opta durante todo o tempo do seu trabalho, do momento da entrevista ao texto final da matéria.

9 SODRÉ, Muniz. Reinventando a Cultura: a comunicação e seus produtos. Petrópolis. Ed. Vozes, 1996.

10 DINES, Alberto. O Papel do Jornal. 6ª ed. São Paulo: Summus, 1996
11 O Diário de Cuiabá foi fundado em 1968 pelo jornalista Alves de Oliveira. Atualmente o jornal circula com uma média de 30 páginas nos dias de semana e 55 aos domingos. A redação do Diário de Cuiabá é totalmente informatizada e a paginação é eletrônica desde 93. Foi o primeiro jornal a circular às segundas-feiras e o primeiro a ter sua versão on line na Internet. No final de abril deste ano fez algumas mudanças na apresentação do jornal, a principal foi a mudança do logotipo. Este ano, este jornal está apoiando o candidato ao governo do estado Júlio Campos e a Unidade Democrática.

12 A Gazeta foi fundada em 23 de maio de 1990 e pertence à Gráfica Editora Centro-Oeste Limitada, cuja composição societária é dividida entre alguns diretores da Construtora Triunfo, majoritários, e o jornalista Dorileo Leal. Integra o Grupo Gazeta de Comunicação, que possui ainda emissora de televisão, emissora de rádio, instituto de pesquisa, além da gráfica.. Nos dias de semana circula com uma média de 36 páginas, aos domingos chega a 75 páginas. Ao completar seu oitavo aniversário, a Gazeta mudou o seu projeto gráfico, passando a circular em cores e com mais cadernos, além de inaugurar sua versão on-line na Internet. Apóia o governador de Mato Grosso, candidato à reeleição, Dante de Oliveira.

13 Não foi localizado no arquivo do Grupo Gazeta os jornais do mês de maio de 1997, quando foi realizada esta pesquisa, nos meses de abril e maio de 1998. Esse mês foi contabilizado apenas com alguns exemplares de A Gazeta adquiridos em outros locais.

14 OPAN/CIMI Dossiê Índios em Mato Grosso. Cuiabá: Gráfica Cuiabá, 1987.
15 Operação Sararé foi o nome da operação realizada pela Polícia Federal em dezembro de 1992, pressionada pelo Banco Mundial e entidades de direitos humanos, que retirou pacificamente 5 mil garimpeiros da Reserva Sararé. A desocupação realizada em 1997 nessa mesma área ficou conhecida como Operação Sararé II.

16 O artigo 231 da Constituição Federal afirma não ter efeito jurídico a ocupação, domínio ou posse de terceiros para exploração de recursos naturais de solo, rios e lagos ocupados tradicionalmente por povos indígenas.

17 Maria de Lourdes Nosella dedica um capítulo em As Belas Mentiras sobre como os índios são tratados nos livros didáticos.

18 Chamada para reportagens internas no alto da Primeira Página e das capas dos cadernos. Editada entre fios, como uma moldura. Ver anexos.
19 É una visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência (Rocha: 1994:07).